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Aviso de Alberto Dines

&

Considera��es sobre a universidade

 

1. Ap�s recalcitrar um pouco, no aguardo de provas que lhe enviei em seguida, o jornalista Alberto Dines me avisou por e-mail, ontem, estar persuadido de que n�o fui o autor dos ataques contra ele, e prometeu publicar isso na pr�xima edi��o do Observat�rio da Imprensa, ter�a-feira que vem, cancelando portanto as refer�ncias ofensivas que fez � minha pessoa.

Para documentar o que se passou realmente por ocasi�o da querela entre a UniverCidade e o prof. Gianotti, enviei a Alberto Dines e publico logo abaixo o ensaio, infelizmente incompleto, �Crise da universidade ou eclipse da consci�ncia?�, que foi a minha resposta a Gianotti, publicada parcialmente na revista Livro Aberto, de S�o Paulo. Essa resposta, assinada, era de teor bem diverso daquela que logo a seguir saiu no Jornal do Brasil e que terminou por desencadear o conflito entre a UniverCidade e Alberto Dines. N�o fui, n�o sou nem serei nunca o ghost writer de ningu�m.

2. Como se depreender� da leitura desse ensaio, minha posi��o no debate universidade p�blica versus universidade privada n�o coincide plenamente nem com� a da UniverCidade nem com a da comiss�o Gianotti, endossada por Alberto Dines.

No meu entender, embora haja lugar tanto para a universidade empresa quanto para a universidade reparti��o p�blica, nenhuma dessas duas f�rmulas atende satisfatoriamente ao objetivo essencial da id�ia de universidade, que � a prepara��o da elite intelectual. A primeira � orientada para o mercado de trabalho, a segunda para um conceito gramsciano, vil e oportunista, de �elite intelectual� compreendida como o novo �Pr�ncipe� de Maquiavel, sinistro planejador de tram�ias revolucion�rias. Dito de outro modo, a primeira faz empregados, a segunda militantes. Nenhuma das duas pode produzir o tipo de cientista e erudito acad�mico que o pa�s necessita para se afirmar como pot�ncia cultural � o primeiro passo (e n�o o �ltimo, como o concebe a miser�vel imagina��o uspiana) da constru��o de uma aut�ntica soberania nacional.

A f�rmula que tenho em vista, e que nunca cheguei a expor satisfatoriamente por escrito, mas s� oralmente nas minhas aulas, d� o marco orientador das atividades do Semin�rio de Filosofia, que concebi como um laborat�rio com a ambi��o de a� produzir a semente, ao menos te�rica, dessa futura universidade essencial, que provavelmente permanecer� no reino das id�ias, n�o havendo no momento as condi��es sociais que permitam realiz�-la. Entre essas condi��es, a primeira � a exist�ncia de uma elite econ�mica e pol�tica consciente da verdadeira fun��o da cultura superior � isto �, de uma elite que seja precisamente o contr�rio daquela que temos no Brasil.

Sobre o mesmo tema, pe�o tamb�m a aten��o do leitor para o artigo �De volta � Academia�, que ser� publicado proximamente no Jornal da Tarde de S�o Paulo.

Olavo de Carvalho

30/6/01

 

Crise da universidade ou eclipse da consci�ncia?

Olavo de Carvalho

 

PARTE I

 

�������� N�o � nada mau que um diagn�stico, por superficial que seja, do estado de coisas na universidade brasileira venha precedido, a t�tulo de aquecimento, por um breve retrospecto da id�ia de universidade em sua evolu��o hist�rica.

�������� E a primeira coisa que, nesse retrospecto, salta aos olhos, � a seguinte: quem busque retra�ar, ao longo dos registros da hist�ria, o desenho das rela��es entre universidade e cultura superior, descobre que n�o apenas inexiste qualquer identidade entre esses dois termos, mas que sua oposi��o dial�tica � uma das principais alavancas do progresso cultural no Ocidente.

�������� Poder universit�rio e vigor cultural s�o p�los que ora se atraem, ora se repelem, mas jamais chegam a identificar-se por completo.

�������� Para come�o de conversa, as universidades n�o surgem como institui��es oficiais, mas como clubes de aficionados, que, movidos pelo puro anseio de conhecimento, se cotizavam e mandavam vir os melhores professores de onde estivessem.

�������� O entusiasmo dessa �poca pelo estudo e pela ci�ncia � hoje coisa t�o dif�cil de imaginar, que buscamos explic�-lo por motiva��es secund�rias e acidentais de ordem utilit�ria e pol�tica. Dizemos, por exemplo, que as universidades �se destinavam� a formar funcion�rios, a produzir a legitima��o ideol�gica do status quo, etc. etc. [1] Deformamos a perspectiva, projetando sobre homens bem diferentes a hierarquia de prioridades de nossos contempor�neos.

�������� As prioridades t�picas da nossa �poca, pelas quais os homens matam, morrem e � o que �s vezes � pior � escrevem, s�o no fundo duas e apenas duas: a efic�cia do aparato tecno-econ�mico, a divis�o do poder pol�tico. Quase tudo o que fazemos, pensamos e dizemos em p�blico tem uma destas duas finalidades: azeitar a m�quina da produtividade, alterar a constitui��o do Estado. Essa alternativa expressa o conflito entre a burguesia capitalista e a intelligentzia de classe m�dia, tantas vezes mais poderosa que ela; este conflito, por sua vez, se expressa na dupla concep��o da cultura como mercado e da cultura como milit�ncia, oposi��o que por fim vai gerar as duas id�ias de universidade que esgotam o repert�rio do que geralmente se diz a respeito nos debates nacionais: a universidade como formadora de m�o-de-obra especializada, a universidade como ber��rio de te�ricos e militantes da revolu��o. � fatal que os adeptos da primeira concep��o enfatizem a praticidade imediata, enquanto os da outra lhes op�em argumentos de natureza fingidamente �tica e ideal�stica, fundados no pressuposto absurdo de que a fome de poder pol�tico � coisa essencialmente mais nobre que o desejo de riquezas. A constela��o das id�ias em debate esgota-se em dois lindos sistemas de racionaliza��es pro domo sua, ambos baseados no princ�pio de que a universidade deve �servir� a alguma classe, e divergindo apenas quanto a quem deve levar o pr�mio: os senhores do capital ou a vanguarda autonomeada das �for�as populares�. Que ambas as classes em disputa devam, elas sim, servir a algo que as transcenda (e transcendendo unifique na busca do bem comum); e que este algo possa estar simbolizado precisamente na id�ia mesma de universidade, eis algo que escapa ao horizonte visual do debate universit�rio brasileiro; e esta limita��o, por sua vez, projeta-se retroativamente sobre quanto digam uns e outros da universidade de outros tempos.

�������� Mas a universidade medieval era cria��o nova e, como tal, fruto tenro da inventividade pessoal ainda n�o fixada na cristaliza��o entr�pica das id�ias no molde das ideologias de classe. Tudo o que � obra humana, afinal, nasce na intimidade de consci�ncias livres e generosas, para depois ser usurpado pelos porta-vozes de ambi��es coletivas que, por si, nada criam. E quando ex post facto um intelectual de aluguel vem explicar as cria��es pelo interesse de classe a que acabaram servindo � revelia, age como o ladr�o que fizesse de seu pr�prio interesse pessoal a raz�o e o prop�sito dos trabalhos de sua v�tima. Muito do que chamamos �ci�ncia social� � pura racionaliza��o da mentira existencial de seus benefici�rios. Eles n�o podem compreender que algu�m sirva a prop�sito mais alto que o interesse deles ou de seus advers�rios. Eis por que n�o compreendem a universidade medieval.

