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Adendo ao Aviso N�mero 3

 

�������� No meu Aviso N�mero 3, apontei as quatro caracter�sticas essenciais da heresia gn�stica, pedindo ao sr. Fedeli que demonstrasse a presen�a de qualquer uma delas nos meus escritos. O sr. Fedeli, com aquele estilo buf�o de adolescente despeitado, a que infalivelmente o homem que n�o sabe escrever recorre quando quer parecer ir�nico, fugiu da cobran�a respondendo que eu, em vez de recorrer a fontes fidedignas como aquelas em que ele se respalda, havia tirado essas informa��es de alguma �enciclop�dia popular tipo Barsa ou do Tesouro da Juventude�. Bem, o fato � que as tirei da Routledge Encyclopaedia of Philosophy, da qual nenhum estudioso s�rio diria essas coisas, e que d� como fontes, entre outras dez ou doze, aquelas mesmas duas que o sr. Fedeli mais enfatuadamente ostenta: R. M. Grant, Gnosticism, An Anthology, London, Collins, 1961, e Hans Jonas, The Gnostic Religion, Boston, MA, Beacon Press, 1958.

�������� Eu poderia ter apelado diretamente a Grant, a Jonas ou a qualquer outro, mas preferi a Routledge para me esquivar de controv�rsias de detalhe entre especialistas e me ater a uma m�dia aceit�vel no consenso acad�mico, que essa enciclop�dia, hoje a obra-padr�o no g�nero, precisamente representa.

�������� Foi de prop�sito que omiti a refer�ncia bibliogr�fica, para testar se o meu interlocutor seria prudente o bastante para admitir a boa f� das minhas alega��es ou se, animado pela falta de uma refer�ncia vis�vel, arriscaria a sorte num blefe de cobran�a erudita, esperando me pegar de cal�as na m�o.

�������� O sr. Fedeli, mais que depressa, escolheu o blefe, mostrando o esp�rito perverso e malicioso que o anima.

�������� Tamb�m foi premeditadamente que me limitei a mencionar as caracter�sticas da gnose antiga, por saber que da moderna, tal como descrita por Eric Voegelin, minha dist�ncia � t�o grande que a simples tentativa de me associar a ela cairia por terra, instantaneamente, como pura invencionice difamat�ria.

�������� Bem, como o mais tr�fego porta-voz do sr. Fedeli � o primeiro a proclamar que a acusa��o de gnosticismo levantada contra mim n�o se referia � gnose antiga, e sim � moderna, n�o custa nada esclarecer em qu�, afinal, esta consiste.

�������� Eric Voegelin, em Science, Politics and Gnosticism, assim resume �as seis caracter�sticas que, tomadas em conjunto, revelam a natureza da atitude gn�stica�.

�������� Primeira. �O gn�stico est� insatisfeito com a sua situa��o.�

�������� Segunda. �Os males da situa��o podem ser atribu�dos ao fato de que o mundo � intrinsecamente mal organizado... Os gn�sticos n�o s�o inclinados a descobrir que os seres humanos em geral ou eles pr�prios em particular s�o inadequados. Numa dada situa��o em que algo n�o � como deveria ser, a culpa ser� encontrada na maldade do mundo.�

�������� Terceira. A cren�a em que �� poss�vel salvar-se da maldade do mundo�.

�������� Quarta. Para isso, �a ordem do ser ter� de ser mudada por meio de um processo hist�rico. Do mundo miser�vel, um mundo bom deve evoluir historicamente�.

�������� Quinta. �O tra�o gn�stico em sentido mais estrito: a cren�a em que uma mudan�a na ordem do ser reside no reino da a��o humana, de que o ato salvacional � poss�vel por meio do pr�prio esfor�o do homem.�

�������� Sexta. �O conhecimento � Gnosis � do m�todo de alterar o ser � a preocupa��o central do gn�stico... a constru��o de uma f�rmula para a salva��o do eu e do mundo�. (1)

�������� Pe�o pois novamente ao sr. Fedeli que aponte, na minha obra, os ind�cios de revolta contra a ordem do ser, de confian�a na possibilidade de mudar essa ordem pela a��o humana, de apologia do processo hist�rico como meio de criar um mundo bom e, sobretudo, do conhecimento entendido como �m�todo de alterar o ser�. Tenho a n�tida impress�o de que h� tempos venho escrevendo contra essas coisas, mas talvez o sr. Fedeli conhe�a o meu pensamento melhor que eu.

�������� Se, fugindo de novo aos conceitos claros, ele repetir sua alega��o de que �a Gnose � um fen�meno religioso bem mais complexo�, e de que �quando se estuda a gnose entra-se num labirinto cheio de brumas, tentando descobrir segredos que permitir�o chegar a um mist�rio. N�o � de estranhar que o tema se preste a confus�es(2), terei o direito de lhe perguntar como, em boa l�gica, uma no��o t�o nebulosa pode ser aplicada a um caso particular de maneira t�o categ�rica e indiscut�vel. Se n�o temos um conceito claro do que seja o gnosticismo, como afirmar com certeza que tal ou qual autor � gn�stico, que tal ou qual filosofia � gn�stica? Mais particularmente: se quatro caracter�sticas da gnose antiga, mais seis da moderna, ainda n�o bastam para definir o fen�meno em linhas gerais, ent�o de fato a �gnose� a que refere o sr. Fedeli � um saco de gatos no qual, com fins de pol�mica ou de difama��o, cada um pode enfiar quem bem entenda � e � isto, precisamente, o que ele faz comigo.

�������� Que, na �nsia de alcan�ar seus fins, ele recorra at� a um meio il�cito -- que outra coisa n�o � o uso que ele faz de transcri��es de aulas, truncadas, semileg�veis e n�o referendadas pelo autor, obtidas sem minha autoriza��o por seus agentes infiltrados nos meus cursos --, mostra apenas que esse homem, t�o jactancioso de suas altas incumb�ncias morais, n�o aprendeu ainda a abster-se da pr�tica de crime.

�������� Decerto ele n�o � o primeiro chefe de seita que, nas alturas da sua superbia auto-santificante, despreza suas obriga��es elementares de cidad�o e, por descumpri-las, demole a golpes de imprud�ncia os seus pr�prios p�s de barro.

 

Olavo de Carvalho
22/07/2001

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Notas

 

�������� (1) Eric Voegelin, Collected Works, vol. V, Columbia, University of Missouri Press, 2000, pp. 297-8.

�������� (2) Orlando Fedeli, �Gnose: religi�o oculta da hist�ria�, em http://www.montfort.org.br.

 

P. S.

 

O tal Fabr�cio, cuja cartinha o sr. Fedeli t�o vaidosamente exibe, continua fazendo dele � como ali�s tamb�m de mim � o objeto de sua goza��o compulsiva. Agora ele deu de enviar mensagens estapaf�rdias, em meu nome e no do sr. Fedeli, a um f�rum de discuss�es na internet.