O m�todo de aliciamento por Amilcar Nadu
Prezado Prof. Olavo de Carvalho, Em abril, forneci ao senhor alguns dos dados que obtive sobre o Sr. Orlando Fedeli. Tive, antes, o cuidado de, num per�odo de quatro meses, ouvir ao menos 3 testemunhas diretas que me confirmassem os depoimentos umas das outras. Com base nisso, pude apurar que o Sr. Fedeli se auto-atribuiu a miss�o de salvar a alma das pessoas mediante o guiamento de suas intelig�ncias. No cumprimento de sua miss�o, Fedeli diz, a s�rio, que ir ao seu Semin�rio � mais grave que matar uma pessoa.
Basta, para demonstrar o grau de alarmismo criado por esse senhor, o fato de ter um certo ex-aluno do Semin�rio chegado ao ponto de me ligar em Curitiba, onde resido, dispondo-se a fornecer-me hospedagem para que eu pudesse ter com OF [1] . Durante a investiga��o que realizei, eu j� havia tentado apurar com os hoje freq�entadores da Associa��o Montfort, quais as diverg�ncias que Fedeli teria com o senhor e a que livros eu deveria recorrer para inteirar-me delas. Nenhum dos freq�entadores da Associa��o Montfort foi, por�m, capaz de me expor com a mais m�nima precis�o o pensamento fedeliano. Limitaram-se a assinalar que Fedeli conhecia extremamente bem a sua filosofia e a gnose, e que provara as �ntimas liga��es entre uma e outra, bem como a falsidade do �maometismo�. Espantou-me a mudan�a veloz de posi��o daquelas pessoas.
De minha parte, procuro seguir sempre a Teoria dos Quatro Discursos, que tenho testado in�meras vezes, e que, nesses casos, funciona como uma armadura espiritual que permite ao estudante enfrentar as mais tem�veis controv�rsias sem fragmenta��o da consci�ncia e sem crises desnecess�rias [2] . E, � luz dela, sempre tive claro que, antes de me posicionar sobre o que quer que fosse, deveria eu inteirar-me dos termos do debate. Assim, jamais receei encontrar o Sr. Fedeli. Tive mesmo, antes de confirmar o que ele havia dito sobre freq�entar o Semin�rio, alguma curiosidade a respeito de sua obra. Quando, por�m, vieram as provas sobre o contexto em que aquela invectiva fora feita, restou-me apenas a obriga��o intelectual de n�o negar ouvidos a quem pretenda revelar dados que eu supostamente desconhe�a. Ao ser informado no s�bado (n�o cheguei a comentar isso com o senhor) que o Sr. Fedeli estava �� minha disposi��o� e ao sentir que uma eventual negativa minha poderia, e seria, interpretada como a fuga de um medroso que se furta � responsabilidade de encarar a verdade, fui sinceramente disposto a ouvi-lo e a anotar tudo quanto pudesse. Relatarei resumidamente, nas linhas seguintes, e tentando preservar ao m�ximo a ordem cronol�gica, como transcorreu a nossa conversa, que se deu na presen�a de mais duas testemunhas. Antes, por�m, esclare�o que o relato abaixo foi feito em t�picos n�o por uma decis�o arbitr�ria ou por pregui�a, mas por ser a forma escrita que melhor retrata o tipo de argumenta��o do Sr. Fedeli: n�o h� transi��o entre os temas. Interrompe-se a discuss�o bruscamente e muda-se rapidamente de assunto. N�o h� partes compondo um todo. H� uma cole��o fragment�ria de �provas�, expostas com extrema velocidade e em tom sentencial. 1. Fedeli nos busca no metr� e nos leva numa mini van � Associa��o Montfort. A caminho de l�, quer saber o que houve na aula rec�m finda (aula do m�s de abril) . � informado da fita, que lhe ser� exibida na Quarta feira pr�xima. Registra que o seu sil�ncio p�blico � uma proposta t�cita de acordo. Diz que n�o vai parar enquanto n�o desmascar�-lo e que o senhor vai �levar um pau�.
Pergunta a mim e a meu amigo, (o terceiro aluno j� frequentava a associa��o Montfort) sobre o tempo que freq�entamos o Semin�rio e como hav�amos conhecido o senhor. Depois de saber sobre como o conhecemos, alega, ironicamente, que estamos recebendo doutrina gn�stica disfar�ada de combate ao comunismo e d� algumas boas risadas. Ao saber que meu amigo freq�enta o semin�rio h� apenas 2 meses, diz: �que bom! A sua cabe�a ele ainda n�o teve tempo de envenenar�. Menciona, ainda, a exist�ncia de um padre a quem o senhor, desorientado, teria pedido conselhos sobre como lidar com a amea�a fedeliana. Tal padre teria �mandado� � e Fedeli, para assinalar a exist�ncia de uma organiza��o (tema ao qual retornarei adiante) � qual o senhor se subordinaria, usava ainda a express�o �eles mandaram� � o senhor ignor�-lo.
Ao chegar � Associa��o minha primeira e quase que instintiva atitude � a de olhar os trajes das mulheres: est�o todas de saia. 1) Fedeli nos leva a uma sala reservada e nos mostra o livro sobre a vida de Ren� Gu�non que havia citado de Segunda m�o. Mostra fotos de Ren� Gu�non, Titus Burckhart e um terceiro, o �nico cuja obra desconhe�o, e os chama repetidas vezes de palha�os, pois �se vestem de �rabes� sem s�-lo. �Palha�ada�, repete Fedeli enquanto exibe v�rias fotos do livro.
