Fariseu hipócrita
Olavo de Carvalho
O uso pejorativo da palavra “raça” para designar um grupo não racial é o inverso de um insulto racista, pois deprecia os elos raciais que o racismo, por definição, exalta. A expressão é pejorativa precisamente porque reduz a afinidade política, espiritual ou cultural entre os membros de uma comunidade a um mero parentesco biológico, como se se tratasse de um grupo de galinhas ou macacos. A intenção sarcástica se anularia automaticamente a si mesma se o falante, pensando como racista, considerasse a identidade racial um elo superior e não inferior àqueles que de fato unem o grupo. A expressão só é pejorativa porque não é racista. Qualquer pessoa que saiba ler tem de entender isso num relance, sem precisar nem pensar. Já expliquei isso dias atrás, mas agora notei que os detratores do sr. Jorge Bornhausen, além de lhe atribuir uma intenção racista incompatível com o sentido mesmo das suas palavras, ainda a explicam reiteradamente pela origem racial e geográfica do senador catarinense, fomentando o preconceito contra os imigrantes germânicos e contra um Estado da federação e cometendo assim eles próprios, da maneira mais inequívoca, o crime de racismo. Raramente a receita de Lênin, “xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz” foi posta em prática de maneira tão exemplarmente literal. Se o senador não os processar por isso, deixando fora da cadeia esses deliqüentes, terá se rebaixado à condição de cúmplice passivo de seus próprios difamadores, além de cometer a injustiça de punir só o primeiro deles e deixar à solta a multidão de seus cúmplices, que nem têm como aquele a escusa da emoção momentânea, já que escrevem em parceria, após longas deliberações coletivas. Penso aqui num deles em especial, o sr. Dalmo Dallari. Escrevendo no Jornal do Brasil do dia 9, esse jurista de palanque afirma que o sr. Bornhausen, ao designar seus inimigos petistas como “raça”, agiu “bem ao estilo dos nazistas quando se referiam aos judeus”. Mentira suja. Os nazistas jamais atacaram o povo judeu por ser uma raça, mas por não ser da raça deles. Nenhum nazista, aliás nenhum racista de qualquer filiação, jamais depreciou a identidade de raça enquanto tal. Fazê-lo seria deixar ipso facto de ser racista. E chega a ser comovente que esse coroinha intelectual do untuoso demagogo Dom Paulo Evaristo Arns, tendo feito carreira na ostentação de catolicismo, rotule de nazista o mesmo giro semântico utilizado por Jesus para qualificar seus discípulos relapsos de “raça de víboras”. Mas não pensem que a hipocrisia desse fariseu desprezível se contente com isso. No meu próximo artigo comentarei mais dois ou três feitos dele que igualam ou superam os do próprio marquês de Sader.
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