Palmas para Keynes
Olavo de Carvalho
Ele fez do capitalismo o regime mais confort�vel para a esquerda
Cresci ouvindo dizer que Lord Keynes fora o salvador do capitalismo. Precisei de uma vida inteira para descobrir que o desgra�ado protegera o c�rculo de espi�es sovi�ticos em Cambridge, que a aplica��o de suas teorias nos Estados Unidos dera a maior zebra e s� a guerra conseguira resgatar do naufr�gio o New Deal inspirado por ele. A m�gica besta da economia keynesiana consistia em fazer do Estado o maior dos capitalistas, colocando-o � frente de grandes projetos industriais. De imediato, tinha um efeito formid�vel, porque gerava empregos. � obje��o de que a longo prazo isso resultaria numa infla��o dos diabos, os impostos subiriam at� o c�u, os oper�rios seriam pagos com papel pintado e teriam de se matar de trabalhar para sustentar uma burocracia cada vez mais voraz, Keynes respondeu com a c�lebre evasiva: A longo prazo, estaremos todos mortos. Keynes, de fato, morreu em 1946, mas a maioria dos americanos ainda viveu para carregar o Estado keynesiano nas costas at� que Ronald Reagan cortasse os impostos em 1981, iniciando a recupera��o econ�mica de que os EUA se beneficiam at� hoje. De onde vinha ent�o o prest�gio de Keynes? Vinha da esquerda. A roda de milion�rios, estrelas de Hollywood e intelectuais mundanos que nos anos 30 personificavam a moda do stalinismo chique tal era, em subst�ncia, a plat�ia de seu show. Os fios juntavam-se. St�lin havia determinado que o Partido Comunista dos EUA n�o cuidaria de organizar o proletariado, mas s� de arregimentar o beautiful people para subsidiar o comunismo europeu e dar-lhe o respaldo moral de celebridades com apar�ncia de independentes. Da� a profus�o de espi�es comunistas e companheiros de viagem nos altos c�rculos da Era Roosevelt. A amplia��o da burocracia estatal era de interesse direto para essa gente. Quando, na d�cada de 60, a difus�o das obras de Antonio Gramsci ensinou aos esquerdistas que para tomar o poder eles n�o precisariam fazer uma insurrei��o, bastaria que dominassem o aparelho de Estado pouco a pouco e de dentro, gramscismo e keynesianismo descobriram que tinham sido feitos um para o outro. De seu matrim�nio espont�neo nasceu a esquerda atual. A base dela j� n�o est� no proletariado, soberbamente conservador, mas na burocracia administrativa e judici�ria, nos organismos internacionais, nas ONGs, na imprensa, nas universidades e, de outro lado, no variado leque de minorias, as quais, recrutadas segundo os crit�rios mais desencontrados (sexuais, et�rios, raciais, regionais), n�o t�m em comum sen�o o ressentimento sem objeto e a depend�ncia da tutela do Estado, o que faz delas a massa de manobra ideal para keynesianos e gramscianos. Essa esquerda ocupa os melhores postos, come a parte mais nutritiva das verbas do or�amento, faz as leis, impera sobre a m�dia e, ao mesmo tempo, fala em nome dos revoltados contra o establishment os quais, precisamente, n�o sabem que ela � o establishment. Lord Keynes n�o salvou o capitalismo. Se o fizesse, seria odiado pela esquerda. O que ele fez foi tornar o capitalismo o mais confort�vel dos regimes para a elite esquerdista, criando a base econ�mica da longa marcha para dentro do aparelho de Estado planejada por Gramsci. Eu tamb�m o aplaudiria, se meu sonho na vida fosse ser um comunista chique.
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