Golpe de Estado
Olavo de Carvalho
Golpe de Estado � uma mudan�a s�bita da ordem pol�tico-jur�dica, realizada desde dentro do esquema de poder vigente. Quem quer que compreenda essa defini��o perceber� que a a��o conjunta de jornalistas e procuradores para bloquear as investiga��es do Ex�rcito em torno das atividades ilegais do MST, da CUT e de algumas ONGs esquerdistas � nada mais, nada menos, que uma tentativa de golpe de Estado. O sucesso ou fracasso dessa tentativa depende do que acontecer� nos pr�ximos dias. Se, convocado a prestar esclarecimentos ao Congresso, o comandante do Ex�rcito adotar uma atitude t�mida, sacrificando ante o altar da f�ria midi�tica oficiais que n�o t�m outra culpa sen�o a de alguns excessos verbais cometidos na reda��o de um relat�rio, estar� repentinamente instaurada neste pa�s uma nova ordem legal, na qual a propaganda e a prepara��o de guerrilhas estar�o sob a prote��o do Estado e o que quer que se fa�a ou se diga contra elas ser� crime. Marginalizado o Ex�rcito das investiga��es antiguerrilha, toda a autoridade sobre elas ser� transferida para a Pol�cia Federal, que o pr�prio jornal envolvido na den�ncia contra o Ex�rcito informava, j� em 1993, estar repleta de agentes das entidades agora investigadas. Em suma, s� o MST, a CUT, as ONGs esquerdistas e seus militantes e �companheiros de viagem� na imprensa ter�o o poder de investigar-se a si pr�prios, livres de qualquer interfer�ncia alheia. O encargo das investiga��es ficar�, oficialmente, entregue � responsabilidade dos suspeitos. Para impedir que isso aconte�a, o comandante do Ex�rcito s� tem uma atitude a tomar: recusar peremptoriamente qualquer explica��o a esses indiv�duos, e em vez disso acus�-los de conspira��o para bloquear qualquer a��o poss�vel do Estado contra os que pretendam derrub�-lo � for�a. Afinal, quem s�o esses procuradores que, no dia 25 de julho, se apropriaram de documentos sigilosos do Ex�rcito e, num inqu�rito conduzido �sob segredo de justi�a�, tomaram a iniciativa de convidar um grupo de jornalistas de esquerda para que violassem o segredo mediante escandalosas den�ncias estampadas na primeira p�gina de um grande di�rio paulista? S�o pessoas isentas ou s�o, eles pr�prios, militantes, simpatizantes ou colaboradores das entidades investigadas pelo Ex�rcito? E quem s�o esses jornalistas? S�o meros profissionais interessados em informar a opini�o p�blica ou est�o entre os 800 que, j� em 1993, a CUT reconhecia ter em sua folha de pagamento? Curiosamente, o pr�prio jornal, ao fazer-se de escandalizado ante o fato de que o Ex�rcito investigasse o que sua miss�o constitucional lhe ordena investigar, noticiava sem o m�nimo espanto, e como se fosse a coisa mais normal e l�cita do mundo, que o pr�prio MST tem seu servi�o de espionagem, com �colaboradores informais� infiltrados nas For�as Armadas. Sem a colabora��o desses espi�es, como poderia alguma informa��o sobre o inqu�rito do Ex�rcito ter vazado, seja para os procuradores, seja para os jornalistas? Uma vez aceitas pelo seu valor nominal as den�ncias do di�rio paulista, estar� legalmente consolidado um estado de coisas que legaliza a espionagem esquerdista e criminaliza os servi�os de intelig�ncia das For�as Armadas. Se isso � apenas um esc�ndalo jornal�stico e n�o um golpe de Estado, ent�o as acep��es desses termos devem ter mudado profundamente sem que eu me desse conta disso. De todas as crises pol�ticas j� vividas por este pa�s desde 1988, esta � seguramente a mais grave. E o que a torna especialmente mais alarmante � justamente que transcorra sem nenhum sinal de alarma em torno, que toda a popula��o assista aos acontecimentos com a total indiferen�a de quem n�o percebe nem de longe o sentido do que se passa. Aqueles que imaginem que as grandes muta��es pol�ticas t�m de ser acompanhadas de an�ncios espetaculosos e intensa emo��o popular esquecem que foi precisamente numa atmosfera de indiferen�a e desconhecimento que se deu a derrubada do Imp�rio, inaugurando a longa s�rie de revolu��es e golpes de Estado que fez com que, ao longo do s�culo XX, o Brasil nunca tivesse mais de quinze anos seguidos de ordem e democracia.
|