�������� Para os homens do fim da Idade M�dia, o estudo era parte inerente da devo��o religiosa que absorvia suas almas num movimento para o alto. � t�o est�pido explicar a universidade medieval pela sua fun��o econ�mica, administrativa e pol�tica, quanto explicar o impulso religioso pelo desejo de subir na hierarquia eclesi�stica.

�������� A identidade da �cultura� e do �culto� remontava � �poca em que os limites entre o clero e o restante da sociedade eram fluidos. Data desse tempo a ambig�idade da palavra francesa clerc (ingl�s clerk), que designa ao mesmo tempo um sacerdote e um funcion�rio, um escrevente. Ap�s a dissolu��o do Imp�rio Romano, a Igreja acumulou as fun��es de guiamento religioso, ensino b�sico e administra��o civil informal. De um lado, s� os membros do clero sabiam ler e escrever; de outro, qualquer um que soubesse ler e escrever tinha automaticamente o estatuto de cl�rigo [2] . O clero inclu�a uma multid�o de sacerdotes virtuais, que exerciam todas as fun��es de padres, exceto a administra��o dos sacramentos. A paix�o da filologia, da conserva��o e decifra��o dos documentos antigos, foi ainda alimentada pelo profundo sentido de consci�ncia hist�rica inerente � f� cat�lica, tal como j� aparece, por exemplo, em Sto. Agostinho e sua Cidade de Deus. S�o homens animados por esse esp�rito de devo��o intelectual que, a partir do s�culo XII, fundam as universidades.

�������� De in�cio, elas n�o t�m nenhuma fun��o sen�o facilitar o acesso dessas pessoas aos conhecimentos que desejavam. A massa de estudantes de todos os pa�ses que aflui aos primeiros centros universit�rios � designada como discere turba volens (�massa dos que querem aprender�).

�������� Mais caracter�stica ainda da mentalidade que inspirava esses primeiros universit�rios foi justamente a import�ncia central que, ap�s algumas resist�ncias iniciais de ordem eclesi�stica, veio a assumir na nova institui��o a doutrina aristot�lica, que celebrava a contempla��o, a vida teor�tica, como o mais alto estado humano, subordinando-lhe as atividades pr�ticas, pol�ticas inclusive [3] .�

�������� E se outra prova fosse preciso para demonstrar o infinito respeito que se tinha ent�o pelo conhecimento como tal, independentememente de qualquer integra��o �til de seus resultados na pr�tica coletiva, basta notar o estatuto privilegiado que ent�o se concedia ao estudante, e que importava, no fim das contas, em isent�-lo de quase todas as obriga��es civis para que pudesse ocupar-se t�o somente de seus estudos. Esse fato mostra-se ainda mais relevante na medida em que a maioria dos estudantes era constitu�da de estrangeiros, que findo o per�odo escolar iriam voltar para suas terras de origem e em nada poderiam beneficiar a sociedade local. N�o obstante essa sua ostensiva �inutilidade� social � assim a chamar�amos hoje �, todo aluno estrangeiro tinha sempre a certeza de poder contar com a ajuda dos ricos cidad�os locais para custear seus estudos: o mecenato era geral e corriqueiro (como ainda hoje o �, por exemplo, na sociedade indiana para os estudantes de Vedanta das academias tradicionais), e n�o implicava a expectativa de nenhuma recompensa pr�tica.

�������� A universidade desse tempo �, por um lado, institui��o estritamente privada, com estatuto similar ao de uma corpora��o de estrangeiros. Os professores vivem das contribui��es de seus alunos e, em parte, da ajuda das dioceses. Nenhum governo local pensa, de in�cio, em subordinar a universidade a seus interesses e objetivos, nem consta ter algum governante olhado com revolta e esc�ndalo o crescimento do poder e da influ�ncia daquela massa turbulenta de mentalidade ferozmente independente e contestadora [4] . A condi��o privilegiada do estudante e do professor, mesmo pobres, mesmo estrangeiros, reflete uma sociedade onde o conhecimento ainda � tido como finalidade e valor em si mesmo, independentemente de seu uso em benef�cio de terceiros.

�������� Por outro lado, a no��o de universitas scientiarum, da universidade como detentora e transmissora do sistema total do saber, est� completamente ausente durante os tr�s primeiros s�culos, a contar da funda��o da Universidade de Bolonha, reconhecidamente a pioneira (1143). Essa pretens�o s� surgir� mais tarde, quando, com o aparecimento do Estado nacional absolutista, s�o fundadas as primeiras universidades estatais, j� com ambi��o totalit�ria, prenunciando a esclerose do g�nio acad�mico. No in�cio, no per�odo �ureo, �universidade� � apenas universitas magistrorum et scholiarum, �o conjunto dos professores e estudantes� � � o nome de uma corpora��o, n�o de uma teoria sist�mica [5] . E, em retribui��o talvez das aten��es maternais que a sociedade em torno lhe dedica, essa corpora��o tem uma concep��o muito modesta acerca da pr�pria autoridade intelectual. Ela n�o abarca todo o saber, nem d� a �ltima palavra quanto � verdade ou falsidade nas discuss�es correntes. Acima e em torno dela h� outras inst�ncias que sabem e opinam � a come�ar pela autoridade eclesi�stica que, detentora da tradi��o revelada, � reconhecida espontaneamente como guardi� de um fundo comum de cren�as e valores a que se recorre, em �ltima inst�ncia, para arbitrar as quest�es que o confronto dial�tico se veja impotente para resolver. H� tamb�m a palavra, n�o oficial mas poderosamente convincente, dos religiosos isolados, dos m�sticos, dos monges, que exercem, praticamente � margem de todo controle hier�rquico, uma influ�ncia direta sobre a opini�o p�blica. H� os poetas, os trovadores errantes, que de cidade em cidade v�o levando novas id�ias, novos sentimentos. H� os s�bios independentes,� muitos deles alquimistas, a ocupar-se de investiga��es nas quais s� com muita prud�ncia um universit�rio se arriscaria a opinar [6] . H� as corpora��es de of�cios, detentoras de conhecimentos espirituais, cient�ficos e t�cnicos que escapam ao dom�nio universit�rio. A universidade �, no meio de todas essas fontes de ensino, apenas a maior em n�mero de membros, mas n�o a mais poderosa ou importante. Nem mostra qualquer pretens�o de tornar-se tal.

�������� As rela��es entre a universidade e essas outras fontes exemplifica de maneira particularmente clara a concep��o tipicamente medieval de um equil�brio din�mico entre poderes m�ltiplos, concep��o que se perder� com o advento do absolutismo, para s� ressurgir nas democracias do s�culo XIX, mas agora apenas como um ideal e n�o como uma pr�tica real e cotidiana.

