Mamar e sofrer
Olavo de Carvalho
Quem n�o chora n�o mama: por isso, nem todos t�m acesso aos benef�cios da discrimina��o
Se a atual efus�o de bondade para com os discriminados fosse
sincera, ela procuraria socorrer primeiro os grupos que sofrem
discrimina��o mais aberta e mais violenta, em vez de ficar
rebuscando ind�cios de racismo sutil para favorecer os
grupos que, longe de ser os mais discriminados, s�o apenas os mais
protegidos pela Nova Ordem Mundial e os mais aptos a desferir um
golpe mortal na unidade cultural brasileira. Quem move esses ataques n�o s�o indiv�duos isolados ou grupos clandestinos: � o establishment, � a m�dia chique, s�o os professores nas c�tedras, s�o os artistas nos palcos e nas telas, diante dos olhos do mundo, com a aprova��o risonha das autoridades e dos bem-pensantes. As provas n�o t�m de ser desentranhadas mediante tortuosas conjeturas estat�sticas: elas est�o diante de n�s. Quem deseje investig�-las n�o ter� dificuldade sen�o o embarras de choix. E, se querem estat�sticas, digam: qual a porcentagem de crist�os tradicionais na popula��o brasileira e nas c�tedras das universidades? No minist�rio FHC? Nos cargos de chefia da m�dia? Fa�am essas contas e saber�o o que quer dizer exclus�o. Ainda bem que o reino dos crist�os n�o � deste mundo; porque at� na cadeia os b�blias s�o um grupo � parte, alvo de chacotas dos demais detentos. Quem diga ou fa�a contra gays um mil�simo do que se diz e se faz contra os seguidores de Cristo ser� punido e exposto � execra��o universal. Mas quem ouse sugerir que crist�os tamb�m t�m direitos j� � virtualmente um r�probo, um inimigo do povo. Toda palavra em favor deles inclusive as deste artigo ser� recebida com protestos, com um brilho silencioso de �dio frio nos olhos ou, na mais branda das hip�teses, com um sorriso desdenhoso. Por isso essa palavra n�o ser� dita nas reuni�es com que o Brasil se prepara para o congresso mundial que, em 2001, se manifestar� contra todas entre enf�ticas aspas as discrimina��es. Omitindo-a, essas reuni�es provar�o apenas a discrimina��o dos mais quietos e resignados pelos mais barulhentos e ambiciosos. S� estes t�m direito ao t�tulo de discriminados, outorgado pelas pot�ncias que regem o mundo. � a lei: quem n�o chora n�o mama. E quem chora escondido que mame as pr�prias l�grimas.
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