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Leituras recomendadas - 76

 

Artigos de José Nivaldo Cordeiro

 

 

Um funcion�rio p�blico exemplar

13 de outubro de 2001

 

Roberto Campos foi um homem de muitos m�ritos e muitos talentos. Muita gente escreveu sobre a sua rica biografia e sobre os fatos relevantes da sua vida. N�o quero aqui repeti-los. O �nico ponto que, penso, ficou relativamente esquecido, � o fato de Roberto Campos ter sido, toda a vida, um funcion�rio p�blico exemplar, que reformou o Estado brasileiro, que o representou dignamente nos f�runs internacionais, que ajudou a forjar institui��es que se mostraram decisivas na forma��o da industrializa��o e, de fato, colocou o Brasil na modernidade.

Por sua obra os brasileiros deveriam prestar-lhe as mais dignas homenagens, pois todos n�s devemos muito � sua criatividade, clarivid�ncia, capacidade de trabalho e coragem pessoal. Sei, todavia, que o preconceito difuso que os "progressistas" t�m contra os liberais impede que o reconhecimento de sua obra seja mais amplo.

N�o deixa de ser uma ironia que algu�m que sempre foi um arauto da livre iniciativa tenha sido um dos maiores estadistas do Brasil em todos os tempos. Sem a sua a��o talvez n�o tiv�ssemos conseguido construir o grande parque industrial que temos, uma economia urbanizada caminhando rapidamente para a supera��o de seus indicadores mais desfavor�veis.

� de gente como Roberto Campos que precisamos no comando das a��es do Estado. Infelizmente, patriotas com o seu preparo e a sua vis�o estrat�gica s�o raros. O que vemos mesmo � um enxame de populistas de esquerda, que acham que fazem o bem ao pr�ximo, e a si mesmos, exaltando o car�ter confiscat�rio e distributivista do Estado, algo que Roberto Campos sempre denunciou e combateu. Essa forma de ver o Estado s� leva ao caminho oposto do desenvolvimento e aumenta a pobreza, impedindo o pa�s de se desenvolver e os brasileiros de ficarem mais ricos.

Que Deus o tenha junto de si, esse grande brasileiro.

 

A greve das universidades federais

 

Todo ano � a mesma coisa: professores e funcion�rios das universidades federais entram em grave para obter novas "conquistas". � mais do que evidente que as reivindica��es que motivam a greve atual s�o descabidas, especialmente ao reajuste salarial. Falei motivam? � incorreto dizer isso. Essas pessoas t�m feito a greve pela greve, sempre com objetivos pol�tico-eleitorais e visando influenciar a opini�o p�blica para as suas bandeiras e os seus candidatos. H� muito a universidade foi aparelhada por grupelhos pol�ticos radicais, cuja marca registrada � n�o ter qualquer compromisso com o alunado, com o ensino, com a prepara��o dos jovens para a vida. Tentam, na verdade, prepar�-los para a revolu��o.

Tem muita coisa errada com a universidade p�blica, a come�ar pelo excesso de gente e de aposentados precoces, que de aposentados nada t�m: continuam a sua carreira produtiva em outro lugar, mas levando na maleta o contracheque integral como s�cio da massa tribut�ria que o Estado recebe. � evidente que nem um centavo desse recurso chega para qualquer aluno na forma de benef�cio educacional. � apenas um assalto aos cofres p�blico. E, toda vez que se tenta elevar os ganhos daqueles que est�o na ativa, o efeito cascata obriga que todos os aposentados tenham rendimento igual. Uma iniquidade e uma indec�ncia.

A raiz do mal na universidade come�a no chamado modelo de escolha de seus administradores. Universidade � um centro de saber e de produ��o de conhecimento, � qual s�o remetidos os jovens pela fam�lias na suposta esperan�a de prepar�-los para se tornarem a elite dirigente e cient�fica da sociedade. Ora, com o democratismo universit�rio, o que vemos � o aviltamento do seu papel, a equipara��o da opini�o de professores com a de simples serventes e outros trabalhadores bra�ais. A universidade deveria ser, por defini��o, elitista e meritocr�tica, devendo os portadores do mais alto saber ter a preced�ncia � e o poder, diga-se claro � dentro daqueles recintos.

O que vimos nos �ltimos anos foi o oposto disso, o aviltamento, a perda de respeito, o empobrecimento da cultura superior que leva as fam�lias a procurar alternativas a esses ninhos de grevismo e irresponsabilidade. Em lugar da cultura superior, d�o aos alunos ra��es requentadas de marxismo ultrapassado, com o claro objetivo de tornar os jovens militantes das causas revolucion�rios. � uma trag�dia que n�o pode ser minimizada, que est� comprometendo o futuro � e por que n�o dizer? � o presente de nosso pa�s.

Por sorte o Brasil est� sendo, a cada ano, melhor servido por mais e melhores escolas privadas de n�vel superior, repetindo o fen�meno que no passado houve com o ensino fundamental, quando as escolas p�blica dessa faixa de ensino foram sumariamente substitu�das em qualidade pelas escolas privadas. Ainda bem que isso est� acontecendo, pois do contr�rio nada ter�amos para colocar no lugar. � o mercado resolvendo os problemas criados pela incapacidade do poder p�blico.

Enquanto esse modelo de gest�o persistir, enquanto os professores universit�rios, antes de professores declararem-se militantes de partidos pol�ticos, enquanto funcion�rios subalternos e bra�ais tra�arem a pol�tica universit�ria, n�o haver� salva��o para essa institui��o. Cabe ao Governo Federal tomar as atitudes corretas e duras na dire��o certa. Tem que ser implac�vel com o grevismo, descontar os dias parados, responsabilizar reitores, professores e funcion�rios que se portam como agitadores profissionais, em preju�zo do pa�s, mas sobretudo em preju�zo dos jovens.

N�o haver vestibular para o pr�ximo ano letivo � um preju�zo colossal para toda uma gera��o que est� chegando ao n�vel superior, as grandes v�timas. O poder p�blico n�o pode permitir tamanha viol�ncia. � o tempo de ser firme e inflex�vel em defesa dos interesses maiores do pa�s.

 

Aleluia a Lula L�

8 de outubro de 2001

 

O jogo pol�tico tem algumas coisas incompreens�veis se observadas � dist�ncia. Quando, todavia, aproximamos as lentes para uma observa��o mais de perto, elas s�o plenamente compreens�veis.Digo isso a prop�sito do anunciado acordo do PL com o PT com vistas �s elei��es presidenciais. Como um partido socialista, o PT tem em seus quadros majoritariamente ateus, crentes na f� do materialismo dial�tico como ferramenta explicativa dos fen�menos hist�ricos e como motor da hist�ria. Para eles, a religi�o n�o passa de superestrutura ideol�gica para legitimar a domina��o de classe, nada tendo de transcendental e salv�fica. Numa palavra, � um engodo, uma ilus�o de tolos que persiste at� que os mission�rios da nova f� materialista imponham a sua verdade.

