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Confus�o e medo em Campinas

 

Parece que n�o � s� em Porto Alegre que o PT, t�o logo assume o Executivo, espalha um turvo ambiente de confus�o, medo e inseguran�a entre os cidad�os e at� entre seus colaboradores. Campinas, SP, minha terra natal, est� passando por experi�ncia similar. O caso do jornalista Martim Vasques, que aqui ele relata em tr�s cartas -- uma enviada a mim, outra ao diretor da Folha de S. Paulo, Ot�vio Frias de Oliveira, a �ltima ao editgor do jornal eletr�nico no., Marcos S� Corr�a � � alarmante. Algo de muito estranho est� se passando na Prefeitura de Campinas. � O. de C.

 

Carta de Martim Vasques da Cunha a Olavo de Carvalho

 

Escrevo estas linhas sob o peso do terror nos ombros da minha fam�lia. Meu nome � Martim Vasques da Cunha de E�a e Almeida, sou jornalista, e filho da professora e doutora Maria da Piedade do Botelho Vasques da Cunha de E�a e Almeida. Ambos estamos sendo v�timas de um ataque sistem�tico realizado pela administra��o municipal de Campinas, no caso o Governo Popular e Democr�tico, dominado pelo Partido dos Trabalhadores.

Como deve saber, no dia 10 de setembro de 2001, aconteceu uma trag�dia nesta cidade: o assassinato de Antonio Carlos da Costa Santos, o Toninho, em uma avenida perto do Shopping Iguatemi. Um m�s depois, este caso ainda est� sendo investigado pela Pol�cia Civil de Campinas que, mesmo com todas as press�es pol�ticas do PT para que se jogue a possibilidade de um crime pol�tico, est� fazendo o trabalho correto em apurar todas as vers�es deste acontecimento, atendo-se somente �s evid�ncias.

No entanto, h� a Comiss�o de Investiga��o da Prefeitura que supervisiona o caso e ela fez um dossi� com 11 t�picos, com nomes de suspeitos ou poss�veis interessados na morte do prefeito. E entre esses nomes est�o o meu e o da minha m�e. Como fomos parar nessa enrascada?

A hist�ria � um tanto longa. Minha m�e era amiga �ntima do Sr.Prefeito e, com a vit�ria deste, ele pediu que ela o ajudasse na quest�o da seguran�a, motivo de grande preocupa��o da popula��o campineira. Ambos criaram, com ajuda de representantes da sociedade civil organizada, o Conselho Integrado de Seguran�a em que discutiriam e analisariam as a��es e as pol�ticas p�blicas da Secretaria de Seguran�a. Ap�s tr�s meses, com a minha m�e representando ningu�m menos que o pr�prio Prefeito, ele resolveu que, para "apressar a credibilidade do Conselho", deveria usar o v�nculo institucional dela com a Universidade de S�o Paulo, da qual ela est� afastada por problemas de sa�de. Minha m�e disse que n�o era preciso, mas mesmo assim o Prefeito providenciou todos os documentos que julgava necess�rios, e confirmou a liga��o do Conselho com a USP atrav�s da presen�a da professora e doutora Maria da Piedade. Durante seis meses, ela preparou as pautas de todas reuni�es, coordenou as atas, conseguiu instalar o Conselho em uma sala pr�pria com computadores atualizados - tudo gratuitamente e voluntariamente, pagando do seu pr�prio bolso e n�o tendo nenhuma ajuda da Prefeitura. Fazia isso pelo grande amigo Toninho, sem se preocupar com ganho pol�tico ou autopromo��o.

