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Gilberto Freyre: Ci�ncia social e consci�ncia pessoal

OLAVO DE CARVALHO
Diretor do Semin�rio de Filosofia
do Centro Universit�rio da Cidade, Rio de Janeiro

Comunica��o apresentada ao
Semin�rio Internacional �Novo Mundo nos Tr�picos�
Centen�rio do Nascimento de Gilberto Freyre
Funda��o Gilberto Freyre, Recife, 24 de mar�o de 2000

 

Uma das dificuldades que se apresentam na constitui��o de qualquer ci�ncia � o problema de onde encontrar o seu objeto. Nas ci�ncias naturais, esse objeto est� dado em torno e pode ser apreendido pelos sentidos. Mas mesmo essa aparente facilidade � enganosa, primeiro porque os limites entre as esp�cies de seres da natureza s�o freq�entemente amb�guos e nebulosos, segundo porque os objetos naturais n�o v�m com r�tulos informando quais as perguntas que devemos fazer a respeito deles; e, quando come�amos a fazer estas perguntas, n�o raro os objetos a que nos refer�amos nos respondem que elas n�o se aplicam propriamente a eles, mas sim a algum outro tipo de objetos adjacentes ou circunvizinhos, ou mesmo a entes que n�o existem na natureza e que foram apenas inventados por n�s mesmos.

Para eludir essa dificuldade, costumamos apegar-nos � unidade das palavras que designam �reas inteiras da realidade dada. Usamos, por exemplo, a palavra �f�sica�, supondo que existe no universo um campo, ou uma faixa, correspondente a objetos que chamamos �f�sicos�. Mas com um pouco de estudo descobrimos que essa palavra significava uma coisa para Arist�teles, outra para Newton, outra para Planck. A� n�o temos alternativa sen�o perguntar se essas tr�s significa��es dadas � palavra designam tr�s aspectos percebidos sucessivamente no mesmo objeto ou tr�s objetos completamente diferentes. No primeiro caso, contra�mos a obriga��o de descobrir qual a unidade ou subst�ncia da qual esses tr�s aspectos s�o as propriedades ou acidentes. E, quando tivermos a felicidade de descobri-lo, teremos inaugurado uma quarta acep��o da palavra f�sica, incumbida de designar o estudo cient�fico do objeto unit�rio cujos aspectos separados foram estudados sucessivamente por Arist�teles, Newton e Planck. Na segunda hip�tese, isto �, se descobrimos que o termo escolhido designou historicamente tr�s objetos diversos e independentes, o problema que isto nos coloca � mais espinhoso ainda: trata-se agora de saber se as distin��es entre as tr�s ci�ncias que receberam ao longo do tempo o mesmo nome de �f�sica� correspondem a distin��es objetivas, isto �, �s fronteiras que separam os entes entre si, ou se refletem apenas tr�s distintas dire��es poss�veis da aten��o humana, projetada acidentalmente sobre entes, propriedades e acidentes escolhidos a esmo.

Que existem fronteiras entre os entes, que eles n�o se apresentam fundidos e indistintos numa mix�rdia universal, a mais banal experi�ncia o confirma. A obviedade desta constata��o pode dar lugar a situa��es c�micas. Quando o falecido presidente J�nio Quadros, indagado por que bebia, respondeu que bebia porque se tratava de l�quido, j� que se fosse s�lido o comeria, talvez n�o tivesse a id�ia de enunciar um princ�pio de metodologia cient�fica, mas de fato o fez. O �comer� pode ser uma met�fora do �conhecer�. Se n�o podemos comer o l�quido ou beber o s�lido, n�o podemos conhecer todas as coisas pelos mesmos modos, ou instrumentos. N�o podemos conhecer a estrutura de um mineral pela mem�ria afetiva, nem a vida de Napole�o Bonaparte por dedu��o geom�trica. Em �ltima inst�ncia, o delineamento do campo de uma ci�ncia aparece quando ela esbarra em fronteiras ontol�gicas intranspon�veis. Edmund Husserl dizia que n�o pode haver uma geometria dos le�es ou uma embriologia dos tri�ngulos -- o que faz dele, no m�nimo, um precursor do presidente J�nio Quadros.