Algu�m poderia dizer que os padres e religiosos partid�rios da teologia da liberta��o (pfui!) ap�iam entusiasticamente o socialismo e o PT. � verdade, mas essas s�o ovelhas desgarradas, que de crist�os nada mais t�m, nem mesmo a casca. Deram tudo a C�sar e esqueceram da mensagem de Cristo.

Quanto ao PL, toda a gente sabe que virou uma legenda dos evang�licos, supostamente crentes na verdade revelada e inimigos declarados dos ateus e hereges. Qual � a l�gica? Como os opostos podem celebrar uma alian�a? Como o rebanho das ovelhas poder� nos com�cios cantar aleluia a Lula l�?

A resposta � bem simples e direta: � puro oportunismo pol�tico. Os opostos se d�o as m�os porque pensam assim chegar ao poder. Uma vez l�, a hist�ria seria outra. Certamente a governabilidade ficaria muito dif�cil com as posi��es dos aliados sendo absolutamente antag�nica quase que sobre tudo, exceto quanto � regulamenta��o dos hor�rios arbitr�rios dos gritos e urros de louvor, como a Dona Marta e seus aliados fizeram aprovar recentemente em S�o Paulo. Isso para desespero dos vizinhos dos templos que n�o t�m a felicidade de serem portadores da surdez.

A hist�ria � rica em contar o que os socialistas fizeram com os homens e mulheres de f� por onde passaram. Foi a destrui��o pura e simples, a persegui��o sistem�tica, o fechamento das igrejas, como est� a acontecer nesse momento na China comunista e que desde sempre aconteceu em Cuba. Ent�o podemos dizer que uma alian�a dessas passa ao largo da sensatez, � uma temeridade. � a assembl�ia das ovelhas elegendo o lobo mau para o cargo de pastor.

Mas em pol�tica � assim, � o reino do Tinhoso e as coisas mais surpreendenetes podem acontecer. A vontade de poder supera qualquer escr�pulo e passa por cima de qualquer princ�pio.

Aleluia, irm�os, e que Deus nos ajude a todos n�s.

 

As simplifica��es de Umberto Eco

7 de outubro de 2001

 

A Folha de S�o Paulo de hoje (07/10) traz um ensaio do escritor italiano Umberto Eco. � um texto sofisticado e muito bem escrito e tem o grande m�rito de n�o cair na esparrela marxista de tentar ver os acontecimentos hist�ricos e os fatos do 11 de setembro sob o �ngulo da luta de classes. Ele afirma: "Passemos agora ao confronto de civiliza��es, por que � essa a quest�o". Um intelectual aparentemente honesto, embora seu texto seja portador do mesmo veneno que outros escritores menos talentosos e menos cultivados destilaram igualmente: o relativismo cultural e moral.

N�o � f�cil fazer a exegese de um texto t�o bem feito, tendo que explicitar o que h� de errado com a sua forma engajada de fazer a defesa dos atacantes do Ocidente. � o que eu vou tentar fazer aqui.

Eco toma como mote e ponto de partida do seu ensaio a fala de Berlusconi, que afirmou a superioridade da cultura ocidental e crist� em rela��o � dos mu�ulmanos agressores e, como um intelectual engajado, compara-o a Bin Laden, "que talvez seja mais rico que o nosso primeiro-ministro". � claro que Eco v� na riqueza individual uma esp�cie de defeito cong�nito. Por isso que ele se preocupa "com os jovens porque a cabe�a dos velhos n�o se muda mais". Implicitamente, � preciso torn�-los semelhante aos Ecos espalhados pelos mundo.

Aqui, com mais eleg�ncia e arte, ele bate na mesma tecla em que bateram todos os �cones esquerdistas mundiais: que Bin Laden � rico, � reacion�rios e que, portanto, � equivalente aos seus iguais do Ocidente. L�, como c�, tem seus fundamentalistas radicais. O que est� errado com essa analogia? O fato de esconder que o Ocidente h� muito renunciou � guerra de conquista, � evangeliza��o dos povos n�o crist�os, que prega o ecumenismo e o Papa, possivelmente o maior s�mbolo da cristandade perante o mundo n�o crist�o, tem pedido perd�o e desculpas pelo passado de "erros" dos crist�os. Eco est� errado tamb�m por n�o se lembrar que os mu�ulmanos simplesmente consideram um profana��o que algum infiel pise no solo sagrado da Ar�bia Saudita, que n�o reconhecem o direito � exist�ncia dos diferentes, que o seu objetivo � construir um Estado teocr�tico mundial baseado no Cor�o, enquadrando todas as popula��es do planeta no obscurantismo em que est�o mergulhados.

Dito de outra forma: o Ocidente crist�o � tolerante com os diferentes, aceita-os, cultiva-os, recebe-os de bra�os abertos na sua terra, generosamente tenta lhe passar os seus conhecimentos e pratica a ajuda humanit�ria, indo as vezes � guerra contra crist�os que n�o respeitam esses valores, como no caso da Iugosl�via, defendendo os mu�ulmanos v�timas de genoc�dio. Alguns indiv�duos ocidentais, movidos pela mais generosa das miseric�rdias, v�o �queles rinc�es distantes de popula��es mu�ulmanas para ajudar e acabam freq�entemente sendo mal tratados e at� mortos pela ousadia de ir l�. Ent�o n�o � poss�vel comparar ambas as atitudes, que s�o diametralmente opostas. O Ocidente est� no s�culo XXI, os mu�ulmanos pararam no s�culo VII.

Quando Eco afirma que "As guerras de religi�es que ensang�entaram o mundo por s�culos nasceram de ades�es passionais a contraposi��es simplistas, como n�s e os outros, bons e maus, negros e brancos" esqueceu-se de dizer que esse � um cap�tulo superado no Ocidente, mas � a alma viva do Isl�, que se alimenta do �dio ao Ocidente, da m�tica idade do ouro que teria havida no passado em que a f� isl�mica dominava o mundo, na certeza escatol�gica de que o dom�nio pol�tico do mundo e a imposi��o, a ferro e fogo, dos preceitos do Isl�, ser� a instala��o do para�so na terra. E n�o passa de mera figura de ret�rica tentar justificar as a��es dos radicais isl�micos com os fatos hist�ricos do passado, � a relativiza��o da gravidade dos fatos e a oculta��o da sua hedionda imoralidade. De uma vez por todas � preciso ter em conta que n�o � poss�vel desfoc�-los (os fatos hist�ricos) do seu tempo e muito menos transport�-los para o momento atual. Do ponto de vista hist�rico, os fatos s�o o que s�o e n�o faz sentido enquadr�-los em um tribunal de inquisi��o. Nisso o Papa est� redondamente errado. N�o haveria do que pedir desculpas. Todos os agentes hist�ricos possivelmente culpados est�o mortos.

