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Leituras recomendadas � 72

 

Sele��o de artigos sobre o terrorismo

 

 

Atentado nos EUA

Luis Carlos Guedes

 

 O conhecimento, em suma, � o recurso essencial de destrutividade tal como � o recurso essencial da produtividade.

Alvin Toffler, em Guerra e Anti-guerra

As a��es terroristas realizadas em 11 de setembro de 2001 e que atingiram alvos e s�mbolos da na��o americana em New York e Washington, materializam uma nova etapa dos conflitos que est�o por surgir neste novo s�culo. � a era da �assymetric warfare� refletindo, de modo destrutivo, a assimetria do mundo de hoje.

O que assustou no caso atual foi a grandeza e intensidade do ataque contra o alvo � os Estados Unidos da Am�rica (EUA) � que h� muito tempo tem buscado formas de evitar esse tipo de ocorr�ncia.

O terrorismo � um modo de guerra aceito e usado por grupos ou na��es que entendem ser essa a maneira de lutar por suas causas. Condenado pela maioria dos pa�ses, essa forma de luta � considerada pela ONU crime contra a humanidade. Em todo o mundo, nos �ltimos 25 anos, em grandes atentados, cerca de 1.900 pessoas morreram v�timas do terror. Comparada a outras cat�strofes nos EUA, a� �blitzkrieg� terrorista de 2001 representar� perda e choque incalcul�veis. Em Pearl Harbor, marco na hist�ria americana, morreram cerca de 2.500 americanos e, em Oklahoma, marco mais recente, 168. S� em Nova York, haver� uma perda de algo em torno de 15 mil pessoas, segundo estimativas otimistas.

Nada na hist�ria da humanidade se compara a isso. Hiroxima e Nagasaki, trag�dias da II Guerra Mundial, estavam em outro contexto: havia uma guerra para ser terminada. As conseq��ncias foram t�o terr�veis que a arma at�mica nunca mais foi usada. No caso presente, � poss�vel que fen�meno an�logo aconte�a, isto �, que o terror volte a ser de �baixa intensidade�.

H� choque e perplexidade nos EUA. No cidad�o comum e nas esferas de governo.

Sem antecedentes a serem analisados, sem par�metros estabelecidos e condi��es de se prever qual ser� a rea��o do pa�s, podem ser levantados alguns aspectos que, com certeza, far�o parte das a��es a serem desenvolvidas para tentar esclarecer o ocorrido e, a partir da�, desencadear uma rea��o. Qualquer medida que o poder nacional dos EUA considerar adequada n�o ter� obje��o internacional.

Em primeiro lugar, n�o passou pela cabe�a de nenhum norte-americano, em especial daqueles que t�m a obriga��o de zelar pela seguran�a nacional, que um atentado de tal monta pudesse ser perpetrado. Mesmo no caso do Pent�gono, onde a hip�tese do uso de uma aeronave contra o pr�dio era considerada, n�o houve como estabelecer qual seria a defesa poss�vel. Em raz�o disso tudo n�o h�, no momento, condi��es de reagir ou de explicar. A primeira tarefa � estat�stica: quantos mortos? Quantos feridos? Quais os danos? O �quem foi� ficar� para mais tarde.

O assunto ser� tratado em clima de �crisis situation� e uma parafern�lia de hip�teses e situa��es v�o ser levantadas para se tentar achar um caminho para a solu��o do caso.

Em segundo lugar, as engrenagens do aparato de seguran�a e de intelig�ncia ser�o acionadas, em regime de urg�ncia, para a busca de dados e informa��es essenciais para a montagem e execu��o de uma rea��o. Nesse ponto, ser�o buscadas liga��es com os aliados a fim de que haja uma a��o conjunta para fazer ver aos autores ou mentores do atentado que o ato desagradou a todos e a press�o poss�vel de ser realizada tem car�ter mais amplo. O apoio aos EUA dever� ser total.

Ultrapassada essa fase, surgir� uma linha de investiga��o para explorar a possibilidade de quebra na corrente de apoios que permitiu a realiza��o das opera��es que resultaram nos atos terroristas. � prov�vel que, mais cedo do que se imagina, essa possibilidade seja realidade.

A magnitude da opera��o, sua coordena��o e execu��o, aparentemente quase sem erros ou falhas, permite a infer�ncia de que houve um planejamento minucioso e demorado. Este fato leva � conclus�o da necessidade do estabelecimento de uma extensa rede de apoio para que tudo sa�sse bem.

