Leituras recomendadas - 60
Notas de Jos� Nivaldo Cordeiro
O perigo da Pol�cia Vermelha A Folha de S�o Paulo de hoje (12/08) traz um artigo assinado por Luiz Eduardo Soares, que fala em nome do PT com rela��o ao tema da seguran�a p�blica, seja por suas liga��es hist�ricas (Rio de Janeiro), seja por ser atualmente assessor de seguran�a p�blica da Prefeitura de Porto Alegre, seja, ainda, por no pre�mbulo do texto se remeter diretamente aos posicionamentos dos principais l�deres do Partido. O texto � um equ�voco do princ�pio ao fim e a implanta��o das suas propostas significaria a anarquia completa nas for�as de seguran�a constitu�das, especialmente a corpora��o policial-militar, esteio principal da seguran�a p�blica no Brasil. Vejamos o que prop�e o articulista: �A meu ver s�o cinco as principais causas para a crise das PMs: a precariedade da cultura pol�tica dos policiais, por falta de sindicaliza��o; as condi��es de trabalho; o regime disciplinar e a divis�o de carreiras em segmentos isolados; a privatiza��o da seguran�a p�blica por meio da armadilha do segundo emprego; e a subordina��o ao Ex�rcito�. Quero aqui analisar ponto por ponto. O documento � uma aula da a��o gramsciana sobre talvez o �ltimo basti�o que ainda n�o est� sob o controle ideol�gico e pol�tico das esquerdas, as organiza��es militares. � esse o �ltimo n�cleo de poder de Estado a salvaguardar a ordem democr�tica e os valores do livre mercado, ainda que de forma prec�ria e claudicante. A simples proposi��o desse ide�rio em um jornal de circula��o nacional j� por si mostra a desenvoltura com que as esquerdas est�o fazendo a sua a��o pol�tica. � como se estivesse em curso a batalha final pelas �mentes e cora��es�. Mas voltemos ao texto. A primeira proposi��o do diagn�stico do articulista, �a precariedade da cultura pol�tica dos policiais, por falta de sindicaliza��o�, j� diz, sozinha, o que quer o homem. Pol�cias e demais organiza��es armadas n�o podem ter a liberdade para fazer da sociedade ref�m nem articular movimentos grevistas que em for�as policiais s� podem ter o nome de motim e s�o sempre o pre�mbulo da a��o revolucion�ria armada. Desde a Antig�idade que as organiza��es militares funcionam como estamento separado e especial, exatamente pela particularidade de que portam armas e s�o muito bem treinadas para us�-las. O ir�nico � que a proposta parte exatamente de quem n�o se cansa de pregar o desarmamento civil. Sindicaliza��o e esquerdiza��o s�o praticamente sin�nimos. Isso significaria colocar � disposi��o das for�as de esquerda um poder de fogo real de que ainda n�o disp�em. � poss�vel imaginar o que os governadores de esquerda, especialmente os do PT, devem estar fazendo nos programas de forma��o dos pra�as, sargentos e oficiais de suas pol�cias. Dizer que as policias n�o funcionam por falta de sindicaliza��o � um esc�rnio � intelig�ncia. N�o funcionam pela mesma raz�o que o Estado no Brasil n�o tem funcionado, vivemos uma fal�ncia geral dos Estado, exatamente porque ele tem se metido a fazer coisas que n�o devia e tem abandonado suas fun��es essenciais, como a seguran�a p�blica. A segunda proposi��o, �as condi��es de trabalho�, tem um qu� de verdade que serve para encobrir o veneno embutido: a de que melhores condi��es de trabalho s� podem ser obtidas mediante sindicaliza��o. � um argumento falso. As melhores condi��es de trabalho s� podem ocorrer se o Estado voltar �s suas fun��es essenciais e parar de gastar recursos p�blicos naquilo que n�o lhe compete fazer. Se falta dinheiro para uma melhor pol�tica de pessoal na �rea de seguran�a, sobra para propostas esdr�xulas de todos os tipos, para atender as id�ias mirabolantes do �tudo pelo social�. A terceira, �o regime disciplinar e a divis�o da carreira em segmentos isolados� bate na mesma tecla da primeira proposi��o. S� faltou propor a elei��o dos oficiais pelos pra�as. O fato � que organiza��es militares s�o de natureza aristocr�tica e a disciplina � o fator essencial para que o poder civil, atrav�s da c�pula de sua oficialidade, possa control�-las. Quem tem a for�a n�o pode dispor do poder pol�tico. Sindicalizar e politizar o corpo dos policiais significa quebrar esse princ�pio essencial para a ordem democr�tica, pois desemboca necessariamente na uni�o de ambos os p�los do poder. Seria uma quest�o de tempo a instaura��o da tirania militarista, como ali�s se deu onde os leninistas e assemelhados chegaram ao poder. Nem as legi�es romanas entravam nos muros da Cidade, como condi��o de separa��o clara entre o poder pol�tico e o poder militar. A divis�o em carreiras separadas entre a oficialidade e os soldados � necess�ria para manter a disciplina e a unidade de comando. Sem elas, instala-se a anarquia, em preju�zo da disciplina e do controle civil sobre a for�a armada. A quarta, �a privatiza��o da seguran�a p�blica por meio da armadilha do segundo emprego�, � uma p�rola da argumenta��o er�stica. A privatiza��o da seguran�a p�blica n�o � apontada como uma decorr�ncia da fal�ncia do Estado em suas fun��es essenciais, mas pela �armadilha do segundo emprego�. Ora, � exatamente o contr�rio. Os cidad�os, �rf�os que se