O direito de investigar
Olavo de Carvalho
Enfraquecer a Abin � dar ao PT o monop�lio da espionagem
J� que tanto se fala de arapongas, vale a pena lembrar
que o termo, extra�do de uma novela c�mica da Globo, entrou em
circula��o na pol�tica, uns anos atr�s, para designar n�o os agentes
secretos do governo, mas os de um servi�o de espionagem privado,
ilegal, mantido pelo PT sob a dire��o de um t�cnico treinado em
Cuba, o deputado Jos� Dirceu.
No entanto, se a Abin cometeu algum abuso, a exist�ncia mesma de seu rival petista � mais que abuso: � crime. A gritaria geral contra o abuso, j� que acompanhada de n�o menos geral sil�ncio no que diz respeito ao crime, tem por �bvia finalidade amarrar as m�os da autoridade constitu�da e conferir ao servi�o secreto ilegal o monop�lio dos meios de investigar. Se o governo aceitar esse jogo, acabar� transformando a Ag�ncia Brasileira de Intelig�ncia em Ag�ncia Brasileira de Burrice. N�o � nada imposs�vel que as informa��es reservad�ssimas veiculadas pela imprensa na semana passada tenham sido, elas pr�prias, obtidas por agentes petistas, numa opera��o montada para consolidar a superioridade da espionagem ilegal sobre o servi�o secreto oficial um avan�o formid�vel na montagem do poder paralelo preconizado por L�nin, que, segundo demonstrou Jos� Giusti Tavares no estudo Totalitarismo Tardio: o Caso do PT (Porto Alegre, Mercado Aberto, 2000), � a quintess�ncia da estrat�gia petista. Mas, al�m disso, � simplesmente obsceno aceitar como pressuposto indiscut�vel a afirma��o de que houve abuso por parte da Abin. Qualquer brasileiro que seja persona grata aos altos escal�es do governo cubano � suspeito de envolvimento numa estrat�gia revolucion�ria continental associada aos narcotraficantes colombianos e deve, no m�nimo, ser observado. Um governo que, sabendo da exist�ncia de uma revolu��o em marcha nas fronteiras, se abstivesse de investigar os poss�veis colaboradores internos da opera��o estaria simplesmente entregando o pa�s aos revolucion�rios. E o que muita gente est� exigindo do governo � que ele n�o apenas abdique de investigar os agressores, mas consinta docilmente em ser investigado por eles. No entanto, se nosso presidente, depois de tantas concess�es degradantes, fizer mais essa, n�o haver� nisso nada de estranho. H� s�rios ind�cios de que, seguindo estritamente a sugest�o que recebeu do cientista pol�tico Alain Touraine, ele prepara para o ano que vem uma guinada � esquerda, de modo a tornar-se o virtual chefe da transi��o brasileira para o socialismo. Que mais poderia ele querer dizer com a grande virada que anuncia para 2001? Eleito com o apoio suicida de liberais iludidos com a cantilena do fim do comunismo, ele parece n�o ter mesmo outro sonho na vida sen�o o de se tornar o Kerenski que deu certo. PS.: Um leitor acusa-me de ser avesso ao debate e para prov�-lo alega que respondi aos argumentos do doutor Borroni-Biancastelli. Mudou o conceito de debate ou mudei eu?
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