No m�s de mar�o fui convidado por uma amiga do Prefeito, a Sra. Neuza Rizzi, Diretora da R�dio Municipal e Diretora Interina de Turismo, para trabalhar na Secretaria Municipal de Cultura, ent�o sob o comando do Sr. Jorge Coli. Minha fun��o era ajudar o ent�o Diretor de Cultura, o Sr.Marcos Tognon, em elaborar um projeto de comunica��o integrada e de assessoria de imprensa que teria como carro-chefe dois boletins informativos eletr�nicos, "Circula Cultura" e "Informa Cultura". O p�blico-alvo deste projeto seria a c�pula do Governo Popular e Democr�tico e seus funcion�rios, al�m da imprensa campineira e do eixo Rio-S�o Paulo. Tanto o Sr. Tognon como a Sra. Rizzi me afirmaram que a minha nomea��o sairia sem problemas e que eu n�o deveria me preocupar. E assim fiquei por tr�s meses. Nesse per�odo notei uma s�rie de irregularidades - como documentos sendo queimados todos os dias no final do expediente � das quais muitas foram confirmadas por assessores e amigos pessoais do Prefeito. Al�m disso, fui convidado a participar de um pl�gio em cima de um projeto chamado "Brinquedoteca", j� elaborado por uma funcion�ria chamada Giselda Pereira Silva. N�o aceitei pelo simples motivo que eu n�o gostaria de chegar no Para�so e, quando me encontrar com o Todo-Poderoso, confessar que corrompi a minha alma. Curiosamente, fui chamado no dia seguinte pela Sra. Rizzi que me disse que eu n�o seria mais contratado pela Prefeitura por causa da Lei da Responsabilidade Fiscal. Na mesma semana, atrav�s de contatos com minha m�e e com assessores, conversei com o Sr. Prefeito que garantiu a minha nomea��o para o Departamento de Comunica��o. No entanto, depois de um m�s nada aconteceu e percebi que ele queria me fazer de tolo. Afinal, tinha cumprido o meu trabalho e, numa sociedade organizada, quem faz o seu trabalho � pago por ele. Escrevi e enviei um e-mail contando o meu caso com a devida indigna��o aos deputados do PT, Jos� Dirceu, Jos� Geno�no e Renato Sim�es e aos deputados da oposi��o, Carlos Sampaio do PSDB, e Peterson Prado do PPB. O resultado foi imediato: em menos de uma semana, fui chamado pelo Prefeito, que afirmou aos seus colegas que "este garoto me p�s numa sinuca pol�tica" e, com a ajuda do chefe de expediente do gabinete, Sr. Ari Pedrazzoli, resolveu o meu problema em menos de quinze minutos. Assim, minha nomea��o, como assessor departamental t�cnico n�vel III (sal�rio: R$ 1.466, mais ou menos o piso de um jornalista rec�m-formado, segundo o sindicato) saiu por tempo determinado - do dia 23 de mar�o ao dia 12 de junho de 2001. Recebi meu cheque um m�s depois e acreditei que minha hist�ria terminara.

Grave engano. Logo depois do meu problema na Secretaria, minha m�e notou, no m�s de Julho, que seu velho amigo n�o era mais o mesmo. Seu comportamento mudara; estava mais taciturno, n�o falava mais com os antigos colegas, evitava falar com minha m�e sobre os problemas da Prefeitura. Preocupada e ciente de v�rias irregularidades que tamb�m aconteciam em a Prefeitura, minha m�e acreditou que o �nico meio de atingir a personalidade turbulenta do Prefeito era escrever artigos no jornal falando sobre esses problemas e incitando o amigo a uma resposta. Como ele n�o respondia, ela insistiu, abordando todas as secretarias. A rea��o a estes artigos da parte do PT parecia ser de respeito, assim como a da oposi��o. Tudo parecia estar sob controle at� o dia em que o Secretario da Cultura, Sr. Marcos Tognon (Jorge Coli havia se retirado do cargo porque, simplesmente, n�o comparecia mais � Secretaria), respondeu a um artigo de minha m�e sobre as pol�ticas culturais adotadas pela administra��o. A resposta do Secretario foi no m�nimo insidiosa, afirmando que minha m�e procurava ganho pol�tico e era oportunista. A tr�plica dela foi mais violenta, inclusive denunciando, sob formas de perguntas, as irregularidades que eu havia descoberto na Secretaria e confirmado com assesores do Prefeito: o aumento de 15% no sal�rio dos assessores da Cultura em rela��o � administra��o passada (que era de Francisco Amaral, do PPS), considerada "perdul�ria" pela ent�o oposi��o do PT; a persegui��o sistem�tica a funcion�rios de carreira e concursados da Prefeitura; e o fato de que o dinheiro da venda dos programas da Orquestra Sinf�nica de Campinas n�o f�ra repassado ao Fundo de Assist�ncia � Cultura.

