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Esp�rito e cultura: o Brasil ante o sentido da vida

Primeira Medita��o de Ano Novo

 

Por vezes, do fundo obscuro da alma humana, soterrada de paix�es e terrores, nasce um impulso de libertar-se da densa confus�o dos tempos e erguer-se at� um ponto onde seja poss�vel enxergar, por cima do caos e das tormentas, dos prazeres e das dores, um pouco da harmonia c�smica ou mesmo, para al�m dela, um fragmento de luz da secreta ordem trancendente que � talvez � governa todas as coisas.

� o impulso mais alto e mais nobre da alma humana. � dele que nascem todas as descobertas da sabedoria e das ci�ncias, a possibilidade mesma da vida organizada em sociedade, a ordem, as leis, a religi�o, a moralidade, e mesmo, por refra��o, as cria��es da arte e da t�cnica que tornam a exist�ncia terrestre menos sofrida.

Nenhum outro desejo humano, por mais leg�timo, pode disputar-lhe a primazia, pois � dele que todos adquirem a quota de nobreza que possam ter, residindo mesmo a� o crit�rio �ltimo da diferen�a entre o humano e o sub-humano (ou anti-humano) e, por conseguinte, para al�m de toda controv�rsia v�, a chave da distin��o entre o bem e o mal. � bom o que nos eleva � consci�ncia da ordem e do sentido supremos, � mau o que dela nos afasta. N�o tem outro significado o Primeiro Mandamento: Ama a Deus sobre todas as coisas.

Acontece que a esse impulso fundamental corresponde um outro, derivado mas n�o menos forte: aquele que leva o homem que entreviu a ordem e o sentido a desejar repartir com os outros homens um pouco daquilo que viu. N�o h� certamente maior benef�cio que se possa fazer a um semelhante: mostrar-lhe o caminho do esp�rito e da liberdade, pelo qual ele pode se elevar a uma condi��o que, dizia o salmista, � apenas um pouco inferior � dos anjos. Tal �, substancialmente, a forma concreta do amor ao pr�ximo: dar ao outro o melhor e o mais alto do que um homem obteve para si mesmo. Amamos o nosso pr�ximo na medida em que o elevamos � altura dos anjos. Fazemos-lhe o mal quando o rebaixamos � condi��o de bichinho, seja com maus tratos, seja com afagos.

Nessas duas exig�ncias est� contida, dizia Cristo, toda a lei e os profetas.

Para grande esc�ndalo do relativismo pedante que desejaria nos convencer da geral disc�rdia entre os valores culturalmente admitidos nas v�rias sociedades, a universalidade desse duplo mandamento � um dos dados mais evidentes da hist�ria mundial. N�o h� com efeito civiliza��o, por mais remota ou "b�rbara", que n�o tenha valorizado, acima de todas as outras virtudes e motiva��es humanas, o impulso para o conhecimento e o ensino da "�nica coisa necess�ria". O prest�gio universal do sacerd�cio � no sentido amplo que Julien Benda dava � palavra clerc, que inclui a presente classe dos "intelectuais" � � o mais patente sinal de que, por tr�s de toda a confus�o aparente das l�nguas, a humanidade un�nime tem plena consci�ncia de uma hierarquia de valores que, se fosse questionada, suprimiria no ato a possibilidade mesma do questionamento, j� que n�o se pode questionar um saber exceto em vista de um saber mais alto.

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A observa��es gerais, suficientemente �bvias para s� terem de ser lembradas explicitamente em situa��es de desorienta��o e confus�o incomuns, eu desejaria aqui dar alguns desenvolvimentos mais particularizados e mais ligados � exist�ncia hist�rica, concernente, de um lado, � cultura e � civiliza��o � consideradas ainda em escala geral �, de outro � presente e catastr�fica situa��o da cultura brasileira.

