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Paulo Mercadante e a alma brasileira

Olavo de Carvalho

Introdu��o de A Coer�ncia das Incertezas. S�mbolos e Mitos na Fenomenologia Hist�rica Luso-Brasileira, publicado pela � Realiza��es.

 

Paulo Mercadante destacou-se entre os historiadores brasileiros sobretudo por um de seus primeiros livros, A Consci�ncia Conservadora no Brasil. � obra t�o essencial que, at� certo ponto, justifica a relativa desaten��o com que foram recebidos seus escritos posteriores. Tal �, ali�s, o destino de muitos escritores brasileiros, v�timas de estr�ias felizes que obscurecem toda a sua produ��o subseq�ente.�

Na �rea do pensamento e das ci�ncias humanas, esse fen�meno � ainda mais marcante. N�o lhe escapou nem o pr�prio Gilberto Freyre, enquadrado para sempre na imagem inicial moldada pelo sucesso de Casa Grande & Senzala.

N�o h� nisso, ali�s, injusti�a nenhuma: n�o se espera nem se exige que um pesquisador, tendo resolvido uma quest�o central da disciplina que o ocupa, fa�a novas descobertas mais decisivas em seguida. Mas �s vezes ele de fato as faz, como as fez o Gilberto de Sociologia e de Al�m do Apenas Moderno, e como as faz Paulo Mercadante neste surpreendente e enigm�tico A Coer�ncia das Incertezas. Quando essas descobertas passam despercebidas pelo p�blico, o escritor, garantido por seu prest�gio inicial, nada perde. Quem perde � o p�blico, que, satisfeito com o antigo dom, se esquece de estender a m�o para receber o novo.

Mas o que Paulo Mercadante d� aos leitores neste novo livro � ao mesmo tempo algo de precioso e de sutil, que n�o se entregar� facilmente nem mesmo a quem estenda a m�o. O que este livro tem a dar n�o � aquilo que a maioria dos interessados na nossa Hist�ria est� costumeiramente buscando. � a resposta a perguntas que s� os mais atentos e os mais finos observadores chegaram a fazer. Os demais, mesmo que passem por aqui, talvez nem cheguem a perceber de que raio de coisa o autor est� falando.

Para dar aos leitores uma id�ia do que encontrar�o nas p�ginas que se seguem, talvez seja bom voltar um pouco � Consci�ncia Conservadora. O problema de que ali se trata � decerto o mais decisivo na hist�ria de qualquer pa�s: o que pensam e por que assim pensam os homens que mandam. No jarg�o das ci�ncias sociais, � �a ideologia da classe dominante�. ��� Mas o termo ideologia tem, desde seu inventor, Napole�o Bonaparte, a acep��o de um discurso evanescente, ideal, irreal. Segundo Marx, esse v�u de irrealidades, Ideenkleid, �vestido de id�ias�, encobre a dura realidade da luta econ�mica. De outro lado, toda ideologia tende a organizar-se em sistema, a racionalizar-se e justificar-se mediante cadeias de argumentos, mobilizando ex�rcitos de intelectuais e de educadores para que fa�am da cultura e do ensino a amplia��o e reprodu��o desse sistema.