Dificilmente essa rede ser� t�o compacta que n�o permita uma ruptura ou vazamento por parte de pessoas que, apesar de convic��es pol�ticas, n�o tinham id�ia das conseq��ncias que a a��o provocaria.

Do modo como foi realizada, � prov�vel, ainda, que uma organiza��o tipo �celular� tenha sido usada pela mente (mais de uma, talvez) que montou a opera��o, de tal modo que as partes n�o tinham conhecimento do todo. Tal procedimento daria mais seguran�a �s opera��es e seria mais prudente. Em se confirmando essa hip�tese ser� mais dif�cil, mas n�o imposs�vel, chegar-se ao mentor principal.

Levantam-se suspeitas �bvias sobre radicais mu�ulmanos conhecidos. Admitem-se hip�teses de terror nacional, como Oklahoma. Nem uma, nem outra, neste momento encontram respaldo. � dif�cil crer que os terroristas ��bvios� corressem o risco de sofrer retalia��es proporcionais ao dano causado. Da mesma forma, n�o se tem not�cia de radicais norte-americanos ou ocidentais dispostos a morrer pela causa que defendem. Colocar a vida em risco, normal sob muitas circunst�ncias, � algo muito diferente de ser �kamikaze�.

Dif�cil, pela mesma raz�o, que membros dos grupos �anti-globaliza��o�, t�o capazes de manifesta��es violentas, chegassem ao ponto de imolar-se em nome de uma �ideologia� ainda n�o consolidada como tal.

Os terroristas t�m pouca chance de escapar em raz�o da condena��o internacional do ato. Ir�, Afeganist�o, S�ria, L�bia, por exemplo, j� se manifestaram oficialmente contra o ataque. China e Cuba, idem. Resta ver a rea��o de alguns outros pa�ses-chaves que poderiam transformar-se em santu�rio como o Iraque ou, ainda, algum pa�s africano.

De qualquer modo, a prevalecer esse sentimento de rep�dio geral, obter abrigo ser� muito dif�cil. Diante das not�cias que circulam nas ag�ncias internacionais o Iraque pode vir a ser um alvo compensador para as investiga��es. Se h� d�vidas quanto � capacidade (e coragem) de organizar a a��o, a presta��o de suporte financeiro n�o pode ser desprezada.

Pelo exposto at� aqui, seria l�cito admitir-se a hip�tese de que os mentores do atentado n�o assumir�o sua autoria, seja por medo, seja por outra raz�o qualquer. Tal possibilidade, embora il�gica por n�o permitir ganhos pol�ticos e, por isso, carecer de motiva��o efetiva, ajusta-se ao ineditismo, ousadia e conseq��ncias da a��o realizada. Outra hip�tese � o surgimento de v�rias �confiss�es� de responsabilidade com objetivo de auto-prote��o ou de desinforma��o. � �bvio que quanto mais respons�veis, menor ser� a possibilidade de rea��o.

Os EUA, por sua vez, n�o ir�o tomar nenhuma atitude de �cowboy�. Haver� muita press�o interna e muita discuss�o a respeito do caso. Haver�, sobretudo, uni�o. Partidos pol�ticos e outras desaven�as existentes no campo ideol�gico, em toda a sociedade, ser�o superadas em nome de um objetivo maior. N�o ser� surpresa se criminosos de dentro e de fora das pris�es movimentarem-se no sentido de auxiliar nas investiga��es. O �slogan� da CNN reflete o mote b�sico que impulsionar� o comportamento da sociedade: �AMERICA UNDER ATTACK �e, a�, tudo virar� esfor�o de guerra.

As ag�ncias de intelig�ncia, a CIA em particular, ser�o acusadas de �falta de previs�o�, apesar de gastarem muito dinheiro (algo em torno de US$ 30 bilh�es/ano). A m�dia repercutir� e aumentar� reflexos da opini�o p�blica. O caso vai ocupar manchetes no mundo inteiro nos pr�ximos dez dias, pelo menos. Haver�, tamb�m, uni�o em torno da busca de alcan�ar os culpados.