Isso foi no dia 30 de agosto. At� o fat�dico 10 de setembro, aconteceram os seguintes fatos: minha m�e estava elaborando o Plano de Seguran�a que iria entrar na sele��o feita pelo Governo Federal de uma verba de R$ 15 milh�es. Ela havia conseguido a presen�a do assessor do Minist�rio da Justi�a, o dr. Andr� Dahmer, para uma reuni�o especial com o Conselho para que ele explicasse todos os detalhes de como deveria ser apresentado o Plano. Na sua boa-f�, enviava e-mails constantes ao amigo Toninho, relatando o que aconteceu nas reuni�es e enviando mensagens pessoais. Ele respondia apenas atrav�s de sua oficial de gabinete. E a amizade foi indo nesse ritmo at� o dia 10 de setembro, quando Toninho morreu assassinado por um tiro de 9 mm que atingiu a art�ria aorta, o que provocou morte instant�nea.

Minha m�e ficou chocada. Perdera um amigo. No entanto, perderia mais. No dia 14 de setembro, em plena reuni�o do Conselho de Seguran�a, ela � avisada de que a Prefeitura apresentou uma den�ncia ao Minist�rio P�blico de que ela teria praticado, "em tese", falsidade ideol�gica para ter vincula��o com a USP e assim poder entrar no Conselho. Abalada, o �nico documento que ela reconhece � uma fotoc�pia de uma carta que Toninho, de acordo com o pr�prio, havia conseguido pessoalmente do reitor Jacques Marcovitch comprovando o v�nculo da minha m�e com a USP; Toninho havia entregue o original a ela, depois o tomou de suas m�os, afirmando que "ela n�o precisava se preocupar pois o Prefeito de Campinas havia resolvido o problema", deixando que ela ficasse apenas com uma c�pia. Os outros documentos ela nem sequer sabia da exist�ncia deles pois, como j� foi dito, foi o pr�prio Toninho que tomou conta da situa��o.

O detalhe revelador estava nos dias em que os of�cios feitos pelo Gabinete do Prefeito e dirigidos ao Gabinete do Reitor da USP foram enviados: eles come�aram na �ltima semana de agosto e se estenderam at� as v�speras da morte do prefeito. Ou seja, justamente ap�s o per�odo em que minha m�e havia come�ado a escrever as cr�ticas no jornal. Al�m disso, onde estavam os originais dos documentos j� que as respostas da USP eram c�pias de fax assinadas por uma tal de Nina Beatriz Stocco que se dizia chefe de gabinete?

� aqui que a Prefeitura d� a sua vers�o da hist�ria, em um documento produzido pelo Secret�rio de Neg�cios Jur�dicos, Nilson Roberto Luc�lio, dizendo que Toninho estaria levando dentro do carro no momento de sua morte um dossi� sobre a minha m�e. Sup�e-se que esse dossi� sumiu sem deixar pistas e, s� por causa disso, a minha m�e seria uma das suspeitas. A minha entrada nesse cambalacho todo se deve por causa da minha atitude de "confronto" com o Prefeito. Logicamente, isso foi um prato cheio para os jornalistas que possuem rela��es mais do que �ntimas com o PT, mas aqui eu quero deixar abrir uma exce��o sobre o jornal Correio Popular e a TV EPTV Campinas, filial da Rede Globo, que noticiaram o fato de maneira discreta e correta, sem exageros, inclusive preservando o uso da imagem e at� mesmo a divulga��o dos nomes. O problema foi com a Folha de S�o Paulo, no caso a sucursal Folha Campinas, que implicou a mim e a minha m�e como poss�veis suspeitos, divulgou que eu teria sido "exonerado a bem do servi�o p�blico" e publicou uma foto em que ela aparentava estar em desespero. Claro que tamb�m nem preciso dizer da assustadora corrente de desinforma��o que o PT possui, propalando inj�rias, cal�nias e difama��es que, ditas de modo freq�ente, se tornam verdades.