Mas, na pr�tica cient�fica, raramente chegamos a essas situa��es limite: uma boa parte das investiga��es e debates se desenrola numa zona fronteiri�a sujeita �s mais alucinantes disputas de jurisdi��o. O problema torna-se ainda mais desesperador porque, uma vez constitu�do um sistema de distin��es entre os campos do saber, por mais provis�rio que seja, esse sistema se materializa imediatamente numa estrutura administrativa: a divis�o dos departamentos numa universidade ou instituto de pesquisa. A� o conflito de jurisdi��es entre conceitos l�gicos se converte num conflito entre poderes, prest�gios e interesses humanos, do qual, para usar o termo mais comedido, direi que � uma confus�o dos diabos.

Ora, se essa confus�o dos diabos pode instalar-se no seio mesmo da ci�ncia natural, ao ponto de Michel Foucault e Thomas Kuhn n�o lograrem explicar as mudan�as de orienta��o da imagem f�sica do cosmos de �poca em �poca sen�o como rota��es acidentais e em �ltima an�lise irracionais do eixo das aten��es, quanto mais desorientador n�o deve ser o panorama no campo das ci�ncias ditas humanas, onde o objeto n�o est� dado � percep��o sens�vel mas tem de ser apreendido no curso da nossa participa��o pessoal na produ��o e modifica��o dessa coisa -- se � que � coisa -- denominada sociedade humana? Nesse campo de conhecimento, jamais chegamos a saber ao certo se o nosso objeto existe ou se ele passou a existir porque dissemos que existe. Um exemplo caracter�stico � o conceito de ideologia de classe. As classes economicamente distintas �t�m� seus respectivos discursos ideol�gicos ou passam a t�-los desde o instante em que um intelectual, fundado no conceito de ideologia de classe, ensina a cada uma o que ela deveria dizer em defesa de seus pr�prios interesse de classe? Outro exemplo � o �inconsciente� freudiano. Cada um de n�s �tem� um inconsciente pessoal ou adquire um na hora em que o psicanalista o ensina a assumir como parte de si um am�lgama de pensamentos semipensados - pequenas percep��es, chamava-as Leibniz - que andam soltas no ambiente familiar, social e f�sico?

Dos nossos cientistas sociais, nenhum se preocupou mais com essas quest�es do que Gilberto Freyre. Ora, a elucida��o delas � o fundamento mesmo da possibilidade de uma ci�ncia social. Sondar at� o fundo essa indistin��o de fronteiras, submergir corajosamente nesse �mare magnum� onde todas as correntes se entremesclam, impregnar-se da variedade e da confus�o sem perder o ideal de unidade e coer�ncia, eis a �nica esperan�a de que as ci�ncias sociais venham a ter um objeto que n�o seja apenas a proje��o de um m�todo previamente escolhido -- um preconceito, no sentido mais rigoroso do termo.

Dos nossos cientistas sociais, repito, nenhum levou mais a fundo essa impregna��o na natureza pl�stica e omn�moda do seu objeto, nem mais longe sua disposi��o de abrir-se a todas as correntes, a todas as hip�teses, a todas as perguntas.

