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Mensagem do sr. Fedeli, atrav�s de um seu menino-de-recados

 

Esse menino, Felipe Coelho, andou freq�entando meus cursos e ali cumpriu seu papel de alcoviteiro a servi�o de seu guru Orlando Fedeli, acreditando que com isto alcan�aria a salva��o da alma. Por isto julguei conveniente publicar aqui mais esta sua fofoca eletr�nica, distribu�da em 15 de julho de 2001 a seus ex-colegas do Semin�rio de Filosofia. N�o imagine o leitor que o signat�rio entre na peleja como algu�m que, tendo-a observado de longe e com neutralidade, finalmente toma partido. Se fosse isso, sua opini�o poderia at� valer alguma coisa, e essa � a impress�o que ele talvez procure dar aqui, mas desde o in�cio este garoto foi o principal instrumento de a��o do sr. Fedeli, tendo na sua folha de servi�os alguns not�veis feitos de difama��o bem conhecidos de seus ex-colegas. Sem grave imprecis�o ele poderia at� declarar: �Orlando Fedeli, c�est moi.� Esta mensagem, de fato, n�o � a primeira. � apenas a seq��ncia do renitente ass�dio de e-mails com que os agentes do sr. Fedeli cercam meus alunos, a mando dele, no intuito declarado de tir�-los do Semin�rio de Filosofia e lev�-los �quilo que ele imagina ser o c�u. O empreendimento n�o obteve grande �xito, pois s� foram para os bra�os do sr. Fedeli os dois ou tr�s que tinham vindo de l�. Durante um tempo representaram o papel de meus alunos s� para depois poderem encenar uma �ruptura� escandalosa. No ambiente de cursos livres, em S�o Paulo, �opera��es� desse tipo s�o coisa end�mica, mas, por mais que as veja repetir-se desde a d�cada de 70, n�o me acostumo com elas, e sempre me pegam desprevenido. Segue, pois, a amostra, com alguns coment�rios meus em vermelho. - O. de C.

 

Carta aberta de um ex-aluno a Olavo de Carvalho, sobre sua gnose

Felipe Coelho

 

Enquanto meu professor, Orlando Fedeli, n�o comenta o �ltimo protesto do Sr. Olavo de Carvalho contra a den�ncia de sua gnose, eu, Felipe Coelho, Cat�lico, ex-aluno deste �ltimo, comentarei brevemente alguns pontos de sua tentativa de resposta, entitulada "Mais um golpe de teatro do charlat�o Orlando Fedeli".

O texto do Prof. Orlando Fedeli, como o pr�prio t�tulo indica, n�o trata apenas do Sr. Olavo de Carvalho, mas tamb�m de Ren� Gu�non, de modo que o Sr. Olavo n�o deveria ter ficado t�o lisonjeado com sua extens�o. O que o Prof. Fedeli de fato fez foi aproveitar a deixa para dar uma mini-aula de gnose, a partir dos "quatro itens da gnose" do "Aviso 2" do Sr. Olavo, com o objetivo principal de esclarecimento dos alunos deste que porventura sejam ou possam vir a ser Cat�licos.

A incapacidade de distinguir sentido reto e obl�quo � caracter�stica do leitor enlouquecido pelo �dio e pelo medo. A lisonja a que me referi foi dita cum grano salis, mas a sutileza escapou tanto a Fedeli quanto ao fedelho.

Acrescente-se ainda uma cita��o do pr�prio Sr. Olavo de Carvalho corroborando este procedimento: "N�o discuti com eles em meu livro nem vou faz�-lo agora, porque vigarice (intelectual ou qualquer outra) � coisa que n�o se discute: vigarice se denuncia, e pronto" (Olavo de Carvalho, "Por uma Esquerda Melhorzinha", in O Imbecil Coletivo, 2� ed., Rio de Janeiro, Faculdade da Cidade, p. 390). Foi o que fez o Prof. Fedeli: desafiado, denunciou e provou a gnose de Gu�non e Carvalho.

Chegamos assim ao cerne da quest�o: afinal, do que o Sr. Olavo de Carvalho est� sendo acusado? � �bvio que n�o � de ser um seguidor das doutrinas de Valentino, Bas�lides, do gnosticismo dos primeiros s�culos.