Levanta-se a hip�tese de aumento dos controles de aeronaves, aeroportos e pessoas. Tal fato ser� verdadeiro em um primeiro momento, mas n�o servir� para garantir nada. As empresas a�reas cujos avi�es foram seq�estrados t�m regras r�gidas de controle de passageiros e bagagens; os aeroportos de origem dos v�os do terror, da mesma forma, s�o (ou eram ...) seguros. Os terroristas, at� onde se sabe, usaram armas brancas (facas e/ou estiletes) para dominar as tripula��es e as aeronaves e lan��-las contra os alvos.

Outro ponto a ser considerado com rela��o aos controles sociais � o dogma americano que atribui � liberdade do cidad�o a grandeza da na��o e principal suporte da democracia e de seu modo de vida. � improv�vel, portanto, que esse princ�pio seja abandonado diante de uma amea�a sem rosto, perfil ou origem definidas.

Na verdade, por interm�dio desse ato, o terror estabeleceu novas regras para a guerra do s�culo XXI, ou melhor, colocou em pr�tica o que vinha sendo levantado como hip�tese desde o fim da guerra fria. Ficam, ainda, abertas as hip�teses do terror nuclear, do terror cibern�tico, do terror biol�gico, etc.

Ficam abertas, tamb�m, todas as portas da incerteza que caracterizam o mundo de hoje. Ficamos n�s todos ref�ns de pessoas ou grupos inconseq�entes (para dizer pouco) que julgam poder resolver seus problemas por meio da intimida��o e da a��o terrorista. Ao longo da hist�ria da humanidade tal comportamento jamais prevaleceu e jamais prevalecer�. Apesar de todos os defeitos do ser humano, a maioria absoluta ainda age como tal e despreza a viol�ncia parida da insensatez.

� muito cedo, por�m, para se ter uma real avalia��o das conseq��ncias da �blitzkrieg terrorista�. Seus reflexos atingir�o a todos n�s e, por esta raz�o, conduzir o processo de recupera��o do trauma ser� uma tarefa t�o global como � o mundo desse in�cio de s�culo.

* * *

Luis Carlos Guedes, � Cel R/1 do Ex�rcito. � formado em Pol�tica e Estrat�gia dos Estados Unidos da Am�rica, pelo� National War College, da National Defense University, em Washington, D.C.

 

 

O Mal L�gico

Martim Vasques da Cunha

 

Um dos assuntos mais interessantes - talvez o mais interessante - � o estudo na psicologia humana da apreens�o e compreens�o do problema do Mal. Esta quest�o � o que motiva o homem dedicado � vida do esp�rito a meditar dia e noite sobre as profundezas da Provid�ncia, mas, devido ao modo como a humanidade se esconde na carapu�a da apatia, essa percep��o mudou para algo isolado e sem quaisquer conseq��ncias - uma c�pia p�lida que enfraquece a pr�pria luta que o ser humano enfrenta dia-a-dia.

Tudo isso mudou no dia 11 de setembro - pelo menos nos Estados Unidos da Am�rica. Os americanos, com seu incans�vel pragmatismo, possuem uma vis�o do Mal em que se descarta qualquer l�gica pr�pria, qualquer conex�o com a realidade. Apesar de serem conhecidos como a na��o da paran�ia, com sua profus�o de conspira��es, os americanos s�o uns paran�icos de araque, como traduz bem aquele filme repleto de clich�s chamado "Matrix", em que a morte � virtual e a vida um mero arranjo de bytes.

Os ataques de 11 de setembro mostraram um outro Mal: articulado, preciso, sim�trico, cronometrado nos m�nimos detalhes. A primeira rea��o da Am�rica ao ver o primeiro avi�o se chocando na torre do World Trade Center foi de "Oh! Um acidente!". Somente  quando perceberam algo errado ao ver o segundo avi�o bater e ao saberem do avi�o que caiu no Pent�gono, Bush j� avisara de "um prov�vel ataque terrorista". O quarto avi�o que caiu em Pittsburgh foi a prova final de um ataque habilmente calculado, mas nada foi compar�vel ao desabamento das Torres G�meas. Aquilo n�o foi uma simples queda; foi a assinatura do Terror avisando que n�o existia mais nenhum limite.

