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Nota sobre f� e conhecimento
e um P. S. muito revelador

Olavo de Carvalho

 

�������� A palavra f� � compreendida habitualmente em dois sentidos. O primeiro � o da simples cren�a, ou ades�o volunt�ria a uma verdade revelada. A segunda � a da virtude sobrenatural que �move montanhas�. Pretender que qualquer indiv�duo que tenha a f� no primeiro sentido possua ipso facto a virtude de mover montanhas � intrinsecamente absurdo e extrinsecamente blasfemat�rio. Desde logo, porque o poder da vontade sobre a totalidade da alma � relativo e escalar, admitindo graus que v�o desde a simples veleidade at� o autodom�nio. Em segundo lugar, o valor da f�-cren�a depende da compreens�o mais ou menos clara, mais ou menos certa, que o fiel tenha da doutrina � qual deu sua ades�o. Se n�o fosse assim, a f� protestante teria de valer o mesmo que a cat�lica, pois a �nica diferen�a que h� entre elas � a da compreens�o diferente que o crente desta e daquela confiss�es t�m do texto revelado a cuja verdade aderem. A f�, nesse sentido, � obviamente inferior ao conhecimento, na medida em que dele depende o seu valor.

�������� Quanto � f� compreendida como virtude sobrenatural, ela j� � em si mesma conhecimento, e conhecimento em sentido eminente, pois consiste na presen�a atuante e reconhec�vel de Deus, que n�o se poderia obter por nenhum meio intelectual imagin�vel. A palavra �reconhec�vel� � a� o ponto decisivo, pois n�o se poderia falar em �f� sobrenatural inconsciente�. Nesse plano, portanto, a quest�o da superioridade relativa de f� e conhecimento perde obviamente todo sentido, pois n�o h� conhecimento superior ao da presen�a imediata do seu objeto, e a f� sobrenatural �, mais que o sinal dessa presen�a, a presen�a mesma.

�������� As senten�as do Conc�lio de Trento que o sr. Fedeli ostenta com ar de triunfo nada t�m portanto a ver com o sentido em que afirmei � e reafirmo � a superioridade do conhecimento em rela��o � f�. O fato de ele cit�-las mostra apenas sua compreens�o deficiente das quest�es que se mete a discutir e sua incapacidade de elevar-se ao n�vel das id�ias que finge rebater.

�������� Quanto ao resto da sua resposta, n�o passa da reafirma��o renitente de suas confus�es de sempre, escrita num estilo ginasiano e com as miser�veis afeta��es de bom-mocismo que lhe s�o de praxe.

Olavo de Carvalho
18/7/01

Post scriptum

�������� Para completar a bufonaria, um detalhe p�toresco. Com aquele ar entre lisonjeado e humilde do artista que recolhe os aplausos ap�s o espet�culo, o sr. Fedeli estampa na sua homepage a carta de um leitor, Fabr�cio, que o cumprimenta efusivamente pela vit�ria alcan�ada no confronto comigo. Se ele soubesse quem � o tal Fabr�cio, n�o ostentaria com tanta satisfa��o esse trof�u: � um rapaz maluco, gozador compulsivo, que me envia regularmente e-mails pornogr�ficos e que agora resolveu incluir o sr. Fedeli entre os figurantes do seu circo. C�pia da mensagem foi simultaneamente enviada a mim, n�o havendo pois a menor possibilidade de d�vida quanto � sua autoria. O sr. Fedeli �, decerto, v�tima inocente dessa goza��o, mas n�o posso dizer que seu pr�mio tenha sido injusto, nem destoante da sua performance a grotesca nota final tocada pelo missivista.