2) O.F diz que Gu�non era toxic�mano, pois os de sua seita usavam regularmente e prescreviam haxixe e �pio. Faz ainda outros ataques a R.G.
3) Fedeli tenta rebater a sua alega��o de que teria ele citado o livro em quest�o sem ler. Diz que �agora o est� lendo� e que foi o senhor quem n�o leu o livro. Como prova desta afirma��o, relembra que o senhor houvera dito que a autora da obra n�o sabia que Martin Lings e Sidi Abu-Bakr eram a mesma pessoa e que atribu�ra a M. Lings epis�dios que haviam se passado com Burckhardt e vice-versa. Exibe-me, ent�o, o �ndice onom�stico do livro. Mostra-me que o nome de Martin Lings � ali citado numa �nica p�gina e que, portanto, seria imposs�vel existir troca de epis�dios. Surpreendo-me vivamente. Respondo ao senhor Fedeli que o �ndice onom�stico s� poderia ser tomado como prova do n�mero de vezes em que a pessoa de Martin Lings aparecesse no livro se n�o tivesse havido a confus�o mencionada pelo senhor. (Deveria ser evidente que, se a autora atribuiu a outros os epis�dios ocorridos a Lings e que se, para ela, Lings e Abu-Bakr eram pessoas diferentes, o �ndice onom�stico n�o poderia saber mais que a escritora e, por por algum processo miraculoso - apontar, no nome Martin Lings, as p�ginas referentes a Abu Bakr. N�o poderia o �ndice, tamb�m, registrar, no nome Martin Lings as p�ginas dos epis�dios que com ele se passaram e que a autora tenha creditado a Burckhardt) O Sr. Fedeli brande o livro em suas m�os, replicando algo como: Voc� n�o est� vendo? Que epis�dios trocados que nada! Quem n�o leu o livro foi ele! Como poderia haver troca de epis�dios se o Martin Lings s� � citado uma vez no livro? Voc� n�o est� vendo aqui? E conclui (reproduzo com exatid�o): �Esse Olavo � um chutador!� Fico boquiaberto.
4) Surge a quest�o sobre a gnose e o gnosticismo. Fedeli confirma o que um de seus alunos me havia dito: n�o h� diferen�a entre eles. Segundo Fedeli, a aparente diferen�a foi inventada por Ren� Gu�non, que havia sido denunciado por sua amiga (Noema?) como membro da renova��o hindu�sta da antiga gnose, e visava a inocent�-lo. Fedeli recorre, para demonstrar a identidade de gnose e gnosticismo, � origem etmol�gica dos termos. Para ele, o fato de gnose e gnosticismo serem termos oriundos de um mesmo tronco j� demonstra cabalmente que s�o um �nico s� e mesmo fen�meno. (Percebo, de imediato, a extravag�ncia de um racioc�nio que pretende tomar a origem etimol�gica dos termos como prova evidente da origem e da identidade do conte�do das doutrinas que eles designam. Sinto-me tentado a dizer que, se assim fosse, poder-se-ia, a partir da premissa da identidade etmol�gica das palavras �v�rus� e �veneno�, concluir que o v�rus da AIDS e o ars�nico seriam id�nticos em sua origem e semelhantes em sua composi��o. Contenho-me. Minha presen�a ali se devia ao meu desejo de conhecer, e n�o � minha vontade de argumentar, e eu j� havia � impensadamente � polemizado com o senhor Fedeli minutos antes, conforme descrito no t�pico anterior. N�o era minha inten��o fazer o papel de �Felipe Coelho�, que, segundo pude apurar, decidiu, ap�s ter lido Ren� Gu�non, conhecer o Sr. Fedeli para �dar-lhe um cacete� (reproduzo o que me disse um amigo dele) e acabou �convertido�. Acalmei-me pensando que, longe de ocupar, no sistema fedeliano, o lugar de prova central, o estudo etimol�gico que me fora revelado teria ali um papel secund�rio, coadunando-se com outros elementos de muito maior valor probante. Devia eu, portanto, ouvi-lo em sil�ncio.) 5) Fedeli assinala que gnosticismo, gnose e metaf�sica gu�noniana s�o uma s� e mesma coisa. Esta coisa, para O.F, �, tamb�m, a sua metaf�sica que, segundo ele, o senhor define como sendo o �conhecimento da natureza�. Contenho-me novamente.
6) Ap�s enunciar a defini��o de metaf�sica que ele imputa ao senhor, Fedeli apresenta o que, para ele, em conjunto com tal defini��o, seria a prova inequ�voca do seu gnosticismo: o seu conceito de filosofia. Diz Fedeli que tal conceito jamais existiu e que � uma �inven��o sua� e sua apenas, sem qualquer rela��o, portanto, com a Filosofia propriamente dita. Esta inven��o seria, � evid�ncia, gn�stica. Fedeli exemplifica: pretender fazer do homem e do conhecimento uma unidade � o mesmo que dizer que o homem e as coisas conhecidas s�o, tamb�m, uma unidade. E isto porque ambos possuiriam uma �fagulha� do intelecto divino, que deveria ser acessada. Para Fedeli, portanto, toda a sua filosofia, e a sua �interpreta��o� das filosofias anteriores, seria um esfor�o para explicar, justificar e promover esta �unidade� gn�stica, entre sujeito, objeto e �Deus�, realizada pela intui��o. Para Fedeli, s� Deus pode conhecer �o todo� e sua proposta de unidade seria, exatamente a de dar ao homem este conhecimento e, portanto, indentific�-lo com Deus. E seria essa a sua gnose.]