Ent�o vieram outros detalhes: o aviso de Osama bin Laden dado tr�s semanas antes sobre "ataques sem precendentes nos EUA", o aparecimento de um tal de "Leo Phoenix" em um f�rum de discuss�es na Internet que tamb�m deu seus avisos no melhor estilo de Maom�, o detalhe que o World Trade Center ag�entava o impacto de um Boeing 737 e foi atingido por um 767, o que foi decisivo para o estrago; as rotas escolhidas - de Boston para Los Angeles (ou seja, pessoas do entreteinimento estariam nos avi�es - o que de fato aconteceu) e Newark para Los Angeles (em que teria passar obrigatoriamente por Washington) - somado aos n�meros dos v�os que, se adicicionar os algarismos, d�o 11, 12, 13 e 14 sucessivamente; e, claro, a cereja em cima do bolo, a data do dia escolhido, fruto de uma sinistra sincronicidade: 11 de setembro seria tanto o dia da Assembl�ia Anual da ONU como, se lido da maneira americana, � tamb�m o n�mero de emerg�ncia nos EUA - 911.

Ora, seja l� quem foi o estrategista deste ataque n�o se pode negar que dividiu o terrorismo em antes e depois e, de um modo muito macabro, transformou-o em uma obra de arte. Mas como essa no��o do Mal foi transformada? Existe uma explica��o simples para esse fen�meno t�o complexo: a partir do momento que o ser humano percebe que existe duas grandes for�as que rondam suas a��es, o Leviat� e o Beemote (os monstros que J� encara quando Deus quer provar sua magnitude), ele somente tem duas op��es: ou deixar essas for�as o dominarem, ou se entregar a uma for�a maior que pesca o Leviat� e doma o Beemote - no caso, o aprimoramento espiritual, que envolve luta e conflito, e que somente pode ser simbolizado de maneira completa na figura de Cristo.

E todos sabem que se existe uma coisa que o ser humano evita a qualquer custo � a possibilidade de uma luta mais profunda, mais vital. Logo, ele evita o aprimoramento espiritual; logo, evita a Cristo. Assim, d� ensejo para as duas for�as mundanas que o cercam e substitui Cristo pelos falsos profetas e sacerdotes ou ent�o por algo pior - o Estado, j� representado por Thomas Hobbes na figura do Leviat�. Dessa forma, o ser humano se amesquinha, se torna um mero componente de uma massa sem identifica��o, dependente de um meio que substitui sua luta espiritual e a verdade que tanto o amedronta.

Foi assim com o povo americano, j� est� sendo assim com o povo brasileiro. A prova disso � o que o Partido dos Trabalhadores est� fazendo em suas administra��es municipais e estaduais. Como bem falou o jornalista Daniel Piza em sua coluna de domingo no Estad�o: "O leitor N�lio Weiss lembra: 'No rol das acusa��es contra a gest�o Ol�vio Dutra, al�m daquelas por voc� elencadas, constam a cria��o de milhares de empregos p�blicos, a sonega��o sistem�tica de informa��es acerca do crescimento da viol�ncia, o direcionamento pol�tico da educa��o p�blica, etc.' [Piza falou em colunas passadas sobre o pedido de impeachment feito pela C�mara Estadual do Rio Grande contra o governador do PT Ol�vio Dutra em torno de den�ncias sobre favorecimento e superfaturamento em contratos com empresas de lixo. Esse mesmo fato j� foi discutido em artigos do fil�sofo Olavo de Carvalho. Nota do Autor] � verdade. E a falta de cr�tica ao governo ga�cho pode ser vista tamb�m nas reportagens sobre o Or�amento Participativo em S�o Paulo - com o qual a prefeita Marta Suplicy, cada vez mais enrolada em in�pcias administrativas, tenta agora reagir. Nada tenho contra canais diretos de reivindica��o de comunidades. Mas que n�o seja como em Porto Alegre, onde 80 l�deres comunit�rios decidem, num ambiente cooptado pelo partido, todo o investimento que a prefeitura pode fazer. Democracia ainda � governo da maioria".     A descri��o de Piza sobre as "coincid�ncias" que ligam as administra��es petistas tem estreita liga��o com o que vai acontecer em Campinas ap�s o assassinato de Antonio da Costa Santos. Agora com a prefeita Izalene Tiene - uma fiel disc�pula do deputado estadual Renato Sim�es da "Frente Socialista" do PT - Campinas ficar� inteiramente nas m�os de um partido que se preocupa apenas com ideologias que deformam a realidade e com projetos pol�ticos que iludem a popula��o para intensificar, de maneira dissimulada, a tomada ao poder. Esse novo governo que cuidar� da cidade substituir�o toda e qualquer discuss�o sensata sobre viol�ncia e seguran�a pelo favorecimento do Or�amento Participativo e de uma cartilha de lavagem cerebral disfar�ada de programa de governo. Tanto a prefeita Izalene como o deputado Sim�es se dizem crist�os, mas seu cristianismo � da palha dos fracos, que queima f�cil quando posto no mais t�nue dos fogos. Para eles (como para todo o resto do PT) a confronta��o e a cr�tica construtiva n�o fazem parte do seu pa�s das maravilhas gramscianas.