S� com isso ele j� se isenta do v�cio redibit�rio de pelo menos noventa por cento da produ��o cient�fica na �rea de humanas, que � o pendor kantiano de constituir o objeto segundo as exig�ncias do m�todo, em vez de adaptar o m�todo �s exig�ncias do objeto. Esse v�cio torna-se ainda mais grave nos pa�ses jovens, cuja elite intelectual, ansiosa de ombrear-se a seus mestres estrangeiros, empenha tanto esfor�o em dominar os m�todos que acaba n�o lhe sobrando tempo de prestar aten��o no objeto. Como por sua vez a opini�o dos cientistas tende a ser imitada nos debates p�blicos, o Brasil que se discute na m�dia e no Parlamento acaba se parecendo muito mais com uma alucina��o de cientistas sociais do que com o pa�s onde vivemos nossa vida de todos os dias. Um exemplo s�o as discuss�es atuais sobre discrimina��o racial. Lemos na Teoria da Justi�a de John Rawls que todos os conceitos constitutivos da id�ia de democracia se resumem, em �ltima inst�ncia, no conceito de igualdade. Ficamos maravilhados porque isto nos d� um m�todo at� mesmo quantitativo para medir o coeficiente de democracia de um pa�s, e a disparidade de renda entre brancos e negros surge como uma prova inequ�voca de que no Brasil n�o existe democracia racial nenhuma. Se, al�m disso, lemos no prof. Florestan Fernandes que as rela��es entre ra�as correspondem � estrutura da domina��o de classes (que na verdade � uma doutrina enunciada muito antes por St�lin), a� pouco falta para nos persuadirmos de que a sociedade brasileira � nazista. Ent�o ouvimos o presidente Clinton declarar, no seu discurso em Kosovo, que o Ex�rcito americano � um exemplo de integra��o racial, ficamos profundamente envergonhados de n�o ser t�o democr�ticos como os americanos e, ato cont�nuo, sentimos a urg�ncia de copiar o modelo americano de integra��o racial, onde o Estado surge como o mediador entre grupos raciais separados e socialmente incomunic�veis. Olho para tudo isso e n�o posso deixar de sentir que estou em outro planeta. Mas o que aconteceria se, em vez de projetarmos sobre o objeto os m�todos de Rawls e de St�lin tiv�ssemos nos perguntados como esse objeto se constituiu e como ele chegou ao nosso conhecimento? A� ver�amos que, entre a aboli��o da escravatura e os nossos primeiros passos para ingressar no moderno capitalismo industrial, na d�cada de 30, decorreram nada menos de quarenta anos. Ou seja: os escravos libertos tiveram quarenta anos para multiplicar-se sem que a evolu��o da economia multiplicasse concomitantemente os empregos. Eles n�o foram expelidos dos empregos por serem pretos. Simplesmente n�o havia empregos. Que � que isso tem que ver com a discrimina��o racial? Para n�o dizer que n�o tem nada, lan�o a seguinte hip�tese: n�s, racistas brancos, decidimos de prop�sito n�o industrializar o Brasil para n�o dar emprego aos malditos pretos. Fora essa hip�tese, � melhor voc�s lerem o estudo do prof. Alberto Oliva, Florestan Fernandes: Ci�ncia e Ideologia, e comprovarem que Eric Voegelin tinha toda a raz�o ao declarar que a pervers�o ideol�gica das ci�ncias sociais nem sempre vem de uma falsifica��o intencional da realidade (coisa de que o prof. Florestan n�o seria capaz), mas do simples v�cio kantiano de aderir a um m�todo antes de esperar que o objeto diga a qu� veio.

Em compara��o com isso, o que faz Gilberto Freyre? Ele se pergunta, antes de tudo, como o objeto veio ao seu conhecimento pessoal. A evoca��o da inf�ncia n�o � a express�o de um simples pendor autobiogr�fico, liter�rio. Ela expressa a consci�ncia de que o objeto das ci�ncias sociais n�o � dado aos sentidos, mas � pessoa concreta, ao eu autoconsciente que ele pr�prio se autoconstitui � medida que responde a um chamado, obedece ordens, formula pedidos, ocupa um lugar, desempenha fun��es, etc. O modo de apresenta��o do objeto das ci�ncias sociais � esse e somente esse. Ele n�o existe em parte alguma do cosmos se n�o existe na biografia dos seres humanos. Ora, do objeto das ci�ncias f�sicas os primeiros s�bios n�o hesitaram em concluir, desde muito cedo, que seu modo de se apresentar revelava algo de sua constitui��o. Se eles se manifestavam afetando os nossos sentidos, eles podiam ser conhecidos pela a��o que exerciam sobre o nosso corpo, distinguindo o que era sua a��o pr�pria do que era nossa rea��o corporal. Quando falamos de �propriedades da luz�, compreendemos que em parte o que sabemos da luz vem de uma rea��o corporal � estimula��o luminosa, mas em parte vem de algo que, n�o podendo ser explicado por essa simples rea��o, constitui aquilo que a luz � �nela mesma�. Um c�o adormecido, quando estimulado por uma luz forte, desperta imediatamente. Mas n�s, al�m de sermos despertados pela luz, isto �, de sabermos o que a luz faz conosco, sabemos que a luz �� luminosa. Por isto ela pode ser estudada n�o apenas no poder estimulante que tem sobre n�s, mas em suas �propriedades�, naquilo que lhe � pr�prio, que � dela. Esta distin��o, que o fil�sofo basco Xavier Zubiri n�o hesita em definir como o espec�fico da percep��o humana, est� na base de todo conhecimento cient�fico poss�vel.

