Fil�sofos a granel
Olavo de Carvalho
� tanta cultura que eles j� n�o ag�entam: precisam reparti-la
Sob a coordena��o do professor Lejeune Mato Grosso Xavier de Carvalho, presidente da Federa��o Nacional dos Soci�logos, um lobby de propor��es colossais, constitu�do de sindicatos, associa��es estudantis, sociedades cient�ficas, CUT, OAB, Contag, CNBB e n�o sei mais quantas institui��es, est� sendo organizado para pressionar o Senado a aprovar o projeto de lei que torna obrigat�rio, nas 17 mil escolas de ensino m�dio do pa�s, o ensino de sociologia e filosofia. O pr�ximo passo da luta, segundo o professor Lejeune, ser� �a mobiliza��o total nos cursos, CAs, congrega��es, departamentos, reitorias e entidades correlatas�. Essas entidades dever�o: (a) produzir uma chuva de e-mails sobre os senadores; (b) exercer press�o direta sobre �FHC, Weffort, Mois�s, Wilmar Faria e outros do alto escal�o do governo�; (c) agitar a massa estudantil para que ocupe as ruas e fa�a caravanas a Bras�lia; (d) abrir espa�o na m�dia e munici�-la de informa��es favor�veis ao projeto. � uma campanha das dimens�es das Diretas J�. Mas a� se tratava de luta pol�tica, que facilmente desperta as paix�es da massa angustiada. Um observador extraplanet�rio ficaria comovido at� �s l�grimas de ver t�o poderosas for�as agitando-se em vista de um objetivo puramente cultural e pedag�gico. Tamanha vontade de ensinar tem, no entanto, algo de estranho. O professor Lejeune entusiasma-se sobretudo com a mobiliza��o dos fil�sofos � pilhas e pilhas de fil�sofos, massas de fil�sofos. Ao ouvi-lo, damos por fato consumado que, no momento presente, pelo menos 17 mil deles se encontram t�o repletos de conhecimentos filos�ficos que, se n�o os derramarem sobre as cabe�as juvenis, explodir�o de pletora intelectual. O pa�s que tem 17 mil fil�sofos prontinhos para ensinar �, decerto, o mais culto do mundo. � de fato uma injusti�a que tanta cultura fique retida na gera��o mais velha, sem ser repassada aos jovens. Por isso mesmo o professor Lejeune repele, como procrastina��o odiosa, qualquer tentativa de discutir, antes da aprova��o da lei, o conte�do a ser ensinado nas novas disciplinas. Para que discutir, se ele, Lejeune Mato Grosso em pessoa, j� sabe esse conte�do de tr�s para diante? Eis como ele o resume: sociologia e filosofia consistem em fazer o aluno �entender seu mundo, a realidade que o cerca, as classes e as lutas de classe, o papel do Estado e modos de produ��o� (sic). Que haja 17 mil pessoas habilitadas a ensinar essas coisas, eis algo de que n�o se pode mesmo duvidar. Na verdade h� mais. Milh�es de militantes da CUT, do PT e do MST est�o convictos de que a realidade que os cerca se constitui, essencialmente, de luta de classes. Trata-se apenas de tornar esse discurso obrigat�rio para os alunos de 17 mil estabelecimentos de ensino. A coisa � simples, direta e brutal. Portanto, nada de discuss�es. Sociologia e filosofia j�! O professor Lejeune vaticina que isso ser� �a maior das revolu��es�. Tem raz�o: desde os tempos de Stalin, jamais tamanha rede de difus�o foi colocada, com dinheiro do governo, � disposi��o da propaganda comunista. Tal �, pois, o motivo da mobiliza��o, que s� um extraplanet�rio explicaria de outra forma. N�o sou ningu�m para contestar uma assembl�ia inteira de s�bios e educadores, encabe�ada por 17 mil fil�sofos. C� com meus bot�es pergunto quantos deles ag�entariam dez minutos de debate sobre as categorias de Arist�teles ou as formas a priori de Kant. Mas isso, obviamente, n�o vem ao caso. O que lhes incumbe ensinar eles j� o sabem de cor e salteado. Ali�s, quem n�o sabe? Resta apenas perguntar se, contra a formid�vel press�o organizada, os pais que n�o desejem ver seus filhos amestrados na doutrina da luta de classes ter�o a coragem de enviar pelo menos umas t�midas cartinhas de protesto ao Senado. Se n�o a tiverem, �timo: � sinal de que o Brasil est� maduro para a filosofia do professor Lejeune.
|