H� a� duas defini��es da Gnose. Uma, a do gnosticismo dos primeiros s�culos, corresponde a um fen�meno hist�rico definido e a uma heresia condenada pela Igreja. A outra, a de uma Gnose em sentido ampl�ssimo que abrange praticamente todas as express�es espirituais e religiosas n�o crist�s (e mesmo as crist�s que apresentem algum parentesco mesmo remoto com elas), � um conceito interpretativo poss�vel, mas a Igreja nem subscreve esse conceito nem emitiu jamais qualquer decreto que condenasse como her�tica a entidade hipot�tica a� definida. Logo, sou acusado de que?

(Um terceiro conceito poss�vel de gnose � o de Voegelin. O gnosticismo ou gnose, a�, corresponde a um fen�meno hist�rico cont�nuo, especificamente ocidental, cuja evolu��o se estende desde o gnosticismo dos primeiros s�culos at� as ideologias totalit�rias do s�culo XX. Este conceito, que me parece o �nico razo�vel, obviamente exclui do �mbito da gnose-heresia as tradi��es orientais que o sr. Fedeli nela inclui.)

O pr�prio estudo do Prof. Fedeli mostra a gnose presente no sufismo, na cabala, no hindu�smo, e em v�rios autores de diversas origens apontados pelo Sr. Olavo como grandes homens espirituais, ficando claro portanto que a acusa��o n�o � de pregar a heresia crist� dos primeiros s�culos.

Sempre a confus�o entre a �presen�a� de elementos soltos e a identidade da forma total.

A insist�ncia do Sr. Olavo neste ponto t�o evidente � no m�nimo estranha. � �bvio tamb�m que n�o se trata de "gnose" como mero sin�nimo de "conhecimento", pois neste caso n�o haveria raz�o para se utilizar o primeiro termo em vez do segundo.

Falsifica��o do sentido de minhas palavras. Uso em geral gnose para designar o conhecimento especificamente espiritual e n�o como sin�nimo de conhecimento em geral; e gnosticismo para designar o fen�meno apontado na defini��o de Voegelin. Quando quero me referir ao gnosticismo dos primeiros s�culos, uso mais freq�entemente �heresia gn�stica�. Se o sr. Fedeli e seu fiel escudeiro consentissem em interpretar meus termos no sentido que estes t�m nos meus textos, e n�o naqueles que sua pr�pria imagina��o projeta sobre eles, tudo ficaria mais claro. Mas isso n�o serve para quem s� pretenda jogar lama na �gua e tirar proveito da confus�o.

A gnose de que o Sr. Olavo de Carvalho � acusado � uma modalidade de conhecimento espec�fica: trata-se da doutrina her�tica do conhecimento direto e unitivo de Deus pelo homem - ou melhor, por aquilo que haveria de divino no interior do homem -, realizado por meio de uma intui��o que eliminaria a distin��o entre sujeito cognoscente e objeto conhecido - entre o homem, o mundo e Deus -, pois no fundo s� Deus existe, e tudo que h� de individual � ilus�rio.

� absurdo o Sr. Olavo querer dizer que Santa Teresa tinha este tipo de conhecimento de Deus quando lhe aparecia Nosso Senhor. � claro que, ao v�-Lo, ela permanecia Teresa, e Ele, Jesus.

Ora, se citei o exemplo da vis�o de Sta. Teresa � porque � precisamente esse tipo de conhecimento que tenho em vista ao falar de gnose, e n�o algum outro tipo de �conhecimento unitivo� hiperb�lico e, a rigor, autocontradit�rio, que n�o sei onde esse moleque pode ter encontrado nos meus escritos (a n�o ser que ele confunda o tipo de conhecimento a que me refiro em meus estudos de gnoseologia -- como por exemplo �Ser e Conhecer� -- com o conhecimento de Deus! Mas isto j� seria loucura demais.) Na verdade, essa no��o hipertr�fica de conhecimento unitivo n�o se encontra nem mesmo na linha mestra do sufismo, a de Mohieddin Ibn Arabi, metaf�sico �da unidade absoluta� que, no entanto, proclama claramente que no �pice de todo conhecimento unitivo subsiste a dualidade do fiel e de seu Senhor, unidos t�o somente pelo v�nculo do amor. Exatamente como na vis�o de Sta. Teresa. Se essa vis�o � chamada �unitiva�, � no preciso sentido em que aqueles que se unem pelo amor s�o um s� embora permane�am existencialmente distintos. Tal � o motivo pelo qual, ali�s, Teresa nesse instante diz a Jesus (n�o lembro se s�o precisamente as palavras textuais): �Tu �s Aquele que � � eu sou aquela que n�o � � declara��o que afirma, ao mesmo tempo e inseparavalmente (�dialeticamente�, para horror do sr. Fedeli), a dualidade de criatura e Criador e a nulidade da criatura ante o Criador. N�o h� rigorosamente diferen�a nenhuma entre essa perspectiva e a de Ibn �Arabi, embora haja muita entre ambas e uma perspectiva gn�stico-her�tica (real ou suposta) na qual a �unidade� fosse interpretada como �identidade�. �

Mas, como o Coelhinho s� conhece do sufismo o que lhe diz o sr. Fedeli, � poss�vel que ele imagine que o sufismo � outra coisa.

(Num outro documento, o sr. Fedeli, querendo por toda lei lan�ar a pecha de her�tico sobre o esoterismo isl�mico, reduz este ao ismaelismo, que � apenas uma seita dentro de uma seita (isto �, do shi�ismo) e nada tem a ver com as ordens sufis tradicionais, que o condenam explicitamente. Mas isto � assunto para outra ocasi�o.)

Quanto ao dem�nio, conhece apenas a exist�ncia de Deus, n�o sua ess�ncia, e como se viu acima � justamente a ess�ncia de Deus que os gn�sticos pretendem conhecer.

Curioso. Ent�o por que no sufismo o hadith do Profeta, �Meditai as qualidades, jamais a ess�ncia�, � considerado uma regra �urea da pr�tica espiritual? (Por �qualidades�, entendem-se os 99 nomes de atributos de Allah que constam no Cor�o.)

Quanto � salva��o, o Sr. Olavo de Carvalho disse recentemente: "Isso n�o quer dizer que o Papa esteja errado ao afirmar que o cristianismo � a �nica via de salva��o. Como poderia estar errado, se o conceito mesmo de 'via de salva��o' n�o se aplica ao Isl� ou ao juda�smo?" (Olavo de Carvalho, "Mensagem de Natal", O Globo, 23.12.2001). Das duas uma: ou o Sr. Olavo aqui admite que, n�o sendo vias de salva��o, o maometismo e o juda�smo levam ao inferno, e neste caso seria Cat�lico; ou ent�o, como � evidente, o Sr. Olavo adere a uma escatologia n�o-Cat�lica e gn�stica, e defende tamb�m a doutrina de que nem todos precisam ser salvos, que a salva��o n�o exige uma f� determinada e certa, pois bastaria o conhecimento. E isso � gnose.

Non sequitur: �se� n�o s�o vias de salva��o, �portanto� levam ao inferno. Esse menino � mesmo um traslado fiel da l�gica fed�lica.

Ali�s, Frithjof Schuon, que at� muito recentemente o Sr. Olavo de Carvalho considerava "homem espiritual de primeiro plano e formulador do �nico m�todo v�lido j� concebido para a compara��o e aproxima��o das religi�es" (in O Jardim das Afli��es, 2� ed., � Realiza��es, S�o Paulo, 2000, p. 308),

(considero ainda, mas, ao contr�rio de Fedelis e Felipes, compreendo a distin��o entre respeitar um homem espiritual e ser seu disc�pulo)

trata a f� exatamente como o Sr. Olavo, como caminho para a gnose: "A F� n�o poder� opor-se ao Conhecimento [de Deus, ou seja, a gnose] da qual �, ao contr�rio, como vimos, um modo inici�tico..." (Frithjof Schuon, Da Unidade Transcendente das Religi�es, Trad. Fernando Guedes Galv�o, Livraria Martins Editora S.A., S�o Paulo, 1953, p. 184).

Completa distor��o do sentido do texto de Schuon: �modo inici�tico� n�o quer de maneira alguma dizer �caminho para a Gnose�, no sentido em que o caminho deve ser abandonado uma vez atingida a meta.