De forma correta Eco afirma que "A verdadeira li��o que se deve tirar da antropologia cultural � que, para dizer que uma cultura � superior a outra, � preciso fixar par�metros. Uma coisa � dizer o que � uma cultura, outra � dizer com base, em que par�metros a julgamos". S� que a sua argumenta��o parte para campos pass�veis de equalizar o Ocidente com o mundo mu�ulmano, fugindo dos pontos realmente fundamentais, que tornam o Ocidente positivamente superior. Ora, ir buscar na hist�ria os grandes feitos cient�ficos e filos�ficos do �rabes de nada serve para explicar o atual atraso cient�fico, filos�fico e tecnol�gico dos mesmos. � um argumento mal intencionado, mentiroso. E aqui n�o se trata de discutir quest�es teol�gicas relativamente �s quest�es ditas sagradas, mas como essas quest�es influem sobre o indiv�duo, sua liberdade, sua criatividade, sua afirma��o diante do mundo. "Os par�metros de julgamento s�o outra coisa, depende de nossas ra�zes, de nossas prefer�ncias, de nossos h�bitos, de nossas paix�es, de um sistema de valores nosso". Exato. Ent�o porque Humberto Eco n�o tocou na quest�o feminina, no sistema de Justi�a, nas liberdades individuais, na separa��o entre o poder pol�tico e o poder religioso, no princ�pio da sacralidade da vida individual e dos limites em que o Estado deve atuar, respeitando a privacidade do cidad�o? � isso o que verdadeiramente separa hoje ambas as culturas e o que torna o Ocidente muito superior ao mundo Isl�mico e nisso qualquer pessoa sensata tem que concordar com Berlusconi. Se uma corrente migrat�ria, por hip�tese, se estabelecesse de um pa�s europeu para o Oriente M�dio nem seria recebida e mesmo nem seria estabelecida: os indiv�duos seriam mortos em pouco tempo. O que dizer de uma Europa e uma Am�rica que n�o apenas recebem os mu�ulmanos, mas respeitam exaltadamente as diferen�as e aceitam o cultivo de suas tradi��es, mesmo sabendo que eles consideram o mundo judaico-crist�o o Grande Sat�?

Eco usa de expediente ret�ricos insidiosos para relativizar e igualar ambos os p�los, especialmente quando afirma: "Bin Laden e Saddam Hussein s�o inimigos ferozes da civiliza��o, tivemos senhores que se chamavam Hitler ou St�lin". Ora, esses dois �ltimos s�o a degenera��o do Ocidente, a sua pr�pria nega��o, enquanto os dois primeiros apenas s�o a encarna��o na forma de poder pol�tico do que pensam as massas isl�micas. � inaceit�vel colocar Hitler e St�lin como exemplos do ser ocidental. Eles s�o o seu oposto.

"� muita confus�o sob o c�u", afirma Eco, pois "parece que a defesa dos valores do Ocidente se tornou uma bandeira da direita, enquanto a esquerda �, como sempre, simpatizante isl�mica". Eis o ponto. A direita e as pessoas sensatas imediatamente perceberam a gravidade e a grandiosidade hist�rica dos acontecidos do 11 de setembro. Os esquerdistas continuaram a bater na mesma tecla, a de que o inimigo da civiliza��o e deles pr�prios s�o as for�as da ordem. Preocupados em tomar o poder pol�tico de assalto e enraivecidos por Bush ter vencido o seu candidato, perderam o timing e a capacidade anal�tica. Eco percebe isso e tenta chamar os seus companheiros ideol�gicos para a raz�o. Os esquerdistas n�o se aperceberam que as querelas pol�ticas paroquiais perderam relevo diante de uma amea�a real � nossa forma de ser. N�o falo aqui apenas da amea�a f�sica daqueles infelizes que casualmente estavam onde fizeram cair os avi�es e onde poder�o estar quando explodir o pr�ximo artefato de morte. Falo da perda, ainda que tempor�ria, das liberdades civis, falo do alargamento das dist�ncias, falo do muro invis�vel que foi instantaneamente constru�do entre n�s e os outros e tamb�m entre n�s mesmos.

"A defesa dos valores da ci�ncia, do desenvolvimento tecnol�gico e da cultura ocidental moderna em geral foi sempre uma caracter�stica das alas laicas e progressistas" (ele quer dizer esquerdistas). "Contr�rio foi sempre o pensamento reacion�rio (no sentido mais nobre do termo � pelo menos come�ando com a nega��o da Revolu��o Francesa � que se op�s � ideologia laica do progresso afirmado que se deveria voltar aos valores da Tradi��o". Isso � uma inverdade. Ora, Eco deveria dizer que sem a Tradi��o os valores superiores do Ocidente jamais teriam germinado e a sociedade aberta que constru�mos n�o existiria. Sem cristianismo n�o haveria capitalismo, e sem este n�o existiriam as liberdades individuais e a exalta��o do indiv�duo que conseguimos, a duras penas, construir. A liberdade consiste precisamente nisso, na liberdade individual, diante do Estado, da Igreja e de qualquer poder que se op�e � afirma��o individual. Eco esqueceu de dizer tamb�m que os intelectuais de esquerda perderam o bonde em 11 de setembro porque continuaram a ver fantasmas em lugar de fatos, a falar mal do capitalismo e da globaliza��o, quando na verdade deveriam enxergar que o perigo estava chegando no lombo dos camelos.

O autor finaliza o texto com uma invers�o total do que escreveu. O tempo todo ele mostra como os engajados quebraram a cara e perderam o timing. No final, todavia, afirma: "Os mais s�rios pensadores da Tradi��o... sempre se voltaram, mais do que para ritos e mitos dos povos primitivos ou para a li��o budista, para o pr�prio isl�, como fonte ainda atual de espiritualidade alternativa. Sempre estiveram ali a nos lembrar que n�o somos superiores, mas, sim, diminu�dos pela ideologia do progresso, e que devemos ir procurar a verdade entre os m�sticos sufis ou entre os devixes dan�antes". Ora, a Tradi��o consiste precisamente na defesa da Tradi��o, contra as concorrentes alternativas. Quem tem cultivado o ex�tico s�o precisamente os esquerdistas, que fizeram de elementos religiosos estranhos e ex�ticos instrumentos de propaganda para destruir a moral vigente e enfraquecer as for�as da ordem. Essa afirma��o � absolutamente falsa, como tamb�m � falsa a conclus�o que ele tirou:

"Nesse sentido, na direita est� se abrindo uma curiosa rachadura"

Deus meu, rachada e desorientada est� a esquerda em todo o mundo. � pat�tico ver, por exemplo, Tony Blair como mensageiro da guerra, sabendo que ele tem como eleitores precisamente as hordas esquerdistas do lema paz e amor e todos os simpatizantes orientalistas, que acreditam que as grandes verdades reveladas est�o nas civiliza��es atrasadas. A rachadura � na esquerda, que poder� inclusive encolher formidavelmente, at� porque os tempos n�o ser�o tolerantes nem com a dubiedade, nem com a tibieza e nem com a mentira. � o tempo de afirma��o da Verdade indel�vel e ela toda est� contida em nosso Livro.

