Em 1990, pronunciei na Casa do Estudante do Brasil , Rio de Janeiro,
uma conferência sob o título de "O fim do ciclo nacionalista". A tese
central era que a cultura brasileira, tendo como foco a busca e
afirmação da identidade pátria, não sobreviveria ao advento de uma
nova situação mundial marcada pela dissolução das soberanias nacionais
e por aquilo que viria a ser chamado de "multiculturalismo". O Brasil
havia chegado tarde demais ao palco da História e, excetuada a
inverossímil hipótese de um upgrade intelectual formidável, suas
elites seriam engolfadas por transformações mundiais que
ultrapassariam de longe a sua capacidade de compreensão. O Brasil como
unidade política autônoma estava em perigo de dissolver-se, sem que
suas lideranças fossem capazes sequer de perceber o que se passava.
Decorridos dezoito anos, a apropriação de parcelas imensas do
território pela narcoguerrilha colombiana, pelas gangues locais
intimamente associadas a traficantes estrangeiros, por "nações
indígenas" criadas em proveta nos laboratórios da ONU, pelos chamados
"movimentos sociais" a serviço do Foro de São Paulo - tudo isso mostra
que só tenho uma coisa a alterar no meu diagnóstico de 1990: os verbos
devem ser transpostos do tempo futuro para o tempo presente.
Sem dúvida, um dos principais fatores que contribuíram para transmutar
as minhas previsões em realidade foi a total apropriação do
nacionalismo brasileiro pelos movimentos de esquerda. O nacionalismo
de esquerda é uma criatura esquiva e bifronte, que finge defender a
soberania nacional só para mais facilmente subjugar o País aos
interesses de um movimento que é internacionalista na origem e nos
objetivos, e que aliás é sustentado pelas mesmas forças globalistas
que, da boca para fora, professa combater.
Toda e qualquer identidade nacional que signifique alguma coisa na
realidade, que não seja só um mito oficial, funda-se na consciência
histórica transmitida e reforçada de geração em geração, bem como nos
valores tradicionais que essa História incorpora e simboliza.
A"revolução cultural" gramsciana que se apossou do sistema nacional de
ensino há quase três décadas apagou totalmente essas referências
básicas, substituindo-as por um novo conceito de "nacionalismo" que
consiste na síntese de ódio antiamericano, chavismo militante e
multiculturalismo dissolvente.
Esse nacionalismo só serve para subjugar o Brasil aos interesses do
esquerdismo internacional, empenhado em "reconquistar na América
Latina o que foi perdido no Leste Europeu" e em integrar as nações do
continente numa unidade regional onde terão tanta autonomia quanto a
Ucrânia ou a Polônia tinham sob o jugo da URSS.