�������� A universidade n�o apenas n�o surgiu para atender a qualquer necessidade do establishment, como foi a interfer�ncia cada vez maior dos poderes externos que provocou, entre os s�culos XIV e XVII, as sucessivas mudan�as mais ou menos traum�ticas que afastaram o ambiente universit�rio do centro da vida intelectual.

�������� Essas crises manifestaram-se a partir do momento em que a popula��o universit�ria, crescendo muito, se revelou um dep�sito potencial de apoio pol�tico que passou a ser disputado entre a Igreja e os poderes civis: de um lado, o Sacro Imp�rio, de outro, os Estados nacionais nascentes. Esta disputa fez com que novas concep��es de ensino se implantassem de fora para dentro, de cima para baixo, sufocando a criatividade que tinha sua raiz na iniciativa espont�nea da discere turba volens � os homens desejosos de aprender.

�������� Se, por um lado, a autoridade eclesi�stica passou a exigir cada vez mais que o ensino se impusesse limites doutrinais que seriam mais pr�prios � pura catequese � o que mais tarde o grande te�logo John Henry Newman viria a excluir da defini��o mesma de universidade [7] �, por outro lado as novas monarquias n�o apenas fundaram universidades oficiais, de cuja dire��o a massa dos estudantes estava alijada quase que por hip�tese, mas tamb�m foram for�ando para fazer das j� existentes instrumentos para a express�o culta de valores e cren�as nacionais, at� o ponto em que se perdeu por completo um dos valores essenciais da id�ia original de universidade: o internacionalismo. Junto com ele perde-se tamb�m o sentido do conhecimento como finalidade, adotando-se em seu lugar o ponto de vista (hoje aceito como verdade de evangelho) de que a universidade deve �servir� a algum fim pr�tico: ao progresso social, � ind�stria, � identidade nacional, � manuten��o ou � altera��o do status quo, e mil e um outros interesses em disputa. A id�ia criadora fragmenta-se: terminou a era da universidade, come�a a hist�ria das universidades. A fragmenta��o vai mais longe ainda quando, com a Reforma protestante, as novas fac��es religiosas (logo imitadas pela Igreja velha) convocam as universidades para torn�-las guardi�s de suas respectivas ortodoxias.

�������� N�o por coincid�ncia, a concep��o totalizante do sistema do saber, e da universidade como seu dep�sito privilegiado, aparece justamente nessa �poca. Sua aceita��o generalizada e quase autom�tica (ao ponto de o novo sentido da palavra universitas como universitas scientiarum acabar se sobrepondo ao antigo no vocabul�rio corrente das classes letradas) reflete de um s� golpe a queda e a ascens�o das universidades: a queda de sua capacidade criativa, a ascens�o, provavelmente compensat�ria, de suas ambi��es ao poder intelectual, ao guiamento ideol�gico de toda a sociedade. Tal como ensinam as antigas escrituras hindus, a perda do impulso ascensional (sattwa) � seguida de uma expans�o �horizontal� (rajas) que a compensa de maneira mais ou menos ilus�ria; ser� preciso aguardar o s�culo XX para que o movimento se complete, numa queda abissal (tamas) que transformar� as universidades em quart�is-generais de movimentos totalit�rios (fascismo, nazismo, comunismo, fundamentalismo). Veremos isto mais adiante.

�������� Mas, como se diz, Deus n�o fecha uma janela sem abrir uma porta. Ao mesmo tempo que as universidades se fecham num orgulhoso dogmatismo, surge, fora dela, uma nova intelectualidade capaz de renovar a ci�ncia e o pensamento. N�o por coincid�ncia, mas por uma esp�cie de efeito homeop�tico, ela nasce dentro da mesma aristocracia que fora respons�vel pela estatiza��o do ensino. � uma intelectualidade palaciana, constitu�da de servos da corte, de altos funcion�rios da burocracia, de nobres independentes fechados em seus castelos, como esse extraordin�rio seigneur du Perron, Ren� Descartes, militar aposentado que medita ousadamente sobre sua juventude perdida no dogmatismo universit�rio e, abdicando de toda a falsa ci�ncia adquirida, decide recome�ar desde o �nico ponto de apoio capaz de subsistir � devasta��o da cultura: a consci�ncia individual, que para existir basta pensar que existe. Id�ntico recuo desde a autoridade coletiva � consci�ncia pr�pria realiza o juiz de instru��o e par do Reino, Francis Bacon, proclamando que tudo � preciso averiguar com os olhos da cara. Do mesmo modo, um pouco antes, o movimento do humanismo liter�rio, que puxa do esquecimento todo o legado liter�rio da antig�idade, nada deve �s universidades. S�mbolo da independ�ncia da nova intelectualidade human�stica, Petrarca recusa a c�tedra que lhe oferece em 1550 a rec�m-fundada universidade oficial de Floren�a. O maior de todos os pensadores no per�odo que vai do s�culo XIV ao XVIII, quase um novo Arist�teles � G. W. von Leibniz � passa a vida entre os diplomatas e as damas da corte, longe dos muros da severa institui��o. O mesmo vale para seu advers�rio, pensador superficial mas o mais poderoso divulgador de id�ias de todos os tempos: Voltaire. E, seja entre os humanistas, seja entre os fil�sofos, seja entre os investigadores de ci�ncias naturais, todos os que permanecem dentro da universidade enfrentam ali toda sorte de dificuldades, mostrando que os felizes tempos da liberdade acad�mica tinham acabado para sempre, ao passo que os progressos da ind�stria livreira criavam, para a nova intelectualidade independente, um vasto p�blico fora das academias. Por isso, os grandes debates que, sobretudo na passagem do s�culo XVII ao XVIII, mudam radicalmente a face intelectual do mundo s�o um acontecimento radicalmente extra-universit�rio [8] .

�������� Mas n�o existe, em hist�ria, homogeneidade de etapas. Enquanto isso se passava nos centros dominantes, um movimento inverso se desenvolvia num pa�s marginalizado, que s� muito recentemente conquistara os meios de fazer cultura superior na sua l�ngua nacional. A extraordin�ria revolu��o cultural que vai de Kant a Hegel, o chamado idealismo alem�o, � fen�meno essencialmente universit�rio e inconceb�vel fora das condi��es do trabalho acad�mico. Tamb�m n�o por coincid�ncia, mas por um nexo bastante plaus�vel, o que possibilitou esse avan�o foi precisamente o �atraso� em que as universidades alem�s se encontravam em rela��o a suas cong�neres da Fran�a e da It�lia. Ali conservavam-se muitos antigos usos e interesses medievais e, com eles, n�o apenas a velha liberdade acad�mica, mas uma flexibilidade que contrasta dramaticamente com a rigidez dogm�tica de per�odos posteriores que, n�o obstante, se acreditaram mais esclarecidos e progressistas. Ao anunciar seu curso sobre Filosofia da Mitologia, F.-W. von Schelling observa:

�������� �Esperais, talvez, n�o sem raz�o, que eu voz explique o t�tulo que dei a esta s�rie de li��es, e isto, sem d�vida, n�o por ser ele novo ou porque n�o se o tenha visto figurar sen�o recentemente nos programas de cursos universit�rios. Se, com efeito, se desejasse deduzir desta �ltima observa��o uma obje��o contra tal iniciativa, bastaria lembrar a louv�vel liberdade que reina nas nossas universidades, e que faz com que os professores n�o sejam obrigados a ater-se aos t�tulos das especialidades admitidas e consagradas, mas possam estender sua ci�ncia a novos dom�nios que lhes estavam fechados, e introduzir assuntos at� ent�o estranhos e abord�-los de uma maneira livremente escolhida, o que com freq��ncia resulta n�o somente em dar a esses assuntos um sentido mais elevado, mas em ampliar, de certo modo, a ci�ncia mesma.� [9]

