Um lindo casamento
Olavo de Carvalho
Capital monopolista e socialismo nunca foram t�o felizes juntos
Quanto mais o socialismo reconhece sua inviabilidade econ�mica e se v� obrigado a transigir com a iniciativa privada, mais ele se volta para a luta cultural, para a busca do dom�nio psicol�gico sobre as multid�es. Nos Estados Unidos e na Europa Ocidental a s�ntese j� est� tomando forma: economia capitalista, cultura e mentalidade socialistas.
Nada disso foi imprevisto. Em 1970 Leszek Kolakowski j� anunciava que o maior perigo do marxismo residia em seu potencial de destrui��o da cultura. O racioc�nio imanente � nova barb�rie era simples: se a cultura � superestrutura do dom�nio de classes, � obriga��o da nova era igualit�ria fazer t�bua rasa, destruir o patrim�nio milenar de id�ias e valores, substituir toda a bibliografia universal pelo Livro Vermelho dos Pensamentos do Presidente Mao ou porcaria equivalente. De outro lado, os economistas liberais nunca cessaram de denunciar o mariage de raison entre o socialismo e os monop�lios privados. Quem quer que entenda um pouco de economia sabe que o socialismo � imposs�vel. Ora, os grandes monopolistas entendem muito de economia. Sempre souberam que qualquer regime socialista acabaria dependendo da ajuda deles e, a m�dio ou longo prazos, se tornaria d�cil como um c�ozinho treinado. Socialismo � big business � desde que a oficina fique longe do escrit�rio, � claro. A globaliza��o da economia simplesmente mudou os termos do acordo de casamento. A antiga partilha territorial cedeu lugar a uma divis�o de trabalho: a milit�ncia socialista n�o toca na economia, os grandes grupos econ�micos d�o suporte �s reivindica��es esquerdistas que convenham a seus planos globais. A uniformiza��o mundial das legisla��es trabalhistas e dos direitos de imigrantes, o controle ecol�gico mundial, a dissolu��o de culturas religiosas tradicionais etc. � tudo isso � base suficiente para o mais harmonioso dos matrim�nios. Por isso, hoje, a esquerda � maci�amente financiada pelo capital monopolista internacional, com a vantagem adicional de poder posar de nacionalista em pa�ses perif�ricos onde o p�blico ignora essas coisas. No Brasil, por exemplo.
|