H� uma retalia��o cristalina e tamb�m um motivo pol�tico por tr�s disso. Minha m�e, apesar de toda a amizade com Toninho, � do PSDB; foi assessora de Franco Montoro e M�rio Covas. Ela entrou na USP atrav�s de concurso p�blico depois de uma extenuante persegui��o dentro da Pontif�cia Universidade Cat�lica de Campinas. Seu t�tulo de doutora foi um triunfo solit�rio e sua trajet�ria pol�tica sempre foi marcada pela integridade e pela lealdade. Para mostrar ao seu amigo Toninho como era leal, lutou para manter a credibilidade do Conselho de Seguran�a e criar um Plano de Seguran�a que n�o atendesse a interesses ideol�gicos e sim � preocupa��o da cidade. N�o � uma coincid�ncia que, agora com a prefeita Izalene Tiene, fiel disc�pula do deputado estadual Renato Sim�es, e que sempre disse que o Conselho deveria ser parte da sua menina dos olhos, o Or�amento Participativo, essa den�ncia apare�a em um momento t�o prop�cio? E n�o � coincid�ncia que a prefeita pe�a uma m�sera verba de R$ 1 milh�o e coloque a Seguran�a como s�tima prioridade no OP?

Quanto a mim, sou mais um jornalista que queria ter alguma estabilidade no in�cio da carreira. Fui levado pela boa-f� da minha m�e em rela��o ao seu amigo Toninho. Mas, como n�o sou militante do Partido dos Trabalhadores ou de nenhum partido pol�tico (justamente para preservar minha independ�ncia de esp�rito), percebi o que iria acontecer com uma certa anteced�ncia. Por isso me insurgi contra a situa��o humilhante em que me colocaram  e fui atr�s do que era n�o s� o meu direito, mas tamb�m o meu dever como jornalista. O �nico erro meu e o da minha m�e, segundo a �tica do PT, � que n�o ficamos de boca calada. Bem, isso � problema deles. Vou continuar a contar a minha hist�ria at� o momento em que virem o massacre que est�o provocando numa simples fam�lia de classe m�dia. A grande diferen�a deste caso em rela��o aos demais � que se trata de uma pessoa que era amiga �ntima do Prefeito, fez cr�ticas para manter essa amizade de forma justa e honesta e isto foi manipulado em proveito de um projeto de tomada de poder. Ao contr�rio do Fabr�cio de Stendhal, tenho plena consci�ncia que estou fazendo parte de um momento crucial do meu pa�s, um pa�s que eu n�o suporto muito, mas � o �nico que tenho. � um momento em que o terror se traveste de caridade e que as boas inten��es n�o lotam mais o Inferno porque at� mesmo o Diabo deve estar irritado com elas. Assim, pe�o que tome conhecimento do meu caso e que transmita da melhor forma que puder. Temo pela minha integridade e da minha fam�lia, mas n�o irei me abater pelo medo e pelo terror pois sei que meu maior aliado est� me protegendo, seja atrav�s do sil�ncio ou do trov�o.

Um forte abra�o

Martim Vasques da Cunha de E�a e Almeida

Jornalista

Campinas 10 de outubro de 2001

 

Carta a Ot�vio Frias de Oliveira

 

Pessoas Comuns em Situa��es Extraordin�rias

Martim Vasques da Cunha

 

Ilmo. Sr. Diretor Editorial do jornal �Folha de S�o Paulo�, DD.Jornalista Ot�vio Frias Filho:

 

�O homem mais poderoso que h� no mundo
� o que est� mais s�

Henrik Ibsen, �O Inimigo do Povo�

 

Martim Vasques da Cunha de E�a e Almeida, brasileiro, solteiro, jornalista, residente na Av.Francisco Glic�rio, 1058, conjunto 1015, 10o andar, Campinas-SP, tendo em vista not�cia publicada na edi��o de 5 de outubro de 2001, caderno Folha Campinas, p�gina C3, manchete �Pol�cia ouve dois sobre pasta de Toninho�, assinado por rep�rter �free-lance�, deste prestigioso �rg�o de Imprensa, pela presente Notifica��o Extra-Judicial nos termos do que disp�e a Lei 5.250 de 9 de fevereiro de 1967 em seu artigo 29, 30, par�grafo primeiro, al�nea �a�, vem � presen�a de Vossa Senhoria pleitear o Direito de Resposta t�o necess�rio � liberdade, uma vez que a responsabilidade nasce da liberdade e, assim, o Direito de Resposta �� defender tamb�m a liberdade de Imprensa�.

Pelos motivos e raz�es a seguir expedidos, solicitando que seja publicada com o mesmo destaque e na mesma p�gina, a fim de que se restabele�a a verdade sobre os fatos naquela mat�ria veiculados:

A not�cia apresenta fatos e dados que n�o possuem criteriosa apura��o e que, portanto, prejudicam a imparcialidade e n�o expressam a verdade que o projeto editorial deste prestigioso jornal quer demonstrar aos seus leitores.