 

Bin Laden n�o � o conselheiro

11 de outubro de 2001

 

Um dos coment�rios mais mendazes que li sobre Osama Bin Ladem est� na Folha de S�o Paulo de hoje (11/10), escrito por M�rcio Aith ("Cabul e Canudos evocam luta do bem contra o mal"). Esse autor tenta tra�ar um paralelo entre Bin Ladem e o nosso Ant�nio Conselheiro, personagem central do nosso infausto Canudos.

E por que n�o procede o paralelo? Por que em Canudos houve uma guerra civil, se � que podemos chamar assim. Foi um conjunto de mal entendidos de parte a parte que deu na grande trag�dia. Tudo que o Conselheiro e seus adeptos queriam era viver em paz a sua vidinha camponesa, paroquial, mas quis o destino que as coisas dessem no que deu. Canudos era um fim-de-mundo esquecido e seus habitantes jamais quiseram agredir ningu�m, desde que lhes deixassem em paz e respeitassem a sua cren�a. E, em hip�tese alguma, algu�m poderia colocar sobre ele a pecha de terrorista.

J� o saudita � o oposto de tudo isso. Tem o projeto de estabelecer um Estado isl�mico mundial; tem for�a e determina��o para combater a pr�pria civiliza��o ocidental. N�o obstante ser oriundo de um fim-de-mundo �, paradoxalmente, um globalista, que tenta construir um imp�rio. E ele acredita que o terror � uma arma que deve ser usada em todos os lugares e por todos os meios, sem qualquer restri��o moral.

O Conselheiro e seu povo apenas defenderam-se quando invadiram o seu pequeno mundo. Osama Bin Ladem, ao contr�rio, agrediu sensacionalmente o cora��o da Am�rica, em um ato covarde planejado com muita anteced�ncia, usando de conhecimentos militares requintados que o povo de Canudos nunca teve. Um ato de guerra.

Esse � um exemplo de coment�rio que busca equiparar os diferentes. Todos sabemos que a epop�ia de Canudos � algo que os brasileiros v�em com muita simpatia e piedade. Ser� que o autor tenta produzir esse efeito para os terroristas mu�ulmanos junto � opini�o p�blica? Espero que n�o, pois seria de uma indignidade sem tamanho. Espero que o texto tenha sido apenas um equivoco.

 

Giannotti ocultando o real

7 de outubro de 2001

 

Os �ltimos artigos de Jos� Arthur Giannotti publicados na grande imprensa at� que foram bem interessantes, ocasi�o em que denunciou a campanha pela �tica como um instrumento de luta pol�tica e afirmando que h� uma zona cinzenta na a��o pol�tica em que os termos �ticos n�o s�o muitos claros. Sinal de vida inteligente e de amadurecimento diante da vida.

O artigo de hoje (07/10), publicado no Caderno Mais! ("A oculta��o do real"), da Folha de S�o Paulo, todavia, devolveu o autor ao seu ninho. Al�m de ser fraco e pouco original, ele conseguiu em poucos par�grafos fazer algumas afirma��es insustent�veis. O maior dos absurdos foi louvar como atos de coragem a a��o dos terroristas suicidas. Eu tive a oportunidade, na semana que passou, de escrever especificamente sobre esse absurdo. O suic�dio j� �, sozinho, um ato de extrema covardia diante da vida. Feito para matar outras pessoas � um hedionda covardia. N�o h� virtude alguma no que fizeram: s� baixeza, tibieza, aleij�o moral, covardia. E n�o � poss�vel afirmar que esses suicidas sejam indiv�duos: s�o m�quinas no exato sentido do termo, instrumentos de outros para executarem tarefas que s�o sujas e dispendiosas. N�o eram mais seres humanos, pois perderam a capacidade de julgamento moral, o senso de propor��es, a piedade que � normal em um ser humano. Como fil�sofo profissional, � imperdo�vel que Giannotti tenha escrito essa bobagem. A coragem � altru�sta e objetiva obter algo superior. A baixeza moral jamais pode estar associada � virtude da coragem. Os atos do 11 de setembro foram exemplos da mais suprema covardia.

Corretamente o autor se pergunta: "At� que ponto essa guerra � ainda pol�tica? N�o se resume no combate de uma forma de vida contra outra, prestes a sufocar a pr�pria vida?" E conclui: "Restaura-se a antiga hip�tese segundo a qual o conflito entre as classes e os Estados teria sido substitu�do pela luta de morte entre civiliza��es antag�nicas". Nada a objetar, a n�o ser a conclus�o que ele tira de que, "contra o terror, o Estado se converte em Estado terrorista". � uma forma de acusa��o antecipada contra a a��o norte-americana de combate ao terror, em defesa dos terroristas. Essa mentira gratuita permeia todo o artigo e contraria os fatos, ocultando o real. O que vimos at� agora foi os EUA portarem-se de forma contida, irem em busca das investiga��es para fundamentar a sua a��o, exercerem a atividade diplom�tica no limite das suas possibilidades, a ponto de colocarem o Paquist�o entre os seus aliados. N�o houve vingan�a por parte das autoridades daquele pa�s. Se h� alguma forma de comportamento civilizado em tempos de guerra, podemos dizer que os EUA conseguiram isso. Contrariando a expectativa de muitos, n�o disparou um �nico tiro antes de concluir todo um ritual de convencimento da opini�o p�blica mundial e dos muitos governos pelo mundo, especialmente os governos dos pa�ses isl�micos. Podemos acusar a rea��o dos EUA de terrorista? Em hip�tese alguma.

Giannotti tenta equiparar Bin Laden a McVeigh e a ultra-ortodoxia judaica. Ora, McVeigh pode ter sido um delirante terrorista, mas a �nica coisa que ele queria era ter uma menor presen�a do governo na sua vida e na dos seus pr�ximos; o mesmo pode ser dito dos ultra-ortodoxos, pois tudo que estes querem � viver o seu modo de vida, sem querer submeter ou destruir o resto do mundo. Bin Laden e sua gang, ao contr�rio, tem o expl�cito prop�sito de exterminar todos aqueles que lhes s�o diferentes, em qualquer lugar do planeta, por qualquer meio. S�o genocidas. Isso muda qualitativamente a situa��o.