Pe�o a palavra. Mentalmente, estou �vendo� a sua entrevista ao embaixador Caius Tragomir. Reproduzo, abaixo, o excerto em que me baseei para dialogar com o Sr. Fedeli:
� luz desse trecho, que eu verdadeiramente �via� em minha frente, procurei fazer ver ao senhor Fedeli que: (a) a sua (a de O de C) explica��o de unidade estava dispon�vel na internet; (b) a sua concep��o de unidade era bastante diferente da que ele lhe atribu�a: Fedeli empregava �unidade� como sin�nimo de �identidade� [4] e atribu�a isso ao senhor, que empregava �unidade� em outro sentido (o �estrato l�gico do conceito�, ou, na terminologia de Mortimer Adler, os �termos� eram diferentes, muito embora a palavra fosse a mesma). Se, por exemplo, digo � como o senhor faz na entrevista ao embaixador - que o organismo humano � uma unidade, n�o estou dizendo que o cora��o e o pulm�o s�o uma s� e mesma coisa. E era, neste sentido, como deixa claro o excerto acima (e a aula de maio), que o senhor empregava o voc�bulo. Por�m, Fedeli se sentia no direito de dizer que a sua unidade significava que o conhecedor e o conhecido eram uma s� e mesma coisa (as part�culas divinas, que se �uniam�). Fedeli toma a palavra. (Noto que ele � que, segundo me informaram, conhecia extremamente bem a sua filosofia � desconhecia a obje��o por mim levantada). Em resposta, diz-me que tem v�rios livros que comprovam o que ele antes me afirmara. Diz-me, ainda, que o senhor �inventa essas coisas para nos enganar e que, como eu n�o entendo nada de filosofia, fica muito f�cil me enganar�. Olha nos meus olhos e diz: �Filho, eu n�o estou mentindo para voc�. Eu n�o minto para os meus alunos. Eu n�o sou o Olavo de Carvalho. Eu prefiro morrer a mentir para um dos meus alunos.� E, prossegue: �Como voc� pode acreditar num homem que diz que est� na direita e que j� avisa que pode voltar para a esquerda? (Esta indaga��o s� serve, naquele momento, para me provar que Fedeli desconhece o seu conceito de direita e esquerda, dispon�vel, ali�s, no Imbecil Coletivo II. Para O.F, quando o senhor diz que pode voltar a apoiara esquerda, est� dizendo que pode voltar a apoiar o marxismo). Simplesmente n�o consigo responder a t�o grosseira confus�o.
9) Fedeli exp�e novas �provas� do seu gnosticismo. Alega que o senhor diz que o homem conhece e que a pedra conhece porque ambos possuem �centelhas divinas� que se �encontram� no ato de conhecimento.
Pe�o a palavra. Digo ao senhor Fedeli que ele esquece-se que, na sua (a de O de C) terminologia, conhecer � simplesmente receber informa��o e ser conhecido � transmitir informa��o e que existe, al�m disso, o inteligir, que � apreender a verdade. A pedra �conhece�, mas s� o homem intelige. Assim, n�o poderia ele realizar aquela equipara��o, com vistas a dizer que a pedra, no ato de conhecimento, �inteligiria� a fagulha divina do homem, e vice-versa. Cito o j� famoso exemplo da pedra, que recebe informa��es sobre a lei da gravidade, mas n�o trasmite informa��es para si pr�pria (o que, ali�s, na sua terminologia, chama-se consci�ncia). Descabida, portanto, a alega��o do senhor Fedeli, que sup�e presentes, no homem e na pedra, capacidades id�nticas (pois id�nticas as fagulhas divinas) de conhecimento, intelig�ncia e consci�ncia, necess�rias �, por assim dizer, �unifica��o� no sentido fedeliano. Fedeli toma a palavra e diz que conhecer e inteligir s�o uma s� e mesma coisa (noto, pela sua entona��o, que ele at� ent�o desconhecia ou n�o havia meditado sobre distin��es terminol�gicas supramencionadas) e que essas distin��es o senhor as inventara para nos enganar e, como eu n�o entendia nada de filosofia, ficava muito f�cil me enganar.
Uma das testemunhas, (que at� ent�o estavam em absoluto sil�ncio), vem em socorro de Fedeli e diz que a pedra n�o �conhece� a lei da gravidade, mas sim a �padece�. Fedeli concorda. (Percebo, de imediato, o equ�voco, exatamente oposto ao anterior. Se, antes, � palavra unidade era dado um significado diferente do que ela possui no seu conceito de filosofia, agora, em rela��o � palavra �conhecer�, fazia-se o contr�rio: trazia-se � cola��o uma outra palavra (padecer) cujo significado (estrato l�gico), naquele contexto, era id�ntico ao do voc�bulo utilizado pelo senhor (conhecer). E com isso � com um sin�nimo - se pretendia provar um �equ�voco� seu.) N�o verbalizo o racioc�nio entre par�nteses, por receio de magoar a testemunha que se manifestara. Limito-me a co�ar a cabe�a.