O primeiro dado equivocado est� na manchete: �Pol�cia ouve dois sobre pasta de Toninho�, em que se refere sobre um suposto dossi� que teria sumido no carro do Sr. Prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos, logo ap�s ao momento de seu assassinato, ocorrido no dia 10 de setembro de 2001. Tanto eu como minha m�e, a professora e doutora Maria da Piedade do Botelho Vasques da Cunha de E�a e Almeida, fomos intimados pela Pol�cia Civil de Campinas para prestar declara��es e colaborar nas investiga��es. Isso significa, e espero deixar isso bem claro, que n�o fomos como testemunhas ou, como alguns maliciosos querem pensar, suspeitos. O t�pico do dossi� (que, presume-se, seria sobre a minha m�e, membro do Conselho Integrado de Seguran�a) era marginal no decorrer dos interrogat�rios, centrando-se sobre o meu per�odo como funcion�rio p�blico na Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Turismo e sobre a amizade que a professora e doutora Maria da Piedade mantinha com o Sr. Prefeito.

O segundo dado, tamb�m equivocado, seria sobre a minha pessoa, Martim Vasques da Cunha de E�a e Almeida, que teria sido �exonerado a bem do servi�o p�blico�. Isso tamb�m n�o corresponde � verdade, assim como os rumores de que eu teria sido �demitido�. Trabalhei na Secretaria Municipal de Cultura no per�odo entre 23 de mar�o a 12 de junho de 2001 depois que fui convidado pessoalmente pela Diretora da R�dio Municipal e Diretora Interina de Turismo, Sra. Neuza Rizzi, para ajudar o ent�o Diretor de Cultura, Sr.Marcos Tognon, a realizar e executar um projeto de comunica��o integrada e de assessoria de imprensa em que teria como carro-chefe os boletins eletr�nicos �Informa Cultura� e �Circula Cultura�. O p�blico-alvo deste projeto seria a c�pula do Governo Democr�tico e Popular e seus funcion�rios, al�m da imprensa da regi�o campineira e do eixo Rio - S�o Paulo. No entanto, nesse meio tempo, descobri irregularidades na Secretaria, confirmadas inclusive por assessores e amigos pessoais do Sr.Prefeito, tais como: aumento de 15% no sal�rio dos assessores da Secretaria de Cultura em rela��o � administra��o passada, considerada �perdul�ria� pela oposi��o do PT; persegui��o sistem�tica a funcion�rios de carreira e concursados da Prefeitura na mesma Secretaria; e o fato de que o dinheiro das vendas dos programas da Orquestra Sinf�nica de Campinas n�o ter sido repassado ao Fundo de Assist�ncia � Cultura.

Fui tamb�m convidado a participar dessas irregularidades, entre elas a de realizar pl�gio de um projeto chamado �Brinquedoteca� feito pela funcion�ria Giselda Pereira Silva. Minha recusa a estes convites se deve ao simples fato de que, como jornalista e juramentista da minha turma de faculdade, gosto de dormir com a consci�ncia tr�nq�ila. Curiosamente, na manh� seguinte, a Sra. Rizzi e o Sr. Tognon me chamaram e logo falaram que eu n�o seria mais contratado pela Prefeitura pois n�o interessava mais ao Sr.Prefeito devido � Lei da Responsabilidade Fiscal. Contudo, existia um pequeno detalhe: est�vamos no dia 12 de junho e eu sequer tinha sido nomeado no Di�rio Oficial do Munic�pio. Portanto, como poderia ter sido demitido?

