Moral leninista
Compreenda a mentalidade
Olavo de Carvalho
�Devemos recorrer a todo tipo de estratagemas, manobras, m�todos ilegais, disfarces e subterf�gios�, escreveu L�nin em �O Esquerdismo, Doen�a Infantil do Comunismo�. � uma f�rmula geral da conduta esquerdista. Mas o contexto imediato esclarece ainda mais seu sentido e sua atualidade: L�nin disse essas palavras quando se preparava para lan�ar a NEP, a pol�tica de abertura de mercado, que, levando o mundo a crer que o socialismo havia perdido sua voca��o revolucion�ria e truculenta, desarmou as preven��es ocidentais e atraiu para a URSS vultosos investimentos estrangeiros depois, naturalmente, encampados � for�a. Foi a primeira de uma intermin�vel s�rie de camuflagens �light� que o socialismo veio adotando at� hoje. E L�nin conclu�a: �Quando tivermos conquistado as massas mediante uma abordagem razo�vel, ent�o aplicaremos t�ticas ofensivas.� Desde ent�o tornou-se praxe nos partidos comunistas manter ao mesmo tempo duas linhas de a��o, uma violenta, outra pac�fica, uma radical, outra moderada, alternando sua exibi��o no palco segundo as conveni�ncias do momento e alternando tamb�m a modalidade de rela��o entre as duas alas, que ora pode se mostrar como parceria, ora como concorr�ncia ou antagonismo, de modo que o movimento como um todo pare�a fraco e dividido ou unido e forte. Anatoliy Golitsyn, em �New Lies for Old�, mostrou que, na pol�tica sovi�tica, essa �ltima altern�ncia refletia o ritmo de consecu��o da estrat�gia revolucion�ria, segundo o conselho de Sun-Tzu: �Mostrar-se fraco quando est� forte, forte quando est� fraco�. Essa ambig�idade premeditada pode se personificar em distintas figuras que representem simultaneamente as duas faces do partido como, no Rio Grande do Sul, Tarso Genro e Miguel Rosetto, correspondentes, mutatis mutandis, a Arlequim e Pierrot ou o Gordo e o Magro. Pode aparecer tamb�m como adapta��o oportunista �s mudan�as do ritmo hist�rico, de modo que as t�ticas agressivas e desagrad�veis sejam postas de lado como inadequadas aos novos tempos, sem ser por isto condenadas moralmente. Mas pode tamb�m manifestar-se como ambig�idade no sentido estrito, isto �, como discurso de duplo sentido. Quando o dr. Aloysio Nunes Ferreira Filho declara que �n�o sabe� se hoje em dia voltaria a recorrer �s a��es violentas em que se envolveu na d�cada de 70, ao mesmo tempo que enaltece como her�is os que participaram delas, o que ele est� dizendo � precisamente que voltar� a elas t�o logo saiba que � o momento apropriado. N�o de trata de uma quest�o de moralidade, mas de oportunidade.Tal � pois o desempenho que se pode esperar dele no Minist�rio da Justi�a: �Quando tivermos conquistado as massas mediante uma abordagem razo�vel, ent�o aplicaremos t�ticas ofensivas.� A �nica esperan�a de que a viol�ncia comunista n�o volte a reinar para depois acusar de viol�ncia a rea��o das v�timas � que a �abordagem razo�vel� n�o alcance os resultados esperados. E isto depende de que cada palavra amb�gua do dr. Nunes Ferreira seja decodificada em tempo como amea�a latente. Resta tamb�m a hip�tese remot�ssima de que ele tome consci�ncia da mal�cia leninista da sua conduta e, sem meias palavras, condene o seu pr�prio passado, n�o apenas como passado, mas como foco infeccioso que deve ser ser cauterizado para n�o supurar nunca mais, no mesmo e exato sentido em que examino minha pr�pria milit�ncia comunista n�o com a nostalgia de de quem afaga paternalmente sua juventude extinta, mas com o realismo de quem confessa um erro moral grave. Benedetto Croce distinguia entre o arrependimento moral, que condena o pr�prio ato como intrinsecamente mau, e o �arrependimento econ�mico�, que n�o abjura do ato mas apenas de suas conseq��ncias indesejadas: um ladr�o se envergonha de ter roubado, outro de n�o ter conseguido escapar da pol�cia. Mesmo o puro arrependimento moral n�o garante que o criminoso n�o voltar� a reincidir. Mas o arrependimento econ�mico � quase uma garantia de reincid�ncia. |