Aviso aos espertalh�es
Olavo de Carvalho
Tempos atr�s escrevi para uma revista um artigo sobre a espionagem chinesa no laborat�rio nuclear de Los Alamos. O presidente Clinton mandara abafar as investiga��es do FBI, ao mesmo tempo que agentes do seu Governo pressionavam est�dios de cinema para que retirassem de circula��o v�rios filmes, entre os quais "Kundun", de Martin Scorsese, e "Sete anos no Tibete", de Jean-Jacques Annaud, que denunciavam atrocidades chinesas no Tibete (um milh�o de mortos, �quela altura). O presidente dos Est�dios Disney confirmara, em entrevista, ter cedido �s press�es, segundo ele, para n�o prejudicar as negocia��es entre empresas americanas e o Governo chin�s. O artigo, embora n�o contivesse nada de novo e se limitasse a resumir coisas que eu tinha lido nas colunas de Thomas Sowell, David Horowitz e Joseph Farah, os melhores comentaristas da imprensa conservadora americana (que no Brasil, � verdade, ningu�m l�), suscitou esc�ndalo. Pessoas que achavam que entendiam do assunto julgaram-no excessivamente venenoso porque insinuava uma cumplicidade de Clinton com o militarismo chin�s para interpretar fatos que, segundo elas, podiam ser facilmente explicados pelos interesses comerciais dos EUA na China. Por esse mi�do acontecimento pode-se avaliar o quanto a classe letrada brasileira ainda est� presa � vis�o folcl�rica que cr� poder compreender toda a pol�tica exterior americana pela mistura estereotipada de comercialismo e anticomunismo que talvez tenha at� bastado para caracteriz�-la, grosso modo, durante um curto per�odo no p�s-guerra, mas que hoje se tornou apenas um pretexto para pseudo-intelectuais do Terceiro Mundo se apegarem a uma cegueira at�vica. Depois do caso de Los Alamos, muita coisa veio � tona. As liga��es da atual elite governante americana com o comunismo revelaram-se mais profundas do que o mais paran�ico dos mccarthystas podia ter suspeitado. O vice-presidente Al Gore, por exemplo, � filho do senador Albert Gore, cuja carreira pol�tica foi financiada pelo big boss do petr�leo, Armand Hammer. Hammer, que se gabava de ter Albert Gore "no bolso", foi um dos capitalistas ocidentais que investiram pesadamente na economia sovi�tica ap�s a revolu��o, ganhando muito dinheiro com a consolida��o da ditadura comunista. Amigo �ntimo de L�nin, ele sempre ostentou a imagem do puro capitalista interesseiro e sem ideologia: o prot�tipo mesmo do pragmatismo apol�tico que, durante o Governo Clinton, serviu de pretexto para justificar os favores concedidos � China, inclusive a absten��o de examinar ali as viola��es de direitos humanos, que em todos os demais pa�ses (inclusive o Brasil) o stablishment americano fiscaliza com olhos de �guia e denuncia com implac�vel rigor. Mas desde a abertura dos arquivos sovi�ticos essa imagem mostrou ser apenas uma m�scara de safadeza vulgar usada para encobrir algo de verdadeiramente sinistro: Hammer, segundo o provam documentos rec�m-publicados pela "Yale University Press", era de fato um membro oficial da rede de financiamento do Comintern. Seus neg�cios eram pura fachada de uma imensa m�quina de guerra sovi�tica contra os EUA. Um deles, um banco sediado na Est�nia, fazia a lavagem de dinheiro para o Partido Comunista americano. Outra empresa sua, a Allied Drug and Chemical Company, foi usada para furar o bloqueio econ�mico, passando � URSS produtos qu�micos vitais. Armand era filho de Julius Hammer, fundador do Communist Labor Party americano e m�dico condenado � pris�o pela morte de uma paciente durante um aborto ilegal. Gente fin�ssima. Logo ap�s a tomada do poder pelos comunistas, pai e filho foram viver na URSS, numa luxuosa mans�o da �poca tzarista. Tal � a origem dos recursos que fizeram de Al Gore um rapaz de futuro. Nos tempos em que os EUA ligavam para a moral e para o anticomunismo, essa hist�ria bastaria para vetar uma candidatura a juiz de paz no estado de Idaho. Mas o exemplo de Hammer � altamente instrutivo. Onde quer que voc� veja um capitalista advogando um pragmatismo aproveitador que -- por acaso, por mero acaso -- favore�a interesses comunistas ao mesmo tempo que contribui para impingir � opini�o p�blica a imagem do capitalismo como um regime c�nico, amoral e sem escr�pulos, � melhor investigar quem � que o "tem no bolso". H� quase um s�culo os comunistas possuem know-how bastante para lucrar duplamente com esse g�nero de prestidigita��es: ganham dinheiro e ainda enlameiam a reputa��o do advers�rio. Como a classe afluente no Brasil � prodigiosamente inculta e sem forma��o moral, � grande, neste pa�s, o n�mero de empres�rios pr�speros que se gabam de personificar uma s�ntese de ast�cia amoral e neutralidade ideol�gica que lhes parece o supra-sumo da modernidade. Quando pensam encarnar o esp�rito mesmo do capitalismo, n�o sabem que esse capitalismo foi inventado por L�nin e Armand Hammer. O outro capitalismo, o verdadeiro, � aquele que, segundo Adam Smith, necessita da honestidade como um peixe precisa de �gua; aquele que, segundo Alain Peyrefitte, tem por �nico fundamento a confian�a dos homens na lealdade de seus semelhantes. Querer praticar esse capitalismo sem uma firme convic��o moral e um firme compromisso pol�tico � querer dirigir um caminh�o em alta velocidade lendo ao mesmo tempo um exemplar da "Playboy". Os que pensam que podem faz�-lo imaginam que s�o capitalistas, mas n�o s�o: s�o os parasitas e estranguladores do capitalismo. Acreditando-se espertos, s�o os fantoches com que, no teatrinho did�tico da propaganda comunista, os instrutores ilustram para os aprendizes a li��o de L�nin: "Incentivar a corrup��o e denunci�-la."
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