No dia seguinte conversei com o Sr. Prefeito que me garantiu a minha nomea��o atrav�s do Departamento de Comunica��o da Prefeitura. Exatamente um m�s depois, descobri, atrav�s do mesmo assessor e amigo pessoal do Sr. Prefeito que me confirmou as irregularidades na Secretaria, que este �ltimo n�o iria me contratar por �falta de interesse�. Decidi que ningu�m me faria de tolo e escrevi um e-mail relatando o meu caso com a necess�ria indigna��o, enviando-o a pol�ticos do PT como Jos� Geno�no, Jos� Dirceu, Eduardo Suplicy e Renato Sim�es, e tamb�m a pol�ticos da oposi��o, como Carlos Sampaio do PSDB e Peterson Prado do PPB. O efeito foi imediato: na mesma semana, o Sr. Prefeito me chamou, disse que tomaria provid�ncias administrativas e passou o problema ao Sr. Ari Pedrazzoli, chefe de expediente do gabinete, que resolveu a quest�o com uma rapidez exemplar. Naquela mesma tarde, por coincid�ncia, encontrei-me com a ent�o vice-prefeita Izalene Tiene que, como boa cat�lica, ouviu meu caso e me perguntou se gostaria de ser transferido para trabalhar em uma outra secretaria. Respondi que queria apenas receber pelo o que trabalhei e n�o ser nomeado em qualquer outro lugar j� que estava completamente desiludido com a administra��o municipal.

Minha nomea��o por tempo determinado � 23 de mar�o a 12 de junho de 2001 � saiu no Di�rio Oficial do Munic�pio no dia 26 de julho p.p.. Se o rep�rter free-lance deste distinto jornal tivesse conferido nesta publica��o veria que l� est� o meu nome e escrito da seguinte forma: �(...)exercer em comiss�o o cargo de Assessor T�cnico Departamental N�vel III, junto a Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Turismo�. N�o se l� �exonerado a bem do servi�o p�blico� � a n�o ser no relat�rio elaborado pela distinta Comiss�o de Investiga��o da Prefeitura em que o bom rep�rter free-lance preferiu � verdadeira apura��o jornal�stica que este �rg�o tanto preza.

O terceiro dado � referente � minha m�e, a professora e doutora Maria da Piedade. Parece que corre um desejo de errar por pregui�a ou por mal�cia ao afirmar que ela teria utilizado falsa diploma��o da USP para se credenciar ao Conselho de Seguran�a. O rep�rter free-lancer desconhece o fato de que qualquer representante do segmento da sociedade civil organizada pode entrar no conselho, o que era o caso da minha m�e j� que representava ningu�m menos que o pr�prio Sr. Prefeito. O v�nculo da professora e doutora com a USP foi usado pelo Sr. Prefeito para apressar a �credibilidade do conselho� enquanto esse detalhe era de interesse dele, mesmo sabendo de seu afastamento da Universidade devido a problemas de sa�de.

O que fica claro, ao relatar a verdade destes fatos (todos comprovados com documentos que ser�o exibidos � Justi�a no seu devido tempo), � a retalia��o que o Governo Popular e Democr�tico est� realizando contra mim e minha m�e por termos descoberto irregularidades publicadas em artigos escritos por ela no jornal Correio Popular. A grande prova disso est� na foto publicada na mesma mat�ria, creditada ao fot�grafo Marcos Peron, em que a professora e doutora aparenta estar em desespero. Na verdade, era o contr�rio j� que ela estava rindo do modo bizarro que os jornalistas a incitavam para ter alguma declara��o ou imagem desconfort�vel. Mesmo com os delicados pedidos de �sem fotos, por favor�, fizeram quest�o de publicar a foto em quest�o, o que mostra um claro exemplo de uso indevido da imagem. H� tamb�m um detalhe agravante: a Folha de S�o Paulo foi o �nico �rg�o da Imprensa que deu destaque excessivo ao fato j� que nem mesmo a TV local (EPTV Campinas, filial da Rede Globo) exibiu imagens da professora (ou sequer citou seu nome) e o jornal Correio Popular publicou uma not�cia discreta. Al�m disso, ela havia divulgado uma curta nota � Imprensa, transcrita somente em parte. � a partir de incidentes como este que nos faz refletir sobre o que seria o senso apurado de not�cia de alguns jornalistas ou � para ir mais longe � at� onde vai o interesse de realizar um bom trabalho e n�o ser apenas bem pago.

Assim, encaminho a vossa senhoria a realidade dos fatos ocorridos que se contrap�e �s narradas no notici�rio estampadas neste peri�dico.

Confiando no elevado esp�rito de justi�a de vossa senhoria para que a verdade seja restabelecida plenamente, solicito que a publica��o da resposta tenha as dimens�es previstas na Lei n�mero 5.230/67.