E, sobre a natureza do conhecimento gn�stico, o mesmo autor afirma: "Acrescentamos que no ponto de vista inici�tico esta vis�o [a Vis�o Beat�fica] pode, e deve at�, obter-se ainda nesta vida..." (ibid., p. 179). E ainda: "...at� existem m�todos para obter esta gra�a que equivale, em suma, a uma 'concretiza��o' da 'vis�o beat�fica'." (ibid., p. 157). (O Sr. Olavo deve lembrar-se de ter lido isto, pois, no par�grafo anterior a este �ltimo trecho citado, encontra-se detalhada por Schuon a compara��o blasfema entre a Virgem Maria e Maom� que o Sr. Olavo resumiu em seu artigo "Mensagem de Natal", O Globo, 23.12.2000). Registre-se ainda que, como tudo isso � condenado pela Igreja Cat�lica, Schuon refere-se a Ela com total desprezo: "A Igreja latina, com seu idealismo sentimental e irrealista..." (Frithjof Schuon, O Esoterismo como Princ�pio e como Caminho, Ed. Pensamento, p. 189).

Reconhecer na Igreja o seu elemento de idealismo sentimental e irrealista n�o � de maneira alguma �referir-se a Ela com total desprezo.� P�ginas e p�ginas de apologia da Igreja escritas por Schuon s�o a� suprimidas pela tesoura deixada nas m�os de um moleque.

Continuando, � not�vel que o Sr. Olavo de Carvalho confesse aqui n�o renegar nada do que escreveu antes de 1995, com exce��o de seu artigo sobre a "gnose de Princeton". Isto significa que n�o renega o artigo citado pelo Prof. Fedeli em que ap�ia as doutrinas defendidas por Gu�non em O Demiurgo (Cf. Olavo de Carvalho, "O Homem e sua lanterna. Ren� Gu�non o Mestre da Tradi��o contra o Reino da Deturpa��o", in Revista Planeta, n� 107, agosto de 1981, p. 17), doutrinas estas que se enquadram at� naqueles seus quatro itens da gnose, feitos para mascarar a sua pr�pria gnose.

Afinal, o Sr. Olavo de Carvalho confessa mais uma vez que � gn�stico. Abaixo vai o texto do Prof. Fedeli, seguido da mais atual confiss�o do Sr. Olavo de Carvalho, ao coment�-lo (o sublinhado � meu):

"At� hoje, ele afirma que h� algo superior � f� e �s cren�as de todas as religi�es - a 'Tradi��o' primordial - n�cleo comum a todas elas. Esse n�cleo ele mesmo o chamou de Gnose. E � esse suposto n�cleo que permite a ele dizer-se, ao mesmo tempo, cat�lico-judeu-isl�mico."

At� aqui o Prof. Orlando Fedeli. A seguir, a nova confiss�o de gnose de Olavo de Carvalho:

"A exist�ncia desse n�cleo n�o � uma doutrina: � um simples fato emp�rico, fac�limo de comprovar (cf. Whitall N. Perry, A Treasury of Traditional Wisdom, Pates Manor, Bedfont, Perennial Books, v�rias edi��es). Cham�-lo gnose, tradi��o, sabedoria perene, filosofia perene ou qualquer outra coisa � absolutamente indiferente. Todo homem que, al�m de conhecer esse fato, admita a veracidade intr�nseca e essencial do referido n�cleo de princ�pios � um �gn�stico�, no sentido lato em que porventura caiba chamar-me assim, e por isto mesmo n�o pode ser um gn�stico no sentido espec�fico em que o sr. Fedeli me acusa de s�-lo, de vez que a heresia gn�stica, por seu dualismo e sua revolta promet�ica contra a ordem divina, nega frontalmente esses mesmos princ�pios."

Como j� se viu, � precisamente da gnose que o Sr. Olavo reconhece defender, e n�o da heresia dos primeiros s�culos, que o Prof. Orlando Fedeli o acusa. Ademais, j� foi demonstrado pelo Prof.� Fedeli que todos os especialistas no assunto consideram o gnosticismo (a heresia dos primeiros s�culos) uma esp�cie do g�nero gnose (substrato ou n�cleo de v�rias heresias). O argumento do Sr. Olavo para negar este fato e defender a "boa gnose", por meio da alega��o de que o gnosticismo seja um "falso conhecimento", � semelhante ao argumento dos comunistas -- que o Sr. Olavo de Carvalho tanto condena, e faz bem de condenar -- ao afirmarem que o "verdadeiro comunismo" permanece bom ap�s as experi�ncias genocidas de St�lin, L�nin, Mao e cia., pois estas seriam "falso comunismo"...

