Embelezando as Farc
Olavo de Carvalho
Est�o tentando aliviar a m� impress�o do envolvimento com o tr�fico
A pris�o de Luiz Fernando da Costa num acampamento de guerrilheiros colombianos, com provas da troca de drogas por armas, foi talvez a coisa mais tem�vel que j� aconteceu para a esquerda nacional desde a morte de Carlos Lamarca e Carlos Marighella. Beira-Mar � um arquivo vivente das rela��es perigosas entre banditismo e revolu��o, e por isso alguns jornalistas, sempre ansiosos de vasculhar por�es e ralos para destro�ar a carreira de pol�ticos de direita, s�o t�o circunspectos e evasivos no que diz respeito ao traficante. Se ele soubesse algo capaz de incriminar Antonio Carlos Magalh�es ou Paulo Maluf, os rep�rteres o assediariam dia e noite. Como o que ele sabe � contra a esquerda, h� na imprensa quem chegue a protestar contra o destaque que a not�cia de sua pris�o mereceu em alguns jornais e revistas. Outros n�o se contentam com abafar not�cias: partem para a desinforma��o ativa. Segundo uma nota reproduzida em v�rias publica��es na semana passada, o representante do Programa das Na��es Unidas para o Controle Internacional de Drogas, Klaus Nyholm, teria dito que as Farc n�o atuam como traficantes de drogas, limitando-se a cobrar imposto �por toda a coca�na que sai do territ�rio colombiano�, e que as tropas paramilitares de extrema direita, estas sim, t�m envolvimento direto com o tr�fico, do qual obt�m de US$ 200 milh�es a US$ 500 milh�es por ano. A primeira dessas declara��es � aut�ntica, mas Nyholm a fez muito tempo atr�s, pois j� vem citada num artigo de Noam Chomsky de junho de 2000. Com data falseada, ela serve agora de amortecedor contra o impacto das provas encontradas com Beira-Mar. Mas a quem isso pode iludir? Mesmo que n�o participassem diretamente do tr�fico, as Farc seriam ainda mais criminosas que os traficantes, j� que os dominaram e reduziram � condi��o de s�ditos, tornando-se mandantes e benefici�rias maiores de seu com�rcio il�cito. Quanto � segunda declara��o, Nyholm simplesmente n�o poderia t�-la feito. Ningu�m que n�o pretendesse se autodenunciar como mentiroso ou retardado mental afirmaria que as Farc recebem imposto de �toda a coca�na que sai da Col�mbia� para, logo na frase seguinte, anunciar que uma parcela consider�vel desse todo vem do maior inimigo delas. Pois a� o infeliz teria de explicar se a extrema direita paga imposto � guerrilha comunista ou se inventou um jeito de burlar o Fisco. S� a vol�pia comunista de mentir pode tornar um jornalista t�o cego para a absurdidade pueril daquilo que inventa. No entanto, seria imprudente explicar pela sanha radical de indiv�duos isolados o vi�s esquerdista que deforma boa parte do notici�rio circulante. A situa��o reflete uma estrat�gia racional, consciente, empenhada na conquista dos meios de comunica��o desde a d�cada de 60, quando entraram no Brasil as id�ias de Antonio Gramsci, te�rico da �ocupa��o de espa�os�. J� em 1993 a CUT admitia ter em sua folha de pagamento nada menos de 800 jornalistas � o suficiente para produzir sete edi��es semanais de �poca! Somem a isso os que trabalham para o PT, o MST e as centenas de ONGs esquerdistas milion�rias (sem que nada de compar�vel, mesmo remotamente, contrabalance o fen�meno pelo lado da direita) � e ver�o a classe jornal�stica amplamente subjugada aos interesses de uma fac��o pol�tica que n�o prima pela transpar�ncia, seja de seus planos para a derrubada do Estado, seja dos meios de financiamento com que pretende realiz�-los. Malgrado suas alega��es de ��tica�, muitos jornalistas de esquerda est�o indo longe demais na pr�tica da regra leninista de que os fins justificam os meios. Alguns deles n�o t�m sequer consci�ncia de que o que est�o fazendo � mau e desonesto. Simplesmente identificam a direita com o mal e sentem que mentir contra ela n�o � pecado. Mas �mentir em prol da verdade� foi o pretexto entorpecente que levou muitos homens bons a colaborar com o genoc�dio de 100 milh�es de v�timas.
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