Uma vez que eu houvera dito que, na sua terminologia, inteligir era apreender a verdade, Fedeli, em tom desafiador, pergunta �E o que � a Verdade?�. (Tal frase fora dita no calor da discuss�o, e nem Fedeli nem eu reparamos na semelhan�a, que s� agora percebo, com a passagem b�blica.) Respondo: verdade � o fundamento cognitivo universal e permanente de validade dos ju�zos. Fedeli assusta-se e, reagindo como se tivesse ouvido uma frase em grego, exclama e interroga: �Hein?!� Repito lentamente a frase, e fica evidente aos presentes que Fedeli nunca antes ouvira a sua defini��o de verdade. Aqui j� n�o se pode dizer que Fedeli tenha lido, mas n�o tenha meditado. N�o. Por sua rea��o, ele jamais antes tivera conhecimento daquela defini��o. De chofre, Fedeli nega a veracidade do seu conceito, dizendo que trata-se de uma inven��o sua, com a fun��o de nos enganar e que, como eu n�o entendia nada de filosofia, ficava muito f�cil me enganar. Fedeli sustenta que a verdade � a adequa��o do ju�zo ao objeto, e diz que sempre foi assim. Respondo-lhe que isso, na sua terminologia, chama-se �veridicidade�, mas sou ignorado.
10) Fedeli muda o rumo da conversa para a quest�o do maometismo [5] . Pergunta-me se j� li o Alcor�o e respondo-lhe que n�o. Informo-lhe que li apenas a tradu��o, que � considerada um �livro de doutrina�; Fedeli, surpreso, indaga: �U�, que hist�ria � essa? E a tradu��o do Alcor�o n�o � o Alcor�o�? E responde por mim: �Ah! J� sei! � por causa daquela hist�ria do gato! Ele ainda anda contando aquela hist�ria de que o Alcor�o paralisa gato? E voc�s acreditam nessa bobagem?!� Respondo ao senhor Fedeli que n�o fiz aquela observa��o tendo em vista a hist�ria do gato (que de fato n�o me ocorrera), mas sim tendo em vista os ensinamentos que eu havia colhido de sites de teologia isl�micos, que chamavam eles mesmos as tradu��es de �livros de doutrina� e apenas o original de Alcor�o. Acrescento, ainda, que o Alcor�o mesmo traz em seu corpo o desafio aos incr�dulos: desafia-os a escreverem, se puderem, um livro semelhante. Fedeli surpreende-se novamente. Afirma que no Alcor�o n�o h� o desafio a que me referi. Pergunta-me sobre a tradu��o que eu lera. Respondo-lhe que ela n�o possui editora, pois a retirei de um website [6] . Fedeli me diz que possui in�meras tradu��es do Alcor�o e que em nenhuma delas h� aquele desafio.
Finalizo a controv�rsia, dizendo ao senhor Fedeli que aceitava a impugna��o que ele fazia da minha tradu��o e que, sendo falsa a base em que me apoiei, eu me limitaria a ouvi-lo e a pedir que ele me indicasse algumas tradu��es confi�veis. Fedeli me diz que h� v�rias tradu��es boas e que depois me recomendar� algumas. Eis os argumentos de Fedeli contra o �maometismo�: Maom� era um pobre analfabeto e casou-se com sua Segunda mulher para aplicar-lhe o �golpe do ba��. a Segunda mulher de Maom� era pessoa pouco confi�vel e dona de caravana, o que lhe possibitava travar frequentes contatos com estrangeiros;
esses estrangeiros, judeus, � que teriam ditado a Maom� o Alcor�o
Maom� inclusive frequentava a casa desses judeus, que o obrigavam, � noite, a decorar o Alcor�o;
As provas da influ�ncia judaica seriam (1) os excertos em que Maom� jura pela oliveira e pela figueira, �rvores s� existentes em terras dos judeus
(2) o Alcor�o menciona. Deus � um e, portanto, s� pode haver uma religi�o verdadeira;
Outra prova de que n�o h� qualquer influ�ncia divina no Alcor�o seria o seu crit�rio de edi��o. Na aus�ncia de coer�ncia interna, s� restou aos editores o crit�rio do �tamanho� das suratas. Em fun��o daquele � que foi estabelecida a sequ�ncia destas. Para Fedeli, isso � algo ignomioso, afrontoso � intelig�ncia e de um rid�culo sem par. Isso o leva a indagar: �Como pode algu�m acreditar num livro cujos cap�tulos foram dispostos em fun��o da sua extens�o?�
Tendo eu dito que n�o discutiria a mat�ria em fun��o de haverem sido impugnadas as minhas fontes, limitei-me a, em fun��o desta �ltima cr�tica de Fedeli, formular-lhe duas perguntas, sendo a segunda de ordem metodol�gica. Primeira: perquiri sobre o destino dos hindus, mu�ulmanos e todos quantos, mesmo involuntariamente, n�o haviam recebido os influxos do cristianismo. Fedeli foi taxativo: �Se continuarem assim, ir�o todos para o inferno� (cito literalmente). Alguns segundos de sil�ncio s�o feitos; todos querem explica��es. Fedeli mant�m-se quieto e firme. Passo � Segunda quest�o: Indago-lhe se, aquele mesmo esfor�o que ele fizera para demonstrar a incoer�ncia interna e a falsidade do Alcor�o, ele havia tamb�m feito em rela��o ao cristianismo e a Igreja Cat�lica, a fim de verificar que resultados obteria [7] . E se, o mesmo esfor�o que fizera para coerenciar os ensinamentos da Igreja, as passagens b�blicas e todo o dep�sito de conhecimentos crist�os, ele dispensara tamb�m � tradi��o isl�mica. Fedeli entra em estado de superexcita��o. Olha para uma das testemunhas e exclama: �Eles querem me pegar em contradi��o! Ha! Ha! Ha!�. Olha para a outra e, vibrando, fala: �Eles acham que v�o me pegar em contradi��o!�. E ri de novo. �Pois n�o v�o n�o!� [8] .