�������� Se examinarmos brevemente o repert�rio de assuntos ent�o abordados na universidade alem�, veremos o qu�o relativas podem ser as no��es de �avan�o� e �retrocesso� em hist�ria: pois, se esse repert�rio inclu�a temas ent�o considerados anacr�nicos e j� de havia muito retirados do curr�culo das universidades francesas, como discuss�es em torno da m�stica, da alquimia, da astrologia, do simbolismo natural, dos �princ�pios ocultos da natureza� (todos abordados, em seu tempo, por Sto. Tom�s de Aquino, Roger Bacon, S. Boaventura) e da interpreta��o de sonhos [10] , n�o � menos verdade que, depois de Henry Corbin, Edgar Morin, Mircea Eliade, Gilbert Durand e Antoine Faivre, esse tem�rio soa ousadamente �moderno�.

�������� N�o � preciso dizer que, se Alemanha p�de conservar essa for�a herdada de um passado distante e fazer dela uma semente do futuro, foi precisamente porque sua constitui��o como na��o era incipiente, permanecendo como um am�lgama �medieval� de principados e ducados independentes enquanto no resto da Europa se perfilavam rigidamente os novos Estados nacionais, com suas obedientes universidades oficiais. Da� tamb�m o estatuto amb�guo do professor universit�rio alem�o na �poca, por um lado um dignit�rio habilitado a honras quase de ministro de Estado, por outro, �s vezes, um pobret�o dependente, como seus antepassados medievais, das mensalidades de parcos alunos [11] .

�������� O s�culo XIX trar�, por toda parte, a constitui��o formal e definitiva das universidades europ�ias como organismos oficiais, partes integrantes da burocracia estatal, submetidas a regulamentos bastante uniformes para instaurar, desde cima, um arremedo do antigo internacionalismo [12] .�������

�������� Num primeiro instante, a inje��o de dinheiro p�blico permite a instala��o de imensas bibliotecas e laborat�rios, o empreendimento de viagens de investiga��o que os eruditos j� n�o sonhavam desde o tempo em que Alexandre subsidiava Arist�teles, e tudo concorre para uma efervesc�ncia geral da qual resulta uma flora��o de id�ias, algumas realmente valiosas, outras infectadas de uma esp�cie de provincianismo temporal que se torna inevit�vel sempre que uma �poca, iludida por seus sucessos, encontra deleite em imaginar-se o auge e coroamento dos tempos [13] .

�������� Data da� a forma��o de uma esp�cie de �consenso cient�fico� dominante, que, do alto de sua autoridade acad�mica, julga implacavelmente as id�ias e os homens, separando os eleitos e os reprovados. [14]

�������� E n�o � nem de longe uma coincid�ncia que as id�ias que, geradas entre esse tempo e o in�cio do s�culo XX, vieram a influenciar mais profundamente o curso dos tempos, fossem quase todas produtos de intelectuais aut�nomos, extra-universit�rios, �s vezes marginais e r�probos, de Joseph de Maistre a Karl Marx e Tocqueville, de Darwin a Freud, de Kierkegaard ao pr�prio Nietzsche, o qual, embora fosse do ponto de vista empregat�cio um membro da casta ensinante, jamais produziu um �nico trabalho acad�mico e s� escrevia fora dos c�nones universit�rios. Tamb�m n�o � de estranhar que, prosseguindo a tend�ncia inaugurada no s�culo XIX, o debate p�blico de id�ias seja a� dominado por escritores independentes, Hugo, Zola, P�guy, Maurras, Mathew Arnold, cujo prest�gio os acad�micos se limitam a parasitar humildemente. Novamente, a ambi��o de mandar vem junto com a incapacidade de compreender.

�������� Ao mesmo tempo, o desejo mesmo de integrar-se na praxis coletiva faz com que as universidades, decaindo intelectualmente, encontrem uma nova fun��o para justificar sua exist�ncia: a prepara��o de t�cnicos para preencher as vagas na ind�stria, no com�rcio e na administra��o p�blica. Tornam-se meras escolas profissionais, para substituir o aprendizado tradicional nas corpora��es de of�cios que o advento do capitalismo moderno havia destru�do. Aos poucos, a popula��o universit�ria se hierarquiza em estratos: em baixo, uma vasta multid�o de estudantes prodigiosamente incultos, voltados � aquisi��o de t�cnicas profissionais para subir (ou n�o naufragar) na vida econ�mica; em cima, uma elite que despreza essa massa de classe m�dia e se sente acuada dentro da pr�pria casa.

�������� � no s�culo XX que a estatiza��o produz seu efeito fatal: a completa politiza��o das universidades, tornadas servas atentas e obrigadas das modas ideol�gicas do momento, sempre prontas a produzir bibliotecas inteiras para legitimar as doutrinas extravagantes de caudilhos, ditadores, utopistas, agitadores de rua e loucos no sentido estrito do termo. N�o � de espantar que, ap�s o inusitado crescimento dos corpos discentes de um s�culo para outro, a for�a nacionalizante e politizante que se apossara das universidades passasse a ser representada mais pelos estudantes do que pelo pr�prio establishment acad�mico, que perde o controle do monstro que gerara. A classe m�dia estudantil adere com alegria feroz aos novos movimentos pol�ticos, desiludida com um ensino que falhara �s suas promessas de ascens�o social, e a massa iletrada e diplomada vai constituir o grosso dos ex�rcitos de militantes que depredam universidades, queimam bibliotecas, espancam e matam professores, � cata de judeus, de reacion�rios, de comunistas, de fascistas, de cat�licos, de negros, de brancos � enfim, dos bodes expiat�rios apropriados ao estado de �nimo do momento. Otto Maria Carpeaux descreve em termos inimit�veis a massa estudantil a servi�o dos totalitarismos [15] :

�������� ��Por toda parte onde h� aqueles regimes os estudantes est�o nas vanguardas da viol�ncia... Considerando... a ascens�o de camadas novas, que o s�culo XIX ainda n�o conhecia, verdadeiros ex�rcitos de empregados privados, de funcion�rios p�blicos, de pequenos empres�rios, todos formados num regime de ensino secund�rio ou superior muito facilitado, essas massas de homens, todos mais ou menos educados, essas multid�es de �pequenos intelectuais�... deve-se precisar o pensamento: o fas�cismo e o bolchevismo t�m o lado comum de serem express�es das novas classes m�dias. E a ideologia que permite explicar o esp�rito das novas classes m�dias � a ideologia pequeno-burguesa, violenta�mente revolucion�ria e antiintelectualista. Explica-se, por isso, que Georges Sorel, o pai espiritual comum do fascismo e do bolche�vismo, Georges Sorel, o ide�logo da viol�ncia, seja um homem pro�fundamente pequeno-burgu�s...