N�o bastasse isso, temos a declara��o do partido sobre os ataques terroristas nos EUA. Falam que repudiam o Terror, mas n�o hesitam em "alertar" que uma guerra n�o � a resposta certa. Ent�o, qual seria, s�bios estrategistas? Deixar tudo quieto enquanto o terrorismo vai ganhando espa�o com mais v�timas inocentes? Maquiavel dizia que a guerra s� pode ser adiada, nunca evitada. E essa foi uma guerra que foi adiada h� mais de 40 anos. Pode ser uma armadilha (e �), mas � a �nica forma que Bush encontrou para provar sua for�a e vencer o �dio obsessivo que os fundamentalistas xiitas t�m contra o Mundo Ocidental. Ao afirmarem que retalia��o � errado, os petistas e outros esquerdosos querem falar, por meio das met�foras que eles adoram, que os EUA devem ficar cada vez mais fraco, deixando crescer o monstro chamado Estado que nasceu de uma sociedade contr�ria a todos os preceitos de democracia e liberalismo americanos. O que esse pessoal quer � desordem pura e simples, seja aqui ou no outro lado do oceano.

Tanto os terroristas e o PT praticam o mesmo tipo de Mal, o Mal que sempre seguiu a humanidade e que agora reaparece com sua f�ria para, por meios mui misteriosos, devolver um pouco de ordem a este mundo. � um Mal perfeitamente l�gico, em que a simetria da ideologia n�o aceita as lacunas que a vida imp�e. Ambos n�o s�o fatos isolados; fazem parte de um processo hist�rico que ningu�m percebeu, pelo menos aqui no Brasil. No caso dos EUA, eles foram acordados por um estrondo. Como vamos sair desse torpor? Com o suspiro da morte?

 

 

A viol�ncia estudada, l� e c�

Paulo Brossard
Jurista, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal

Zero Hora, 17/09/2001

 

Confesso que nas minhas cogita��es, jamais considerei sequer como hip�tese o que ocorreu em Nova York e Washington, no sinistro dia 11 de setembro. O ato vand�lico n�o foi praticado por um Estado em guerra, mas supostamente por entidade materialmente distante e movida por fanatismo. O fato espantoso, menos pelos danos incomensur�veis que por seus requintes infernais, n�o teria se materializado sem que seus agentes diretos n�o houvessem selado um pacto com a morte. No instante da dantesca opera��o eles se consumiram no choque o no fogo. � um dado mais ou menos novo, embora se pudesse lembrar os camicases e os fan�ticos que em Israel, carregados de explosivos, atacam alvos escolhidos. De qualquer sorte, o fato ostenta esse componente brutal.

Desde o dia 11 tudo quanto poderia ser dito j� o foi e n�o vejo utilidade em redizer o que foi descrito e analisado. Serei breve, portanto, mesmo em face das dimens�es universais do fen�meno.

Limito-me a notar que, numa guerra, a despeito das conven��es tendentes � sua humaniza��o,  compreende-se que a viol�ncia seja inevit�vel e a destrui��o do inimigo o escopo. Mas a guerra agora inaugurada n�o tem lei e conven��es. Sua lei � sat�nica. Nem a precede sua declara��o. Da� por  que, embora os EUA tenham sido a v�tima imediata, o mundo se ergueu, em comovente solidariedade, para manifestar seu horror diante da brutalidade, at� porque ficou claro que nenhuma na��o pode estar segura em face da irracionalidade ululante da agress�o. Hoje foram o World Trade Center e o Pent�gono, mas amanh� poder� ser o Louvre, O Vaticano com  seus museus fabulosos, o Museu Brit�nico, o Pal�cio Pitti, a Tate Gallery ou o Metropolitan e a National Gallery. Enfim... agora a guerra � assim.

