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Resposta a um masoquista - 1
Olavo de Carvalho
Se até agora não ofereci ao sr. Carlos ([email protected]) a refutação detalhada que ele exige com tão fogosa veemência, foi por cinco motivos: 1. Por que devo responder por extenso a um sujeito que nem mesmo assina o próprio nome por extenso, escondendo-se por trás de um vago apelativo "Carlos", que não tenho nem como saber se é um pseudônimo? A mim me parece que quem deseja um debate franco não começa por desaparecer do palco e enviar bilhetinhos de longe. 2. Toda argumentação que se preza tem uma ordem, uma estrutura, uma hierarquia, de modo que, respondidos os pontos centrais, o resto está automaticamente comprometido. Com sua ridícula exigência de transcrição integral, o sr. Carlos confessa que seu escrito tem, ao contrário, uma consistência homogênea, amebiana, onde cada parte pode ser amputada sem danificar o conjunto. Não creio, porém, que ele tenha razão nisso: se ele não percebe ordem e estrutura no seu escrito, eu percebo alguma. Ao responder aos trechos essenciais, creio ter cumprido a minha parte do serviço, tal como, na sua crítica ao meu artigo sobre a previdência, ele mesmo cita um parágrafo isolado e passa a criticá-lo: deveria eu acusá-lo de "pinçador" por isso? Lamento, mas não consigo ser tão palhaço quanto os srs. Carlos e Heidrich. 3. Em escritos jornalísticos, que têm um espaço predeterminado, nenhum crítico jamais transcreve na íntegra o artigo criticado, pois se o fizesse não sobraria lugar para o artigo crítico. A única exceção é a do direito de resposta, que nem Carlos nem Anselmo Heidrich têm, visto que eles tomaram a iniciativa de me atacar, não eu a eles. 4. Num site da internet, o espaço é mais livre, mas a transcrição integral de mensagens como as dos srs. Carlos e Heidrich me traz o seguinte dilema: elas vêm escritas num português tão medonho que não sei se as corrijo, maquiando os remetentes para lhes dar uma boa aparência que não têm, ou se publico a coisa como está, emporcalhando o meu site e expondo-me à acusação, já tantas vezes apresentada, de que tiro proveito de indefesos semi-analfabetos, usando-os como sacos de pancadas. 5. Na maior parte dos casos, especialmente neste do sr. Carlos e no do sr. Heidrich, uma refutação linha por linha seria coisa de um sadismo sem par, desnecessária e cruel. Não compreendo o desejo incontido que o sr. Carlos sente de sofrer semelhante vexame, mas, como ele insiste, vou tentar satisfazer à sua ânsia masoquista. Só não posso lhe dar o que ele pede tudo de uma vez: tenho de subdividir a desgraça em capítulos. Começo, pois, pelo último bilhete que ele enviou à sua lista de discussões. Espero, apenas, que no meio da operação ele não venha choramingar pedindo para sair.
Belo raciocínio invertido. A validade dos testemunhos que mostrei é refutada com base na conjetura de que eu não os mostraria se dissessem o contrário do que dizem. Em vez de o fato refutar a hipótese, a hipótese é alegada contra o fato. Não digo que o sr. Carlos faça isso por malícia consciente: ele é mentecapto demais para ter consciência da própria malícia. Segunda inversão: Pela ordem, quem teria a obrigação de sustentar a acusação com testemunhos seria o sr. Heidrich, de modo que, com justiça, o argumento do sr. Carlos se aplica a ele, não a mim, e neste caso não seria mera conjetura gratuita, seria uma verdade óbvia: se o sr. Heidrich não apresentou testemunhos, foi porque sabia que não confirmariam a acusação. No mundo maravilhoso do sr. Carlos, quem age mal não é o acusador que acusa sem provas: é o acusado que se defende com elas. E a prova de que o acusado age mal ao mostrar provas é que não as mostraria se não as tivesse... Se eu quisesse destruir de vez a reputação do sr. Carlos, nada precisaria dizer contra ele: bastaria apontar a naturalidade ingênua com que ao proferir essa monstruosidade ele acredita ter apresentado um "argumento", sem notar que, em vez disso, apresenta mesmo é um sintoma clínico.
Ao contrário, já as contestei e não tive a menor dificuldade em fazê-lo, de tão bobas que eram. Como não tenho tempo para dedicar com exclusividade a listas de discussões, aproveitei para transformar a contestação em artigo enviado ao Diário do Comércio, para ser publicado nos próximos dias. Calma, sr. Carlos, não precisa ter chilique: por caridade, omiti o seu nome.
Sim, por exemplo o nome completo de alguém que finge entrar em campo de peito aberto no instante mesmo em que se esconde por trás de um pseudônimo.
Uai, se até quando mostro provas no mundo real sou acusado de sonegá-las no mundo hipotético do sr. Carlos, de quê não me acusaria este se eu afirmasse ter recebido um pedido de desculpas mas não o provasse com o respectivo documento integral? O sr. Carlos, obviamente, é incontentável na sua sanha de tudo inverter. Até o meu elogio rasgado à atitude do sr. Fernando Raphael ele interpreta como tentativa de humilhar o pobre remetente. Mas a loucura do sr. Carlos tem método: duvido que ele leve sua mania inversiva ao ponto de interpretar esta minha mensagem de hoje como um elogio à sua pessoa. Sem querer jogar contra ele um de seus tópoi prediletos, não vejo como escapar à conclusão de que ele só inverte o que lhe convém inverter.
Não adianta querer fingir indiferença olímpica, sr. Carlos. A paixão feroz com que você e o Heidrich escrevem a respeito revela antes que este assunto é um dos mais importantes das suas vidas. Tão importante que não param de solicitar para ele a minha atenção extensiva, não se contentando com respostas breves. [Continua]
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