Como psic�logo, Giannotti tamb�m deixa muito a desejar. Ele afirma que "a hist�ria nos ensina que o militante se converte em guerrilheiro quando est� irremediavelmente acuado, quando os ex�rcitos em que poderiam se integrar foram desbaratados, nas mais lhe restando, para continuar a luta, do que se dispersar em pequenos grupos, tentando derrotar o inimigo pelas costas, pelos lados, nunca de frente". Ora, Bin Ladem e seus fundamentalistas mu�ulmanos de maneira nenhuma se enquadram nesse figurino. O distinto guerrilheiro � tido e havido como milion�rio, herdeiro de fabulosa fortuna na Ar�bia Saudita e possivelmente, se quisesse, teria l� um lugar de destaque nas for�as armadas. Ent�o a senten�a de Giannotti n�o se aplica a seu caso. Da� a receita inaplic�vel do autor para a solu��o do conflito: "O rem�dio ent�o � criar um espa�o em que a luta continue em termos civilizados e, por fim, se transforme em negocia��es democr�tica". Santa ilus�o! Se um Giannotti ca�sse no meio dos mu�ulmanos s� haveria uma maneira de sobrevier: dobrando-se sobre os joelhos v�rias vezes ao dia, com a cabe�a voltada para Meca, e as mulheres da sua fam�lia passando a envergar modelitos dos tempos da Virgem Maria. E, quanto � democracia, s� aquela que viabiliza o di�logo do chicote do Mul� com o lombo dos a�oitados.

Caminhando para a conclus�o do artigo, o autor faz uma afirma��o estarrecedora, justificando os atos terroristas: "O patriota mu�ulmano (como se ser mu�ulmano configurasse uma unidade pol�tica � JNC) que v� seu pa�s sendo dominado por uma corja de abrutes (o poder legitimamente constitu�do � JNC), Estados sendo criados e abolidos segundo os des�gnios dos vitoriosos das grandes guerras, n�o tende a voltar sobre si mesmo, encontrar sua pr�pria identidade nos segredos de sua f�?" Ele, como fil�sofo, deveria pelo menos lembrar que nenhuma situa��o do mundo justifica a aboli��o da moral, especialmente no que tange � sacralidade da vida.

E o que prop�e Giannotti? Sutilmente, a revis�o do Estado de Israel ("A hist�ria do Oriente M�dio teria sido diferente se o Estado de Israel n�o fosse criado, alargando a ferida que j� maculava suas rela��es com o Ocidente. Ser� poss�vel desbaratar as redes de terrorismo mu�ulmano sem fechar essa ferida, sem aterrar a fonte de frustra��o que gera terroristas em potencial?") como se isso fosse poss�vel, como se isso, consumado, n�o significasse a completa derrota do mundo ocidental, como se os judeus, residentes ou n�o em Israel, fossem aceitar passivamente uma solu��o desse tipo, t�o in�til quanto est�pida. Fico at� pensando se ele se deu conta da monstruosidade do que escreveu.

E para finalizar, como bom militante de esquerda, culpa a globaliza��o pelo conflito: "A chamada globaliza��o at� agora aprofundou as diferen�as regionais, relegando parte da humanidade � instabilidade ou � mis�ria permanente. Desse modo, globaliza-se as sementes do terror, cria novos b�rbaros capazes de amea�ar a tranq�ilidade das novas Romas". Ou seja, o culpado, em �ltima inst�ncia, � a pr�pria v�tima. Quem manda ser rica, tecnologicamente avan�ada e ainda servir de modelo para o resto do mundo?

O terrorismo fica plenamente justificado nesse artigo infame.

 

O inimigo de Wall Street

12 de outubro de 2001

 

Para quem gosta de escrever artigos definir o t�tulo � um momento importante do processo. Eu �s vezes fa�o-o e depois deixo fluir o texto. Quase nunca tenho que mud�-lo. �s vezes, fa�o o texto e depois defino o t�tulo. E, mais raro, fa�o o texto, defino um t�tulo provis�rio e fico me roendo, insatisfeito, pois acho que poderia ser melhor, mais fiel ao texto.

Para as linhas que abaixo foram escritas, o t�tulo que ficou definido foi uma das muitas possibilidades que me ocorreram. Pensei em "O Mentiroso"; outro foi "Uma Ode ao deus-Estado"; outro foi "O Estatista"; Outro, "O Lucrof�bico"; Outro, ainda, "O Bin Laden da Economia". Por �ltimo, "Um Candidato ao Pr�mio IgNobel". Os leitores podem, � sua escolha, substituir o que est� acima por um desses, porque, penso, at� que todos refletem, em maior ou menor propor��o, a id�ia central deste coment�rio.

Refiro-me ao artigo publicado na Folha de S�o Paulo de hoje (12/10), da lavra do rec�m ganhador do Pr�mio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz. O t�tulo do artigo � mais do que sugestivo: "EUA t�m de recha�ar fundamentalismo de mercado". Havia muito tempo que eu n�o lia algo de um economista de renome t�o anti-mercado e t�o pr� estatista. � claro que para conseguir essa proeza ele teve que cometer grandes absurdos de l�gica e falsificar a verdade dos fatos.

Fundamentalismo de mercado: � como se dissesse que as explos�es dos avi�es que fizeram desaparecer o World Trade Center tivessem como causa primeira a sociedade capitalista, a pr�pria v�tima, no caso. E que Bin Ladem fosse uma agente da transforma��o social, um gajo vingador das for�as submersas dos estatistas. A luta de vida e de morte que travam os partid�rios da livre iniciativa e os socialistas (essa � a palavra t�cnica para definir a posi��o pol�tica de Stiglitz) teve na elei��o de Bush um instante vitorioso para os primeiros, ficando os segundos na c�moda posi��o de franco-atiradores contra a nova estrutura de poder.

Stiglitz, todavia, e n�o obstante o laurel obtido, no curto artigo conjuga um amontoado de bobagens, dignas de ganhadores do IgNobel. Come�a com uma p�rola impag�vel: "H� um sentimento crescente de que talvez nos tenhamos equivocado ao dar �nfase demais aos interesses materiais ego�stas, esquecendo um pouco de compartilhar". O autor n�o percebe e n�o quer perceber que as empresas capitalistas s� o que fazem � compartilhar, que as trocas do livre mercado s�o a ess�ncia do compartilhamento da produ��o social e que sem esse compartilhamento as empresas simplesmente quebram. Se o distinto consumidor se recusar a compartilhar a produ��o de alguma empresa, uma abra�o, � caix�o e vela preta para ela, quebra. Basta ver o dram�tico exemplo que est� a acontecer com a ind�stria de avia��o civil e com o setor hoteleiro nos EUA. Sem compartilhar � quebrar. O consumidor tem o poder de vida e de morte sobre as empresas. Para elas, compartilhar � sobreviver.

O que o distinto IgNobel entende por compartilhar � que aqueles que trabalham, d�o duro e coisa e tal devem pagar mais impostos para que burocratas com Stiglitz possam gast�-los de acordo com os seus preconceitos. Isso � na verdade uma injusti�a, castiga quem faz a sua parte no processo e premia aqueles que n�o querem nada com o batente (menos) e os burocratas intermedi�rios das benesses do Estado (mais).