Com rela��o ao primeiro ponto:

1. Embora o impulso ascensional a que me referi seja sempre e universalmente o mesmo, o movimento de doa��o e reparti��o que se lhe segue tem de tomar, por for�a, a forma dos canais de comunica��o existentes numa sociedade historicamente dada: l�ngua, s�mbolos, valores, etc. Da� que se possa sempre observar, no estudo das manifesta��es superiores da espiritualidade, esse duplo direcionamento, que de um lado atesta a converg�ncia dos caminhos percorridos pelos homens espirituais de todo o mundo ("tudo o que sobe converge", dizia Teilhard de Chardin), de outro a pluralidade inesgot�vel das formas assumidas pelos testemunhos incorporados ao legado cultural: textos, obras de arte, leis, etc. (1)

2. Todo fen�meno de ascens�o interior, sem exce��o, come�a sempre com um indiv�duo isolado � e que, no curso da sua caminhada, � levado a isolar-se ainda mais da comunidade em busca da necess�ria condi��o de concentra��o espiritual �, e se completa com a irradia��o de parte dos conhecimentos obtidos, de in�cio numa discreta roda de companheiros ou disc�pulos investidos da mesma disposi��o para o isolamento e a concentra��o, em seguida em c�rculos cada vez maiores, at� abranger comunidades, sociedades e civiliza��es inteiras. (2)

3. No processo de irradia��o, interv�m a mem�ria e o registro. De in�cio transmitidos oralmente e sustentados pela presen�a e pelo exemplo do mestre, os ensinamentos n�o tardam a registrar-se, n�o raro sob a forma compacta de senten�as lac�nicas ou de narrativas alusivas e simb�licas � ou grafismos, ou melodias � que constituir�o o n�cleo irradiante em torno do qual se formar�, com o tempo, a cultura. Esta pode abranger desde simples repeti��es imitativas das formas origin�rias at� uma infinidade de desenvolvimentos intelectualmente relevantes. Qualquer que seja o caso, � uma fatalidade da constitui��o humana que a reprodu��o das condi��es internas e psicol�gicas do aprendizado, que depende exclusivamente da livre iniciativa dos futuros aprendizes e s� pode ser estimulada mas n�o determinada pela cultura, n�o acompanhe jamais a velocidade da prolifera��o das cria��es culturais que refletem o n�cleo inspirador inicial de maneiras cada vez mais distantes, apagadas, indiretas e finalmente invertidas. O que come�ou como uma intui��o direta da ordem suprema termina como debate entre ignorantes e cegos esmagados sob toneladas de registros materiais tornados incompreens�veis.

4. Esses tr�s momentos refletem, no microcosmo da hist�ria humana, os tr�s gunas ou "movimentos b�sicos do cosmos" de que fala a doutrina hindu: sattwa ou movimento ascensional, rajas ou movimento expansivo, e tamas, ou movimento descendente, degradante e "entr�pico". Rajas nasce de sattwa assim como o Segundo Mandamento decorre do Primeiro. O terceiro momento nasce do segundo, quando se torna aut�nomo e perde sua raiz no primeiro: quando o amor do ser humano ao ser humano j� n�o visa a elev�-lo acima de si mesmo, mas se limita a desej�-lo e agrad�-lo, o amor se degrada em lisonja, a lisonja em manipula��o e a manipula��o em �dio. No fim j� n�o � poss�vel distinguir uma coisa da outra e o ponto mais fundo do engano se atinge quando o grosseiro e o brutal, a revolta e o fanatismo passam a ser aceitos socialmente como manifesta��es do "aut�ntico", quando s�o apenas o resultado de uma longa sedimenta��o de erros e um condensado de todas as idolatrias passadas. Na esfera intelectual, a mesma coisa: quando o ensino e a cultura j� n�o transmitem a inspira��o origin�ria mas p�em em seu lugar o culto idol�trico das formas acumuladas historicamente (o que pode tomar a forma do dogmatismo seco, ou do estetismo, ou do formalismo social, etc.), ainda resta a possibilidade de uma reconquista do sentido interior, mas a prolifera��o mesma das cria��es culturais, ilusoriamente tomada como riqueza, torna isso cada vez mais dif�cil, e por fim a acumula��o de pontos cegos se condensa num aglomerado de erros fundamentais � uma "revela��o sat�nica" � que, justamente por seu car�ter compacto, obscuro, brutal e impressionante, � tomado ilusoriamente como uma descoberta libertadora. Que um "fil�sofo" tenha chegado a explicar a hist�ria pela organiza��o econ�mica, como se a organiza��o econ�mica surgisse do nada, como se ela pudesse brotar diretamente do substrato animal do homem, como se ela n�o fosse reflexo e subproduto da eleva��o do homem em dire��o � percep��o da ordem c�smica � eis um curioso e tr�gico exemplo dessa invers�o onde a densidade mesma das trevas � tomada como uma esp�cie de fulgor. (3)