Ao lado deste medonho epis�dio, que encheu o mundo de inquieta��o e de pavor, dois fatos aqui verificados, segundo jornais que tenho diante dos olhos, me levam a coment�-los ainda que rapidamente, dado seu alto teor de nocividade e sua indisfar��vel  periculosidade social e institucional. come�o por dizer o �bvio, o que sucedeu em Nova York e Washington n�o foi o resultado de uma a��o improvisada, mas o fruto de prepara��o demorada e meticulosa, at� a execu��o terrivelmente exata. E o que vem sendo feito aqui, na calada da noite e � luz do dia, demonstra � evid�ncia, a a��o progressivamente ampliada de entidade que procede independente do Estado e a ele, certamente por suas omiss�es, se vai superpondo.

O  t�tulo de uma das not�cias diz assim: "Grupo � apontado por testemunhas como autor de execu��o a colono em assentamento de J�ia. Assassinato revela mil�cia do MST". A crer-se na objetividade da informa��o, mil�cia de um grupo privado se substitui,  por direito pr�prio, � Justi�a e aplica a lei capital, sem processo nem julgamento, como os grupos de traficantes. Diga-se o que se disser, o fato � de suma gravidade e evidencia como a entidade em causa, sem face, sem domicilio, sem personalidade jur�dica, sem dire��o respons�vel, depois de tornar rotineira a viola��o da lei  e de direitos humanos, chegou ao ponto de dispor de mil�cia capaz de praticar atos que nem o Estado, por seu Poder Judici�rio, poderia cometer. A not�cia foi estampada, com riqueza de pormenores.

A outra not�cia diz respeito � ocupa��o de �rea pertencente ao BC ou seja, � Uniao, no centro de Porto Alegre, ao lado do Minist�rio da Fazenda e da Agricultura. � ordem judicial de desocupar o im�vel esbulhado, e o esbulho � il�cito civil e penal, os autores do delito, 450 adultos e, sem falar nas  inevit�veis crian�as em n�mero de 68, responderam que "n�o houve nenhum aceno do governo �s nossas reivindica��es. Por isso vamos permanecer aqui at� termos uma resposta". E o Judici�rio que v� �s favas. A indiferen�a de uns, a covardia de outros, permitiu que essas coisas pudessem acontecer e repetir-se � face do Estado que parece fingir nada ter com o fato. Dir-se-�s existir despropor��o entre o acontecido nos EUA e o que se passa por aqui, e ningu�m o negar�, mas entre ambos existe uma comunh�o substancial, concretizada por grupos que se colocam acima da lei, nacional ou internacional, violando abertamente as regras do conv�vio humano. O alvo � agredir s�mbolos nacionais , l� e c�. Quem n�o se lembra da proteiforme agress�o cometida que por ocasi�o de celebra��o dos  500 anos do descobrimento do Brasil, da cena selvagem da destrui��o do rel�gio, da deforma��o da hist�ria brasileira em livros did�ticos, das tristes e in�ditas manifesta��es no 7 de Setembro? Dir-se � que estes fatos n�o seriam imput�veis ao MST, mas isto apenas revela que o trabalho de mutila��o  dos valores nacionais tem mais agentes al�m desse movimento, o que � igualmente grave.

 

 

Os 'Hashishim'

J.O. de Meira Penna
Jornal da Tarde, 17 set 2001

 

Segundo o Aur�lio, o termo assassino procede dos "comedores de haxixe" (uma esp�cie de maconha) que constitu�ram uma seita ismaelita, not�vel por seu pendor homicida, na P�rsia do s�culo 11. Ramo heterodoxo do xiismo, os "assassinos" eram seguidores de um fan�tico, Hasan ibn Sabbah, que, controlando fortalezas inexpugn�veis na S�ria e no Ir�, mataram em ataques suicidas o primeiro dos grandes sult�os turcos, Alp Arslan, e v�rios vizires - sendo finalmente eliminados pelas invas�es mong�is. Eles herdaram do xiismo uma cren�a extrema na obedi�ncia cega ou submiss�o (Isl�). Na paix�o e valor do sacrif�cio, com recompensa final no para�so de bem-aventuran�a que o haxixe proporcionava, eram fortemente influenciados pelo manique�smo que os proclamava �nicos servos do verdadeiro Deus, defensores do Bem e destinados a morrer numa "guerra santa" (jihad) contra todos os infi�is, cultores de Sat� - que ser�amos todos n�s...