encontram no quesito seguran�a p�blica, buscam por seus pr�prios meios e recursos o amparo da a��o privada e da� geram empregos para aqueles que querem trabalhar. Mais uma vez aqui volta o autor ao primeiro argumento, o de que falta �sindicaliza��o�. � pura mentira. Sorrateiramente o que se pretende � a apelar para sentimentos corporativistas para iludir e seduzir os policiais para aventura petista-sindical. Por �ltimo, �a subordina��o ao Ex�rcito�. Deus meu, � o Ex�rcito (e, de resto, o conjunto das For�as Armadas), que tem garantido a unidade territorial e o m�nimo de ordem em nosso pa�s. Voltar a uma situa��o pr� 1930, quando os Estados possu�am for�as militares que rivalizavam com a Uni�o, � o caminho mais curto para a conflagra��o de guerras civis, como ali�s foi a t�nica nesse per�odo. Haveriam quarteladas peri�dicas, com caudilhos locais desafiando a Uni�o e amea�ando com a secess�o. Voltariam os �Cavaleiros da Esperan�a�, de triste mem�ria. S� algu�m imbu�do dos prop�sitos pol�ticos mais inconfessos para defender algo t�o danoso. O simples fato de ter a coragem de explicitar uma vis�o pol�tica dessa natureza d� a id�ia de como as esquerdas sentem-se fortes para a tomada de poder e a subvers�o completa da ordem instalada. As elei��es do ano que vem n�o s�o apenas mais um data c�vica no calend�rio. Poder�o ser o divisor de �guas entre uma sociedade aberta e pac�fica e a tirania pura e simples. � preciso n�o esquecer nunca que Hitler foi eleito depois de escrever �Mein Kampf�. Todos sabiam o que ele pensava e o que iria fazer. O mesmo vale para L�nin e sua obra (e a dos seguidores), que chegou ao poder por outros caminhos e praticou aquilo que prometeu. Quando chegaram a centro de poder a Humanidade conheceu as maiores trag�dias de que se tem not�cia na Hist�ria. Milh�es de homens e mulheres foram sacrificados em holocausto. � tempo de meditar sobre o que est� por vir.
Os banqueiros e os vagabundos Ontem, 13/08, o site do �Estad�o� continha mat�ria que analisava as aposentadorias especiais na Argentina. Pelas leis daquele pa�s, pessoas mesmo muito jovens podem receber rendimentos vital�cios do Estado, havendo casos de aposentados de 30 anos de idade. � evidentemente um abuso que contribui de forma injustificada para a manuten��o dos problemas de pagamentos internacionais da Argentina. � razo�vel pedir aos banqueiros dinheiro novo para pagar essa extravag�ncia? Diante de uma estrutura de gastos constitu�da por coisas assim, como acusar o FMI e os banqueiros internacionais de insens�veis por n�o liberarem recursos adicionais para a Argentina? � fato sabido que ela est� falida e para fazer acordo financeiro que mantenha as apar�ncias ela tem que enquadrar os gastos p�blicos. � claro que o FMI e os banqueiros n�o fazem o or�amento e n�o determinam os cortes, mas em uma situa��o t�o dram�tica como vive aquele pa�s � de se esperar que se comece a cortar por a�. Mas s�o os grupos pol�ticos benefici�rios desse tipo de rendimento os que mais resistem. A� todo mundo vira nacionalista e passa a acusar os banqueiros e o FMI por problemas que nasceram exclusivamente de decis�es soberanas (ainda que equivocadas) dos argentinos. Se se analisar detidamente a estrutura de gastos �sociais�, ver-se-� que muitas das despesas n�o passam de licen�as jur�dicas para locupletar grupos pol�ticos e popula��es inteiras, em preju�zo dos pagadores de impostos e dos financiadores do Estado. � a tr�gica heran�a do populismo, que na Argentina assumiu formas as mais diversas, inclusive com as paradoxais posi��es de Menem e do Ministro Cavalo. Eles sabiam que n�o conseguiriam mexer na estrutura de gastos e ent�o partiram para o c�mbio fixo e a dolariza��o, �nica maneira para que a economia portenha n�o tenha explodido na alucinada hiperinfla��o. O problema � que o instrumento exauriu-se pelo simples fato de que os grupos pol�ticos benefici�rios de suas sinecuras recusam-se a abrir m�o delas. E algu�m tem que pagar a conta. Querem que esse algu�m seja a comunidade financeira internacional. Ledo engano. Banqueiro, todos sabemos, n�o t�m cora��o, t�m m�quina de calcular no seu lugar. E eles n�o por�o um vint�m a mais enquanto a Argentina n�o demonstrar capacidade de pagamento, o que equivale a dizer que ela deve racionalizar os seus gastos, diminu�-los at� torn�-los de acordo com as expectativas do financiadores. Quem visita a Argentina fica com a sensa��o de que h� uma multid�o de ociosos a viver de rendimentos e sem obriga��o de trabalhar. A noite na capital argentina fervilha de gentes e bares, como se no dia seguinte n�o estivesse � espera uma jornada de trabalho. A classe ociosa e com renda parece muito numerosa e provavelmente � parasita do Estado. Essa situa��o chegou ao fim e os parasitas de sempre ter�o que arrumar meio de vida melhor do que gastar dinheiro dos impostos e dos banqueiros internacionais, obtidos via empr�stimos. Isso n�o faz nenhum sentido e os banqueiros sabem disso. S� resta uma �nica alternativa para eles: cumprir o mandamento b�blico de ganhar o p�o de cada dia com o suor do pr�prio rosto. Ou, em portugu�s mais claro: vai trabalhar, vagabundo!
