Chega de discuss�o Olavo de Carvalho
Deixemos de lado os mentirosos conscientes, interesseiros. Vamos falar dos outros. Qualquer jornalista, acadêmico, político ou formador de opinião em geral que, a esta altura, ainda insista em colocar em dúvida seja a existência, seja a importância e o poder do Foro de São Paulo, é com toda a evidência um incapaz. Sua presença no debate público só serve para entorpecer a inteligência da platéia e torná-la ainda mais lerda em perceber o óbvio depois de dezessete anos de hesitações e tergiversações imperdoáveis -- criminosas, na verdade -- à sombra das quais a mais poderosa organização subversiva que já existiu neste continente pôde crescer sem ser notada por um povo inteiro, que tinha o direito e a necessidade absoluta de saber tudo a respeito. Quando uma profusão de documentos de fonte primária, mais a confissão aberta dos personagens envolvidos e por fim, no III Congresso do PT, o reconhecimento oficial do Foro como central estratégica da revolução continental não bastam para convencer um cérebro de que a entidade existe e é terrivelmente influente, é que esse cérebro já perdeu a capacidade humana diferencial, que é a de perceber a realidade através da palavra, e conserva somente o dom simiesco de imitar com guinchados sem sentido a fala dos homens. Admito debater, com comunistas, o valor ou desvalor, os méritos e culpas do Foro. Discutir sua existência e sua eficácia política, seja com comunistas, seja com não-comunistas (ou anticomunistas), é uma palhaçada a que não posso me expor. Minha paciência com a mendacidade de uns e a psicastenia de outros tem limites, e estes já foram transpostos há muito tempo. Foi por pura generosidade e sentimento de dever patriótico que persisti oferecendo provas e mais provas quando elas já não eram mais necessárias a nenhuma alma sincera e a nenhuma inteligência normal. Agora chega. Nenhum dever de caridade, nenhuma devoção à pátria podem obrigar um estudioso a expor-se à última desonra intelectual. *** Também não discutirei a sinceridade ou insinceridade do sr. presidente da República quando ele proclama que seqüestros são abomináveis e que não tem simpatia pelas Farc. O sr. Lula é um mentiroso abjeto, e ponto final. Já citei vezes inumeráveis o manifesto de solidariedade integral que o Foro de São Paulo, sob a presidência dele, assinou em favor da narcoguerrilha colombiana, no qual toda oposição do governo de Bogotá a essa gangue de assassinos era condenada como �terrorismo de Estado�; manifesto de louvor ao abominável, a que se seguiu anos depois, quando o tipinho já estava na presidência, a recusa terminante de aplicar às Farc o mesmo rótulo que naquele documento se concedia à pessoa do presidente Uribe e de todos os que morreram combatendo as hostes de Manuel Marulanda e Raul Reyes. Já mencionei vezes sem conta a imediata mobilização petista em favor de cada seqüestrador ou terrorista estrangeiro que a polícia prende neste país. Para que continuar insistindo no óbvio ante os que não querem vê-lo e os que não têm nem a coragem nem a capacidade de enxergá-lo? Na Argentina os brasileiros são chamados de �los macaquitos�. Se aplicado à massa geral dos nossos compatriotas o apelido é injusto e difamatório, em outros casos � o da maioria dos formadores de opinião neste país � tudo o que ele tem de inadequado é o tom carinhoso do diminutivo. Macacos são, e dos grandes, sem o atenuante da idade tenra. *** Outra coisa que também já esgotou minha paciência é a constância obsessiva com que os temas inéditos das minhas colunas são reciclados, cinicamente, por opinadores iluminados que, sem jamais citar a fonte, vendem minhas idéias como fossem suas, reformatando-as, é claro, segundo o padrão de suas inteligências mal dotadas. Tornei-me o pauteiro oculto de uma multidão de criaturas vistosas. Os casos são centenas e já vêm desde 2001 pelo menos (v. Pauteiro da USP). Vou dar aqui só os dois exemplos mais recentes. Outro dia, o messianismo, conceito que aplico ao petismo com todo o rigor que aprendi em Norman Cohn , Luciano Pellicani e Eric Voegelin, reapareceu como artifício vulgar de retórica antipetista politicamente correta no artigo de Marcelo Otávio Dantas, �Messianismo e o credo petista�, Folha de S. Paulo , www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2312200709.htm . Agora, a contestação da vitória comunista na guerra do Vietnã, que os leitores do DC leram aqui em 7 e 14 de janeiro, reestréia com mais detalhes na coluna de Élio Gaspari do dia 16. Provavelmente Dantas e Gaspari, consultados a respeito, responderão que jamais lêem meus artigos. Claro: pessoas maravilhosas (no sentido que dei ao termo em O Imbecil Coletivo ) não lêem Olavo de Carvalho. Adivinham-no por genialidade espontânea.
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