O homem bate duro contra a privatiza��o da seguran�a dos aeroportos, acusando-a, entre outras coisas, de ser culpada pelos atentados dos terroristas mu�ulmanos. Nas suas palavra: "N�o faz sentido privatizar uma �rea de vitral interesse p�blico como a seguran�a dos aeroportos. Os baixos sal�rios pagos aos agentes privados de seguran�a geraram grandes lucros. Linhas a�reas e aeroportos ganharam, a curto prazo, mas tanto elas quanto o povo dos Estados Unidos terminaram perdendo � e muito � como hoje sabemos, horrorizados".

Vamos analisar a cita��o por partes. 1- Afirma que os atentados e suas dram�ticas conseq��ncia para a ind�stria de avia��o civil foram causados pela privatiza��o da seguran�a dos aeroportos; 2- Os baixos sal�rios s�o tamb�m um elemento etiol�gico da trag�dia, tendo como v�tima os infelizes trabalhadores que os ganham; 3- Os grande lucros tamb�m s�o os culpados, agentes ativos que beneficiam os desalmados capitalistas; e 4- O povo americano foi a v�tima inocente desse processo de privatiza��o.

At� a pequena Maria, minha filha de quatro anos, sabe que a luta contra o terror � dif�cil e que esse se vale sempre e sempre do elemento surpresa, de dif�cil preven��o. Foi isso que aconteceu, numa a��o muito bem planejada, com muito tempo de anteced�ncia, que ningu�m e, sobretudo os �rg�os de Estado, a quem caberia antecipar-se, p�de prever. A responsabilidade sobre os acontecidos �, antes, da CIA, do FBI e das for�as de intelig�ncia como um todo, n�o dos coitados dos seguran�as dos aeroportos, que cumpriram � risca as determina��es emanadas do Estado, supostamente capazes de prevenir a��es do tipo. Se houve falha, foi do Estado e n�o das empresas privadas de seguran�a. E at� acho que n�o houve falha, os EUA estavam vivendo em paz, sem amea�a ostensiva e dentro de uma relativa seguran�a, mas isso n�o retira a falta de antecipa��o e de planejamento dos �rg�os de intelig�ncia do Estado, que s�o pagos para isso. Fosse eu um funcion�rio das empresas de seguran�a dos aeroportos, entraria na Justi�a contra Stiglitz, por cal�nia e difama��o. O homem �, de fato, um mentiroso.

Ora, dizer que h� baixos sal�rios � como se fosse uma arbitrariedade das empresas pratic�-los, e n�o uma realidade de mercado. Sal�rios n�o podem ser descolados da sua produtividade. Por defini��o, sem a interfer�ncia do governo e dos sindicatos os sal�rios praticados refletem o seu valor. � prov�vel que a taxa de sal�rios vigente nesse mercado fosse compat�vel com a necessidade de manter as tarifas dos bilhetes a�reos a um pre�o razo�vel, permitindo a prosperidade de toda a ind�stria, significando o bem-estar dos consumidores usu�rios desse servi�o. O sujeito que escreve uma opini�o dessa, com um diploma de economista laureado, s� pode ser considerado um agente da mais pura m� f�, pois supostamente n�o � um ignorante. Que diabos tem a ver os supostos baixos sal�rios com a vontade criminosa da terroristas? Simplesmente nada.

Falar dos lucros das empresas � apenas a express�o verbal do preconceito com que essa grandeza econ�mica � tratada pelos socialistas. � uma acusa��o gratuita, t�pica de engajados na guerra gramsciana de desinforma��o. Tamb�m nada tem a ver com o �mpeto homicida dos terroristas.

Americanos v�tima da privatiza��o? A realidade � exatamente o contr�rio. S�o, os americanos, o povo do mundo que melhor se beneficia da falta de presen�a do Estado na produ��o de bens e servi�os. Stiglitz est� t�o obcecado com seu �dio ao mercado que n�o enxerga o �bvio: que os americanos foram v�tima da vontade criminosa de tresloucados, que foram fazer a guerra em pleno solo americano. Essa � a causa primeira e derradeira do processo, todo o resto s�o quimeras das cabe�as espumantes do �dio de classe. � o mesmo que dizer que o ataque dos japoneses na Segunda Guerra teve como causa a privatiza��o de algum servi�o. S� um doido varrido para fazer uma afirma��o dessa.

Ele faz uma pausa para escrever alguns par�grafos contra os chamados "para�sos fiscais". Tudo que burocratas estatistas como Stiglitz querem � garrotear a livre circula��o de capitais pelo mundo, objetivando taxar os seus ganhos, o seu estoque (confisc�-los com algum tributo sobre a riqueza) e definir a sua aloca��o. Querem a implanta��o do socialismo mundial. Nem vou discutir essas sandices, que s�o t�o �bvias que n�o pagam o tempo. Fica o recado aqui que criminosos s�o os banqueiros e investidores de Wall Street, que s� pensam naquilo, ou seja, no lucro e reduzem o Estado, prejudicando a seguran�a. O homem �, de fato, um lucrof�bico, com a licena�a do neologismo.

Na seq��ncia ele acusa uma outra a��o de privatiza��o nos EUA, para uma empresa que faz enriquecimento de ur�nio (United States Enrichment Corporation � Usec). Nas entrelinha deixa claro que se algum artefato at�mico explodir pela m�o dos loucos de Al� ser� responsabilidade dessa empresa privada. Ele afirma: "Como p�de o governo levar adiante essa privatiza��o absurda sob qualquer ponto de vista? Ainda que a ideologia da privatiza��o seja parte do motivo, os interesses financeiros influenciaram o caso: a empresa de Wall Street encarregada da privatiza��o pressionou e lucrou, muito". Algu�m pode imaginar crime maior que esse, lucrar muito?

Penso que nem os mais xiitas dos economistas do PT produziriam um artigo t�o absurdo, t�o cego em rela��o aos fatos e t�o ideol�gico, no pior sentido da express�o. Uma verdadeira pe�a de propaganda socialista.

O artigo do homem �, de fato, ign�bil, no sentido dado pelos dicion�rios de l�ngua portuguesa � palavra. Alguns deles, a escolher: 1- Baixo, vil, desprez�vel; 2-Que n�o tem honra, vergonhoso, torpe; 3- Que possui pouco ou nenhum valor. Acho que qualquer das defini��es d�o muito bem a medida do conte�do do texto.

