Argemiro Ferreira: o estilo e o homem - I Olavo de Carvalho
�������� Em dezembro de 2000, o jornalista Argemiro Ferreira publicou na revista Bravo! um necrol�gio do roteirista de cinema, Ring Lardner Jr., que o apresentava como v�tima inocente da persegui��o mccarthista. Na edi��o de fevereiro da mesma revista, contestei essa vers�o dos fatos. Agora, em junho, Argemiro respondeu � minha contesta��o. �������� Como n�o quero que nada nessa disputa fique nebuloso, vago e sem conclus�o, e como a plena elucida��o do caso requer um exame longo e meticuloso, incompat�vel com as limita��es de espa�o da revista, colocarei em Bravo! apenas um aviso, chamando a aten��o do leitor para as explica��es que, nesta p�gina, passo a apresentar em cap�tulos, que irei escrevendo � medida que me sobre tempo para consagrar a esse epis�dio, de escassa import�ncia em si mesmo mas bastante oportuno pelo muito que revela da hist�ria contempor�nea.
1. Estil�stica argem�rica � 1. Argemiro, segundo ele mesmo
�������� O estilo � o homem. Antes de entrar no m�rito da quest�o, analisemos, pois, o estilo do sr. Argemiro Ferreira. �������� Segundo ele, a contesta��o que ofereci ao seu artigo foi �uma diatribe�, �um assalto�, repleto de �ofensas� e �insultos� � sua pessoa � tudo isso sic. Mas a �nica men��o que ali fiz a essa pessoa est� na ep�grafe, extra�da de Boileau: �Un sot a toujours un plus sot qui l�admire.� �������� A palavra sot, como consta em qualquer dicion�rio da l�ngua francesa, significa simplesmente �bobo�. �������� Um menino de cinco anos, chamado de �bobo� por um colega de escolinha maternal, pode ficar profundamente magoado e achar que foi v�tima de um insulto mortal, de uma ofensa intoler�vel, de um assalto � sua honra e dignidade mirins. Diria at� que lhe desabou em cima �uma diatribe�, se conhecesse o voc�bulo. N�o conhecendo, pode substitu�-la por um beicinho e pela amea�a tem�vel: �V� cont� pa pofess�la.� �������� Um homem adulto, se reage assim, � louco ou est� tramando alguma. �������� N�o insultei Argemiro nem vou insult�-lo agora. Vou apenas observar que sua afeta��o puerilmente espalhafatosa de brios ofendidos, se premeditada, dep�e contra sua honestidade; se espont�nea, contra sua sanidade; em ambos os casos, contra sua credibilidade. �������� Mas nada se pode concluir com certeza desse detalhe estil�stico isolado. � preciso verificar se, ampliando histrionicamente a express�o de seus pr�prios sentimentos, o sujeito n�o faz o mesmo com a dos alheios.
� 2. Eu, segundo Argemiro
�������� Vejamos portanto como ele descreve os meus sentimentos. �������� Do senador Joe McCarthy fiz, no meu artigo, os seguintes julgamentos: �������� 1) In�pcia: �Longe de ter intimado gente demais, o senador pode ser acusado de parar o servi�o na metade... O mccarthismo... foi uma investiga��o mal feita, que n�o conseguiu provar a verdade.� Estas frases referem-se ao seguinte fato: comparado � montanha de provas que investiga��es posteriores nos Arquivos de Moscou encontraram contra os suspeitos dos quais McCarthy, tendo as dicas certas, n�o conseguira provar nada de substancial, o seu belo Comit� de Atividades Anti-Americanas foi obviamente um fracasso. �������� 2) Fraqueza moral: �Quanto a McCarthy, bem, ele n�o foi um her�i. Sempre buscou mais brilho do que resultados. Quando atacado em sua vida pessoal (coisa que s� um idiota n�o previria que os comunistas iriam fazer, sendo eles o que s�o), come�ou a beber e morreu de depress�o. Tamb�m n�o foi homem de elevada moralidade: quando n�o tinha provas, permitia que sua assessoria as inventasse, (se bem que todos os incriminados fossem mesmo culpados, como se revelou depois).� �������� 3) Aus�ncia de culpa: �Mas n�o foi nenhum bandido, n�o mentiu em nada de substancial e, ao contr�rio, acertou em praticamente tudo.� �������� Para qualquer pessoa que saiba ler, esses par�grafos significam que McCarthy foi um idiota, um incapaz, vaidoso, fraco de car�ter, indulgente com a mentira pr�pria e alheia, o qual, querendo liderar uma causa patri�tica que estava acima da sua capacidade, p�s tudo a perder embora tivesse, em geral, as informa��es certas contra as pessoas certas. �������� Tal era e � minha opini�o sobre Joe McCarthy. Traduzida para o argemir�s, por�m, ela fica assim: �������� �A ris�vel paix�o do acusador [Olavo de Carvalho] pela �filosofia� de McCarthy, quase guindado a pante�o de her�i e de grande pensador universal...� �������� �A obstina��o absurda de encarar o mccarthismo como escola de pensamento...� �������� �O guru do sr. Olavo de Carvalho...� �������� �O disc�pulo do �fil�sofo� McCarthy...� �������� De vaidoso e fraco que comprou uma briga superior �s suas for�as, McCarthy transformou-se em her�i. De idiota e inepto, em grande pensador universal e meu guru. �������� O estilo �, de fato, o Argemiro Ferreira. �������� � o estilo de um sujeito que n�o tem o menor senso das propor��es nem o menor respeito pela realidade. � o estilo da �nfase for�ada, do hiperbolismo fingido, o estilo artificiosamente bufo dos farsantes, mentirosos e difamadores. �������� Mas, por favor, nada de conclus�es apressadas. Nada de inferir, s� do estilo, o homem. Antes de dizer que Argemiro � farsante, mentiroso e difamador, � preciso examinar a subst�ncia do que ele escreve. �������� Pois, quando eu disser que ele � farsante, mentiroso e difamador, n�o quero diz�-lo como insulto. Quero diz�-lo como tradu��o exata da realidade, sem �nfases argem�ricas. [Continua] |