Sil�ncio geral
Olavo de Carvalho
O sil�ncio geral da m�dia brasileira em torno do processo que exilados cubanos movem contra Fidel e Raul Castro, na B�lgica, por crimes contra a humanidade, contrasta de tal modo com o carnaval montado em apoio �s investidas judiciais anti-Pinochet do dr. Baltazar Garz�n, que qualquer sugest�o de atribu�-lo � mera coincid�ncia deve ser afastada, in limine, como tentativa de acrescentar � imoralidade da omiss�o a perversidade da camuflagem. O esquecimento a que os �rg�os de imprensa do eixo Rio-S�o Paulo condenaram essa not�cia important�ssima n�o � um fato isolado: o exame meticuloso dos jornais dos �ltimos vinte anos mostrar� que eles suprimiram sistematicamente qualquer men��o aos crimes praticados pelo governo cubano nesse per�odo, ao mesmo tempo que, numa ostensiva invers�o de todos os crit�rios jornal�sticos admiss�veis, davam destaque cada vez maior � exuma��o de epis�dios de viol�ncia anticomunista, incomparavelmente menores em n�mero e em gravidade, ocorridos trinta ou quarenta anos atr�s no Brasil ou no Chile. Nesse mesmo sentido deve ser compreendida a oculta��o obstinada e sistem�tica do julgamento do cl� Pol-Pot, certamente o acontecimento judici�rio mais relevante desde o julgamento de Nuremberg. A orienta��o geral do notici�rio brasileiro, nesses pontos, � moldada segundo os padr�es cl�ssicos da propaganda e da desinforma��o comunista, e a generaliza��o desse fen�meno rebaixa a nossa classe jornal�stica a uma horda de militantes sect�rios, indignos da confian�a que o p�blico deposita em profissionais soi disant empenhados em inform�-lo. Pouco importa o que dir�o de mim, ao ler isso, os c�rculos bem-pensantes da classe a que afinal perten�o, e em cuja defesa j� me mobilizei, em outras �pocas, com riscos iguais aos que pesavam sobre meus companheiros. Pois uma coisa � unir a classe para resistir a um regime autorit�rio. Exageros ret�ricos e pequenas distor��es, a�, correm por conta das ang�stias do momento. Outra coisa completamente diversa �, num regime democr�tico, com plena liberdade de imprensa, essa classe arrogar-se o poder de censura para ocultar os crimes de seus �dolos enquanto alardeia histericamente os de seus desafetos, com base no dogma monstruoso e imoral, proclamado na TV por um idiota politicamente correto, de que a melhor direita � pior do que a pior esquerda. Solidariedade na luta contra a ditadura � uma coisa. Cumplicidade na destrui��o da democracia � outra. Usar a primeira como pretexto para a segunda � ainda uma terceira. � evidente que nem todos os jornalistas s�o agentes, conscientes ou inconscientes, dessa desinforma��o. Mas os poucos que n�o o s�o est�o perdidos e isolados na massa de seus colegas hostis, ou ent�o calados e paralisados pelo medo dos insultos e da discrimina��o ostensiva ou camuflada.
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Mas a acusa��o de envolvimento com mi�dos contraventores, lan�ada sobre um governante que tem conversa��es secretas com os narcoguerrilheiros das FARC, � quase uma amabilidade. �, no fim das contas, desviar as aten��es do p�blico para um delito menor, amortecendo o impacto de suspeitas infinitamente mais graves e dissuadindo de investig�-las.
Liberais e conservadores desejariam ah! como desejariam! estar numa democracia est�vel, onde os partidos n�o visassem sen�o a ocupar o governo em turnos, concorrendo lealmente para esse fim e abandonando cavalheirescamente as posi��es conquistadas quando derrotados nas elei��es. Mas o fato � que n�o estamos nessa democracia. Estamos numa democracia em decomposi��o, condenada � morte por uma revolu��o continental muito mais articulada e violenta que a da d�cada de 60 e pela omiss�o suicida dos que teriam o dever de fazer face � amea�a.
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