Beba, sr. presidente
Olavo de Carvalho
O sr. Luís Inácio da Silva preside um país que mata três vezes mais gente por ano, em tempo de paz, do que os tiros e bombas mataram no Iraque desde o começo da guerra. Sua política econômica criou menos empregos para seus compatriotas do que o governo dos EUA criou para os iraquianos. Seus programas sociais fizeram menos pelos brasileiros pobres do que os americanos fizeram pela melhoria das condições sociais num país inimigo. Contra o crime e a violência, suas vitórias são nulas, sobretudo se comparadas às dos americanos no Iraque. Hoje em dia é mais seguro andar pelas ruas de Bagdá do que no Rio de Janeiro, em São Paulo ou no Recife, pertinho da cidade natal do nosso presidente. Foi com essa folha de realizações que ele se sentiu investido de autoridade para ir à ONU dar lições a George W. Bush. Não espanta que o aplauso dado à performance viesse sobretudo dos representantes daqueles países que prosperaram à custa da miséria e do terror implantados por Saddam Hussein. Essas pessoas ficaram revoltadíssimas com o fim da mamata e, compreensivelmente, acusam os americanos de haver entrado no Iraque com um intuito que, na mais depreciativa das hipóteses, foi igual ao delas. Ironicamente, elas mesmas deram a esse intuito um rótulo infamante -- “Trocar sangue por petróleo” --, sem perceber que carimbavam a própria testa. Quanto aos americanos, talvez também tenham trocado sangue por petróleo. Mas, mesmo omitindo que até agora nem um único dólar de petróleo iraquiano foi para o bolso deles, sendo tudo reinvestido em benefício do Iraque, ainda resta uma diferença: eles deram na troca o seu próprio sangue e o dos torcionários de Saddam. Franceses e alemães deram o de trezentos mil prisioneiros políticos iraquianos. Não derramaram uma só gota do seu próprio sangue nem investiram um único euro em programas sociais no Iraque. O presidente brasileiro foi aplaudido, sim, mas por uma assembléia de ladrões e espoliadores cínicos, tal como durante doze anos foi aplaudido, nas reuniões do Foro de São Paulo, por uma platéia de terroristas, narcotraficantes e seqüestradores -- o pessoal das Farc, do MIR chileno, do Movimento Revolucionário Tupac Amaru. Não direi que esse é o público que ele merece, mas, sem dúvida, é o que ele escolheu. Se perguntarem por que fez isso, direi que não teve alternativa: um pobretão do Terceiro Mundo, quando entra na política pelas mãos de patronos internacionais tão sujos quanto a Comunidade Européia, a ONU, Fidel Castro e a Fundação Ford, tem de passar o resto da vida desempenhando o papel de palhaço para o qual o designaram. E o aspecto mais pitoresco desse papel é que, servindo de instrumento à implantação de uma tirania burocrática em escala global, o ator tem de representá-lo dando a impressão de que faz exatamente o contrário, isto é, de que luta pela soberania nacional e pela autodeterminação dos povos. Tem de proclamar aos quatro ventos, com ares de profunda e sincera emoção, aquilo que sabe ser o inverso da verdade. Isso dói, não dói? Provavelmente não é justo acusar o sr. Luís Inácio de bêbado. Mas eu, se estivesse no lugar dele, não ficaria sóbrio um minuto sequer. Ninguém pode forçar tanto a consciência sem alguma anestesia. Fica pois aqui o meu conselho para o presidente: se o senhor não bebia, beba. Beba sem medo de ser feliz ao menos fora das horas de espetáculo. Não ligue para o Larry Rother. Ele não entende o seu problema. * * * A universidade brasileira é inimiga inconciliável dos militares e colaboradora do establishment globalista na destruição das nossas Forças Armadas. Sua recusa de cumprir a lei que garante vaga a soldados e oficiais transferidos é um ato de rebelião ao mesmo tempo criminoso e pueril, bem característico de uma instituição ridícula, cuja contribuição ao progresso do conhecimento é torrar dinheiro público para imbecilizar as novas gerações por meio de uma propaganda política abaixo de ginasiana. Mais uma vez me alegro de haver optado, na juventude, por levar minha vida de estudos bem longe desse templo da estupidez humana.
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