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Mentira e racismo

O Correio do Povo de Porto Alegre faz uma cobertura salafr�ria do F�rum da Liberdade e me recusa o direito de resposta.

Olavo de Carvalho

 

I

�������� Na sua edi��o de 11 de abril, o �Correio do Povo� de Porto Alegre, fingindo narrar coisas que se teriam passado no Forum da Liberdade, impingiu ao seu p�blico leitor duas grossas mentiras.

�������� Primeira. � absolutamente falso que em resposta ao prof. Og Leme, o qual defendia a privatiza��o do ensino, eu tivesse respondido que essa opini�o rebaixava a educa��o �ao n�vel do adestramento de um animal�. Eu nunca disse isso, nunca pensei isso. Ao contr�rio: concordo com a proposta do dr. Leme e, ao coment�-la, nada disse sobre animais, mesmo porque n�o tinha reparado na presen�a do rep�rter do �Correio do Povo�.

�������� Segunda. O �Correio� diz que �Olavo de Carvalho gerou pol�mica ao negar a exist�ncia de racismo no pa�s. A afirma��o foi rebatida, com dados do IBGE, pela jornalista M�riam Leit�o.�� Mas o que se deu foi precisamente o contr�rio. Quem iniciou a pol�mica foi a pr�pria M�riam, que emitiu uma opini�o e alegou fatos estat�sticos para respald�-la, sendo refutada por mim mediante a demonstra��o de que entre a opini�o e os fatos n�o existia a menor conex�o l�gica. Diante disso, Miriam limitou-se a declarar que se mantinha firme na sua convic��o � o que, certamente, era um direito dela mas n�o era de maneira alguma um argumento.

�������� O falseamento da narrativa se repete-se, quase �ipsis litteris�, na coluna de Denise Nunes, agravada pela insinua��o p�rfida que d� �s declara��es da mediadora Miriam Leit�o o sentido de uma repreens�o disciplinar destinada a refrear um debatedor abusado. Ora, como � que M�riam poderia ter-me �repreendido�, se sua interven��o veio antes e n�o depois da minha? Conforme a pr�pria M�riam confirmou em entrevista � TV Globo, a repreendida foi ela -- repreendida pelo p�blico, que protestou contra o excesso de interven��es da mediadora nos debates.

�������� O rep�rter e a colunistas sincronizaram suas tesouras para operar uma dr�stica cirurgia nas minhas palavras, transmutando-as de �O Brasil n�o � um pa�s racista� para �N�o h� racismo no pa�s�, o que � coisa totalmente diversa. Para �existir racismo� num pa�s basta que ali haja racistas, mesmo t�midos e indolentes, mesmo raros e esparsos, mesmo sem poder ou milit�ncia, mesmo refugiados no mais fundo do esquecimento e da marginalidade. Nesse sentido, n�o h� um s� pa�s do mundo, nem mesmo o Brasil, que possa se dizer totalmente isento de racismo. Um pa�s assim s� existe na Terra do Nunca. Mas para um pa�s �ser racista� � preciso que o racismo seja ali uma ideologia operante, ativa, inspiradora de movimentos, partidos e associa��es. Para um pa�s �ser racista� � preciso que o racismo nele seja cren�a amplamente aceita por uma parcela significativa da opini�o p�blica e fortemente inscrita nas leis, nos costumes, na cultura popular e erudita. Nada disso acontece no Brasil. (1) Por isso, diante do desafio que lancei a Miriam Leit�o � que me apontasse partidos racistas, literatura racista, organiza��es racistas, milit�ncia racista, conflitos de rua entre grupos racistas, que me apontasse, enfim, no Brasil, qualquer coisa similar �s manifesta��es que comprovam a exist�ncia do intenso racismo nos EUA, na Fran�a, na Inglaterra, na Alemanha ou em qualquer desses pa�ses arrogantes que hoje querem nos dar li��es de �democracia racial� --, a mediadora nada p�de alegar, exceto que, a despeito de minhas obje��es, reiterava sua opini�o. Em resposta a isso, �ltima palavra da controv�rsia foi minha: �Todo ser humano tem o direito de recusar a verdade.�

�������� Mas, al�m de inverter, falsear, mentir, d. Denise ainda d� mostras de uma extraordin�ria leviandade na sua maneira de resumir meu argumento. O que eu disse, em resposta �s estat�sticas de inferioridade econ�mico-social dos negros, citadas por M�riam como provas do racismo brasileiro, foi que entre um dado econ�mico e sua interpreta��o causal a rela��o n�o � nunca direta e auto-evidente como ela procurava fazer crer. Para que esse efeito econ�mico pudesse ser explicado pelo racismo, seria preciso provar a presen�a atuante de uma ideologia racista na sociedade brasileira, em dose capaz de produzir esse resultado pelo ac�mulo de exclus�es propositais dos negros pelos brancos nos empregos, nas vagas escolares. etc.. Mas, na completa aus�ncia dos meios concretos da propaganda ideol�gica � organiza��es, livros, discursos, revistas, folhetos, assembl�ias, etc. �, o fator �racismo� s� poderia ser alegado como causa daquele efeito econ�mico mediante a hip�tese de uma transmiss�o m�gica, imaterial, telep�tica. Longe de constituir prova de racismo, aquela estat�stica s� poderia ser associada ao racismo caso este j� estivesse provado por outros meios e se todas as outras causas que pudessem explicar o fato econ�mico nela apontado tivessem sido exclu�das. Mas, entre essas outras causas, havia pelo menos uma que n�o s� era fato hist�rico comprovado, mas bastava por si para explicar o fen�meno sem nenhum aux�lio da hip�tese �racismo�: entre a aboli��o da escravatura e o primeiro surto industrial brasileiro decorreram quatro d�cadas e meia; nesse �nterim, a popula��o negra, desamparada por seus antigos senhores, se multiplicou formidavelmente sem que houvesse a menor possibilidade de integr�-la como m�o-de-obra livre numa economia capitalista simplesmente inexistente. Entre a hip�tese da exclus�o acidental causada por um fator econ�mico objetivo e a de uma ideologia que se trasmite magicamente por meios m�gicos, s� cretinos e mentirosos interesseiros podem achar que �disparate� � a primeira. ���������

�������� Qualquer principiante de metodologia cient�fica sabe que oferecer uma estat�stica como se fosse ela pr�pria sua auto-explica��o causal �, cientificamente, uma fraude. Pior ainda a fraude se torna quando a diferen�a residual de padr�o econ�mico entre grupos raciais, n�o podendo ser atribu�da aos efeitos da ideologia racista num pa�s onde essa ideologia n�o existe, passa ela pr�pria a ser designada pelo termo �racismo�, como acontece hoje em dia em todos os jornais e na boca do pr�prio presidente da Rep�blica, numa pirueta sem�ntica destinada a inculpar de crime hediondo um povo inocente. (2)

�������� Essa fraude hoje � impingida � opini�o p�blica brasileira por iniciativa de na��es racistas -- t�o racistas que para controlar mal e mal o seu racismo tiveram de recorrer a m�todos corretivos policiais --, as quais, com o slogan do �Brasil racista�, buscam destruir um valor essencial da nossa identidade nacional, quebrar a unidade moral da nossa popula��o e subjugar este pa�s �s suas grotescas imposi��es culturais globalistas e imperialistas. Rios de dinheiro da Comunidade Econ�mica Europ�ia, das Funda��es Ford e Rockefeller e de empresas estrangeiras como o BankBoston correm hoje para os bolsos de qualquer pseudo-intelectual que queira colaborar com esse empreendimento sinistro, certamente a mais brutal interven��o psicol�gica que um poder estrangeiro j� ousou realizar sobre a cultura nacional. Seja entre os liberais de conveni�ncia, seja nas hostes da esquerda fimgidamente nacionalista, n�o faltam traidores, sabujos e vendidos que se prestem a fazer esse servi�o, uns por dinheiro, outros pela simples vaidade de posar de �politicamente corretos� nas revistas chiques. Se h� um tipo de racismo que me parece inteiramente justificado, � este: tenho o maior desprezo por essa ra�a de canalhas.

15 de abril de 2001

Notas

�������� (1) � claro que no Brasil h� pessoas racistas, mas n�o h� um s� grupo racista organizado, exceto, por ironia, os grupos negros que, ludibriados pela fraude estrangeira, come�aram recentemente a desenvolver um �dio irracional aos brancos e j� o expressam em suas letras de �rap�. Pelos frutos os conhecereis: durante quase dois s�culos, a m�sica popular brasileira deu testemunho da nossa integra��o racial, da nossa cultura miscigenada e da cura progressiva e irrefre�vel das feridas da escravid�o. De uns anos para c�, pela primeira vez o �dio racial, trazido de fora por ONGs e empresas milion�rias a pretexto de �affirmative action�, fez seu ingresso no nosso repert�rio musical.

�������� (2) Fraude compar�vel � a das estat�sticas de opini�o que, da cren�a geral na exist�ncia de uma coisa, deduzem a realidade objetiva dessa coisa e n�o a simples exist�ncia da opini�o mesma como fato social. A moda foi lan�ada, creio que em 1998, pela revista Isto�, que se destaca das demais publica��es semanais pelo seu sectarismo c�nico. De uma sondagem de opini�o na qual oitenta e tantos por cento dos entrevistados afirmavam haver racismo no Brasil, a revista conclu�a, em manchete espetaculosa, que havia encontrado �a prova definitiva� do racismo brasileiro. Mas a estat�stica, obviamente, provava o contr�rio. Os oitenta e tantos por cento que denunciavam a exist�ncia de racismo faziam isso precisamente porque eram anti-racistas. Anti-racista, igualmente, era a parcela minorit�ria que, julgando defender a boa imagem do Brasil, negava a exist�ncia de racismo no pa�s. Somadas as duas parcelas, os racistas, se algum sobrava, s� poderiam ser pin�ados no n�mero residual dos indecisos e desinformados, descontando-se, evidentemente, os autenticamente indecisos e desinformados. Vender revistas com a manchete �Racismo: a prova definitiva�, em tais circunst�ncias, foi evidentemente propaganda fraudulenta. Se eu fosse assinante dessa porcaria impressa, teria levado o caso � Delegacia do Consumidor.