�������� � uma crian�a essa nova classe m�dia; mas uma crian�a perigosa, cheia dos ressentimentos dos d�class�s, furiosa contra os livros que j� n�o sabe ler e cujas li��es j� n�o garantem a ascens�o social. Est� madura para a viol�ncia.

�������� ...Ridiculizam ou anatematizam todos os esfor�os independentes, desinteressados, do esp�rito... A viol�ncia antiintelectualista das no�vas classes m�dias �, afinal, uma falta de educa��o, ou, antes, o fruto de uma falsa educa��o... Em geral, estas massas graduadas se distinguem dos iletrados somente por uma autoridade profissional que as torna menos �teis que perigosas... Eles, por�m, os iletrados, t�m sempre raz�o, porque s�o muitos e ocupam um lugar de elite, esse �proletariado intelec�tual�, sem dinheiro ou com ele, isso n�o importa. Julgam tudo, e tudo deles depende. L�em os livros e decidem sobre os sucessos de livraria, criticam os quadros e as exposi��es, aplaudem e vaiam no teatro e nos concertos, dirigem as correntes das id�ias pol�ticas, e tudo isto com a autoridade que o grau acad�mico lhes confere. Em suma, desempenham o papel de elite. S�o os nouveaux ma�tres, os se�oritos arrogantes, graduados e violentos; e n�s sofremos as con�seq��ncias, amargamente, cruelmente.�

�������� �Ao mesmo tempo, a universidade em perp�tua agita��o j� n�o pode concorrer, em produtividade cient�fica e tecnol�gica, com duas novas institui��es que v�o surgindo: os laborat�rios de pesquisas da empresas privadas e as for�as armadas. Duas guerras mundiais produzem o crescimento ilimitado da pesquisa militar, cujas cria��es � dos microcomputadores ao leite condensado � se tornar�o depois, em tempo de paz, a base da vida di�ria em todo o planeta [16] . A t�tulo de explic�vel compensa��o neur�tica, a politiza��o dentro das universidades radicaliza-se ao ponto de consagrar em formula��es te�ricas expl�citas a redu��o da vida intelectual � afirma��o perempt�ria e brutal dos desejos e ressentimentos dos grupos mais barulhentos, com a recusa de toda arbitragem racional.

�������� Este retrospecto teve apenas o intuito de fornecer aos leitores alguns lembretes, que se mostrar�o �teis na hora de pensar sobre o estado da universidade brasileira, que � o que farei na continua��o deste trabalho.

09/07/98

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PARTE II

 

�������� A Hist�ria mostra, desde logo, que o termo �universidade� � um ca�rimbo gen�rico aplicado mal e mal a uma pluralidade de coisas distintas, al�gumas antag�nicas. O mais plat�nico dos essencialistas, espremendo at� seu �ltimo neur�nio, n�o conseguiria encontrar no c�u das formas puras uma id�ia capaz de abarcar, ao mesmo tempo, a discere turba volens medieval, sedenta de contempla��o teor�tica, os elegantes institutos de forma��o de uma casta governante, os n�cleos auxiliares para o treinamento de m�o-de-obra indus�trial e as esta��es redistribuidoras de slogans pol�tico-ideol�gicos � quatro coisas que, ao longo da Hist�ria, receberam um mesmo nome por motivos que n�o podem ter sido mais respeit�veis do que o simples desejo de comodidade l�xica.

�������� N�o haveria nisso maior problema, se tudo fosse uma quest�o de dis�cernir entre nomes e coisas. A distin��o das ess�ncias por tr�s da unidade de nome � atividade corriqueira n�o s� do fil�sofo, mas do historiador profissio�nal. O problema est� em que, enquanto a institui��o vai mudando de natureza, n�o muda, em subst�ncia, a alta avalia��o que a classe acad�mica faz de si mesma, como se os m�ritos de uma atividade extinta se conservassem, por m�gica, ap�s a muta��o que a substituiu por algo de radicalmente novo e di�verso. Ontem faz�amos dial�ticos e contempladores? Hoje, com o mesmo ar de dignidade, fabricaremos ret�ricos, homens pr�ticos e governantes; amanh�, sem nada perder do nosso aplomb, despejaremos nas ruas milh�es de empre�gadinhos sem ret�rica nem dial�tica, mas carregados dos conhecimentos �teis e pr�ticos necess�rios aos que obedecem sem pensar; e, finalmente, quando j� n�o pudermos fazer nem isso, infundiremos nessa massa de ignorantes o or�gulho da paix�o, que far� o mundo tremer. Passaremos de fil�sofos a minis�tros, de ministros a gerentes, escritur�rios e caixas de banco, de gerentes e escritur�rios a agitadores de rua e consumidores preferenciais do mercado de drogas � sempre conservando intocado, acima de toda conting�ncia hist�rica, o prest�gio dos valores eternos que apadrinharam nossa primeira hora: o supe�rior desinteresse do conhecimento, a intangibilidade da consci�ncia intelec�tual, a autonomia da casta pensante, o ar beatificamente blas� do s�bio en�volto numa atmosfera que j� n�o � deste mundo. Por mais que as coisas mudem, o discurso da autovenera��o universit�ria jamais vacila; ele cresce mas n�o muda; ele pode acrescentar novas raz�es �s que o mundo j� tem para adorar essa institui��o; abdicar das antigas, nunca. � raz�o aristot�lica somar-se-� a raz�o de Estado; � raz�o de Estado, a raz�o cont�bil; e quando se come��ar a injetar no mercado uma massa incalculavemente grande de semiletrados a que nenhum arranjo cont�bil possa dar qualquer emprego lucrativo, ent�o se acrescentar�, a essas tr�s raz�es que enaltecem a institui��o universit�ria, a raz�o suprema: a superioridade num�rica. Pois a� j� ser�o tantos os doutores que todos desejar�o s�-lo, e o simples risco de ter de diminuir o n�mero dos formandos no ano vindouro espalhar� o terror e a revolta por toda a popula���o. A supremacia da universidade est�, enfim, garantida: para onde quer que v� o carro da Hist�ria, a institui��o paira intacta acima do bem e do mal, se n�o aos olhos de todos, ao menos aos �nicos olhos em que ela cr�: os seus pr�prios.

�������� Essa perman�ncia � tanto mais estranha quando se considera que todas as principais institui��es humanas, vendo mudar o quadro hist�rico maior e sua fun��o dentro dele, passaram por angustiantes questionamentos de sua utilidade e valor na nova situa��o. Notem bem: eu disse todas. O ex�rcito, a pol�cia, as igrejas, a fam�lia, os parlamentos, o empresariado, os sindicatos, as organiza��es terroristas e sociedades secretas, os partidos pol�ticos e entre eles at� mesmo esse recordista de presun��o que � o Partido Comunista � to�das essas entidades vener�veis tiveram de enfrentar um dia a hip�tese de seu fracasso essencial e a eventualidade de uma auto-extin��o saneadora. Sacudi�das uma ap�s a outra pelas crises hist�ricas dos �ltimos s�culos, todas tiveram de responder � pergunta decisiva de Esperando Godot: �E se a gente se ma�tasse?� � fato que, de um modo ou de outro, todas sobreviveram, mas medi�ante arranjos traum�ticos que lhes ensinaram, de uma vez por todas, as virtu�des da mod�stia e a necessidade de negociar em vez de exigir.