Fedeli �responde-me� que �antes de converter-se, estudou muito a religi�o cat�lica, e que n�o h� livro mais perfeito e harm�nico que a B�blia. (Desnecess�rio dizer que minha pergunta n�o fora a esse respeito). 11) Provavelmente descontente com o fato de eu n�o haver mudado de opini�o a respeito do Semin�rio e do senhor, Fedeli tenta recorrer a provas mais �acess�veis�. Pergunta-me: �Mas escute aqui, voc� n�o percebeu ainda que est� numa organiza��o ma��nica, em que alguns s�o eleitos para receber os ensinamentos esot�ricos? Voc� n�o notou que o pessoal do Rio recebe um tratamento diferenciado? O Pedro Sette C�mara, por exemplo, sabe de um monte de coisas que voc� n�o est� sabendo.� (o tom da frase deixa subentendido que Fedeli tamb�m dispunha das informa��es de Pedro Sette e que elas confirmariam a tese fedeliana).
Respondo ao senhor Fedeli que: sinceramente eu nunca havia reparado em nada daquilo e que, ao contr�rio, eu sabia que o senhor havia recomendado a uma pessoa que se afastasse da ma�onaria [9] . Fedeli replica informando-me que o senhor pertence � ma�onaria do Grande Oriente.
Objeto, indagando-lhe se o Padre a que o senhor teria pedido orienta��o tamb�m pertencia � ma�onaria do Grande Oriente. Fedeli informa-me que o Padre � membro da ma�onaria ocidental, e que ambas as ma�onarias estariam unidas nessa empreitada pois, assim como judeus e romanos uniram-se para crucificar o Cristo, agora tamb�m as for�as ma��nicas do oriente e do ocidente uniram-se movidas pelo interesse comum de impedir a vit�ria do cristianismo.
12) (O que relatarei neste t�pico e nos dois pr�ximos foi discutido entre a exposi��o dos argumentos contra o islamismo. Por eu n�o poder precisar o ponto exato em que os temas foram abordados, e por serem quest�es relativas apenas � sua filosofia e que em nada se relacionam com o islamismo, tratarei delas em t�picos distintos, registrando, uma vez mais que entre os temas n�o houve transi��o harm�nica, raz�o pela qual mantenho o esquema expositivo at� aqui adotado.) Fedeli me diz que a dial�tica [10] � gn�stica, pois teria fun��o de paralisar e inutilizar a raz�o, para que a intui��o entrasse em opera��o e promovesse o �conhecimento� na acep��o gn�stica do termo. Para provar o papel paralisante da dial�tica, toma uma caneta em suas m�os e me diz algo bem pr�ximo disso: �Olhe aqui. Isso aqui � uma caneta. Ou � ou n�o �. N�o tenho que ficar �dialetizando� nada. Para que ficar no �� caneta ou n�o � caneta�?�
Essa altern�ncia �dial�tica� inviabilizaria o conhecimento racional, possibilitando apenas o intuitivo. E, para Fedeli, o intuitivo, ao menos na sua filosofia (n�o ficou claro a esse respeito o alcance da posi��o de OF), seria, como j� vimos e como veremos no pr�ximo t�pico, a unifica��o das part�culas divinas.
Respondo a Fedeli que ele havia, para provar a fun��o paralisante e a inutilidade da dial�tica, recorrido a um objeto de experi�ncia. Estou �vendo� o seu texto Gilberto Freyre: Ci�ncia Pessoal e Consci�ncia Social: �Usamos, por exemplo, a palavra �f�sica�, supondo que existe no universo um campo, ou uma faixa, correspondente a objetos que chamamos �f�sicos�. Mas com um pouco de estudo descobrimos que essa palavra significava uma coisa para Arist�teles, outra para Newton, outra para Planck.� . Pergunto a Fedeli sobre como resolver o problema sem recorrer � dial�tica para equacion�-lo. Ele me �responde�: �Evidentemente, s� um deles est� certo. Os outros est�o errados. S� h� uma F�sica� [11] .
(Estou �vendo� o resto do texto [12] , mas sou incapaz de cit�-lo, por colocar o Sr. Fedeli em situa��o extremamente constrangedora. Neste momento abateu-se sobre mim a m�xima desola��o). 13) Fedeli explica ao meu amigo o problema da intui��o, da raz�o, e do conceito. Diz a ele que conceito vem de conceber e que quem concebe � a raz�o, e n�o a intui��o. Esta consiste em ir em dire��o a, ao passo que aquela � que, abstraindo, �conceberia�.