A compara��o � simplesmente calhorda. O �bom comunismo� � apenas uma promessa jamais cumprida, ao passo que uma gnose sem qualquer comprometimento com a heresia existe h� mil�nios. Nenhum historiador s�rio aceitou jamais a tese do sr. Fedeli, que identifica hinduismo, budismo, islamismo, juda�smo etc. como o tronco geral de onde sai a esp�cie de gnosticismo conhecida nos primeiros s�culos da era crist�. O sr. Fedeli � que, partindo da defini��o geral que os historiadores d�o, a manipula e a aplica indevidamente a todas essas religi�es, criando um elo hipot�tico entre elas e a gnose-heresia. Ao apelar � autoridade desses historiadores, o sr. Fedeli nada mais faz do que falsificar o sentido do que eles dizem, como falsifica o sentido dos meus textos.

O Sr. Olavo de Carvalho citou recentemente Hans Jonas como "o mais famoso historiador da gnose", numa breve nota na qual fala em "o r�tulo de gnose (no sentido estrito de Hans Jonas)" (Olavo de Carvalho, nota a "A face oculta do mundialismo verde", de Pascal Bernardin, in </convidados/bernardin2.htm>). Logo, o Sr. Olavo aceita que Hans Jonas usa gnose no sentido estrito, sentido que � condenado pela Doutrina Cat�lica. Veja-se ent�o o que diz Hans Jonas: "Na verdade, houve apenas alguns grupos cujos membros se denominaram expressamente 'gn�sticos', 'os que conhecem'; mas j� Sto. Irineu, no t�tulo de sua obra, usou o nome 'gnose' (com o acr�scimo de 'falsamente chamada assim') para abranger todas as seitas que compartilhavam com eles esta �nfase [no conhecimento como meio de obter a salva��o ou ele mesmo como forma de salva��o] e certas outras caracter�sticas.

1) Quem usa o termo gnose nesse sentido � que Sto. Irineu considera falso � � o sr. Fedeli, n�o eu. Sinceramente: essa manipula��o de significados j� passou de todos os limites do toler�vel.

2) Que eu reconhe�a ser Jonas �o mais famoso historiador da gnose� n�o implica que eu use os termos no sentido que ele lhes d�.

3) De novo: onde foi que defendi o �conhecimento como meio de obter a salva��o�?

Se, de um lado, n�o sou acusado de pregar a heresia dos primeiros s�culos e, de outro, nunca preguei o �conhecimento como meio de obter a salva��o�, ent�o, pergunto de novo: de que raio de coisa afinal me acusam?

Neste sentido podemos falar de escolas, seitas e cultos gn�sticos, de escritos e ensinamentos gn�sticos, de mitos e especula��es gn�sticas, e mesmo de uma religi�o gn�stica em geral. Seguindo o exemplo dos autores antigos que primeiro extenderam o nome [gnose] para al�m da autocomposi��o de alguns grupos, n�o somos obrigados a parar onde parou seu conhecimento ou interesse pol�mico, e podemos tratar o termo como um conceito classificat�rio, que se aplica onde quer que as propriedades definidoras estejam presentes." (Hans Jonas, The Gnostic Religion, 2nd edition, Beacon Press, Boston, 1991, p. 32, sublinhados meus).

Sim, mas uma propriedade definidora essencial � a tal �salva��o pelo conhecimento� � est� completamente ausente das minhas supostas �confiss�es�. Quantas vezes ser� preciso pedir a esses tenazes difamadores que provem esse ponto, que eles mesmos dizem essencial e de cuja demonstra��o v�m fugindo h� mais de 160 p�ginas?

N�o s� os especialistas, mas tamb�m o j� citado Frithjof Schuon, que faz a mesma distin��o entre gnose e gnosticismo, admite que o gnosticismo pode ser chamado validamente de gnose -- e da gnose que defende! -- conforme cita-o o Prof. Fedeli em seu trabalho: �Se n�s n�o 'reduzimos' o sentido da palavra [Gnose] a este sincretismo, n�s admitimos entretanto que, de toda evid�ncia e por raz�es hist�ricas, que se chamem de 'gn�sticos' tamb�m os hereges designados convencionalmente por esse termo� (F. Schuon, Comprendre l�Islam, Ed. du Seuil, Paris, 1976, p. 137, nota 1; apud Orlando Fedeli, A Gnose "Tradicionalista" de Ren� Gu�non e Olavo de Carvalho, in <http://www.montfort.org.br/cadernos/guenon.html>).