No per�odo entre as duas guerras mundiais, quando o Isl� come�ou a ressurgir de s�culos de modorra e decl�nio, muitos observadores, atentos ao fen�meno do nacionalismo �rabe, apontaram para o fato de que o pr�prio Isl� � uma rea��o hist�rica dos povos do Oriente M�dio contra a civiliza��o greco-romana, posteriormente crist�, que se estendera com as conquistas de Alexandre. Hermann Keyserling foi o primeiro a comparar o nazismo ao fundamentalismo xiita. O reverso seria mais verdadeiro: o mesmo �dio, o mesmo pendor belicoso, assassino e suicida. Naturalmente, os povos orientais, turcos, indianos, indon�sios, malaios ou chineses que, nos mil anos da expans�o do Isl�, se converteram � mensagem do Profeta n�o herdaram a mesma tend�ncia antiocidental porque seus inimigos pag�os eram asi�ticos.

Mas no cora��o do fundamentalista xiita est� o inextingu�vel rancor contra a Europa e tudo que ela representa.

S� podemos explicar o furor irracional dos palestinos contra Israel porque � este uma cunha ocidental no pr�prio �mago do Isl�: os judeus foram traidores que ensinaram a Maom� tudo o que escreveu no Cor�o, mas recusaram a convers�o que o Profeta lhes oferecia. A posse da Esplanada do Templo em Jerusal�m � um s�mbolo da feroz ambival�ncia em rela��o � Cidade Santa das duas outras religi�es, embora o �nico t�tulo que ela possua seja a lenda que Maom� a visitou, montado no cavalo alado Barak, para de Deus receber a Revela��o. Mas n�o s�o as Mil e Uma Noites a obra de imagina��o mais desvairada e o que de mais eminente criou a literatura �rabe? Foi contudo a contamina��o do xiismo pelo dualismo iraniano e o manique�smo, acoplado com a paix�o suicida dos que desejam vingar a morte de Hussein (ano 680), filho de Ali, o genro do Profeta, tamb�m assassinado pelas rivalidades pol�ticas dos sucessores, o que explicaria essa f�ria sanguin�ria dos sect�rios. Os dados hist�ricos acima oferecidos procuram dar uma explica��o religiosa e psicol�gica dos motivos pelos quais o fundamentalismo isl�mico se transformou no mais perigoso advers�rio do movimento de globaliza��o econ�mica, pol�tica e cultural que se registra no novo mil�nio. Uma religi�o de cega "submiss�o" ao �mpeto assassino, como forma de cultuar o Deus da Verdade e eliminar os partid�rios do Grande Sat�, n�o pode sen�o recorrer a esse tipo particularmente nojento de combate.

Certo, o terrorismo n�o � unicamente isl�mico. No cerne da cultura da esquerda jacobina rom�ntica, gerada por esse outro falso profeta paran�ico que foi Rousseau, est� encravado o terrorismo. O Terror foi o produto da viol�ncia revolucion�ria da Fran�a de 1793. Tratava-se de purificar a Humanidade, cortando a cabe�a dos m�chants, dos ricos e poderosos que oprimem os "miser�veis". Uma cultura xiita, propriamente ocidental, acompanha a evolu��o da democracia pela m�o esquerda, literalmente sinistra, de mau agouro, funesta e mortal, da equa��o ideol�gica sob a qual vivemos. O terrorismo � sua arma predileta. Sobretudo agora que o poderoso suporte geopol�tico que o sustentava, a URSS, desmoronou de uma maneira menos ruidosa do que o World Trade Center. Terrorismo, o estamos descobrindo por toda a parte.

O mundo saiu da Idade das Guerras para penetrar na Idade do Crime. Fac��o Vermelha na Alemanha, IRA na Irlanda, ETA na Espanha, Farc na Col�mbia, Montoneros na Argentina, Che Guevara em Cuba e na Bol�via e os asseclas do Marighela que o Ex�rcito brasileiro desbaratou na d�cada de 70 s�o vers�es diversas, de variada virul�ncia, do mesmo fen�meno que Bin Laden representa no Oriente M�dio. Vide o recente livro A Grande Mentira, do general Aguinaldo Del Nero (Editora Biblioteca do Ex�rcito). Atualmente, o MST � o germe da nova transmigra��o. Lula, Ch�vez e Fidel j� se apresentam como os patronos do novo xiismo fidelista-bolivariano-tupiniquim. N�o me admiraria se, caso sobreviva, seja o milion�rio saudita convidado para encabe�ar o gigantesco "Foro Social" que o bigodudo governador ga�cho est� planejando para o pr�ximo ano. O marketing j� est� sendo preparado quando vemos uma locutora da tev� Cultura fazer a apologia da destrui��o do WTC, sugerindo que o "Grande Sat�" est� em decl�nio, eis que n�o consegue nem mesmo defender o cora��o de seu poder financeiro e militar contra sua pr�pria extrema direita - o que d� uma id�ia, ali�s, do tipo de informa��o que o MEC est� fornecendo � juventude brasileira. O fato � que, em todo o mundo e n�o somente entre os palestinos, a esquerda sinistra, totalmente irracional, exultou com o golpe "mortal" dado ao "imperialismo"...