 

O PT e o socialismo

 

A Folha de S�o Paulo torna-se, cada vez mais, a porta voz oficiosa do Partido dos Trabalhadores. A edi��o de hoje dedica a p�gina cinco inteira do caderno A ao ciclo de semin�rios que o PT est� fazendo sobre a quest�o do socialismo, tema eternamente recorrente dentro da legenda. Mas acaba prestando um servi�o para aqueles que est�o fora da agremia��o. Algu�m j� viu a agenda dos encontros dos partidos da ordem publicada em destaque no jornal? Eu nunca vi. Isso � um privil�gio petista.

Interessante os temas da agenda:

Em 15/10 � A luta pelo socialismo no s�culo XXI

Em 22/10 � O negro e o socialismo

Em 05/11 � O meio-ambiente e o socialismo

Em 12/11 � A mulher e o socialismo

Em 19/11 � A religi�o e o socialismo

Ao lado da divulga��o da agenda, uma esp�cie de convoca��o para discutir o consp�cuo tema, est� uma entrevista com o organizador dos eventos, Ant�nio C�ndido. A entrevista vale por si. Ant�nio C�ndido coloca implicitamente o PT como o leg�timo herdeiro das bandeiras e t�ticas de luta do velho PCB. Perguntado pelo rep�rter se havia um descompasso entre a proposta de socialismo e a a��o pol�tica do partido para alcan�ar o poder, ele foi de toda franqueza:

"Sinceramente, n�o creio que haja esse descompasso. Para mencionar algo �bvio, em toda atividade pol�tica [Note bem: da esquerda no Brasil � JNC] h� dois n�veis, desde que n�o se trate de mero oportunismo. Dois n�veis que nem sempre coincidem exatamente, e o esfor�o deve ser no sentido de faz�-los coincidir o mais poss�vel. Assim � que o PT tem objetivos remotos, que podem ser resumidos como esperan�a de uma sociedade realmente igualit�ria... E h� os objetivos imediatos, ligados � conquista do poder para ter condi��es de tentar a realiza��o o quanto antes da esperan�a... N�o creio que isso esteja acontecendo com o PT, porque a cada oportunidade os seus �rg�os e os seus l�deres continuam afirmando os seus princ�pios e a sua delibera��o de caminhar segundo eles. Por isso costumo dizer que a pol�tica socialista � essencialmente bifocal, combinando a busca do futuro e a injun��o do momento num esfor�o simult�neo...� A nossa (dial�tica) consiste em modular a atividade pol�tica distinguindo bem o que � transit�rio e o que � alvo final".

Para quem conhece a hist�ria pol�tica do Brasil, as declara��es de Ant�nio C�ndido n�o cont�m nada de novo. A esquerda sempre foi bifocal, sempre mentiu em p�blico para ganhar votos, pousou de moderada, mas a sua lideran�a sempre quis implantar o socialismo. Este, todavia, s� se implanta pela via militar, pela for�a, pela aboli��o da ordem democr�tica. Socialismo � apenas um outro nome para totalitarismo. Ent�o podemos dizer que a franqueza de Ant�nio C�ndido consagra essa tradi��o de imoralidade, de tentar enganar o eleitorado para, chegando ao poder, fazer aquilo para o qual as urnas n�o deram mandato.

E n�o � surpreendente que as mesmas pessoas que usam essas t�ticas imorais sejam as que mais clamam pela �tica na pol�tica. Ora, eles s�o a pr�pria express�o da a��o pol�tica sem �tica, que fazem da mentira a ferramenta por excel�ncia para obten��o do triunfo eleitoral. �tica torna-se, portanto, um mero discurso, um disfarce, um instrumento de a��o pol�tica.

Um ser bifocal, bifronte, � um esquiz�ide. � o monstro disfar�ado de m�dico; � a fera disfar�ada de pr�ncipe. A luz t�nue que irradia esconde uma sombra violenta e sedenta de sangue. Onde as for�as bifocais assumiram o poder a mis�ria praticada n�o foi pequena e o totalitarismo triunfou.

A novidade � que isso � agora candidamente dito pelos dirigentes e publicado pelos grandes jornais, que se tornaram seus porta-vozes. Quem tem ouvidos para ouvir, que ou�a; quem tem olhos para ler, que leia.

E valha-nos Deus.

 

O t�nel do tempo

6 de outubro de 2001

 

Um dos efeitos colaterais dos acontecimentos do 11 de setembro foi mostrar ao mundo em que condi��es as popula��es mu�ulmanas vivem, seus h�bitos, seus costumes, seu modo de ser. A TV tem mostrado com farturas de imagens o cotidiano daquelas pessoas, t�o diferentes de n�s, ocidentais. Contudo, eles est�o menos distantes na geografia do que no tempo. Pelo tubo da TV como que fazemos uma instant�nea viagem ao passado, um retorno aos costumes que devem ter sido de toda a gente nos prim�rdios da Era Crist�. O que mais deprime � ver todo o sexo feminino reduzido � condi��o mais abjeta, equivalente ou inferior �quela dada �s bestas de carga.

O embaixador Meira Penna tem analisado essas diferen�as sob o �ngulo das rela��es entre os sexos como o motivador principal da hostilidade dos radicais isl�micos para com o Ocidente. Em excelente artigo ainda n�o publicado ("O Terror Isl�mico e a Revolu��o Sexual") coloca a quest�o em termos bastante originais, mostrando que, de fato, trata-se de um embate entre civiliza��es, n�o apenas entre os mu�ulmanos e as demais, mas sobretudo na rela��o arcaico x moderno. E o moderno tem seu cerne diferencial na rela��o entre os sexos. O que constru�mos no Ocidente em termos de liberdades individuais, igualdade jur�dica e pr�tica, igualdade de oportunidade e a efetiva emancipa��o feminina do jugo do macho, algo sem paralelo na hist�ria, amea�a qualquer outra forma de organiza��o social e, em especial, a islamita. Nas suas palavras:

Em conclus�o, podemos acentuar que a seriedade da problem�tica criada pelos Fundamentalistas, como infensos � modernidade, reside na recusa obstinada a superar seu machismo patriarcal, seus ressentimentos e seus impulsos homicidas. Em nenhuma outra religi�o ou sociedade pol�tica (no Islam, elas se confundem) a resist�ncia ao feminismo � t�o tenaz. Mesmo na Igreja cat�lica, � pouco prov�vel que as injun��es papalinas ainda persistam por muitos anos de aggiornamento. � um problema de rebeli�o contra a modernidade que poder� acarretar conseq��ncias funestas no futuro. A quest�o se relaciona, evidentemente, com o extremismo chauvinista do macho, sustentado em Escrituras religiosas arcaicas que agravam o dilema desses pa�ses quanto � integra��o � modernidade global - uma alternativa que poder� ser de �rdua solu��o. Chego a acreditar que o Islam vai configurar, neste s�culo, um dos maiores problemas pol�ticos e sociais da Humanidade. Se a esta obstinada resist�ncia � modernidade persistir e conduzir ao agravamento do fen�meno do Terrorismo de estilo "haxixim", a apartheid isl�mica poder� ensanguentar o mundo. Uma Jihad n�o est� fora das cogita��es.

