Leituras recomendadas - 64
Uma intentona e tanto Ronaldo Castro
H� algum tempo que as pol�micas em torno do professor Olavo de Carvalho nos divertem e nos enriquecem com seu inigual�vel brilhantismo intelectual. Um verdadeiro fil�sofo, sem a emp�fia dos jarg�es, a nos brindar em peri�dicos e pela Internet, com o mais fino dos temas filos�ficos, surgiu como num passe de m�gica, para horror dos �dolos de plant�o. Mas seu empreendimento filos�fico n�o se resume aos temas, ditos, espec�ficos da filosofia. Sua bondade intelectual nos propicia uma das mais profundas e cat�rticas an�lises da cultura que esse pa�s j� teve, conforme o best-seller O Imbecil Coletivo pode atestar. A cruzada que Olavo empreende contra a perigosa hegemonia ideol�gica esquerdista nunca foi respondida � altura. A esquerda n�o tem pensadores, qui�� fil�sofos, e nenhuma das quest�es que o professor Olavo denuncia, com objetividade e clareza escandalosas, foram respondidas. Quantas vezes, entre amigos, eu reclamei da mudez s�rdida dos intelectuais e dos fazedores de opini�o desse pa�s?! Orava para que algu�m pudesse dialogar com ele. Era triste ver qu�o solit�ria era a verdade. N�o reclamo da solid�o do professor, t�o j� afei�oado a ela, mas a solid�o m�rbida de todos os que se interessam pela verdade dos fatos e esbarram na ideologia, na mentira cotidiana da modernidade, da esqu�lida cultura juvenil que odeia o que ignora. Mas, passada a fase de entusiasmo, que sua socr�tica interven��o na cultura brasileira nos traz, pois o imp�rio da burrice maliciosa e arrogante ainda sobrevive, uma tristeza, ainda que terap�utica, substitui o encanto. � claro que n�o me refiro nem ao valor nem a qualidade das aulas do professor Olavo, mas uma suposta rea��o � elas. A mudez foi substitu�da por uma gritaria. Surge agora um grupo, dito cat�lico, que, ao contr�rio da esquerda brasileira, parece pensar e se coloca contra o projeto, devo dizer, pedag�gico do professor Olavo. A arrogante mudez coletiva da m�dia parece j� menos escandalosa que a balb�rdia inquisitorial que esse grupo dito cat�lico, repito, empenha. Um grupo, cujas cita��es em latim apenas douram um barroco podre, sente-se honrado de dispersar a unidade ineg�vel que o professor Olavo aponta entre as v�rias tradi��es espirituais da humanidade. Condenar o professor e a toda a sua obra de her�tica, justamente aquele que j� figura como um dos que mais fez pela dignidade intelectual de nosso pa�s, � uma outra maneira de apagar os sinais da aut�ntica espiritualidade em nome de um discurso can�nico m�ope, de um rigor anacr�nico, vazio de esp�rito. Artigos de um aluno do grupo fedeliano, arrotam uma pseudo erudi��o, espec�fica e afetada, cheia de sarcasmos e arrog�ncias, parecido, aparentemente, com o sarcasmo do pr�prio Olavo de Carvalho. � certo que alguns fedelianos tamb�m foram breves alunos do professor Olavo, mas, como a inten��o s�rdida de apreender-lhe apenas contradi��es j� dominavam seus cora��es, suas mentes n�o puderam apreender nada mais que um estilo, um dentre os v�rios. A cr�tica de Olavo ao Conc�lio Vaticano II, � infalibilidade papal, � equivocada generaliza��o sobre a gnose, esse espl�ndido conceito grego do conhecimento, � tratada como uma heresia digna das fogueiras. E os fedelianos se arrogam seus mais resolutos vestais. � sabido que, ap�s o Vaticano II, a nova missa n�o � um ato do sacerdote a quem o povo se une, mas um ato do povo a quem os ministros servem. Os altares foram transformados em mesas e isso, nem mesmo um fil�sofo deve dizer. Pelo menos � assim que pensam esses �guardi�es romanos�. Mas Olavo n�o pode e n�o deve ficar calado. A Teologia da Liberta��o n�o � um fen�meno sul-americano , nem restrito � Igreja Cat�lica, � ensinada em universidades americanas e europ�ias, disseminada na maioria das denomina��es protestantes e, acima de tudo, pelo Conc�lio Mundial de Igrejas. � not�rio que � uma tentativa de misturar ideologia marxista com os valores religiosos mais superficiais. O grupo dos fedeli � mais uma manifesta��o de nosso tempo: riqueza religiosa e pobreza espiritual. As an�lises de Olavo de Carvalho sobre a Igreja, sobre a religi�o s�o de uma clareza e bondade que falta at� mesmo � maioria dos pr�prios religiosos. Ningu�m tem a palavra definitiva, � certo, mas o caminho que se percorre j� diz muito, e a trilha intelectual que o professor percorre � de um ineg�vel brilho espiritual cuja rea��o �gnea dos seguidores de Fedeli realmente nos espanta. H� uma s�rie de quest�es sobre a Igreja que s�o de suma import�ncia para o fil�sofo discutir, para benef�cio n�o s� do povo, mas da pr�pria Igreja. N�o podemos esquecer que ela tamb�m � uma institui��o humana e que as solu��es que se buscam para os dilemas da humanidade, ainda que inspiradas, n�o s�o absolutas, pois seriam, ai sim, uma grande heresia. S� Deus � Absoluto. A Verdade deve ser buscada. N�o a encontraremos por decreto. Os que se dizem defensores da Tradi��o, especialmente os que o fazem com as tochas em punho, n�o podem esquecer que devem continuamente se manifestar a respeito do problema da mis�ria, e das cont�nuas contradi��es da humanidade. A busca do conhecimento, sendo a busca do sentido da vida, comunga de uma dimens�o comum com a m�stica. N�o se confunde com ela, mas n�o lhe � estranho. O div�rcio que o grupo fedeliano quer reeditar entre Ser e Conhecer, a�oitando-nos com dogmas literais, � no m�nimo um ultraje filos�fico. Mas creio que mandar a filosofia �s favas n�o � exclusividade dos fedeli, e a esquerda materialista agradece mais essa intentona.
Ronaldo Castro
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