Mas examinemos agora a rea��o ao atentado. A democracia liberal sofre, infelizmente, de sua pr�pria natureza tolerante. A impunidade � freq�entemente confundida com "direitos humanos". A explos�o de criminalidade em nosso pa�s resulta do pr�prio bom-mocismo governamental, sendo regularmente interpretada como resultante n�o da perversidade do criminoso, mas de v�rios �libis sociais e responsabilidade da pol�cia. O Mundo Livre sofre do mesmo mal. A imprevid�ncia e as falhas na seguran�a dos avi�es demonstram que, se suas autoridades foram apanhadas "descal�as" (with their pants down...), a culpa � do comodismo de uma pr�spera e pac�fica popula��o que n�o sofreu qualquer invas�o estrangeira, desde a guerra de 1812.

Como v�o os americanos reagir? Todos os potenciais inimigos dos EUA j� est�o humildemente se ajoelhando, pedindo condescend�ncia, inclusive o bravo Fidel! Bush fala ominosamente em retalia��o. Mas retalia��o contra quem?

Contra a Arg�lia, com um governo militar que luta desesperadamente contra fundamentalistas? Contra Gadafi, na L�bia, cuidadosamente calado desde o bombardeio de 1986 contra seu valhacouto de piratas a�reos? Contra o L�bano, a Jord�nia, o Egito, a Ar�bia Saudita, esta �ltima terra natal de Bin Laden, todos aliados dos EUA e sofrendo na carne os ataques de seus fundamentalistas ind�genas? Contra o Ir� dos aiatol�s, em luta interna de seu presidente eleito contra os extremistas religiosos? Contra a S�ria dos Hezbollah e do Jihad, inimiga implac�vel de Israel, mas sob nova lideran�a, mais moderada? Ser� contra o Iraque, onde permanece o d�spota presun�oso, duas vezes derrotado, mas continuando a desafiar a Otan com suas f�bricas secretas de engenhos nucleares, biol�gicos e gases venenosos? Contra o Turcomenist�o e o Casaquist�o, fronteiri�os do Afeganist�o? Contra o pr�prio regime machista mais detest�vel da �rea, o Taliban, que apedreja mulheres, destr�i monumentos budistas, mata a torto e a direito e acolhe o terrorista-mor? Provavelmente, este ser� "expulso" e se esconder� na regi�o montanhosa mais inacess�vel do Planeta, o Pamir. Como apanh�-lo? Vamos assistir, dentro em breve, a uma das mais extraordin�rias novelas de aventura do cinema, a n�o ser que Cabul compre sua seguran�a, entregando o criminoso.

Em princ�pios do s�culo passado, Theodore Roosevelt pronunciou uma frase famosa que, desde ent�o, tem sido interpretada para denunciar o "imperialismo" ianque: "Fale de mansinho e carregue uma borduna!" Quem melhor conhece a Hist�ria sabe que Cuba e as Filipinas foram por ele libertadas dos espanh�is e da arrog�ncia colonial europ�ia contida na Venezuela, Panam� e Rep�blica Dominicana. Os que temem o poder hegem�nico dos Estados Unidos ou cr�em em seu decl�nio est�o muito enganados. Na luta entre "o bandido e o mocinho", saiam da frente quando este se zanga.

Genocidas como Lenin, Stalin, Mao Dzedong e Polpot escaparam da f�ria.

Hitler e Tojo, n�o. O terrorismo � a nova forma, a mais covarde e horrenda de combate no novo s�culo. Mas aguardemos o revide do xerife do liberalismo e do capitalismo global...

 

J.O. de Meira Penna � embaixador, escritor e presidente do Instituto Liberal de Bras�lia e-mail: [email protected]

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