Do f�rum ao jardim
Olavo de Carvalho
O F�rum da Liberdade, cria��o do industrial Jorge Gerdau Johanpeter e do Instituto de Estudos Empresariais, realiza-se todos os anos, em Porto Alegre, desde 1988. � o maior, o mais s�rio e o mais democr�tico c�rculo de discuss�es sociopol�ticas deste pa�s. No ano passado e agora, no dia 10 de abril, reuniu quase duas mil pessoas no audit�rio da Federa��o das Ind�strias do Rio Grande do Sul para ouvir pol�ticos, empres�rios, escritores e homens de ci�ncia, brasileiros e estrangeiros, de convic��es e tend�ncias diversas, que ali discutiam, num ambiente de liberdade e toler�ncia, temas essenciais para o desenvolvimento nacional. Como � obra de liberais, a coisa acabou por suscitar meses atr�s a inveja dos esquerdistas, que, sentindo-se humilhados em vez de lisonjeados pela liberdade que a� desfrutavam como convidados, decidiram fazer o seu pr�prio f�rum, com cinco diferen�as vitais: (1) recorreram ao dinheiro p�blico em vez de ater-se aos recursos privados; (2) somaram a isso o dinheiro estrangeiro, em vez de contentar-se com patroc�nio nacional; (3) negaram o direito de voz aos liberais que anualmente lhes franqueavam os microfones do F�rum da Liberdade; (4) inclu�ram na lista de convidados especiais alguns assassinos, genocidas e traficantes, um tipo de gente que n�o freq�enta o F�rum da Liberdade; (5) disfar�aram a ori$caricatural e imitativa de seu empreendimento sob as apar�ncias, desproporcionais e for�adas, de um >sav<pendant nacionalista do encontro global de Davos. Essa macaquice perversa chamou-se, como se sabe, �F�rum Social Mundial�. Em contraste com o original, que mal chega a ser mencionado na imprensa fora do Rio Grande, recebeu a mais espetaculosa cobertura do lobby esquerdista na m�dia nacional e internacional. N�o pretendo, ao dizer isso, corrigir a pauta da m�dia mundial. Pretendo apenas buscar a l�gica por tr�s do absurdo. E, nesse empenho, ocorre-me lembrar que, entre os documentos da KGB que despertaram curiosidade quando da abertura dos arquivos do Comit� Central do PCUS, um, em especial, foi e � sonegado at� hoje ao exame dos pesquisadores: a lista dos jornais e jornalistas ocidentais subsidiados pela espionagem sovi�tica. Alguns dados fragment�rios foram obtidos pelo escritor russo Vladimir Bukovski. Comprometiam celebridades social-democratas e as maiores editoras de jornais �progressistas� da Europa. Mas sua divulga��o, feita na It�lia, n�o vingou: foi bloqueada pela deflagra��o da �Opera��o M�os Limpas�, a qual, mediante eficazes acusa��es de corrup��o menor, logrou in$as lideran�as liberais e conservadoras para que se abstivessem de investigar aquilo que foi certamente o mais vasto empreendimento de compra de consci�ncias em toda a hist�ria humana. Ajudando assim os comunistas a escorregar para fora da linha de investiga��es, a c�lebre ofensiva moralista da magistratura italiana talvez contivesse em seu nome uma alus�o ao sabonete usado em an�logas circunst�ncias pelo mais escorregadio dos magistrados, o limp�ssimo P�ncio Pilatos. Estes fatos podem parecer muito distantes do assunto inicial deste artigo, mas d�o ao leitor uma id�ia da origem e das dimens�es majestosas do lobby esquerdista na m�dia europ�ia, id�ia sem a qual seria totalmente incompreens�vel a repercuss�o planet�ria de uma par�dia de debate encenada em Porto Alegre. Tamb�m n�o � despropositado notar que, ap�s a queda do bloco sovi�tico, a KGB, com seu nome alterado pela en�sima vez, continuou a funcionar normalmente, sem que nenhum de seus espi�es, esbirros e torcion�rios fosse punido ou sequer investigado por seus crimes. Ao contr�rio, o pr�prio Boris Yeltsin, o demolidor do bloco, deteve temerosamente sua marreta ante os muros da KGB, n�o s� refreando-se de fazer sondagens $mas consentindo at� mesmo em erguer uma est�tua a um agente da institui��o, celebrado como o espi�o sovi�tico que permanecera mais tempo infiltrado no governo dos EUA. Ainda na mesma linha de juntar dados para uma conclus�o � qual seria temeridade atribuir o car�ter de coisa certa mas covardia abster-se de admitir como hip�tese razo�vel, � preciso lembrar aquilo que disse um dos principais agentes da espionagem comunista no Brasil, o tcheco Ladislav Bittman, que a reparti��o para a qual trabalhava mantinha em sua folha de pagamentos uma consider�vel tropa de jornalistas brasileiros e subsidiava at� um jornal inteiro. Embora Bittman publicasse esses dados em 1985 (no seu livro �The KGB and Soviet disinformation�), at� hoje os pesquisadores acad�micos, sempre t�o ansiosos por desventrar �os por�es� da era militar, n�o mostraram o menor interesse em saber quem eram esses felizardos e que servi�os prestaram � espionagem sovi�tica. Mas, falando em desinteresse, n�o � menor aquele que a imprensa nacional demonstra ante o pedido de impeachment do governador ga�cho Ol�vio Dutra, que ser� votado ter�a-feira pr�xima na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a da Assembl�ia Legislativa do Rio Grande. Em contrapartida, as senhoras chiques de Paris s�o informadas, pela revista �Marie Claire� de abril, de que, gra�as ao milagre da administra��o popular dutrina, Porto Alegre � hoje � literalmen$� �um jardim�. Um jardim de democracia e igualdade. De fato � acrescento eu � s� um igualitarismo profundo pode ter inspirado algumas das iniciativas que levaram o governador Ol�vio Dutra a tornar-se, em pleno jardim, o alvo de um pedido de impeachment. Vou citar s� uma dentre dezenas. O Col�gio Tiradentes, da Brigada Militar, ocupa h� 12 anos os lugares de honra no >sav<ranking das melhores escolas ga�chas, segundo pesquisas dos jornais �Zero Hora� e �Correio do Povo�. Enquanto os alunos da rede p�blica estadual recebem 2.400 horas-aula por ano, os do Tiradentes recebem 3.200. A m�dia de aprova��o geral de seus alunos � 7; nas demais escolas, 5. Tudo isso feria doloridamente o esp�rito igualit�rio de S. Excia. e de sua secret�ria da Educa��o, L�cia Camini. Para dar fim a t�o intoler�vel estado de coisas, determinaram que o col�gio seria fundido com outra institui��o, tamb�m da Brigada Militar, dedicada � reeduca��o de oficiais condenados pela pr�tica de crimes graves. Deste modo, os alunos do Tiradentes, em vez de constituir uma odiosa elite a pairar soberbamente sobre este baixo mundo, ter�o a oportunidade de ser reeducados nos princ�pios do igualitarismo, recebendo aulas na companhia de estupradores, assassinos e ladr�es. Isso � mais que igualdade. � uma imagem do para�so b�blico: o lobo e o cordeiro estudando juntos no jardim de �Marie Claire�.
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