E a� j� come�avam, para o investigador da ideologia brasiliensis, os problemas cabeludos. De um lado, a nossa classe conservadora era muito pouco inclinada aos discursos e teoriza��es. Pragm�tica e imediatista, raramente fazia quest�o de elaborar justificativas meticulosas para o que fazia, contentando-se em apelar a algum pretexto convincente, para fins do imediato, e em contar com o esquecimento geral, a longo prazo. Assim, essa ideologia n�o podia ser constatada diretamente em textos e documentos: tinha de ser escavada como que do subconsciente, � maneira daqueles discursos silenciosos que um psicanalista desentranha das condutas mudas que os encobrem. Em segundo lugar, t�o logo o conte�do mais ou menos impl�cito do pensamento das nossas classes dominantes come�ava a mostrar-se aos olhos do investigador, n�o se parecia em nada com um vestido de id�ias a encobrir uma realidade, mas bem ao contr�rio, era de certo modo o traslado mesmo dessa realidade, apreendida da maneira mais simples, direta e ch�. A �consci�ncia conservadora� era de fato um pragmatismo, um arranjo oportunista de solu��es oportunas. Que esse arranjo, no mais das vezes, se compusesse de ideais teoricamente contradit�rios, cuja acomoda��o resultaria escandalosa do ponto de vista das mentes mais apegadas � coer�ncia discursiva, era coisa que n�o abalava no mais m�nimo que fosse a classe dos senhores, mais interessada em viver do que em filosofar. Mais ainda, a coexist�ncia de valores incompat�veis, longe de ser sinal de irrealismo ou de falta de sensibilidade, era muitas vezes a express�o a mais exata poss�vel do quadro de circunst�ncias, a equa��o certeira das for�as econ�micas e pol�ticas em jogo. Por exemplo, o Brasil de 1822 n�o podia abdicar nem das id�ias liberais que inspiravam o movimento de independ�ncia, absorvidas na Europa pelos filhos da nossa aristocracia que l� iam estudar, nem das bases econ�micas, fundamentalmente agr�colas e escravistas, que davam a esses jovens os meios de ir l� estudar e adquirir essas id�ias. A solu��o pragm�tica foi �conciliar, antes de tudo, a revolu��o nas rela��es externas de produ��o com o escravismo nas rela��es internas de produ��o�, �conciliar o instituto da escravatura e o liberalismo econ�mico�.[1]

Mas em 1822 n�o se tratava s� de uma revolu��o, e sim da funda��o de um pa�s, da busca de um senso de unidade profunda, de um �instinto da nacionalidade�, para usar a express�o consagrada de Machado de Assis. A rebeli�o anticolonial, para justificar a exist�ncia do novo pa�s, recorre ao discurso do romantismo, de Burke, Savigny e Adam M�ller, rea��o conservadora aos excessos da raz�o iluminista. �Ao inv�s de considerar a sociedade e o Estado como resultante de rela��es contratuais, o romantismo os v� como unidade espiritual; prefere as mudan�as impercept�veis que se acumulam silenciosamente, repelindo as transforma��es violentas provocadas pelas rebeli�es; coloca a superioridade dos costumes como sedimenta��o da consci�ncia jur�dica de um povo e em lugar de um Direito Natural comum a todas as �pocas e a todas as latitudes estatui que todas as normas de comportamento se vinculam necess�ria e historicamente a cada na��o.� Por�m, ao mesmo tempo, o desejo mesmo de dar express�o jur�dica � nacionalidade produz a tend�ncia de �realizar-se atrav�s de uma unifica��o apelando para uma superestrutura jur�dica que tudo abrangesse e justificasse�. Transplantado para a na��o nova e emergente, o primado rom�ntico do costume sobre a lei assume a figura paradoxal de um formalismo jur�dico avassalador. N�o menos paradoxalmente, os valores liberais eram afirmados como inspira��o perfeitamente aut�ntica e sincera dos pr�ceres da independ�ncia e, ao mesmo tempo, neutralizados pela sua absor��o no aparato jur�dico �que tudo abrangia�: �O pr�prio liberalismo econ�mico seria reduzido a preceito de direito p�blico.�[2]

Conceitos como revolu��o, rea��o, liberalismo, nacionalismo, etc., foram criados na Europa para refletir as for�as em jogo em diferentes fases de uma sucess�o hist�rica, � medida que ela se desenrolava ante os olhos de seus int�rpretes. Amold�-los a uma situa��o na qual essas for�as, sucessivas do outro lado do oceano, apareciam simult�neas e entremescladas, foi a grande realiza��o ideol�gica das nossas classes conservadoras. Concilia��o e adapta��o t�m sido, desde ent�o, os instrumentos de uma sobreviv�ncia que de outra forma seria inexplic�vel. Os arranjos e improvisos, requerendo de um lado uma extrema finura psicol�gica e um senso pr�tico formid�vel, dificultavam, de outro lado, a elabora��o te�rica mais demorada, lan�ando uma n�voa geral no campo das id�ias ao mesmo tempo que, na pr�tica, as coisas se resolviam de algum modo. Da� a pobreza te�rica do nosso conservadorismo e a facilidade pragm�tica e quase c�nica com que, no poder, ele absorve o discurso e os ideais da oposi��o progressista ou mesmo revolucion�ria, para realizar, na pr�tica, o que seus inimigos sonharam em teoria.