�������� A �nica institui��o humana que jamais enfrentou essa crise de consci��ncia foi, por ironia, aquela que se proclama o dep�sito privilegiado da cons�ci�ncia humana. A �nica que conservou intacto a seus pr�prios olhos o antigo prest�gio foi aquela que, na sucess�o de suas muta��es, mais perdeu de vista os feitos e valores que lhe valeram originariamente esse prest�gio. A �nica que jamais duvidou de si foi aquela que mais vezes perdeu o senso de identi�dade e mais vezes trocou sua miss�o sacrossanta por algum papel de ocasi�o, pronta a despi-lo de novo na primeira oportunidade.

�������� �Ocasi�o� e �oportunidade�, estar� dizendo o leitor, talvez sejam as palavras-chave. A universidade seria a mais oportunista das entidades, o bicho mais camale�nico da fauna institucional humana, especialista em sobreviv�n�cia e imbat�vel no marketing da pr�pria alma. Isto n�o deixa de ter algo de verdade. Mas o que singulariza a institui��o universit�ria, como vimos, n�o � apenas sua capacidade de adapta��o, e sim sua imunidade �s d�vidas e per�plexidades que acompanham normalmente todo processo de adapta��o. E a� a adaptabilidade j� nada explica, se n�o vier acompanhada de uma resist�ncia cori�cea a todo auto-exame, de uma indiferentismo moral que raia a inconsci��ncia sociol�gica e a pura e simples mentalidade delinq�encial.

�������� A adaptabilidade universit�ria n�o seria, ent�o, um puro recorde de sobreviv�ncia � em si mesmo neutro ou at� merit�rio, sob certos aspectos �, mas o ind�cio de algo obscuro, amea�ador e perverso no fundo da alma da in�telectualidade moderna, a marca vis�vel de um escotoma na c�mara �tica da classe social que se incumbiu a si mesma de enxergar por todos n�s.

�������� �Esse diagn�stico n�o �, por enquanto, nada mais que mera hip�tese. Mas tr�s tend�ncias suficientemente vis�veis da conduta universit�ria parecem dar-lhe uma confirma��o impressionante.

�������� Em primeiro lugar, o discurso de autolegitima��o permanece imune n�o s� �s transforma��es hist�rico-sociais mais amplas, e sim tamb�m �s mu�dan�as no estatuto social, econ�mico e administrativo da pr�pria institui��o universit�ria.

�������� Em segundo lugar, essa institui��o, t�o pronta a afirmar a continuidade de sua identidade ao longo dos tempos e a deduzir dela a persist�ncia de seus m�ritos, �, dentre todas, a menos disposta a assumir a responsabilidade hist�rica de seus atos, a mais pronta a expulsar, do seu horizonte de consci�ncia, as mais �bvias conex�es de causa e efeito entre a forma��o universit�ria que as pessoas recebem e os grandes desastres que elas produzem na condu��o de suas vidas � ou da vida do mundo, no caso dos poderosos. �, enfim, a institui���o mais cheia de defesas e racionaliza��es, no sentido psicanal�tico destes termos: defesas contra a verdade do seu passado, racionaliza��es para fugir � responsabilidade das conseq��ncias presentes.

�������� Em terceiro lugar, � a institui��o mais propensa a encarar-se, na hora do acerto de contas, como mero agente passivo nas m�os de outras for�as so�ciais, evitando por toda lei tomar consci�ncia de si como sujeito agente e fonte aut�noma de poder.

�������� No prosseguimento deste trabalho (Partes III, IV e V), vou, primeiro, examinar mais em detalhe essas tr�s ordens de tend�ncias; em seguida, mos�trar como as tr�s, juntas, enformam o esp�rito, o conte�do e a letra de um do�cumento bastante caracter�stico da mentalidade da classe universit�ria brasi�leira, isto �, o manifesto �Em defesa da universidade�, assinado por Jos� Arthur Gianotti, Luiz Pinguelli Rosa e outras figuras t�picas � ou at� arquet��picas � do nosso meio acad�mico [17] ; por fim, vou sugerir algumas linhas de an�lise que, costumeiramente abandonadas in limine em toda discuss�o da quest�o universit�ria no Brasil, me parecem no entanto nada desprez�veis.

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14/07/98

 

PARTE III

 

�������� A id�ia da universidade medieval como uma congrega��o discipli�nada, uniforme e obediente a uma ortodoxia imposta de cima � das mais tolas que j� passaram por alguma cabe�a humana. O mais breve exame dos debates filos�ficos daquele tempo basta para mostrar que n�o s� havia plena liberdade de palavra mas tamb�m que ali se incentivava entre os pro�fessores um ostensivo confronto de id�ias que em qualquer universidade brasileira de hoje � e mesmo em muitas europ�ias e norte-americanas � soaria como um esc�ndalo intoler�vel.

�������� O mais espantoso nisso � que, no meio de uma sociedade onde o cristianismo era o pressuposto inabal�vel de todas as cren�as humanas, os autores n�o crist�os fossem es�tudados e debatidos com respeito e venera��o. Aqueles que imaginam que a Hist�ria vai no sentido da liberdade crescente, que todo passado foi um tempo de obscurantismo do qual o progresso nos libertou, simplesmente n�o se d�o conta do que pode ter significado a exist�ncia, na universidade crist�, de disc�pulos devotos de Averroes e Avicena. Para fazer uma id�ia do que isso representou em liberdade de pensamento, n�o � preciso nem mesmo tentar imaginar o destino que teria hoje uma filosofia judaica numa universidade isl�mica, ou vice-versa. N�o � preciso tanto. N�o � pre�ciso nem mesmo mencionar epis�dios extremos de intoler�ncia fan�tica, como aquele que recentemente foi patrocinado pela PUC-Rio [18] . Basta lembrar o isolamento profil�tico e rancoroso em que a iluminad�s�sima Universidade de S�o Paulo aprisionou, durante d�cadas, o Prof. Ruy Affonso da Costa Nunes � autor da mais consistente Hist�ria da Educa��o que j� se escreveu no mundo �, pelo simples fato de ser um cat�lico con�servador que se temia contaminasse perigosamente as alminhas estudantis criadas a puro leite progressista.