Eis porque faltaria qualquer base ao que o senhor chama de intuicionismo radical, que seria, para OF, apenas mais um elemento gn�stico, resultado do seu menosprezo pela abstra��o e pela raz�o, faculdade incapaz de apreender as centelhas divinas, centelhas estas cuja apreens�o se daria pela intui��o [13] .
14) Fedeli retomou a exposi��o sobre o Alcor�o e no seu curso, n�o p�de deixar de reparar em meu estado. Pede-me para que fale com ele e, com simpatia, pergunta-me se estou magoado. Arrisca conjecturar que eu estaria magoado pelo fato de ele estar atacando algu�m de quem eu gostava muito (o senhor). Nada mais longe do que de fato se passava comigo, e que j� descrevi. Balbucio algumas palavras, desolado. 14) Fedeli nos adverte que Jesus, em muitos casos, passava apenas uma vez pela vida das pessoas, e que, portando, dev�amos estar muito atentos para que, quando ocorresse essa passagem, n�o a jog�ssemos fora e nos conden�ssemos.
15) Fedeli se diz contr�rio a que freq�entemos o Semin�rio: nos explica que sua miss�o � a de salvar jovens e que, nos �ltimos vinte anos, salvou muitos rapazes e mo�as. Por isso, explica, pediu aos seus alunos que ainda frequentavam o Semin�rio que levassem � presen�a dele rapazes e mo�as � alunos apenas do Semin�rio - verdadeiramente dispostos a conhecer.
16) Temos de deixar a Montfort, em virtude de o �ltimo �nibus para Curitiba estar quase de sa�da. Rezamos todos uma ave-maria, e Fedeli pede a Nossa Senhora que nos ilumine. Suplica-lhe para que nos fa�a ver a verdade, seja ela qual for e que, se for ele o mentiroso, n�o nos deixe a m�e do Cristo retornar � Montfort.
17) Fedeli coloca-se � nossa disposi��o, inclusive para vir a Curitiba quando desejarmos. Diz que nos dar� aulas sempre que quisermos, com a �nica �condi��o� de nunca nos cobrar nada.
18) Ao nos despedirmos, retorno ao assunto do �Maometismo� e pe�o ao Sr. Fedeli que me recomende as tradu��es do Alcor�o que ele julgava confi�veis, uma vez que a minha havia sido impugnada. Fedeli me responde que h� v�rias tradu��es. Pe�o-lhe que me recomende alguma, e ele me diz para �ler qualquer uma, pois aquilo � tudo lixo do mesmo jeito�.
19) Fedeli nos leva a uma esta��o do metr�, e retornamos a Curitiba.
Notas [1] O oferecimento de hospedagem n�o foi, de forma alguma, um ato de mera gentileza. Posso diz�-lo com certeza porque quando frequentei o extinto Semin�rio Liter�rio, Bruno Tolentino incomodado com o fato de eu ter de dormir em hot�is, indagou de modo indireto mas bastante claro ao hoje aluno de Orlando Fedeli, se poderia ele me hospedar, tendo obtido em resposta uma negativa que veio em forma de mudan�a de assunto. Quando a mesma pessoa, que nunca antes havia me ligado, telefonou-me oferecendo-se para hospedar-me, tive assim redobrados os j� significativos ind�cios de que havia o meu amigo recebido a orienta��o superior de tentar �salvar-me�, orienta��o esta que, como veremos, o senhor Fedeli explicitar� ao final da nossa conversa. [2] A demonstra��o das aplica��es da TQD em campos como o da Psicologia e de seu valor como armadura espiritual foram j� fornecidas oralmente a Luciane Amato, e por ela aprovadas. [3] Note, por favor, que n�o hav�amos tido, ainda, a aula do m�s de maio, em que o senhor explicou � inclusive com certas atualiza��es em rela��o � terminologia usada na entrevista ao embaixador � as diversas acep��es [4] E mesmo o termo identidade seria aqui equ�voco. Fritof Schuon, por exemplo, diferencia a �identidade substacial� da �identidade essencial� (Da Unidade Transcendente das Religi�es). Esta observa��o me ocorrera concomitantemente � que estava verbalizando ao senhor Fedeli, mas por absoluta incompet�ncia minha, n�o a formulei. Cumpre-me, ali�s, registrar, que me foi tremendamente dif�cil expor o que expus ao senhor Fedeli, em primeiro lugar, por incompet�ncia e, em segundo, porque, como registrei e como veremos, o senhor Fedeli, ao ser contraditado, recorria a expedientes pouco dignos de um professor, e menos dignos ainda de um �salvador de almas�, como ele se denomina. Como forma de atenuar a minha culpa por t�o imperfeita e prec�ria exposi��o, expliquei ao meu companheiro de viagem � que mal p�de dormir - umas dez vezes e com cem vezes mais detalhes � cada obje��o do Sr. Fedeli. [5] Em fun��o dos in�meros e surpreendentes mal entendidos acima descritos, eu tentava, naquele momento, compreender as origens daquela situa��o para que pudesse encontrar um ponto arquim�dico a partir do qual fosse poss�vel e uma forma diplom�tica que tornasse vi�vel explicar ao senhor Fedeli algo da sua filosofia, em tom n�o professoral ou polemista. Acostumado, como todos os alunos do semin�rio, � m�-f� dos comunistas - advogados � altura da causa que defendem � surpreendeu-me, embara�ou-me e deprimiu-me, (como reparou o pr�prio Sr. Fedeli e como veremos adiante) o fato de encontrar um defensor do cristianismo como o diretor da Associa��o Montfort. Minha inten��o, �quela altura da conversa, j� n�o era mais a de ouvi-lo; era a de tentar encontrar um modo de faz�-lo ao menos considerar a posi��o verdadeiramente preconceituosa que ele assumira. A mudan�a de assunto exigiu de mim e talvez de todos um tremendo esfor�o de concentra��o. No que me concerne, confesso que fui incapaz de dirigir toda a minha aten��o ao novo tema. Preocupava-me muito a concep��o errada que aquele defensor do cristianismo tinha da sua filosofia. [6] Naquele momento n�o me lembrei do endere�o do site: http://www.supervirtual.com.br [7] A pergunta trazia expl�cita a regra de Fritojf Schuon, que apontou, por exemplo, na B�blia, a interven��o do Esp�rito Santo, proibindo a prega��o dos Ap�stolos em �rea na qual posteriormente vingaria o islamismo. Minhas preocupa��es, por�m, eram de outro n�vel, bem mais baixo e imediato: o que especificamente me movia a fazer aquela pergunta era o fato de um crist�o n�o perceber os flancos que abre ao, extra muros, apontar como prova de falsidade de outra tradi��o o crit�rio de edi��o de seu livro. Que aconteceria aos crist�os do site se o incauto Sr. Fedeli se abrisse um t�pico no F�rum Sapientia e, sob o olhar do Sr. Caio Rossi e outros tantos, l� formulasse as cr�ticas supradescritas ao Alcor�o? Imediatamente choveriam textos, hist�rias sob a sele��o e edi��o de Evangelhos etc. Todos os que frequentaram aquele f�rum s�o, ali�s, testemunhas do assanhamento que as discuss�es sobre as �tradi��es� provocam nesse tipo de gente, que tenta realizar o desejo que o Sr. Ot�vio Frias sintetizou de modo exemplar: que as religi�es se anulem umas �s outras. Eu j� havia advertido os alunos do Sr. Fedeli, desde o segundo m�s da pol�mica, a n�o atirar pedra em telhado alheio sem antes verificar o estado do seu o pr�prio. Aconselhei a todos que seguissem as regras de Schuon e as suas. Exemplifiquei minhas assertivas e deixei claras as minhas preocupa��es. Especialmente porque o seu artigo publicado em O Globo sobre o tema ainda n�o havia sido escrito, coube-me alert�-los das poss�veis consequ�ncias dos ataques que porventura viessem a fazer �s outras tradi��es. [8] O fato de o Sr. Fedeli achar que eu formulara a pergunta maliciosamente, quando o fiz movido pelas preocupa��es acima externadas, s� aumentou o meu abatimento. Eu, que j� me encontrava afundado na cadeira, desabei de uma vez. Incapaz de encontrar uma solu��o, passei a olhar para o vazio. Era esse o quadro que eu via: fala-se mal de Karl Marx e aparecem, de todos os lados, cr�ticos. Fala-se de um assunto important�ssimo, espinhoso e novo aos olhos do p�blico, como o da unidade das religi�es (Lembrete de Natal) e ningu�m d� a m�nima, o que assinala o total descaso pelos temas religiosos. Num cen�rio desses, qualquer manifesta��o de algu�m que pretenda �defender� o cristianismo �, a princ�pio, auspiciosa, por assinalar que ao menos existe preocupa��o com o assunto, por pouco culto que seja o defensor. Por�m, o ausp�cio transformou-se em supl�cio, em fun��o do que relatei. Eu mal conseguia me sustentar, e o clima era o de um vel�rio; nada mais distante de um ambiente pol�mico e mesmo jocoso, que provavelmente teria lugar se a discuss�o fosse com um irredut�vel petista a respeito de Cuba. [9] Ocorria-me naquele momento o caso da Professora Luciane Amato. [10] N�o me foi poss�vel, embora eu tenha tentado, apurar o que o senhor Fedeli entende por dial�tica. Ele, no in�cio desta discuss�o, me perguntou em tom desafiador o que eu entendia por dial�tica e, quando iniciei a resposta, explicando-lhe que a dial�tica, tal como o senhor a empregava, era a ... Fedeli interrompeu-me, sentenciando que s� existia uma dial�tica, e passou a exemplificar os seus efeitos com a caneta. Assim, achei l�cito presumir que, para o Sr. Fedeli, a dial�tica, a ��nica que existe� � sempre gn�stica. Empreendi uma pesquisa no site da Associa��o Montfort, de onde retirei esse excerto bastante esclarecedor: �A DIVINDADE DIAL�TICA A metaf�sica cat�lica se fundamenta na verdade de que o ser � o que �. Tal � o princ�pio de identidade. Todo ser � id�ntico a si mesmo. Disso decorre o principio da n�o contradi��o: uma coisa n�o pode ser ela mesma e outra, ao mesmo tempo, sob o mesmo aspecto. E isto � assim porque o pr�prio Criador de todas as coisas � id�ntico a Si mesmo. Essa realidade � confirmada pela Revela��o e pela Teologia. "Eu sou aquele que �", disse Deus, o Ser absoluto, a Mois�s no Sinai. Contrariamente, a