Fora do tempo
Olavo de Carvalho
Tenho dito e repetido, desde há alguns anos, que o socialismo como modelo econômico foi adiado sine die , que o movimento comunista internacional se diluiu ideologicamente de propósito para ampliar sua base de apoio e consagrar-se por inteiro ao objetivo imediato: a formação da aliança mundial anti-americana e anti-israelense. Não creio que seja uma coisa difícil de entender, nem problemática de averiguar. A idéia é simples e as fontes que a comprovam são muitas. No entanto, cada vez que volto a esse tópico, aparece alguém com a mesma resposta: �Não sou comunista, mas não quero os americanos mandando no Brasil.� O sujeito endossa a tese dos comunistas � que o �imperialismo americano� manda no Brasil --, toma partido deles na única luta em que estão empenhados no momento, e em seguida bate no peito verde-amarelamente: �Não sou comunista!� Mas quem está ligando para o cidadão �ser� comunista ou não? Tudo o que querem dele é que faça exatamente o que está fazendo: que acredite na balela oficial �anti-imperialista�, junte forças com a esquerda internacional, ajude a colocar o mundo sob o domínio da China, da Rússia e das ditaduras islâmicas e, em seguida, bata no peito, gritando: �Não sou comunista!� Muita gente pensa que ainda está no tempo de Charles de Gaule, em que era viável ser conservador e anti-americano ao mesmo tempo. Naquela época, a Europa disputava com os EUA quem teria a honra de ser o protetor da civilização ocidental contra o avanço do comunismo. Os americanos achavam os europeus uns ladrões, os europeus desprezavam os americanos como bárbaros iletrados, e ambos os lados estavam de acordo num ponto: ceder à Rússia e à China, nunca. Mesmo os governos islâmicos eram uma garantia contra o comunismo. Você tinha três maneiras de ser anticomunista: era americanista, gaulista ou muçulmano. Agora tudo mudou: a Rússia e a China não falam mais em �comunismo�. Deixaram isso para depois. Aliaram-se aos muçulmanos, ajudaram-nos a descristianizar, emascular e subjugar a Europa, e agora só têm um problema pela frente: destruir os EUA (e, de quebra, Israel). Enquanto não conseguirem isso, não voltarão a discutir �comunismo�. Para que haveriam de criar atrito com seus parceiros muçulmanos? Se o mundo será socialista, muçulmano ou socialista-muçulmano é assunto que só vai voltar à pauta quando americanos e judeus forem tirados do caminho. Para isso, a complexa parafernália da doutrina marxista sofreu um enxugamento brutal, reduzindo-se a um só item, capaz de unificar sem discussões toda a esquerda mundial: o �anti-imperialismo�, quer dizer, anti-americanismo. É aí que o brasileirinho entra em cena, gritando contra os EUA e jurando que não é comunista. Como se alguém estivesse ligando para a sua ideologia, para as suas crenças subjetivas. Idéias só importam quando estão em grandes cabeças. De microcéfalos só se espera que ajudem a fazer número, pouco importando as diferenças subjetivas que cada um carregue, para uso próprio, no seu cérebro entorpecido.
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