Nacional-masoquismo
Olavo de Carvalho
O nacionalismo brasileiro quer Pseudomorfose� � forma��o simulada. Na filosofia de Oswald Spengler, designa a cultura que come�a a tomar impulso pr�prio, mas depois se revela nunca ter passado de ap�ndice, de sombra de uma vizinha mais forte. O Brasil � uma pseudomorfose da cultura americana? N�o sei, mas, se algo pode ser alegado em favor dessa hip�tese, est� justamente no modo brasileiro de ser nacionalista. � no estilo de nossa auto-afirma��o nacional que se v�em com nitidez os tra�os de um esp�rito servil e dependente, que quanto mais clama por autonomia mais o faz nos termos ditados de fora, e quanto mais se remexe mais aperta o la�o que o prende. A pol�tica de domina��o global age em quatro frentes: a abertura econ�mica, a implanta��o de padr�es culturais, a conquista da hegemonia territorial e o enfraquecimento divisionista dos Estados nacionais. Dos quatro pontos, o menos perigoso � o primeiro: a experi�ncia mundial j� provou que qualquer pa�s pode beneficiar-se da globaliza��o econ�mica sem perder nada da identidade cultural e da soberania territorial e pol�tica. Mas nosso nacionalismo oferece obstinada resist�ncia � penetra��o estrangeira no campo econ�mico e se abre gostosamente, deleitosamente, canalhamente a ela em tudo o mais. Por exemplo, quem n�o viu, ainda h� pouco, as mesmas pessoas que fervem de indigna��o ante a venda de empresas estatais irem engrossar o cord�o do indigenismo importado, que al�m de lutar pela transfer�ncia de fatias inteiras de nosso territ�rio para a administra��o de ONGs estrangeiras ainda tem a imp�rvia cara-de-pau de negar, em nome de direitos ancestrais rec�m-inventados em Nova York e Genebra, a unidade da cultura brasileira e a legitimidade mesma da exist�ncia do Brasil enquanto na��o? Nada neste mundo pode explicar que uma ou duas ou 100 empresas p�blicas sejam bens t�o mais vitais e mais dignos de ser preservados que a unidade cultural, o territ�rio e a soberania juntos. Na mesma linha de conservar os an�is sacrificando os dedos, os ap�stolos de estatais n�o v�em nada de mais em que parcelas da administra��o p�blica sejam transferidas para ONGs financiadas do Exterior, como se vem fazendo com o �servi�o civil�, que anualmente por� a m�o-de-obra gratuita de milh�es de jovens brasileiros � disposi��o de entidades notoriamente ligadas a interesses estrangeiros. Pior ainda, esses mesmos sujeitos est�o na linha de frente do combate destinado a destruir o modelo brasileiro de integra��o racial para implantar, em lugar dele, o americano. O modelo brasileiro n�o � perfeito, mas �, at� agora, o melhor do mundo. Ele consiste em dissolver as diferen�as de ra�a no conv�vio di�rio, no sincretismo cultural e na miscigena��o, com um m�nimo de interfer�ncia estatal no processo. O americano constitui-se de grupos separados, cada um fortemente impregnado de sua identidade racial, convivendo sob a prote��o do Estado-bedel e de uma parafern�lia de leis que fomentam a suspeita de todos contra todos, na base c�nica do dividir para reinar. Trocar aquele por este � um despropositado sacrif�cio masoquista, � importar o problema em vez de exportar a solu��o. Com nacionalistas como esses, quem precisa de imperialistas?
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