dial�tica - no sentido metaf�sico do termo - nega a identidade do ser, o que � uma caracter�stica da gnose. A vis�o dial�tica do ser sustenta que este possui, em si mesmo, dois princ�pios absolutamente iguais e contr�rios, em constante oposi��o. Imanente a todo ser haveria um constante antagonismo de dois princ�pios ou for�as opostas que, sendo iguais, se anulariam, causando uma instabilidade tal que nada seria jamais id�ntico a si mesmo. Os que admitem a dial�tica afirmam que de tal modo as coisas est�o constantemente mudando que, na realidade, sequer se poderia dizer que existe a coisa que muda, mas apenas a mudan�a, o devir. Portanto, n�o haveria ser. Foi o que ensinou, por exemplo, Her�clito.� (www.montfort.org.br/veritas/mestre.html) Tamb�m Guimar�es Rosa � apontado por Fedeli como gn�stico, e sua dial�tica apontada como prova do gnosticismo. E, em seu texto sobre o romantismo alem�o, Fedeli dir� que aquele do movimento tem formula��es de natureza paradoxal ou, �mais precisamente, dial�tica�. [11] Em fun��o do texto que reproduzi na nota anterior, pude compreender posteriormente o que Fedeli pretendia dizer com o seu �s� h� uma F�sica�. Quando citei a ele a multiplicidade de significados do termo, Fedeli inexplicavelmente achou que aquilo seria o mesmo que defender m�ltiplas mudan�as, paradoxais e contradit�rias, na realidade a que o voc�bulo se referia. Isso, ali�s, atesta mais uma vez um completo desconhecimento da sua filosofia. A leitura do pr�prio texto sobre Gilberto Freyre deixaria bem clara ao Sr. Fedeli a improced�ncia de sua suposi��o. E, o texto �Os tr�s estratos do conceito� colocaria por terra qualquer d�vida remanescente, ao esclarecer e delimitar inequivocamente o as rela��es entre uma palavra, seus diversos alcances, a inten��o de quem a usa e a realidade mesma. Registre-se, por�m, que a minha exposi��o n�o deixou margem a d�vidas. Registre-se ainda que, do fato de haver uma s� realidade, evidentemente n�o se pode deduzir a inutilidade da dial�tica, cuja necessidade � atestada pelo exemplo acima citado e pelo trecho abaixo transcrito. Fedeli deduzia ainda do fato de haver uma s� F�sica outro fato: o de que apenas um dos cientistas estaria correto. N�o poderiam todos estar errados e nem parcialmente certos. Esta confus�o eu a percebi imediatamente, mas, novamente, para n�o embara�ar terrivelmente o Sr. Fedeli, s� vim a coment�-la na viagem de volta, com a outra testemunha que subscreve este relato. [12] �A� n�o temos alternativa sen�o perguntar se essas tr�s significa��es dadas � palavra designam tr�s aspectos percebidos sucessivamente no mesmo objeto ou tr�s objetos completamente diferentes. No primeiro caso, contra�mos a obriga��o de descobrir qual a unidade ou subst�ncia da qual esses tr�s aspectos s�o as propriedades ou acidentes. E, quando tivermos a felicidade de descobri-lo, teremos inaugurado uma quarta acep��o da palavra f�sica, incumbida de designar o estudo cient�fico do objeto unit�rio cujos aspectos separados foram estudados sucessivamente por Arist�teles, Newton e Planck. Na segunda hip�tese, isto �, se descobrimos que o termo escolhido designou historicamente tr�s objetos diversos e independentes, o problema que isto nos coloca � mais espinhoso ainda: trata-se agora de saber se as distin��es entre as tr�s ci�ncias que receberam ao longo do tempo o mesmo nome de �f�sica� correspondem a distin��es objetivas, isto �, �s fronteiras que separam os entes entre si, ou se refletem apenas tr�s distintas dire��es poss�veis da aten��o humana, projetada acidentalmente sobre entes, propriedades e acidentes escolhidos a esmo.� [13] Na viagem de retorno, expus ao meu amigo o equ�voco cometido pelo senhor Fedeli. Expliquei a ele que em �Os tr�s estratos do conceito� estava apontada a origem etimol�gica do termo. Tanto em latim quanto em alem�o, o termo remete � no��o de �pegar, agarrar� v�rias coisas ao mesmo tempo. Ora, �pegar, agarrar�, requer evidentemente que se �v� em dire��o� do objeto. Longe, portanto, de excluir, o conceito exigia a faculdade intuitiva. Ao senhor Fedeli nada foi dito, pois j� havia ficado claro que seria in�til argumentar com quem n�o estava disposto a me ouvir, e que havia havia se dispensado de examinar o texto em tela.. Assinalei ainda a falsa sensa��o � falsidade registrada em seus textos - que temos de poder opor um conhecimento �racional� � �intui��o�. A an�lise etimol�gica e todas as suas considera��es, disse-lhe, deveriam servir para que, n�s pr�prios observ�ssemos o nosso modo de conhecer. Esta simples auto-observa��o bastaria (como me bastou) para atestar a veracidade do intuicionismo.
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