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Leituras recomendadas – 77

 

A fala de FHC

Jos� Nivaldo Cordeiro

 

O discurso do presidente Fernando Henrique Cardoso na Assembl�ia Nacional francesa � muito aplaudido por sinal � foi amplamente noticiado na imprensa de hoje e dificilmente pode refletir os interesses mais s�lidos do Brasil. Pode ter arrancando aplausos dos franceses, mas FHC governa o Brasil. O discurso, que critica a a��o militar e diplom�tica dos Estados Unidos, pode ser apenas um gesto gratuito contra aquele governo, sem nada acrescentar para ampliar, seja o poder nacional brasileiro, seja a sua presen�a no cen�rio internacional.

O Brasil j� tinha perdido uma oportunidade hist�rica de se alinhar com os norte-americanos ao n�o estar na linha de frente contra o terrorismo, desde as primeiras horas. Ficou no termo morno, no muro de quem mais gostou que desgostou dos acontecimentos, na dubiedade dos fracos. Ent�o o discurso de hoje pode ser lido como um corol�rio daquela posi��o, diplomaticamente equivocada, assumida pela Chancelaria brasileira e pelo pr�prio presidente.

Mesmo abstraindo as quest�es morais � e n�o h� como ficar a favor do terrorismo � o governo brasileiro errou, por v�rios motivos. Em primeiro lugar, o terrorismo tamb�m nos amea�a e n�o h� como negar que a tr�plice fronteira ao sul pode ser um elemento de vulnerabilidade que pode colocar o pa�s como um facilitador de a��es terroristas. Em segundo lugar, porque, queiramos ou n�o, os Estados Unidos s�o os nossos melhores e maiores parceiros comerciais. Em terceiro, a proximidade geogr�fica torna o Brasil um pa�s que n�o pode fechar os olhos para os dram�ticos acontecimentos de 11 de setembro. Em quarto, como o grande pa�s da Am�rica do Sul, a posi��o pusil�nime assumida s� favorece a uma perda de lideran�a regional e do reconhecimento internacional.

Em resumo, a equivocada posi��o diplom�tica nos colocou na habitual situa��o de irrelev�ncia no cen�rio internacional.

E nada h� a justificar isso. O Brasil teria realmente que aprofundar e extrair da rela��o com os Estados Unidos os frutos de uma parceria estrat�gica, que n�o seria dif�cil construir se, do lado de c�, houvesse uma predisposi��o ideol�gica e intelig�ncia conduzindo as negocia��es. Em substitui��o a uma diplomacia mais eficaz, ficamos n�s perdendo tempo com pa�ses quebrados como a Argentina, que nada nos podem dar e que freq�entemente querem nos levar alguma coisa. Perdemos tempo com aplausos f�cil de pa�ses como a Fran�a, que t�m um recalque hist�rico contra a Am�rica, que n�o temos. Perdemos tempo com todas as causas perdidas da comunidade internacional.

� admir�vel a posi��o da Inglaterra, do Canad� e da Austr�lia, al�m do Jap�o e da Alemanha, que n�o hesitaram diante dos perigos do terrorismo, ficando do lado de quem estava a for�a moral. Ganharam em virtudes e tamb�m no fortalecimento dos seus interesses. Como � que o Brasil entrar� na agenda relevante se sempre busca a companhia dos irrelevantes e dos fracos?

Aqui � preciso frisar a coer�ncia ideol�gica do governante brasileiro. Fazendo coro com a esquerda internacional, come�a a ver nos gestos de defesa militar uma amea�a agressora, come�a a desqualificar uma a��o que defende n�o apenas pa�ses individualmente, mas o conjunto do mundo ocidental. O recente assassinato infame dos crist�os cat�licos em plena Missa no Paquist�o � emblem�tico do que estamos a viver. Est� em curso um choque de civiliza��es. N�o h� lugar para inocentes �teis, n�o h� meios termos. Ou se est� do lado de quem tem raz�o e vai vencer a parada, ou se est� contra. A posi��o morna n�o � duradoura nem recomend�vel. Infelizmente o Brasil, pela fala do seu presidente, parece que est� escolhendo ficar do lado perdedor e mesmo daqueles que s�o objetivamente os inimigos dos brasileiros, enquanto na��o integrante do Hemisf�rio Ocidental.

FHC poderia ter sa�do do governo sem esse opr�brio de acovardado, que n�o representa minimamente os interesses e mesmo o sentimento da maioria dos brasileiros. Fico a me perguntar com que cara ficar� o Brasil se um outro atentado de grande envergadura vier a ser executado. Voltar� atr�s sobre os pr�prios passos? Deixar� o dito pelo n�o dito?

Algu�m duvida que um segundo movimento ser� executado?