Esse ponto de vista � consistente com a vis�o de psic�logo junguiano treinado que tem o nosso ilustre embaixador Meira Penna. E penso que, de todas, a sua an�lise � a mais precisa e que des�gua em uma encruzilhada que n�o permitir� meios termos: ou o Ocidente moderniza as civiliza��es arcaica, a� significando a emancipa��o feminina como aqui foi conseguido, ou os arcaicos mover�o contra ele guerra de exterm�nio sem quartel, por todos os meios, inclusive e sobretudo atrav�s de ataques suicidas, dada a inferioridade tecnol�gica em que se encontram.

� bom que n�o nos enganemos. O atraso tecnol�gico n�o lhes impede de ter acesso a artefatos de destrui��o em massa que poder�o causar mortic�nios indiz�veis. Eles n�o t�m grandes armadas, nem armas em quantidade, nem avia��o que ameacem as for�as normais de combate do Ocidente. Nem foguetes lan�adores de ogivas nucleares. Mas t�m o conhecimento suficiente para produzirem artefatos menores, quase artesanais, de grande poder de destrui��o, podendo ser transportados por um �nico homem disposto a morrer em sacrif�cio. � uma amea�a mortal, que dever� perturbar a exist�ncia cotidiana do Ocidente por muitos anos. Um pequeno artefato at�mico ou um pequeno avi�o pulverizador com armas qu�micas e biol�gicas podem destruir parcial ou totalmente um grande centro urbano. � um cen�rio de horror que est� na imin�ncia de acontecer.

A conclus�o que se imp�e � atravessar o t�nel do tempo, seja trazendo os b�rbaros para a civiliza��o, para o s�culo XXI, seja regredindo a uma situa��o pr�-moderna. � essa a escolha. Vacilar e fraquejar na guerra que se inicia poder� trazer o retrocesso. Perder a guerra significar� a perda das conquistas e dos valores mais desenvolvidos pela esp�cie humana, precisamente aqueles criados no hemisf�rio Ocidental.

 

Pobreza e terrorismo

9 de outubro de 2001

 

O megaburocrata James D. Wolfensohn, presidente do Banco Mundial, publicou na Folha de S�o Paulo de hoje (09/10) artigo intitulado "Pobreza merece coaliz�o mundial". Sempre que burocratas, grandes e pequenos, falam em pobreza, � preciso ter cuidado com a carteira. Quase sempre eles est�o mesmo � preocupados com o seu poder e a sua influ�ncia. Pobreza � um mero instrumento de afirma��o do seu pr�prio poder e um �timo instrumento de discurso legitimador. Da� porque sempre enxergarem que a supera��o da pobreza � tarefa do poder p�blico, ou seja, deles mesmos, e n�o do mercado e da a��o de cada indiv�duo. Se governos e seus burocratas fossem eficazes contra a pobreza, esta h� muito teria sido erradicada do planeta. A realidade mostra que isso � simplesmente falso.

Mas eu falava do artigo do burocrat�o. Considero esp�ria e completamente falsa a associa��o entre pobreza e terrorismo. Essa tese � um eco das teorias marxistas, que v�em na quest�o econ�mica a raz�o e o motivo dos fen�menos pol�ticos. Isso tamb�m � falso. E mais falso ainda � associar o niilismo moral, que se traduz no terrorismo, � mis�ria de quem quer que seja.

A prova mais �bvia de que o terrorismo n�o se alimenta da mis�ria est� no fato de que os chamados pa�ses ricos sofrem do flagelo do terrorismo desde sempre. Quem n�o se lembra de McVeigh nos EUA, ou do IRA na Irlanda e Gr� Bretanha, ou do ETA na Espanha e os mais antigos movimentos, como as Brigadas Vermelhas na It�lia e o grupo Baader-Meihoff na Alemanha? E dos recentes atentados no metr� de T�quio? Essas evid�ncias simplesmente nos revelam que n�o se sustenta a tese da mis�ria como causa etiol�gica do terror, uma vez que ele est� em todo lugar, � bem distribu�do por todo o mundo.

Ent�o qual � a raiz do terrorismo? Em primeiro lugar, a degeneresc�ncia moral de indiv�duos inescrupulosos, que fazem qualquer coisa para estar no centro do poder. � esse fasc�nio que est� na raiz de tudo e mostra que os ensinamentos milenares das tradi��es religiosas enfraqueceram para aquelas pessoas, eliminando qualquer sombra das virtudes superiores. Em segundo lugar, a prega��o das teorias revolucion�rias, que prometem o para�so na terra (e no c�u, no caso dos mu�ulmanos) aos que se engajarem na sua viol�ncia pol�tica. E aqui est� claro: os manuais marxista-leninistas s�o a base te�rica e o instrumento de doutrina��o da juventude, o catecismo para a forma��o dos futuros terroristas. Em terceiro lugar, o fanatismo religioso, mais das vezes combinado com a prega��o marxista-leninista, cujo prop�sito � arregimentar militantes para algum lun�tico aventureiro, a la L�nin, que se proponha a tomar o poder pela for�a, atropelando o pr�prio destino. Aqui tradi��o e religi�o n�o passam de meros discursos para a elabora��o de apelos emocionais, de grande resson�ncia em popula��es onde h� homogeneidade de uma tradi��o e um enraizado conservadorismo.

Vendo as po�ticas e tristes fotos publicadas na mesma edi��o da Folha de S�o Paulo, dos afeg�os em fuga, com seus burricos carregados com suas mulheres e seus pertences, fica dif�cil imagin�-los jogando bombas em Nova York. At� mesmo o conceito de riqueza muda para essas pessoas: talvez se traduza no seu pequeno rebanho, nas suas poucas terras, na fartura de mesa para si e para os seus nos tempos do rigoroso inverno. Sim, o conceito de riqueza � tamb�m relativo e depende de cada cultura. O homem do burrico certamente se sentiria infeliz vivendo em alguma mans�o de na Europa e no EUA, mas certamente estaria muito feliz fazendo a sua pr�pria colheita e cuidando do seu pequeno rebanho, sentindo-se um homem rico. Da mesma forma, para torn�-lo um terrorista � preciso, antes, cort�-lo de suas ra�zes.

Propor uma coaliz�o mundial contra a pobreza � mera ret�rica vazia de burocrata arrumando o que fazer. S� se combate a mis�ria com trabalho organizado, sem a inger�ncia de governos e burocratas, que s�o uma praga a devorar os recursos duramente produzidos pelas pessoas. S�o verdadeiros parasitas. A a��o do Estado e da burocracia s� diminui a riqueza, jamais contribuindo para aument�-la. � �bvio que o burocrata-mor jamais reconheceria essa verdade auto-evidente. E claro que a a��o dos burocratas tem efeitos nulos sobre as causas reais do terrorismo.