Manipula��o de frases, de novo. Se Schuon admite que se use o termo gn�stico tamb�m para designar a heresia dos primeiros s�culos crist�os, � �bvio que ele d� ao termo, em geral, outro sentido.

Ao mesmo tempo em que agora tenta se desvencilhar de Schuon, o Sr. Olavo de Carvalho aponta a obra principal de Whittal N. Perry como probante da doutrina her�tica do n�cleo comum das religi�es, que seria a "boa gnose". Justo este livro de Perry que o editor da revista gu�noniana Symbolos, ao resenh�-lo, diz ser nada menos que "una especie de biblia schuoniana"! (Cf. Federico Gonz�lez, in <http://personal5.iddeo.es/jmrio/libfg26.htm>). E ainda acrescenta: "Este libro es tomado como una enciclopedia casi sagrada de sabidur�a por los estudiantes schuonianos de habla inglesa. (...) Sin entrar en la vida privada de nadie diremos que el mismo M. Koslow se�ala a Perry como el colaborador directo de Schuon y a su esposa como �ntimamente allegada a su familia, con quien todo lo comparten; por lo que deben ser considerados como sus portavoces autorizados o los asociados m�s �ntimos del suizo; incluso viven en casas vecinas." A� est�: Perry � porta-voz de Schuon, e o trabalho citado pelo Sr. Olavo como evid�ncia para seu "ecumenismo radical" � nada menos que uma "b�blia schu�nica". Al�m disso, o pr�prio nome da editora do livro de Perry, Perennial Books, � significativo e mostra sua liga��o com a seita "perenialista" de Schuon. Acrescente-se ainda que o mesmo Perry afirma que este seu livro foi inspirado no desejo de Ananda Coomaraswamy, amigo de Gu�non, de um dia ter uma suma do pensamento gn�stico, obviamente para se contrapor � Suma Teol�gica, de S. Tom�s, pilar da Igreja Cat�lica.

Caracter�stica aplica��o do m�todo fed�lico: mil e tantas p�ginas de fatos concordantes reunidos no livro de Perry s�o impugnadas, num estalar de dedos, por meio de fofoquinhas sobre as liga��es de fam�lia do autor! Mais ainda, o menino a� se revela um bom aprendiz do fabricante de �confiss�es� que lhe serve de guru. No texto referido, Perry n�o diz nada do que Felipe Coelho o faz dizer. Ele nem fala em �suma do pensamento gn�stico� nem manifesta qualquer inten��o, muito menos uma inten��o ��bvia�, de �se contrapor � Suma Teol�gica de S. Tom�s�, da qual, bem ao contr�rio, v�rios textos s�o inclu�dos na colet�nea.

Finalmente, o Sr. Olavo cita dois pretensos erros do Prof. Fedeli, que supostamente trocaria o sujeito de suas frases. Vejamos. No primeiro caso, Olavo afirma: "Digo, por exemplo, que com tal ou qual argumento ele 'cortou seu pr�prio pesco�o' - e ele entende que eu estou amea�ando cortar o seu pesco�o". Ora, em seu "Aviso 1" Olavo dissera: "Por enquanto, n�o h� mal em que o sr. Fedeli v� curtindo sua ilus�o de ser um novo S. Jer�nimo, de ter cortado a l�ngua a um infiel (sic). Logo ele ver� que cortou mais � seu pr�prio pesco�o". E isso n�o � uma amea�a? Se eu digo a algu�m: "Voc�, ao me acusar, assinou sua pr�pria senten�a de morte", n�o o estou amea�ando? Por favor.

