Recado ao general
Olavo de Carvalho
Escrevo estas mal tra�adas para comunicar ao general Jorge F�lix que captei perfeitamente a sua mensagem: com ou sem dinheiro por baixo do pano, as rela��es PT-Farc n�o s�o da conta da C�mara nem do Senado, n�o s�o da conta da Justi�a, n�o s�o da conta da m�dia, n�o s�o da conta da opini�o p�blica. S�o segredo de Estado. S� pode saber delas quem j� sabe, isto �, o pr�prio PT, as pr�prias Farc e, evidentemente, o pr�prio general F�lix e seus assessores. Quem, fora desse c�rculo de iniciados, ousar falar do assunto ou, mais indecentemente ainda, pedir uma investiga��o p�blica a respeito, incorrer� em crime contra a seguran�a da p�tria. Aviso pois ao general que ele nada tem a temer da minha parte. Cumprirei ciosamente meu dever primordial de cidad�o, que consiste em fechar os olhos, tampar os ouvidos e calar a boca. N�o sei se o PT recebeu d�lares ilegais das Farc e, patrioticamente, n�o quero saber. Vou at� mais longe. Antigamente, acreditei saber que a elite petista prestou �s Farc apoio contra o governo colombiano, acusando-o de �terrorismo de Estado�. Acreditei saber que alguns l�deres da narcoguerrilha foram h�spedes oficiais de um governo petista e, sob a prote��o das autoridades brasileiras, circularam livremente pelas ruas deste pa�s ao mesmo tempo que as For�as Armadas os acusavam, sem a m�nima repercuss�o ali�s, de atirar contra nossos soldados na fronteira. Acreditei saber que, durante mais de uma d�cada, n�o s� as Farc, mas tamb�m outras organiza��es notoriamente criminosas como o MIR chileno, seq�estrador de brasileiros, se reuniram anualmente com a c�pula do PT no Foro de S�o Paulo, sob a presid�ncia do sr. Luiz In�cio Lula da Silva e a orienta��o espiritual de Fidel Castro, para articular suas a��es numa estrat�gia comum. Todos esses conhecimentos, e outros do mesmo teor, n�o me pareciam duvidosos, pois os colhi em atas publicadas no site do Foro de S�o Paulo, depois retiradas do ar e por fim devolvidas ao conhecimento p�blico em vers�o expurgada, mas s� depois de eu as haver copiado no original e transcrito no meu pr�prio site. N�o obstante, a posse de tais subs�dios, por s�lidos e confi�veis que sejam, pode me induzir a alguma curiosidade pecaminosa quanto ao caso agora denunciado pela revista �Veja�. De que adianta o conhecimento, se ele nos induz � tenta��o e dana, se n�o a nossa alma, a nossa condi��o de bons cidad�os, fazendo de n�s traidores e r�probos? Renuncio, pois, �s informa��es perversas que at� ontem freq�entavam a minha mente insana e, purificado pela ignor�ncia, recolho-me a um patri�tico sil�ncio retroativo. Para tornar minha mudez ainda mais dignificante, confesso que acrescentei � minha indiscri��o de outrora o agravante imperdo�vel do falso julgamento moral. Aqueles conhecimentos de que dispunha me pareciam falar de crimes maiores do que uma mera contribui��o il�cita de campanha. Que eram cinco, dez ou cem mil d�lares, em compara��o com afagos, legitima��o e acobertamento moral oferecidos persistentemente a entidades envolvidas em narcotr�fico, seq�estros e homic�dios em n�mero incalcul�vel? Escrevi isso anos a fio, inclusive num seman�rio de circula��o similar � de �Veja�, e nunca fui processado nem acusado de crime contra a seguran�a da p�tria. No entanto, bastou levantar-se a hip�tese �dinheiro�, e instantaneamente o Estado, na pessoa do general F�lix, sentiu-se exposto, amea�ado, obrigado a fechar-se em copas num muro de segredos, como se fosse tempo de guerra. Admito, pois: fui mau brasileiro. Coloquei a vida humana, na escala de valores, acima do dinheiro, julguei a cumplicidade moral com o homic�dio em massa crime mais hediondo do que a vulgar safadeza financeira, fosse ela real ou imagin�ria. Tamanho descompasso entre a minha sensibilidade e a da na��o me desqualifica por completo para o trato de altos segredos de Estado. Doravante, quem quiser saber das liga��es PT-Farc, que n�o pergunte a mim. Mas tamb�m n�o posso recomendar que pergunte ao general F�lix. Ele n�o vai responder. |