Esconde-esconde
Olavo de Carvalho
No jogo da pol�tica nacional, dizer a verdade � proibido
Quando um nacionalista defende seu pa�s contra a Nova Ordem Mundial, ele luta por uma coisa que j� existe contra outra que est� apenas em via de existir, ou que s� existe pela metade. Defende, portanto, como Edmund Burke, o passado certo contra o futuro hipot�tico. Nada mais l�gico do que, nesse empenho, ele apegar-se aos valores e tradi��es que fundamentam a identidade nacional e buscar demonstrar que, acima e independentemente de toda promessa de um para�so globalista, eles merecem sobreviver. � isso o que fazem os advers�rios americanos da Nova Ordem Mundial. Argumentam que os Estados Unidos s�o uma rep�blica e n�o um imp�rio, que o globalismo coloca o pa�s sob o jugo de umas quantas empresas monopolistas, que a nova civiliza��o que se anuncia em escala planet�ria � a ant�tese dos valores judaico-crist�os que formaram a na��o americana. O que os revolta, sobretudo, � a nova educa��o p�blica, que, em vez de ensinar literatura, ci�ncia, Hist�ria e religi�o como antigamente, s� se ocupa de incutir slogans globalistas politicamente corretos na cabe�a das crian�as: j� n�o � educa��o, � engenharia comportamental. A maioria desses nacionalistas votou em Bush j�nior para n�o votar em Gore, o mundialismo encarnado, mas n�o perdoa a Bush pai ter transformado as escolas americanas em f�bricas de cidad�ozinhos globais. O nacionalismo americano, como a maioria dos nacionalismos, � de direita. No Brasil, por�m, n�o existindo direita ideol�gica, s� fisiol�gica, a apologia do globalismo foi incumbida de representar ad hoc o papel de direitismo, enquanto o discurso nacionalista era assumido pela esquerda. O resultado � um imbr�glio ideol�gico sem mais tamanho. Pois a direita, ao mesmo tempo que professa da boca para fora os valores tradicionais e religiosos associados ao passado nacional, aposta numa Nova Ordem Mundial que flagrantemente os destr�i. E a esquerda, ao mesmo tempo que combate essa Nova Ordem na esfera econ�mica, luta para implantar na educa��o as ideologias globalistas do multiculturalismo, da affirmative action, do feminismo e do movimento gay, diluidoras das tradi��es nacionais. N�o se trata, enfim, de uma luta pr� e contra a Nova Ordem Mundial, mas de uma pura disputa de lances no leil�o da identidade nacional. Nessa dupla hipocrisia, a da esquerda � mais inteligente. Pois seu nacionalismo � mesmo de fachada e sua oposi��o � Nova Ordem Mundial � propositadamente d�bia: combate as empresas globais ao mesmo tempo que luta para dar mais poder aos organismos internacionais e � rede mundial de ONGs, que � a multinacional da comedeira de subs�dios estatais. Os direitistas, por seu lado, aderiram a um globalismo f�cil por pura pregui�a mental, vendo nele o pretexto de um modernismo cor-de-rosa para apregoar o �fim das ideologias�. Julgavam que, com esse discurso, esvaziariam o ide�rio da esquerda. Esvaziaram foi o seu pr�prio, descaracterizando-se ideologicamente e entregando � esquerda, de m�o beijada, o monop�lio da circula��o de opini�es. O duplo engano, portanto, n�o � sim�trico. A direita engana-se a si mesma fazendo de conta que engana o advers�rio. A esquerda consente em fingir que se engana a si mesma, para mais facilmente enganar o advers�rio e o p�blico. A vantagem da esquerda nesse jogo � n�tida, mas, qualquer que seja o resultado final, o pre�o da aposta, de ambos os lados, ter� sido o rebaixamento do n�vel de consci�ncia da popula��o. Pois � um jogo de esconde-esconde, no qual a �nica coisa que n�o vale � dizer a verdade. PS.: No artigo da edi��o 166, esqueci dois detalhes importantes. Primeiro: o livro em que Mortimer J. Adler exp�e as t�cnicas da educa��o liberal tem edi��o brasileira � Como Ler um Livro, da Editora UniverCidade. Segundo: um de nossos maiores educadores, dom Louren�o de Almeida Prado, � adepto e praticante dessas t�cnicas, tendo-as usado com seus alunos no Col�gio de S�o Bento do Rio de Janeiro, com grande sucesso.
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