Nova manipula��o, agora do sentido de uma figura de linguagem. O fato � que escrevo para pessoas que t�m sensibilidade para as nuances de estilo, mas sempre me arrisco a ser lido por um Felipe Coelho qualquer, cuja cultura liter�ria � a de quem escreve �entitular� em vez de �intitular� e �extenderam� em vez de �estenderam�.� Duas met�foras em contraponto, sobretudo se compostas de termos que designam um mesmo tipo de objetos e refor�adas por uma alus�o liter�ria, s�o obviamente complementares e t�m de ser compreendidas uma em fun��o da outra. � express�o de L�on Bloy, �cortar a l�ngua�, fazem pendant, quase na mesma linha, as minhas palavras �cortar o pesco�o�. � evidente que, se a primeira dessas express�es n�o promete nenhum dano f�sico, mas apenas desprover o advers�rio de sua for�a de agress�o ret�rica, no mesmo sentido, mutatis mutandis, deve ser interpretada a segunda. Mais enfaticamente ainda, a express�o n�o anuncia que eu v� cortar o pesco�o do sr. Fedeli, mas que este vai cortar seu pr�prio pesco�o, o que, no contexto, quer dizer obviamente que vai fazer um suic�dio argumentativo. Que se trata de uma alus�o liter�ria � coisa que se torna mais patente ainda pelo fato de que as mesmas palavras de Bloy j� foram citadas como ep�grafe de meu livro O Imbecil Coletivo. Para interpretar isso como amea�a de agress�o f�sica, mediante uma compara��o descabida com uma senten�a imagin�ria, � preciso uma dose extraordin�ria de m�-f�, aliada � ignor�ncia presun�osa e ao fanatismo cego � ou seja, tudo aquilo que esse menino aprendeu na escolinha do sr. Fedeli.

Nesses detalhes de interpreta��o � que se revela melhor o tipo de olhar � malicioso, perverso e delirante � com que essa gente l� os meus escritos.

Em contrapartida (veja-se o depoimento anexo de Amilcar Nadu), como haver� o garotinho de interpretar a amea�a fed�lica de me �dar um pau�, proferida oralmente e sem nenhuma alus�o liter�ria poss�vel? Alegar� que ela � �apenas um modo de dizer�, enquanto um elaborado jogo de met�foras deve ser interpretado segundo um literalismo grosso, malicioso e redutor?

E veja-se que o Sr. Olavo, em seu "Aviso 2", diz ainda que a den�ncia do Prof. Fedeli "n�o habilita o sr. Fedeli a receber outra resposta sen�o uma que o C�digo Penal me pro�be: um tapa na cara". Para piorar, o segundo "erro" consegue ser ainda mais tolo, pois o Sr. Olavo afirma: "Digo que seus alunos est�o assustados e perplexos - e ele entende que o estou acusando, a ele, de assustar os meus alunos". Reparem bem que foi exatamente isso que o Sr. Olavo disse em seu "Aviso 3" (os negritos e o sublinhado s�o meus): "Respondi �s suas acusa��es, de fato, n�o por m�rito delas ou de seu autor, mas apenas em aten��o a dois ou tr�s garotos que, sendo alunos dele, tamb�m s�o meus, e que enquanto o forem ter�o o direito de obter de mim, na medida em que eu possa d�-las, as explica��es necess�rias a tir�-los do estado de perplexidade e confus�o em que tipos como o sr. Fedeli os jogam para domin�-los."

Novamente, distor��o do sentido das minhas palavras, para produzir uma contradi��o que n�o existe. N�o foi enquanto meus alunos que esses meninos puderam ser assustados pelo sr. Fedeli, e sim, obviamente, enquanto alunos dele. Ali�s o pr�prio Felipe � o mais perplexo e assustadinho de todos, t�o cioso de salvar sua alminha que por ela n�o hesita em jogar ao lixo as mais patentes verdades � j� nem era mais meu aluno, mas, por polidez, fiz quest�o de trat�-lo como se ainda o fosse.

De qualquer forma, isto � uma quest�o de pouca import�ncia; fundamental � que ficou provado que o Sr. Olavo de Carvalho n�o � Cat�lico, nem judeu, nem mu�ulmano. � gn�stico.

Diante da qualidade de seus argumentos, n�o surpreende que o Sr. Olavo encha sua "defesa" de "adjetivos" ao Prof. Orlando Fedeli. A mim, quanto mais o Sr. Olavo de Carvalho desce o n�vel da discuss�o, mais lamento ter sido um dia seu aluno.

�������In Iesu et Maria,

�������Felipe Coelho.

�������12.07.2001

A mentira proferida em nome de Jesus e Maria, com f� e obstina��o, � o caminho que o sr. Fedeli ensinou esse menino a trilhar.