Ref�gio dos canalhas
Olavo de Carvalho
O nacionalismo de esquerda � uma fraude
Os ap�stolos do Estado nacional, que espumam de indigna��o patri�tica � simples id�ia de privatizar alguma empresa estatal, tornam-se de repente globalistas assanhados quando um poder supranacional vem defender os interesses deles contra os interesses da p�tria. Essa conduta � t�o repetida e uniforme que s� um perfeito idiota n�o perceberia nela um padr�o, e por tr�s do padr�o uma estrat�gia. Desde logo, "a p�tria" que eles celebram se constitui exclusivamente de estatais, onde t�m sua base de opera��es e de onde dominam n�o somente uma boa fatia do Estado, mas tamb�m os sindicatos de funcion�rios p�blicos e seus monumentais fundos de pens�o. Defendendo sua toca com a ferocidade de javalis acuados, desprezam tudo o mais que comp�e a no��o de "p�tria" e n�o se inibem de colocar-se a servi�o de ONGs e governos estrangeiros quando atacam as institui��es nacionais, desmoralizam as For�as Armadas, desmembram o territ�rio brasileiro em "na��es ind�genas" independentes, imp�em normas � educa��o de nossas crian�as, fomentam conflitos raciais para destruir o senso de unidade nacional e, em suma, arrebentam com tudo o que constitui e define a ess�ncia mesma da nacionalidade. Da p�tria, s� uma coisa lhes interessa: o dinheiro e o poder que lhes v�m das estatais. Em segundo lugar, o nacionalismo que ostentam � de um tipo peculiar, desde o ponto de vista ideol�gico. � um nacionalismo seletivo e negativo, que enfatiza menos o apego aos valores nacionais do que a ojeriza ao estrangeiro � e mesmo assim n�o ao estrangeiro em geral, como seria pr�prio da xenofobia ordin�ria, mas a um estrangeiro em particular: o americano. Assim, por exemplo, n�o sentem a menor dor na consci�ncia quando, sob o pretexto imbecil de que toda norma gramatical � imposi��o ideol�gica das classes dominantes, demolem a l�ngua portuguesa e acabam suprimindo do idioma duas pessoas verbais (mutila��o in�dita na hist�ria ling��stica do Ocidente); mas, ante o simples ingresso de palavras inglesas no vocabul�rio � um processo normal de assimila��o que jamais prejudicou idioma nenhum, e que ali�s � mais intenso no ingl�s do que no portugu�s �, saltam ao palanque, com os olhos vidrados de c�lera, para denunciar o "imperialismo cultural". Ser nacionalista, para essa gente, n�o � amar o que � brasileiro: � apenas odiar o americano um pouco mais do que se odeia o nacional. Mas, para c�mulo de hipocrisia, seu alegado antiamericanismo n�o os impede de celebrar o intervencionismo ianque quando lhes conv�m, por exemplo quando ajudam alegremente a desmoralizar a cultura miscigenada que constitui o cerne mesmo do estilo brasileiro de viver e lutam para impor entre n�s a pol�tica americana das quotas raciais, em conson�ncia com as campanhas milion�rias subsidiadas pelas funda��es Ford e Rockefeller. Do mesmo modo, seu antiamericanismo fecha os olhos � entrada de novos c�digos morais � feministas e abortistas, por exemplo � improvisados em laborat�rios americanos de engenharia social com a finalidade precisa de destruir os obst�culos culturais ao advento da nova civiliza��o globalista. Redu��o do nacionalismo � defesa das estatais, substitui��o do antiamericanismo ao patriotismo positivo, ades�o oportunista ao que � americano quando favorece a esquerda: desafio qualquer um a provar que a conduta constante e sistem�tica da chamada "esquerda nacionalista" n�o tem sido exatamente essa que aqui descrevo, definida por esses tr�s pontos. Nunca, na Hist�ria, houve patriotas a quem se aplicasse t�o exatamente, t�o literalmente e com tanta justi�a a observa��o de Samuel Johnson, de que o patriotismo � o �ltimo ref�gio dos canalhas.
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