Ter chegado a essa profundidade na sondagem das ra�zes da pol�tica nacional fez de A Consci�ncia Conservadora no Brasil um cl�ssico da �hist�ria das mentalidades�.

Mas, nos trinta e cinco anos que se passaram desde sua publica��o, a curiosidade investigativa de Paulo Mercadante n�o s� foi ampliando o horizonte de temas e problemas que interessavam � sua devo��o cient�fica (a mentalidade do homem regional, em Os Sert�es do Leste; o confronto de duas �ticas em Militares e Civis; a influ�ncia paralisante das doutrinas comunistas na cultura brasileira, em Graciliano Ramos), mas, gra�as aos estudos filos�ficos a que se dedicou com intensidade crescente ao longo dos anos, foi observando as coisas desde um ponto de vista cada vez mais profundo e mais pessoal. Em A Consci�ncia Conservadora, mov�amo-nos ainda num terreno que, malgrado a originalidade do ponto de vista, era ainda o da tradi��o historiogr�fica e sociol�gica brasileira. A partir de um certo ponto da sua carreira, Mercadante desembocou em quest�es que escapavam formidavelmente ao horizonte de consci�ncia dos nossos cientistas sociais em geral -- limitado por um materialismo e um imediatismo superficial que muito t�m a ver com a forma��o da mentalidade das nossas classes conservadoras -- e abriam um campo totalmente novo de investiga��es. A partir da�, ironicamente, o investigador se tornou um outsider precisamente no momento em que se viu dotado de seu mais fino instrumental anal�tico. Por uma infeliz coincid�ncia, isso se deu contemporaneamente � tomada dos meios de comunica��o cultural por um movimento pol�tico que, na ideologia, � herdeiro direto daquele do qual Mercadante, com toda uma gera��o de intelectuais de esquerda, se desligou quando da revela��o do c�lebre Relat�rio Kruschev de 1956, e, na psicologia, � um fruto do irracionalismo sociop�tico infundido na intelligentzia esquerdista do Terceiro Mundo pela crescente influ�ncia da New Age, do ecologismo e da apologia marcusiana do lumpenproletariado.� O pensamento de Mercadante se tornava mais sutil e mais profundo justamente na hora em que a vida intelectual neste pa�s sacrificava tudo no altar do simplismo e se reduzia cada vez mais � obsessiva repeti��o de slogans e cacoetes. Concomitante ao florescimento geral do imbecil coletivo, a individualiza��o da forma mentis de um grande esp�rito resultou num isolamento mon�stico imposto pelas circunst�ncias. Seus trabalhos, muitos da mais alta relev�ncia para todos os estudiosos da �rea, como por exemplo a monumental edi��o anotada das obras de Tobias Barreto, em dez volumes, passaram a ser recebidos com o sil�ncio sepulcral que, na falta de coragem para a difama��o direta, � a rea��o-padr�o da esquerda brasileira �s realiza��es valiosas de seus desafetos.

Mercadante � um dos homens mais humildes, bondosos e ternos que j� habitaram esse planeta. Al�m disso, � inteligente demais para esperar que cretinos o compreendam, e foi dotado pela Provid�ncia com um senso de humor que lhe permite sair inc�lume das mais deprimentes situa��es mediante um sorrisinho ir�nico e um gracejo. Admiradores seletos, entre os homens mais cultos do pa�s, � um Roberto Campos, um Vamireh Chacom, um Meira Penna � nunca lhe faltaram. Dos outros ele nada tinha a receber, e, se n�o recebiam o que lhes dava, eles � que perdiam.

