Testemunha solit�ria
Olavo de Carvalho
Ele n�o � um militante antifidelista: � s� um sujeito que conhece Cuba porque ajudou a faz�-la
Oscar Lu�s Geerken foi assessor do Comit� Revolucion�rio cubano. Dedicou 16 anos de sua vida � causa fidelista, at� que, em 1993, fugiu para Miami. N�o se ligou a nenhuma organiza��o contra-revolucion�ria. N�o pretende ser mais que uma testemunha solit�ria, e foi nessa condi��o que, convidado por um amigo, veio a Porto Alegre para descrever, a quem deseje ouvi-lo, alguns aspectos da economia cubana que, definitivamente, n�o est�o na pauta do F�rum Social Mundial. A imprensa ga�cha, com as poucas exce��es de sempre, tem feito o que pode para ocultar essa presen�a inc�moda, que, se exibida em tamanho natural, bastaria para desmoralizar o custoso empreendimento publicit�rio subsidiado pelo governo estadual e destinado a oferecer aos brasileiros o modelo de progresso e prosperidade de algumas das na��es mais atrasadas e miser�veis do planeta. Para compensar um pouco essa injusti�a, abdico de expressar aqui minha opini�o pessoal e cedo este espa�o a algumas frases aterradoras ouvidas logo ap�s um almo�o, na quarta-feira, num rod�zio ga�cho: � Sem nenhum exagero, hoje comi mais carne de vaca que durante toda a d�cada de 80 em Cuba. No m�ximo, �s vezes, consegu�amos uns peda�os de frango. � Mas como as coisas chegaram a esse ponto? � Bem, a reforma agr�ria cubana distribuiu as terras f�rteis entre as fazendas estatais e os camponeses independentes. Aquelas, embora tendo capital, equipamentos, fertilizantes e assist�ncia t�cnica, nada conseguiram produzir, enquanto os camponeses, sem nada disso, produziam alguma coisa. Como isso dava m� impress�o, foram acusados de vender no mercado negro, de elevar artificialmente os pre�os, de trair a revolu��o. Perderam suas terras e muitos foram para a cadeia. A produ��o de alimentos em Cuba tornou-se irris�ria. Mesmo produtos de primeira necessidade, como leite em p� e papinhas para nen�s, que antes da revolu��o eram feitos em Havana, depois da reforma agr�ria tiveram de ser importados. � E os novos restaurantes que o governo liberou para a iniciativa privada? � Cada restaurante pode ter no m�ximo 12 cadeiras, e mesmo assim � dif�cil ter o que servir. O sujeito oferece, por exemplo, um frango. Passa o fiscal e pergunta: �Onde comprou?� � claro que foi no mercado negro. Onde mais poderia ser? A� o restaurante � fechado e o camarada vai preso. � Mas a situa��o n�o pode ser ruim como em nossas favelas. � Em mat�ria de alimenta��o, o favelado brasileiro est� melhor servido que o cidad�o m�dio cubano. Em assist�ncia m�dica e educa��o, o cubano ganha, mas j� ganhava antes da revolu��o. � E os sal�rios? � Para voc� fazer uma id�ia, um amigo meu, que � cirurgi�o, ganha 430 pesos cubanos por m�s: mais ou menos US$ 15. J� sei que, de Cuba, vir�o nos pr�ximos dias informa��es de que o homem � um maluco, � um farsante, � um isto, um aquilo, e receber�o toda a aten��o que a imprensa local negou ao acusado. Para a massa puerilizada pela propaganda, a credibilidade de uma cal�nia � diretamente proporcional a sua difus�o, mas o homem experiente sabe que, para sujar bem, � preciso estar bem sujo: � mais f�cil para Fidel Castro sujar a reputa��o da testemunha que limpar o que ela viu em sua ilha. PS. � Dada a prioridade das declara��es de Geerken, minha resposta ao deputado Jos� Dirceu, planejada de in�cio para sair aqui, ser� colocada em minha homepage, http://www.olavodecarvalho.org, durante a pr�xima semana.
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