Tudo por um queijo
Olavo de Carvalho
A estrat�gia do movimento comunista mundial � hoje t�o complexa, t�o sutil, t�o abrangente, que suas pr�prias v�timas potenciais -- os capitalistas, incluindo nisto os donos da m�dia -- se prestam docilmente a colaborar com ela, por total incapacidade de apreender a unidade de prop�sitos por tr�s de uma alucinante variedade de t�ticas. Que um mesmo movimento explore, numa parte do mundo, os apetites sexuais da classe alta e, noutra, o atavismo reacion�rio de moralistas isl�micos enrag�s, eis algo que parece ao observador sonso uma hip�tese demasiado rebuscada para n�o ser pura teoria da conspira��o. No entanto ela � a simples aplica��o l�gica dos preceitos estabelecidos h� mais de quarenta anos por Herbert Marcuse, que para a m�dia ocidental foram objeto de curiosidade passageira durante as agita��es de 1968, mas que na elite comunista continuaram a ser estudados com muita seriedade. Os comunistas, tal como fizeram os nazistas, anunciam antecipadamente e com bastante exatid�o o que v�o fazer, mas a coisa sempre parece demasiado inveross�mil para merecer aten��o, e a piada invariavelmente se transforma em trag�dia quando sai do papel para a realidade. Uma revolu��o que em vez da unidade de interesses do proletariado se apoiasse numa massa heterog�nea de estudantes, milion�rios gays, esposas mal amadas, mendigos, prostitutas e fan�ticos religiosos parecia menos um perigo iminente do que um cap�tulo de "O Incr�vel Ex�rcito Brancaleone". No entanto o Ex�rcito Brancaleone hoje lan�a bombas sobre o edif�cio da ONU em Bagd�, em perfeita sintonia com seus agentes na m�dia ocidental, que imediatamente proclamam ser tudo culpa... dos americanos, � claro. A capacidade dos comunistas para a��es cont�nuas e de longo prazo contrasta da maneira mais acachapante com o imediatismo superficial das an�lises empreendidas pelos supostos "especialistas" acad�micos e jornal�sticos em que a classe empresarial deposita toda a sua confian�a. Poucos meses antes das elei��es de 2002, doze desses experts brasileiros e americanos entrevistados pelo Herald Tribune asseguravam, com certeza cient�fica, que Lula nunca teria mais de trinta por cento dos votos. Na mesma �poca, escrevendo na imprensa carioca, eu dizia que era absolutamente imposs�vel uma derrota do PT nas elei��es. Evidentemente, o louco era eu. E ningu�m desconfia que entre os tais experts podia ser t�o grande o n�mero de simples idiotas pomposos quanto de agentes de desinforma��o capacitados, bem pagos por organiza��es comunistas para amortecer os temores do advers�rio. � sempre assim. Quando os comunistas anunciam o que v�o fazer, aterrorizando suas v�timas potenciais, tudo o que estas querem � um desmentido que as alivie. Em troca de umas palavras tranq�ilizantes, d�o tudo. E pouco lhes importa de quem v�o comprar o al�vio. Como ratos de Pavlov, correm do choque para o queijo e, quando o encontram, ficam at� felizes de saber que vem da mesma fonte. V�em nisso um sinal reconfortante de que o dono do laborat�rio � seu amigo. Mas aqueles mesmos que em 2002 induziram o empresariado a um falso sentimento de seguran�a ante a for�a eleitoral da esquerda s�o hoje ouvidos com profundo respeito quando persuadem a classe propriet�ria a colaborar com um governo que, enquanto isso, discretamente, vai tratando de abolir a propriedade privada por meio de impostos progressivos inspirados numa receita criada por Marx e Engels em 1848. Quando a reforma tribut�ria for um fato consumado, ser� tarde para chorar. Mas, novamente, o errado sou eu. Com id�ntica circunspec��o, o governo vai montando sua parceria com Hugo Ch�vez, tal como anunciado por loucos em que ningu�m acreditou, entre os quais, evidentemente, o autor do presente artigo. E, ao planejar duas novas plataformas para a Petrobr�s, no valor de dois bilh�es de d�lares, faz a licita��o por meio de discretas cartas-convite, endere�adas a tr�s empresas de sua predile��o, furtando-se � concorr�ncia p�blica. A �nica hip�tese de que essa den�ncia do deputado Jo�o Caldas (PL-AL) venha a encontrar repercuss�o � que algum radical de esquerda, rompendo por ingenuidade patri�tica o sil�ncio da estrat�gia petista, ponha a boca no mundo. Como a nossa m�dia j� n�o admite alternativa ao governo de esquerda sen�o uma oposi��o de esquerda, a esperan�a de que a verdade prevale�a depende de que ela passe, apertada, entre as rachaduras do bloco esquerdista. |