5. Um dos tra�os marcantes do per�odo entr�pico � que a pr�pria administra��o de uma vasta e crescente cole��o de registros culturais requer a forma��o de uma classe de letrados para a qual esse legado, considerado em si mesmo e independentemente de qualquer refer�ncia �s suas fontes inspiracionais, se torna objeto de estudo e devo��o. T�cnicas especiais s�o criadas para esse fim � a bibliografia e a bibliologia, a filologia, a cr�tica hist�rica dos documentos, a an�lise estrutural � e essas t�cnicas por sua vez se acumulam at� o ponto de constituir um universo cultural de direito pr�prio. Algumas delas podem visar � simples conserva��o ou reconstitui��o dos documentos, outras � sua "interpreta��o" em fun��o das �pocas e ideologias, outras a elucidar sua estrutura interna, etc. Todas s�o alheias ao problema central: assegurar que o examinador tenha a condi��o interior de elevar-se � experi�ncia origin�ria da qual o documento � registro. Essa condi��o � dada por pressuposta ou deixada � casualidade do maior ou menor talento pessoal. Ela est� completamente fora do processo investigativo e educativo, que assim tem o seu foco inteiramente voltado, seja para os registros em si, seja para suas circunst�ncias, para o que lhes est� em torno. Mostrar habilidade no dom�nio dessas torna-se o crit�rio essencial de sele��o e avalia��o na vida intelectual, e o decorrente desvio das discuss�es para uma infinidade de aspectos menores e irrelevantes produz a cria��o de novas e novas t�cnicas, tornando a vida intelectual uma insensata demonstra��o de for�a e, no fim, produzindo por inevit�vel rea��o o surgimento de t�cnicas para destruir as t�cnicas e para provar a absoluta inocuidade dos documentos.

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Com rela��o ao segundo ponto, isto �, � situa��o atual da cultura brasileira, o que � preciso enfatizar � o seguinte:

1. Em quinhentos anos de exist�ncia, a cultura deste pa�s n�o deu ao mundo um �nico registro de experi�ncia cognitiva origin�ria. Nossa contribui��o ao conhecimento do sentido espiritual �, rigorosamente, nula. N�o h� nas correntes culturais do mundo um �nico s�mbolo, conceito, id�ia ou palavra essencial � conhecimento, que tenha sido descoberta de um brasileiro. Toda a nossa "produ��o cultural" consiste apenas de prolongamentos e ecos de registros absorvidos de culturas estrangeiras. (4) Nesse sentido, nossa cultura � rigorosamente "perif�rica" em rela��o � hist�ria espiritual do mundo. Perif�rica, portanto, num sentido bem diverso ao que essa palavra tem no jarg�o do academismo esquerdista (Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso, etc.), onde centro e periferia s�o economicamente determinados e da� decorre uma teoria grotesca que identifica o centro espiritual do mundo ao centro do poder econ�mico � teoria ela mesma perif�rica, no sentido que dou ao termo.

2. Como entramos no curso da hist�ria num momento em que as culturas que nos serviam de fontes j� se encontravam elas pr�prias num estado avan�ado de decomposi��o entr�pica, perdendo cada vez mais de vista as intui��es origin�rias e enrijecendo-se num formalismo do qual agora tentam desesperadamente sair mediante a decomposi��o geral das formas (como um homem que, cansado de tentar em v�o compreender um livro passa a rasg�-lo na esperan�a de da sua decomposi��o f�sica obter a sua quintess�ncia), toda a hist�ria da nossa cultura � a do eco de um eco, da sombra de uma sombra. Todos sabemos disso e temos vergonha disso. Procuramos inutilmente aliviar essa m�-consci�ncia lan�ando as culpas no econ�mico (o que j� � reflexo de uma ilus�o, portanto duplamente perif�rico), ou ent�o apegando-nos � quantidade e declarando que o volume de uma produ��o irrelevante e repetitiva � prova de nossa "criatividade".