�������� Os ignorantes de plant�o sempre mencionam, a prop�sito da univer�sidade medieval, o dom�nio obsediante que, sobre todas as mentes, exer�ciam as doutrinas de Arist�teles. Nunca lhes passou pela cabe�a perguntar como elas chegaram a conquistar esse privil�gio. Pelo jeito com que eles que falam do assunto, parece que foi por decreto papal, com penalidades para os recalcitrantes. Mas foi exatamente ao contr�rio. T�o logo divulgada no Ocidente no s�culo XIII, a partir das tradu��es �rabes, a F�sica de Aris�t�teles foi impugnada por um conc�lio. A impugna��o significava apenas rejei��o dogm�tica de uma doutrina, n�o proibi��o de ensin�-la. Longe de desaparecer das salas de aula, como hoje acontece com qualquer doutrina que desagrade a um chefete de departamento, a ci�ncia aristot�lica tornou-se tema predomi�nante de exame e discuss�o na Universidade de Paris, a mais vigorosa da �poca. Evidentemente os primeiros a tocar no assunto n�o fizeram sen�o expor e desenvolver a condena��o, que atingia 28 teses importantes da F��sica. Aconteceu que apareceram imprevistos defensores de Arist�teles, en�tre os quais Sto. Alberto Magno e Sto. Tom�s de Aquino. Com isto, n�o s� o lado aristot�lico levou a melhor nos debates, mas a universidade, persua�dida, acabou adotando, como linha �oficial�, n�o a opini�o que fora deter�minada pela autoridade do conc�lio, mas aquela que se sobressa�ra no con�fronto puramente intelectual. O aristotelismo que vai progressivamente dominando as universidades do s�culo XIII at� o XVI n�o � filho do auto�ritarismo, mas de uma liberdade inspirada no respeito de todos � argumen�ta��o racional. Esse desprendimento, essa venera��o aos direitos da inteli�g�ncia, s�o inimagin�veis, hoje, em qualquer debate acad�mico brasileiro, onde aqueles que s�o derrotados no campo intelectual logo recorrem a ex�pedientes admnistrativos ou � difama��o pura e simples para boicotar e ca�lar os advers�rios, com sucesso infal�vel. Qualquer membro do esta�blishment universit�rio brasileiro que fale em �obscurantismo medieval� deve ser considerado, pois, um hip�crita, um ignorante ou ambas essas coi�sas. Mas, n�o por coincid�ncia, as �ltimas d�cadas viram surgir no seio da universidade p�tria uma verdadeira epidemia de estudos sobre a Inquisi��o e as guerras medievais contra as heresias � e esses estudos n�o precisam nem mesmo ser lidos para criar, entre os estudantes, um preconceito anti�medieval (e anticat�lico, sobretudo) que os impede de fazer as compara���es mais �bvias.

�������� Mas, se estou fazendo essa apologia da liberdade de pensamento me�dieval, � porque ela nos introduz da maneira mais eficaz no tema da �auto�nomia universit�ria� � um item do discurso ideol�gico acad�mico que conserva inalterado prest�gio desde os tempos do averro�smo latino.

�������� As universidades medievais n�o lutavam por autonomia, pela sim�ples raz�o de que eram realmente aut�nomas. Organiza��es livres, apoia�das nos pr�prios estudantes e numa rede de solidariedades que se espalhava informalmente por todo o edif�cio social, n�o precisavam da prote��o de nenhum poder em especial e podiam se mover entre os grandes deste mundo sem comprometer-se com eles, ora dando apoio a um contra o ou�tro, ora mudando de partido, ora se refugiando num soberbo indiferentismo. Imaginem o que seria, hoje, uma universidade brasileira que, por decis�o corporativa, se permitisse apoiar ora a esquerda, ora a direita, ora nenhuma delas: n�o duraria at� a elei��o seguinte.

�������� A autonomia da universidade medieval n�o era um ideal; era sim�plesmente um fato. A exist�ncia e a relativa durabilidade deste fato, por�m, n�o resultaram da pura vontade, mas se assentaram numa base socio-eco�n�mica compat�vel. Essa base resume-se em tr�s coisas: 1) Em princ�pio, os �nicos respons�veis pela manuten��o de professores e servidores eram os alunos � a turba discente era turba pagante. 2) Por outro lado, a socie�dade em geral e especialmente as classes ricas e as dioceses se incumbiam de ajudar os alunos pobres, de maneira a neutralizar o quanto poss�vel os efeitos da exclus�o econ�mica. 3) Por fim, a universidade n�o tinha de dar lucro � nem econ��mico nem pol�tico �, j� que o prest�gio social e religioso do conhecimento induzia a sociedade a aceitar, de boa vontade, a reparti��o de gastos que n�o lhe pareciam de maneira alguma um preju�zo ou um desperd�cio.

�������� Organiza��es privadas, sem fins lucrativos, apoiadas no consenso de seus membros e numa forte solidariedade cultural � n�o ser� preciso lem�brar o sucesso que essa f�rmula viria a alcan�ar, seis s�culos depois, na constitui��o das grandes universidades norte-americanas.

�������� Mas o curioso � que, ao tornar-se �rg�os da Igreja ou �rg�os do Estado, as universidades pretenderam conservar intacto, sobre uma nova base fran�camente hostil, o antigo privil�gio da �autonomia� � da� nascendo a secular com�dia de erros que � a luta dos protegidos contra o protetor que deles espera servi�os e recompensas.

�������� N�o � preciso dizer o que representou para a classe dos professores, economicamente, socialmente, politicamente, mentalmente, sua transfor�ma��o de intelectuais aut�nomos (free lancers, dir�amos hoje) em funcio�n�rios eclesiais e estatais, incumbidos ex professo de falar em nome de uma autoridade, de um consenso estabelecido, de uma ortodoxia dominante. N�o � fant�stico que essa gente toda, trocando a liberdade pela seguran�a, jamais confessasse haver vendido a primogenitura por um prato de lenti�lhas, mas antes continuasse a exaltar idealisticamente a pr�pria liberdade de pensamento como se ela ainda fosse uma realidade, passando mais tarde a culpar pelas inevit�veis restri��es decorrentes do neg�cio t�o-somente o comprador? Data da�, sem d�vida, o nascimento do esp�rito de pomposa hipocrisia, de dogma�tismo travestido de liberdade cient�fica, que viria a se tornar, nos �ltimos dois s�culos, a marca inconfund�vel da casta acad�mica em todo o mundo.

�������� Ao longo de cinco s�culos, quase ningu�m enfatizou o bastante que a autonomia universit�ria, como qualquer outra forma de liberdade, n�o pode subsistir como forma pura, amputada das condi��es socio-econ�micas que d�o espa�o � sua exist�ncia. � evidente que, mesmo nas piores condi��es, sempre haver� esp�ritos livres, indiv�duos livres, capazes de sobrepor-se � coer��o ostensiva ou sutil e manter alto o estandarte do pensamento. Mas pode-se razoavelmente esperar que esse dom seja compartilhado uniformemente por toda uma casta que cresce dia a dia e que se comp�e de funcion�rios cada vez mais profissionalizados, mais limitados, mais dependentes?

�������� A insist�ncia verbal no ideal da autonomia, acompanhada de uma afoita disposi��o de vender a pre�o vil, uma a uma, todas as condi��es que permitiriam realiz�-la, eis um tra�o constante e praticamente imut�vel da mentalidade da casta universit�ria.

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27/07/98

[Continua]

 

NOTAS

 


[1] V. Kenneth Minogue, O Conceito de Universidade, trad. Jorge Eira Garcia Vieira, Bras�lia, UnB, 1981.