Mas para apreender o objeto das ci�ncias humanas n�o basta, como no caso do objeto natural, distinguir o que � a��o dele e o que � resposta minha, e n�o basta precisamente porque, ao contr�rio do que acontece com a luz, na qual est�o fisicamente separadas as propriedades dela e as rea��es da minha fisiologia,� minha resposta � sociedade humana faz parte constitutivamente dessa sociedade. N�o podendo separ�-las, o modo de conhec�-las ter� de consistir em articul�-las, o que faz da ci�ncia social, inseparavelmente, um exerc�cio de autoconsci�ncia. Aquele que n�o sabe por onde e como a sociedade humana veio at� ele e o constituiu ao mesmo tempo como membro dela e como individualidade distinta nada sabe da sociedade humana exceto pelos meros nomes que, nos tratados de sociologia, designam os produtos da abstra��o que outras intelig�ncias operaram sobre ela. Esses nomes podem ser combinados numa infinidade de senten�as, que em sua mera formula��o verbal podem ser compreendidas por pessoas que, jamais tendo contado a si mesmas a hist�ria de seu pr�prio ingresso na sociedade humana, n�o t�m a condi��o de tornar presentes � sua consci�ncia os objetos de que elas falam. Pode-se compreender e at� discutir um tratado inteiro de sociologia, psicologia ou ci�ncia pol�tica sem quase nada saber da sociedade. A prova inequ�voca de que isto acontece se evidencia quando o estudioso n�o � capaz de apreender sua pr�pria realidade pessoal com a mesma grade de conceitos com que discute sociologia. Isto se verifica da maneira mais eloq�ente quando as pr�prias circunst�ncias concretas em que uma teoria � enunciada desmentem o conte�do que ela afirma. Por isto mesmo, em ci�ncia social, o �argumentum ad hominem� nem sempre � desprez�vel mas pode ser utilmente integrado no m�todo. Ele permite averiguar quando uma teoria � uma vis�o que um homem pode projetar sobre o mundo exterior mas na qual n�o pode ele pr�prio se instalar como personagem. O exemplo cl�ssico �, de novo, a teoria da ideologia de classe. Se a ideologia tem um v�nculo essencial com a classe economicamente definida, a possibilidade de um homem ter a ideologia de uma classe que n�o a sua deve ser uma exce��o, n�o a regra. Mas como em geral os prolet�rios s� aderem � ideologia prolet�ria quando alertados pelos intelectuais e estes aderem a ela sem nenhuma ajuda prolet�ria, o fato mesmo de que tantos intelectuais proclamem um v�nculo essencial entre classe e ideologia � um forte ind�cio de que esse v�nculo � acidental.

Eis por que tanto da ci�ncia social moderna tem a apar�ncia inconfund�vel de um fingimento histeriforme, como no caso de um sujeito que saia gritando que n�o consegue falar.

