Explica��o terap�utica
Olavo de Carvalho
Por que o marxismo � uma doen�a da alma e por que os doentes fogem do tratamento
Quando digo que a honestidade intelectual � incompat�vel com a contamina��o marxista da intelig�ncia, n�o h� nisso nenhuma �tomada de posi��o ideol�gica�. H�, sim, a conclus�o de mais de 20 anos de estudos, durante os quais me abstive de opinar em mat�ria pol�tica justamente para evitar que uma �tomada de posi��o� falseasse minha vis�o do assunto. Uma das conclus�es a que cheguei � que n�o pode haver honestidade se o opinador n�o distingue, em suas id�ias, o que � conhecimento da realidade e o que � ativa interven��o nela: ningu�m pode escapar da ilus�o e da mentira se seus pensamentos s�o profecias auto-realiz�veis. Ora, no marxismo, especula��o e a��o v�m essencialmente confundidas porque ele rejeita in limine qualquer conhecimento puramente te�rico ou contemplativo. Para o marxista, a separa��o de teoria e pr�tica � �formalismo burgu�s�: s� podemos conhecer a realidade mergulhando de cabe�a no processo ativo de sua transforma��o. Essa id�ia penetrou fundo na mentalidade dos intelectuais e hoje impera, seja como dogma estabelecido, seja como pressuposto inconsciente, sobre todos os debates p�blicos neste pa�s ou onde quer que o marxismo tenha exercido uma influ�ncia determinante. Acontece que essa � talvez a id�ia mais enganosa que algu�m j� teve. Enquanto n�o a varrermos das cabe�as pensantes, n�o haver� honestidade, sinceridade e realismo em nenhuma discuss�o pol�tica ou cultural. A �uni�o de teoria e pr�tica� exerce sobre as consci�ncias um apelo muito forte porque nela reconhecem, instintivamente, sua pr�pria linguagem interior, ignorada pelo realismo frio das filosofias cient�ficas. Na esfera da alma individual, teoria e pr�tica s�o de fato insepar�veis. Quando tomo consci�ncia de um dado de minha realidade pessoal, o conhecimento adquirido se incorpora, imediatamente, a essa pr�pria realidade. O pregui�oso que toma consci�ncia de que � pregui�oso j� n�o � apenas um pregui�oso: � um pregui�oso consciente. A consci�ncia da pregui�a j� n�o � pura vis�o te�rica: ela age imediatamente sobre a realidade conhecida e a transforma. Ora, a escala do coletivo, do hist�rico, do social, que � onde o marxismo e seus res�duos afirmam resolutamente a uni�o de teoria e pr�tica, � precisamente onde ela n�o pode se realizar de maneira alguma. Supondo-se, por exemplo, que a vis�o marxista da classe prolet�ria fosse certa, nem por isso ela se impregnaria automaticamente na pr�tica das lutas prolet�rias como a consci�ncia da pregui�a se impregna na alma do pregui�oso. Entre a teoria na mente de Marx e a revolu��o prolet�ria no mundo real, algumas d�cadas de propaganda teriam de ser percorridas. N�o h� transmiss�o autom�tica dos pensamentos dos fil�sofos �s a��es da multid�o. Na verdade, 150 anos de marxismo n�o bastaram para met�-lo na cabe�a dos trabalhadores do mundo, malgrado os prodigiosos esfor�os da propaganda sovi�tica. Ao afirmar a unidade intr�nseca e essencial daquilo que s� pode ser unido por muito trabalho e artif�cio, o marxismo falseia, na base, os dois pilares da intelig�ncia humana: o conhecimento e a a��o. Quem quer que tenha se deixado levar pelos encantos do marxismo est� gravemente contaminado por uma mentira fundamental, que, se n�o for erradicada, acabar� por falsear todo o seu pensamento. S� que, como na escala individual consci�ncia e realidade est�o de fato unidas, a falsidade n�o ser� s� do pensamento: ser� tamb�m da personalidade, dos atos, da vida. Eis por que combater o marxismo n�o � s� combater uma �opini�o� como qualquer outra: � convocar de volta � autenticidade da vida seres humanos que alienaram suas exist�ncias no altar de uma farsa e que j� n�o sabem como sair dela. � psicoterapia, no sentido mais nobre da palavra. Se me odeiam por pratic�-la, isso reflete apenas o terror p�nico com que os fantasmas da neurose reagem ante a chegada da elucida��o terap�utica.
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