3. Considerando-se os nossos cinco s�culos de hist�ria, a extens�o f�sica e o volume populacional deste pa�s, a nulidade da nossa contribui��o espiritual chega a ser um fen�meno espantoso, sem paralelo na hist�ria do mundo. O desinteresse, a letargia espiritual da cultura brasileira, a pris�o da intelig�ncia nacional na esfera do econ�mico imediato, s�o sinais de uma pequenez de alma que jamais se observou em t�o impressionante escala coletiva. Se existissem verdadeiros estudiosos acad�micos entre n�s esse tema seria motivo de preocupa��o e debates. Mas toda a nossa vida acad�mica � ela pr�pria reflexo desse fen�meno, que escapa portanto ao seu horizonte de vis�o: nossas classes letradas n�o t�m for�a sequer para tomar consci�ncia da sua pr�pria mis�ria espiritual.

4. Nem mesmo no dom�nio religioso, que � aquele onde a busca espiritual tem o seu suporte mais f�cil e natural, registramos uma �nica experi�ncia que atestasse algo como um contato direto, mesmo breve e fugaz, entre um brasileiro e o sentido da vida c�smica. Toda a nossa "religiosidade" � perif�rica e imitativa, res�duo da decomposi��o de cultos extintos ou c�pia de pseudo-religi�es inventadas na Europa ou nos Estados Unidos.

5. � exatamente por isso que toda ideologia nacionalista, entre n�s, tem sido simplesmente reativa e oportunista, j� que n�o pode se fundar em valores espirituais inexistentes. A pressa com que nosso povo copia h�bitos e modos de falar estrangeiros, dando mesmo a seus filhos nomes ingleses ou franceses, mostra a profunda indiferen�a popular por uma cultura que nada tem a lhe dizer sobre o sentido da vida e que, no m�ximo, lhe fornece, na m�sica popular, no futebol e no Carnaval, os meios e a ocasi�o de se anestesiar, por meio de ru�dos sem sentido, contra o sem-sentido da vida. Nosso nacionalismo, por isto, n�o pode se compor de verdadeiro amor � p�tria, exceto em estreitos c�rculos � por exemplo nas For�as Armadas ou em antigas fam�lias de altos servidores p�blicos � que t�m sua hist�ria comunit�ria ligada �s lutas pela forma��o pol�tica do Brasil e por isto amam sua cria��o. Pode tamb�m haver um certo amor � p�tria na constata��o direta de certas virtudes espont�neas da sociedade brasileira, mas esta constata��o, em vez de ser refor�ada no n�vel da cultura letrada � a� desmentida � for�a de sofismas de um artificialismo impressionante (produzidos, � verdade, a soldo das funda��es Ford e Rockefeller, mas por pessoas que, por outro lado, sendo esquerdistas, se acreditam piamente nacionalistas e anti-americanas, o que j� basta para atestar a leviana superficialidade de suas intelig�ncias). Fora disso, o nacionalismo no Brasil se constitui apenas de ressentimento anti-americano � motivado antes pelas culpas recalcadas da classe letrada do que por queixas objetivas, embora estas existam � e n�o tem nenhum fundamento cultural aut�ntico.

6. Toda aspira��o nacional de tornar-se "grande pot�ncia" com uma base cultural t�o nula est� condenada, de antem�o, seja ao fracasso, seja a um sucesso que se tornar�, caso alcan�ado, um flagelo para a humanidade, obrigada a curvar-se ante a for�a bruta de novos b�rbaros que nem sequer t�m um senso pr�prio de orienta��o na Hist�ria onde interferem cegamente.

7. Todo patriotismo, aqui, � investimento num pa�s imagin�rio e meramente poss�vel, apenas toscamente prenunciado pelas virtudes populares espont�neas que mencionei, as quais ali�s se dissolvem velozmente sob o impacto do discurso destrutivo que hoje � o Ersatz de moralidade entre as nossas classes letradas. Quem deseje contribuir para que esse pa�s se torne realidade s� tem um caminho a seguir: lutar para que a cultura brasileira se ligue �s fontes centrais e permanentes do conhecimento espiritual, para que a experi�ncia da vis�o espiritual ingresse no nosso horizonte de aspira��es humanas e, uma vez obtida, fa�a explodir, com a for�a das intui��es origin�rias, todo um mundo de formas imitativas e perif�ricas, gerando uma nova vida.

O resto � pura agita��o sem finalidade.