Para escapar dessa armadilha, Gilberto Freyre vai � fonte mesma onde se constitui o objeto da ci�ncia social, que � a constitui��o da pr�pria consci�ncia pessoal na sua intera��o com os demais personagens da trama social. Giambattista Vico assinalava que conhecemos melhor aquilo que n�s pr�prios fazemos do que as coisas que nos chegam prontas. A constitui��o da pr�pria personalidade �, assim, o �nico lugar onde podemos encontrar, em estado puro, o objeto da ci�ncia social. � por onde me conhe�o que conhe�o a sociedade.

N�o por coincid�ncia, no instante mesmo em que Gilberto iniciava sua autobiografia da fam�lia patriarcal brasileira, um outro grande cientista social, o alem�o Eugen Rosenstock, publicava seu livro �Revolu��es Europ�ias�, que se apresentava como o projeto de uma �autobiografia da Europa�. Autobiografia no sentido de que a expans�o da consci�ncia hist�rica de um indiv�duo, at� abranger uma evolu��o de alguns mil�nios, era ali mostrada como resultado e retorno reflexivo dessa mesma evolu��o. Cada sinal deixado pela evolu��o passada transparecia em epis�dios da vida de Eugen Rosenstock, e a evolu��o pessoal de Eugen Rosenstock era, ao mesmo tempo, uma reconquista do sentido do passado hist�rico. Em nenhum momento consci�ncia pessoal e consci�ncia hist�rica se separavam.

Mas, em Rosenstock, a palavra �autobiografia� tinha o sentido de uma chave interpretativa apenas. Em Gilberto ela torna-se instrumento material de investiga��o: ele parte da sua autobiografia pessoal para as autobiografias dos outros, para os registros de mem�rias familiares, para as hist�rias ouvidas de velhas escravas, para as cartas �ntimas de pol�ticos e senhores de terras -- e, ampliando o horizonte em c�rculos conc�ntricos, vai chegando passo � passo � autobiografia do Brasil.

Quando ele diz que descobriu o Brasil, esta frase deve ser compreendida num sentido muito mais profundo e vital do que geralmente se faz. Gilberto descobriu o Brasil na sua pr�pria alma � medida que esta alma se constitu�a descobrindo o Brasil.

Nenhuma ci�ncia lida com fatos concretos. O concreto n�o � o fato isolado no desenho da sua ess�ncia, mas o fato integrado na multid�o de acidentes que o possibilitam. Toda ci�ncia, para apreender seu objeto, deve destac�-lo por abstra��o, fazendo dele uma ess�ncia ideal que possa ser objeto de proposi��es gerais, as quais em seguida ser�o verificados por experi�ncias ou constata��es tamb�m seletivas e abstrativas. Mas o objeto da ci�ncia social demanda um tipo especial de abstra��o. A ess�ncia abstrata ideal que ela visa a obter � nada mais nada menos que a ess�ncia abstrata da pr�pria sociedade considerada na sua exist�ncia concreta, vivente, total. Por isto a abstra��o, em ci�ncia social, jamais alcan�a aquele n�vel de generaliza��o em que j� n�o � mais preciso o retorno cognitivo � experi�ncia direta e pr�-cient�fica. A marca dos grandes cientistas sociais � justamente sua capacidade de ir e vir entre a esfera dos conceitos estabilizados e a realidade social em perp�tua muta��o e reconstitui��o; mas esta realidade s� � encontrada, de novo e de novo, na experi�ncia humana do pr�prio homem de ci�ncia no curso de sua vida pessoal concreta. A autobiografia n�o � apenas o come�o da ci�ncia social, � o seu perp�tuo recome�o, o c�clico mergulho da abstra��o cient�fica na fonte da eterna juventude.

Exerc�cio de generaliza��o cient�fica a partir de um exerc�cio de autoconsci�ncia e vice-versa, a ci�ncia social �, assim, um cap�tulo essencial da pr�tica da sabedoria.

Eis a li��o mais alta que Gilberto Freyre, entre os grandes cientistas sociais do mundo, encarnou com a m�xima perfei��o. Eis por que, mais que um mestre, ele se tornou para n�s um modelo, algu�m a quem voltaremos sempre n�o s� em busca de ensinamento, mas de inspira��o.

20/03/00

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