Esse mesmo isolamento contribuiu, decerto, para que as medita��es do estudioso fossem tomando um rumo cada vez mais peculiar, mais distante das preocupa��es (ou meras ocupa��es) dos nossos cientistas sociais acad�micos.

Quando levada �s suas �ltimas conseq��ncias, a hist�ria das mentalidades desemboca na hist�ria do subconsciente, que �, a fortiori, o subconsciente da hist�ria. Por baixo das ideologias, come�a a se revelar a camada mais decisiva e misteriosa dos nexos sutis entre a hist�ria linear e o tempo c�clico do mundus imaginalis, a esfera dos s�mbolos, mitos e imagens primordiais que, desaparecendo e aparecendo � superf�cie dos fatos com regularidade assustadora, parecem constituir algo como o quadrante onde se movem os ponteiros da hist�ria. A partir dos anos 60, esse dom�nio, que mui apropriadamente recebeu o nome de meta-hist�ria, foi despertando a aten��o de not�veis pesquisadores em todo o mundo. Henry Corbin, Jean-Charles Pichon, Eric Voegelin, Raymond Abellio mostraram que as rela��es entre hist�ria e mito n�o se explicavam pela mera distin��o grosseira da infra-estrutura material e da superestrutura ideal a que as tinha reduzido a mistura de marxismo e positivismo, dominante nos meios acad�micos desde o s�culo passado e hoje, felizmente, moribunda. Muitas vezes, os mitos pareciam prefigurar a hist�ria, determinando de algum modo o seu curso: longe de ser puras cria��es dos homens hist�ricos, eles tinham uma for�a criadora e determinante por si pr�prios. Sua presen�a ativa, encoberta pela sucess�o dos fatos pol�tico-sociais, revelava-se de tempos em tempos pela recorr�ncia dos mesmos s�mbolos, das mesmas imagens, que, emoldurando o imagin�rio dos personagens,� determinava invisivelmente o curso dos seus pensamentos e das suas decis�es. Foi ao estudo dessa ordem de coisas que Mercadante, isolado da tagarelice ambiente, se dedicou cada vez mais.

Por�m, a essa ci�ncia misteriosa e desafiadora, Mercadante acrescentou uma �nfase nova e pessoal, derivada dos estudos de ci�ncia f�sica que, desde a juventude, o ocuparam apaixonadamente. Isso permitiu que ele se integrasse, como portador de uma contribui��o bastante original, numa linha de investiga��es que, no mundo, � ainda nova e mal compreendida e, no Brasil, � radicalmente ignorada pelo establishment universit�rio.

Vamos defini-la. � medida que no campo das ci�ncias humanas se desmoralizavam as no��es de progresso linear e de causalidade predominante, dissolu��o similar sofria, na ci�ncia f�sica, o determinismo mecanicista. A constata��o desse duplo fracasso abriu para alguns estudiosos um campo de trabalho que � hoje o mais promissor de todos: a investiga��o das analogias entre causalidade f�sica e causalidade hist�rica, ambas compreendidas segundo uma matriz qu�ntica e indeterminista.

Tal � o tema das investiga��es que, referidas especificamente � fenomenologia hist�rica luso-brasileira, Paulo Mercadante nos apresenta neste livro extraordin�rio.

Nesse campo, os s�mbolos, surgidos do impacto das percep��es sens�veis sobre a mem�ria e a imagina��o, aparecem como condensados de experi�ncias e de expectativas, formando como que o substrato imaginativo da intelig�ncia racional. Assim, no dom�nio da a��o coletiva, qualquer id�ia, qualquer decis�o, remetem sempre a um fundo simb�lico que as emoldura, limita e, at� certo ponto, determina.