 

OLAVO DE CARVALHO

31/12/99

 

NOTAS

  1. Sempre houve por isso uma tens�o criadora entre a abordagem "interna" ou espiritual desses estudos e a sua abordagem "externa": cultural, hist�rica, sociol�gica, etc. Um exemplo do primeiro ponto de vista � um corte "est�tico" no panorama das espiritualidades mundiais, mostrando a substancial unidade das experi�ncias interiores em todas as �pocas e civiliza��es � � dado na monumental antologia de textos sagrados, espirituais e m�sticos organizada por Whitall N. Perry sob o t�tulo A Treasury of Traditional Wisdom (Pates Manor, Bedfont, Middlexex: Perennial Books, 1971, 2nd. Ed. 1981). A abordagem "externa" � tamb�m necess�ria, mas � realizada em geral por diletantes a quem o sentido "interno" escapa por completo � Mauss, Benedict, Mead, L�vy-Strauss, Sapir, para n�o falar nada da vulgata marxista �, e seu resultado � praticamente nulo. Mircea Eliade, no seu cl�ssico Tratado de Hist�ria das Religi�es, parte de uma efetiva apreens�o interior da unidade, mas, diante da variedade dos fen�menos que a manifestam, n�o consegue passar da primeira etapa do esfor�o de racionaliza��o cient�fica, que � a classifica��o. Bem mais longe vai Eric Voegelin em Order and History, 5 vols., Baton Rouge: Louisiana University Press, 1956-1981, gigantesco e bem sucedido esfor�o de articular, segundo um corpo organizado de conceitos e m�todos, a unidade latente da percep��o da ordem e a sucess�o hist�rica de suas v�rias manifesta��es.
  2. Um breve exame da regularidade invari�vel com que esse fen�meno se repete ao longo das eras, bem como da const�ncia com que em torno deles se articulam as grandes muta��es hist�ricas, basta para notar que o Primeiro e o Segundo Mandamentos n�o s�o apenas as banais receitas normativas e devocionais em que os converteu a est�pida pseudo-religiosidade contempor�nea (vaticana inclusa), mas a clave reguladora do devir, os princ�pios fundamentais da ontologia do ser hist�rico.
  3. Imaginar que essa macabra invers�o da realidade pudesse levar a outro resultado que n�o � cria��o do Estado mais homicida que j� existiu � coisa de hipnotizados. O marxismo � a causa intelectual direta de tudo o que se passou no mundo comunista e todo marxista � c�mplice consciente ou inconsciente do genoc�dio sovi�tico-chin�s. � Ali�s, j� passei do tempo em que, tendo-me despedido do meu marxismo juvenil, ainda podia falar de Karl Marx com respeito. Quanto mais o conhe�o, mais o desprezo. Ele nunca foi fil�sofo, foi apenas um satanista deslumbrado, um mentiroso contumaz e um charlat�o capaz das piores falsifica��es cient�ficas, al�m de um racista capaz de se referir a negros e orientais como "lixo �tnico", um burgu�s hip�crita capaz de proibir � mesa da fam�lia a presen�a do filho bastardo que tivera com a empregada, e, o que � pior de tudo, um espi�o a servi�o do governo austr�aco, delatando por baixo do pano os mesmos companheiros nos quais insuflava o ardor revolucion�rio com discursos impregnados de �dio. Se querem tirar a d�vida, leiam, al�m dos cap�tulos indispens�veis que lhe dedicaram Paul Johnson em Intelectuais e Edmund Wilson em Rumo � Esta��o Finl�ndia, o assombroso Marx and Satan, de Richard Wurmbrand. O pastor Wurmbrand, uma das figuras exponenciais da espiritualidade do s�culo XX, judeu convertido ao protestantismo, foi preso e torturado pelos comunistas durante quatorze anos (as cicatrizes das torturas repetidas foram comprovadas por uma comiss�o da ONU) pelo crime de levar o conforto religioso aos prisioneiros.
  4. Creio que a obra de M�rio Ferreira dos Santos cont�m mais de um registro de descoberta espiritual origin�ria e que, por isto mesmo, quando a palavra "Brasil" tiver se apagado da mem�ria do mundo, essa obra ainda viver�. Mas, por enquanto, n�o h� lugar para ela numa cultura nacional que ainda n�o se elevou � altura de compreend�-la, e por isto seria injusto cham�-la de contribui��o "brasileira". Um pa�s n�o tem nenhum direito de se apropriar de m�ritos que n�o soube sequer reconhecer. Trata-se portanto de descoberta de um indiv�duo, que por estar fora da sua cultura nacional nada deve a ela e, a rigor, vale mais do que ela inteira.

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