Campinas, 9 de outubro de 2001

Martim Vasques da Cunha de E�a e Almeida

Jornalista

 

Carta a Marcos S� Corr�a

 

A Morte e morte de Antonio Carlos da Costa Santos

Martim Vasques da Cunha

 

Ilmo.Sr. Editor do jornal eletr�nico no., Marcos S� Corr�a:

Antes de tudo, pe�o calma. O meu texto n�o ser� uma par�dia do conto de Jorge Amado, um escritor que nunca gostei mas entrou na hist�ria por ter criado esse t�tulo que exemplifica bem o tema de seu �ltimo artigo, "O M�rtir da Banalidade". Nele, o senhor discorria sobre o assass�nio de Antonio Carlos da Costa Santos, tamb�m conhecido como Toninho do PT, que morreu realmente de uma maneira est�pida e triste: um tiro que estourou na art�ria aorta enquanto ia para a sua casa e tentou resistir a um assalto - bem, � triste dizer isso - "comum".

Porqu� estou escrevendo esta resposta que nem sei se ser� considerada como uma "resposta"? Muito simples: fa�o isso porque me sinto no dever de retificar alguns pontos de seu artigo. N�o entenda isso como amostra de arrog�ncia ou petul�nica de um jovem jornalista. Entenda como a ajuda de algu�m que sabe de alguns detalhes desta hist�ria que ainda n�o foi muito bem divulgada.

Supondo que o senhor recebeu e leu algumas das minhas "notas de ins�nia" que mando por e-mail e que discorrem sobre o atual estado de coisas, j� deve saber que sou o anti-petista por excel�ncia, o que � uma defini��o errada. Sou o anti-hip�crita por excel�ncia. Meu probleminha com o Partido dos Trabalhadores se deve ao fato de que seus integrantes e pol�ticos se utilizam das boas inten��es e dos bons sentimentos para camuflar um projeto de tomada de poder. J� vejo o senhor abrir os olhos e falar consigo mesmo: "Ah, n�o! Mais um querendo ser Olavo de Carvalho!". Diga o que quiser, mas Olavo de Carvalho � o �nico que tem a coragem de apontar o dedo na ferida e, no caso do Toninho do PT, fazer isso � um procedimento terap�utico que deve dar algum resultado.

A ferida em quest�o � que Toninho do PT era um prefeito que n�o dava a m�nima para a seguran�a - qualquer tipo de seguran�a. N�o � � toa que acabou assassinado como um bom cidad�o. Sim, Campinas � uma cidade violenta, assim como S�o Paulo e Rio de Janeiro, mas atualmente essa quest�o da viol�ncia, depois do Terror do dia 11 de setembro, �, como diriam os uspianos, "relativa". Na verdade, o mundo � violento, o ser humano � perverso e n�o h� outro modo de viver com isso exceto aceitar essa condi��o. Portanto, dizer que Toninho � v�tima da banalidade do crime na selva urbana � uma forma disfar�ada de tamb�m querer transform�-lo em m�rtir. O banal nessa hist�ria � uma dessas ironias do destino que est� al�m da nossa compreens�o.

Toninho n�o se preocupava com seguran�a porque esse foi um t�pico que nunca fez parte dos interesses do PT. Ele havia criado o Conselho Integrado de Seguran�a para implementar as pol�ticas p�blicas da �rea para o munic�pio. Convidara pessoas representativas da sociedade civil para perfumar o Conselho com a frag�ncia da transpar�ncia. No entanto, simplesmente, em todas as reuni�es (nas quais chegava � p�, sem nenhum acompanhamento policial) jogava a culpa no Estado. "Ah! Isso � atribui��o do Estado!", ele dizia, "Ah! N�o posso fazer isso porque o Estado n�o me deu dinheiro" e por a� vai... Era uma outra vers�o de "Mam�e eu quero, mam�e eu quero mamar!" nunca lan�ada nas paradas de sucesso. Tamb�m havia o impedimento de que a administra��o n�o dava subs�dios para as propostas do Conselho - que eram as mais simples: opera��es de retiradas dos menores, blitzes em bares, revistas de PM na estrada, legaliza��o de terrenos, reformula��o do espa�o urbano. Advinha o que a Prefeitura dizia? "Ah! Isso s�o medidas impopulares, neo liberais! O PT n�o pode participar disso!" Assim, menores de rua continuavam a ser explorados, os bares da periferia continuavam abertos at� as quatro da manh� e o Centro... bem, o Centro ficou igual a Cingapura, entulhado de cam�los ilegais que vendiam de churrasco de gato at� detetizador de barata.