[2] Embora muitas das escolas paroquiais tivessem maioria de alunos do sexo feminino � numa �poca em que escrever e ler era tido por coisa indigna dos var�es guerreiros �, nenhuma fun��o administrativa se atribu�a �s mulheres, cujo aprendizado n�o tinha outra finalidade, enfim, sen�o o adorno de suas almas e o enriquecimento da cultura dom�stica, que se afirma por fim como um esteio vital da tradi��o cultural e pedag�gica europ�ia que hoje se dilui com velocidade apocal�ptica. Data da�, por exemplo, a origem remota do costume das leituras em fam�lia, em voz alta, ap�s a refei��o noturna, costume que se conservar� at� o s�culo XIX nas principais na��es e dar� a base mercadol�gica essencial para a expans�o da ind�stria livreira, na �poca dos grandes romances. Bastam esses fatos para comprovar, de um lado, o valor aut�nomo que a Idade M�dia atribu�a � educa��o; de outro, o peculiar estatuto da mulher medieval, muito distinto do que hoje procura impingir-nos um doentio rancor feminista sob color de ci�ncia hist�rica. V. George G. Coulton, Medieval Village, Manor and Monastery, New York, Harper & Row, 1960, e Life in the Middle Ages, selected, transl. and annotated by G. G. Coulton, 4 vols. in one, Cambridge, Univ. Press, 1954, bem como, s� para per�odos posteriores, R�gine Pernoud, La Femme au Temps des Cath�drales, Paris, Stock, 1980.

[3] Ecoando um dogma estabelecido do automatismo mental esquerdista esquerdista, feito sob medida para pessoas de QI 12, nossas professorinhas uspianas (por exemplo D. Marilena Chau�, em Que � Ideologia?, S�o Paulo, Brasiliense, 1980, Col. �Primeiros Passos�) proclamam, como coisa l�quida e certa, que o primado aristot�lico da contempla��o sobre a a��o expressa a ideologia de uma classe aristocr�tica dominante hostil �s �for�as populares� que pegam no pesado. Mas como poderia ser assim, se a ocupa��o principal e obsessiva da classe dominante hel�nica era a praxis pol�tica e se sua educa��o se constitu�a exclusivamente de ret�rica e artes militares, disciplinas pr�ticas por excel�ncia? Express�o das id�ias de um reduzido c�rculo de intelectuais n�o raro marginalizados e hostilizados, a nova concep��o plat�nico-aristot�lica da vida contemplativa s� vir� a se tornar dominante mil e tantos anos depois, e mesmo assim s� entre membros do clero, continuando alheia � mentalidade da aristocracia guerreira.�

[4] V. Jacques Le Goff, Os Intelectuais na Idade M�dia, trad. portuguesa, Lisboa, Europa-Am�rica, s/d.

[5] V. Maria Am�lia Salgado Loureiro, Hist�ria das Universidades, S�o Paulo, Estrela Alfa, s/d.

[6] Sto. Tom�s, por exemplo, arrisca, com cuidadosa mod�stia, alguma teoriza��o astrol�gica na Summa contra gentios (Livro III) e alqu�mica em �Sobre as opera��es ocultas da natureza�, op�sculo no.� 2 do cat�logo de Reginaldo.

[7] The view taken of a University in these Discourses is the following: �That it is a place of teaching universal knowledge. This implies that its object is, on the one hand, intellectual, not moral; and, on the other, that it is the diffusion and extension of knowledge rather than the advancement. If its object were scientific and philosophical discovery, I do not see why a University should have students; if religious training, I do not see how it can be the seat of literature and science.� �John Henry Newman, The Idea of a University Defined and Illustrated: I. In Nine Discourses delivered to the Catholics of Dublin; II. In occasional Lectures and Essays addressed to Members of the Catholic University, ed. Ian T. Ker (Oxford, 1976).

[8] V. Paul Hazard, La Crise de la Conscience Europ�enne: 1680-1715, Paris, Arth�me Fayard, 1961.

[9] Ausgew�hlte Schriften, Frankfur-am-Main, Suhrkamp Verlag, 1985, Band 5, S. 11.

[10] V. Antoine Faivre, �La philosophie de la nature dans le romantisme allemand�, em Yvon Belaval (org.), Histoire de la Philosophie, Paris, Gallimard, 1974 (�Biblioth�que de la Pl�iade�), pp. 11-45.

[11] O Privat-Dozent, figura t�pica do ensino da �poca, � precisamente isso: o professor que, ligado a uma universidade, n�o tem remunera��o fixa, mas recebe o quanto se coleta entre os alunos no fim do m�s.

[12] Mas a praga nacionalista tinha vindo para ficar: at� hoje � espantoso, para um observador de Terceiro Mundo, que acompanha com beata admira��o o progresso do conhecimento em todos os grandes centros simultaneamente, notar como em cada um deles os eruditos se permitem ignorar os trabalhos de seus colegas de outros pa�ses, s� tomando ci�ncia deles quando s�o traduzidos ou ganham destaque na imprensa internacional. Nada mais consternador, e ao mesmo tempo paradoxalmente reconfortante para o provinciano, do que constatar o provincianismo mental das grandes capitais.

[13] Sobre o provincianismo temporal e o cronocentrismo, v. meu livro O Futuro do Pensamento Brasileiro. Estudos sobre o Nosso Lugar no Mundo, 2a. ed., Rio, Faculdade da Cidade Editora, 1998, Cap. I.

[14] Sobre as conseq��ncias nefastas que a forma��o desse consenso teve especialmente para o ensino da filosofia em todo o mundo, v. meu breve ensaio �Estatais do pensamento�, em Bravo!, S�o Paulo, ano 1, no. 3, dez, 1997.

[15] Otto Maria Carpeaux, �A id�ia de universidade e as id�ias das classes m�dias�, em A Cinza do Purgat�rio, Rio, Casa do Estudante do Brasil, 1942, reproduzido em Ensaios Reunidos, 3 vols., Organiza��o, pref�cio e notas de Olavo de Carvalho (em curso de edi��o pela Topbooks em associa��o com a Faculdade da Cidade Editora).

[16] �Quase todos os confortos com que a tecnologia nos ajuda na vida di�ria foram cria��es da pesquisa militar. Enquanto isso, os universit�rios se ocupavam precipuamente de criar e fomentar as ideologias que produzem guerras. Da Revolu��o Francesa at� hoje � com a not�ria exce��o do expansionismo bismarckiano �, n�o se fez uma s� guerra por exig�ncia de militares, mas todas para realizar alguma doutrina acad�mica, fosse de Karl Ritter ou de Georges Sorel ou de Vilfredo Pareto, de Carl Schmitt ou de R�gis D�bray. Os militares sempre dizem que n�o d�, mas acabam se rendendo, como os caciques da Idade da Pedra, � m�gica das palavras. Isso n�o quer dizer que, nos tempos modernos, as atribui��es das castas tenham se invertido. Ao contr�rio: � da natureza das coisas que os homens de id�ias inventem os pretextos de matar, obrigando os homens de armas a inventar os meios de sobreviver � os quais acabam, por inescap�vel conseq��ncia, melhorando a vida dos sobreviventes.� O. de C., �O paj�, Jornal da Tarde, S�o Paulo, 12 de junho de 1997.

[17] �Em defesa da universidade�, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 4 de julho de 1998. O documento, segundo nota de rodap�, �resulta de reuni�o promovida pela COPEA (Coordena��o de Programas de Estudos Avan�ados da UFRJ) em 29 e 30 de maio de 1998�. Os 26 signat�rios formaram, na ocasi�o, o �Grupo de Defesa da Universidade P�blica� e inauguraram uma coleta de ades�es por e-mail, fax e correio � o que subentende que n�o apenas expressaram uma opini�o, mas pretendem fazer dela uma for�a politicamente agente.

[18] V. meu livro A Longa Marcha da Vaca para o Brejo. O Imbecil Coletivo II (Rio, Topbooks, 1998), segunda parte.