A na��o contra o crime, ou:
Olavo de Carvalho
O Plano Nacional de Seguran�a P�blica divide-se em medidas irrelevantes e decis�es suicidas Metade dos itens que o presidente da Rep�blica destacou ao anunciar seu plano de combate � criminalidade n�o tem nada a ver com criminalidade. Ningu�m pode ser contra a ilumina��o de periferias e favelas, mas bilh�es de watts ligados n�o me far�o ver que dano ela poder� trazer �s gangues que ali exercem seu poder em plena luz do dia. Centros de esporte e lazer inseridos num plano de combate ao crime subentendem a teoria - do eminente psic�logo doutor Leonel Brizola - de que as pessoas se dedicam a matar seus semelhantes porque n�o t�m onde jogar futebol. Preenchimento de vagas em reparti��es ou provid�ncias gerais sob o nome de "moderniza��o" e "reaparelhamento" s�o medidas c�clicas, independentes do aumento ou do decr�scimo do n�mero de crimes. A impress�o que me fica � que o governo simplesmente ciscou id�ias esparsas que j� estavam para ser adotadas em v�rios campos e, diante da como��o nacional com a pletora de crimes, as reuniu �s pressas sob a enf�tica denomina��o geral de Plano Nacional de Seguran�a P�blica. O plano s� abandona o campo da perfeita inocuidade para entrar no das decis�es temer�rias e virtualmente suicidas, das quais duas s�o atordoantes. Proibir o registro de armas � o mais formid�vel incentivo j� recebido pelo com�rcio ilegal desses instrumentos. A utiliza��o direta das For�as Armadas no combate ao crime � ela pr�pria um crime, que arrisca desmantelar o que resta dessas institui��es. Devotado a minhas fun��es de an�lise e cr�tica, odeio dar palpites na busca de solu��es, mas a confus�o na �rea de seguran�a j� chegou a tal ponto que n�o resisto ao impulso de sugerir algumas coisas. Por exemplo: em vez de rebaixar as For�as Armadas a elemento auxiliar das pol�cias, o governo deveria restaurar imediatamente a Inspetoria-Geral das Pol�cias Militares, que serviu para inibir significativamente a corrup��o policial. Em vez de proibir o com�rcio de armas, seria preciso incentiv�-lo, condicionando a concess�o do porte ao compromisso do usu�rio de submeter-se a treinamento especializado para servir, quando convocado, de auxiliar em opera��es policiais em sua �rea de resid�ncia. Isso disseminaria entre os cidad�os o senso de responsabilidade pessoal pela seguran�a p�blica, al�m de afastar da tenta��o das armas os ineptos e despreparados. Acho que essas id�ias podem ser �teis. Mas podem estar erradas, e ali�s n�o s�o o essencial. O essencial e certo depende de n�s, jornalistas, escritores, intelectuais, professores, artistas - os gerentes do imagin�rio coletivo e dos valores que movem a Hist�ria. Se cada um de n�s n�o fizer um exame de consci�ncia, distinguindo em palavras e a��es o que � desejo sincero de combater o banditismo e o que � intuito camuflado de incentiv�-lo para em seguida fazer dele um pretexto de cr�tica p�rfida, uma arma para a derrubada das institui��es e para a instaura��o de nossas lindas utopias, n�s nos tornaremos, se � que j� n�o somos, uma poderosa causa secreta da ascens�o imperial do crime. E nenhum plano policial nos impedir� de, para cada bandido preso, espalhar mais dez ou 20 pelas ruas. |