Os s�mbolos pairam sobre a hist�ria como possibilidades de concep��o que, em certos momentos, �descem� e se convertem em possibilidades de a��o. O que determina sua descida e seu retorno, seu aparecimento e desaparecimento no cen�rio da hist�ria, parece ser um fator t�o misteriosamente individual e irredut�vel como aquele que, em f�sica subat�mica, determina os movimentos de uma part�cula singular. Na escala humana, por�m, essa irredutibilidade n�o pode ser explicada como �irracional�: o indiv�duo que apreende o nexo simb�lico e o converte em a��o deliberada opera, como bem percebeu Weber, de maneira estritamente racional. O irracional, o imprevis�vel, est� somente no acaso que, em certos momentos, fornece ou sonega �s for�as hist�ricas em conflito o personagem individual decisivo, a mente consciente capaz de apreender o novo sentido de velhos s�mbolos e, articulando-os com a situa��o presente, inaugurar uma nova possibilidade e um novo estilo de a��o hist�rica. � an�lise desse personagem, o l�der articulador como o chama Paulo Mercadante, s�o dedicadas algumas das p�ginas mais luminosas deste livro. Entre o encadeamento das a��es pret�ritas, a recorr�ncia c�clica dos s�mbolos, o acaso que produz ou n�o produz o l�der articulador e por fim a interfer�ncia do indiv�duo consciente que interpreta a situa��o � luz dos s�mbolos e desencadeia novas a��es, a rede de liga��es � sutil e incerta demais para poder condensar-se num determinismo, ainda que atenuado, por�m ao mesmo tempo � coerente demais para que nela nada se veja al�m de uma sucess�o de casualidades furiosas. Da� o t�tulo: A Coer�ncia das Incertezas. Trata-se de apreender um nexo de sentido onde n�o � poss�vel (ainda) falar de uma conex�o causal direta.

Os cap�tulos de teoria est�o, decerto, entre os mais interessantes deste livro. Mas a passagem � ilustra��o concreta, � fenomenologia dos s�mbolos e de sua recorr�ncia na hist�ria luso-brasileira mostra que a especula��o te�rica n�o trabalhou no terreno das meras hip�teses. O tecido de s�mbolos no qual nossa hist�ria nacional se move mostra aqui, pela primeira vez, seu padr�o, sua forma, sua figura. Nossa vida coletiva j� n�o � uma �hist�ria contada por um idiota�. De maneira ainda obscura, mas firme e decisiva, ela expressa um fundo de sentido sobre o qual os indiv�duos, seja como l�deres articuladores, seja como simples particulares, podem projetar o sentido de suas vidas pessoais, seguros de se integrar num projeto hist�rico j� quase milenar. Ap�s ler o livro de Paulo Mercadante, dissolve-se, como num exorcismo, muito da impress�o de gratuidade, de absurdo e de inutilidade que infecta e debilita a experi�ncia de ser brasileiro. De fato, essa experi�ncia tem sido, muitas vezes, a de viver jogado num aglomerado ca�tico de �tomos errantes ou a de tentar vencer o absurdo mediante o apelo � e o apego -- a algum mito arbitr�rio, sem raiz, escolhido pela for�a da moda ou pela invencionice individual, um arremedo de sentido da vida. � s� quando se descobre o nexo de mito e hist�ria que a unidade do sentido ideal pode encontrar, na multiplicidade dos fatos, o terreno f�rtil onde consiga passar da pot�ncia ao ato, realizar-se n�o como fic��o histericamente reiterada, mas como vida aut�ntica.

Sob esse aspecto, este livro de Paulo Mercadante tem, sobre a alma brasileira, um efeito nitidamente curativo.

N�o que esse efeito seja f�cil de obter. A leitura deste livro � por vezes �rdua, tantas s�o as alus�es e subentendidos que entremeiam a exposi��o, e que, como os s�mbolos hist�ricos mesmos, requerem um leitor capaz daquela apreens�o criativa sem a qual a m�gica n�o se realiza.

Mas o esfor�o ser� amplamente recompensado. Pois aqui j� n�o se trata somente de hist�ria, nem mesmo de hist�ria m�tica e simb�lica, mas sim de, atrav�s dessas disciplinas, abrir uma passagem para o sentido da vida.

Este �, pois, para quem o saiba ler, um livro de sabedoria.

S�o Paulo, 5 de Novembro de 2000

 


[1] A Consci�ncia Conservadora no Brasil, Rio, Saga, 1965, pp. 249-250.

[2] Id., p. 252.