O desprezo em rela��o a qualquer esp�cie de prote��o - seja policial ou privada - era uma ferrementa populista que Toninho usava para mostrar que era algu�m no estilo "gente que faz". Ele andava sozinho no carro, com a janela aberta, ficava na Prefeitura at� tarde da noite, era extremamente met�dico no seu dia-a-dia - dizia que isso fazia parte de seu "rito de passagem" (passagem para onde ningu�m sabe...). Ignorava as mais elementares quest�es de seguran�a pessoal. No gabinete, deixava coron�is da PM esperando tr�s horas para uma simples entrevista (delegados da Pol�cia Civil ficavam sentados nos sof�s de couro preto por quase cinco horas, muitos sem almo�ar).

N�o estamos falando do m�rtir da banalidade. Estamos falando de um sujeito que parecia suplicar para que sua morte fosse banal. O que nos leva ao ponto que discordo totalmente do seu artigo: a martiriza��o de Toninho n�o est� sendo feita pela oposi��o. Est� sendo feita - ou melhor, fabricada - pelo pr�prio PT. A press�o que o PT faz em cima da Pol�cia Civil para que se tenha ind�cios de um crime pol�tico - inclusive com a hist�ria de um dossi� incriminador que envolveria uma pessoa da minha fam�lia, amiga �ntima do Prefeito e, por isso mesmo, a �nica que se op�s �s irreguaridades de sua administra��o - � digna de um Komitern. A sorte � que, apesar de todas as falhas, a Pol�cia Civil quer fazer o seu trabalho corretamente e que ainda vivemos algumas fagulhas de democracia. Sua cita��o do deputado estadual Renato Sim�es (curiosamente o que mais ganha com a morte de Toninho j� que a atual prefeita, Izalene Tiene, � sua fiel disc�pula na Frente Socialista) foi feita com os melhores dos prop�sitos jornal�sticos, mas caiu na armadilha da velha m�xima de Jonh Ford em "The Man Who Shot Liberty Vance": Entre a lenda e o fato, publique-se a lenda.

O problema � que Toninho nunca ser� uma lenda. No m�ximo, ser� placa de rua ou nome de pr�dio tombado pelo Patrim�nio Hist�rico. Acredito at� que ele deveria ter suas boas raz�es para fazer Campinas uma cidade mais humana e habit�vel, mas, como algumas coisas s�o muito terr�veis para serem verdade, ficar� aquela sensa��o de ter morrido na praia. Se algu�m quiser fabricar uma lenda em torno dele, que seja a de Absal�o, filho de Davi que, ap�s ter conspirado contra o pai, morreu numa batalha porque ficou preso entre os galhos de uma �rvore. Antes de guerrear, erigiu um monumento com seu pr�prio nome porque "n�o tive nenhum filho para preservar minha mem�ria". Toninho pelo menos deixou uma filha, Marina - essa sim, a verdadeira personagem tr�gica desta saga de erros. Mas sua mem�ria que poderia ter algum futuro j� faz parte do passado. O que nos resta � ir para frente, enterrar de vez Toninho e deixar a vida tomar seu rumo, dando aos mortos seu descanso merecido, mesmo quando envoltos no manto da banalidade.

Cordialmente,

Martim Vasques da Cunha

Jornalista

P.S. Sei que este texto vai parar entre v�rios outros na se��o "Cartas ao Editor". Por isso, pe�o que leia com aten��o e que reconsidere alguns pontos de seu artigo. Tenho admira��o pela sua carreira e pelo seu trabalho no no., mesmo com algumas diverg�ncias em rela��o ao foco de muitas mat�rias e artigos - claramente "Terceira Via", ao meu ver. No entanto, a beleza da democracia � isso: a possibilidade de confrontar v�rias opini�es para depois mud�-las e ter um novo ponto de vista. E, no caso, tenho certeza que se o senhor averiguar outras opini�es sobre o assunto, ver� que o caso Toninho do PT � apenas o in�cio de uma hist�ria que mostra um lado muito obscuro do Partido dos Trabalhadores.