Os muros do sil�ncio Todo s�bado tornei rotina ler os artigos de Olavo de Carvalho nos sites da revista �poca e de O Globo. � sempre uma oportunidade para ter mais informa��es e alargar a intelig�ncia, pois os artigos s�o mais que isso: s�o uma aula sint�tica sobre assuntos variados, incluindo a� os dif�ceis e espinhosos temas da Filosofia. Pois bem, hoje, como de costume, estava lendo o artigo da revista �poca (�O livro que ningu�m ler�), que nos informa sobre um livro de Jean S�villia, publicado na Fran�a, denunciando a conspira��o de sil�ncio da m�dia esquerdista sobre os autores e intelectuais que n�o se converteram a seu credo, quando me deparei com uma frase citada de Jean d�Ormesson, da Academia Francesa, sobre o dedicado trabalho das esquerdas a �construir seus muros de sil�ncio, mais dif�ceis de derrubar que o Muro de Berlim�. Como, na seq��ncia, foi ler a Folha de S�o Paulo, dei-me conta de que por duas vezes nos �ltimos quinze dias not�cias sensacionais sobre a quest�o da Col�mbia, duas expressivas vit�rias militares das for�as da ordem daquele pa�s, foram relegadas a notas de p� de p�ginas, acompanhadas como sempre de acusa��es de pr�ceres esquerdistas nas v�rias ONGs sobre o abuso contra os direitos humanos praticados por militares em a��o. A not�cia de hoje � ainda mais rejubilante porque informa que o confronto, que provocou a morte de pelo menos cem guerrilheiros, deu-se como uma efetiva vit�ria militar na dire��o da retomada do territ�rio �liberado� erroneamente pelo governo daquele pa�s aos guerrilheiros j� faz alguns anos. Isso mostra que a ajuda militar dos EUA, em treinamento e recursos materiais, est� produzindo seus primeiros efeitos mais sensacionais e com certeza vai abreviar o horrendo sofrimento trazido pelo prolongamento de uma guerra civil intermin�vel. Pois bem. Chamou-me a aten��o que not�cias favor�veis �s for�as da ordem n�o comovem os que fazem as manchetes. Fossem os guerrilheiros os vencedores e certamente o fato estaria em caixa alta, na primeira p�gina. Quanta not�cia boa tem sido negada ao p�blico brasileiro pelo crit�rio mesquinho dos agentes gramscianos infiltrados nas reda��es? Quanta mat�ria idiota e in�til ocupa o espa�o ao qual deveria ser destinado as grandes not�cias? Em boa hora o artigo do fil�sofo Olavo de Carvalho denuncia novamente o fato. A quest�o que se coloca �: como derrubar os muros do sil�ncio? Como ter jornalistas e intelectuais realizando o trabalho de escrever textos informativos e anal�ticos sobre as grandes e substantivas quest�es de nosso tempo, acess�veis � grande massa da popula��o brasiliera? Quando � que ser� reduzido o lixo que mistura tinta e papel na forma de not�cias, mais das vezes falsas, e, pior, an�lises distorcidas que mais escondem do que revelam os fatos em sua hierarquia de import�ncia? Estou convencido de que a transi��o geracional na administra��o dos grandes jornais e conglomerados de comunica��es em nosso pa�s tem contribu�do decisivamente para avermelhar ainda mais as reda��es. A Folha, que leio todos os dias, � um exemplo da apologia �s id�ias esquerdistas e ao politicamente correto. Depois da morte do velho Mesquita, o Estad�o est� sendo progressivamente descaracterizado. A Globo, depois da aposentadoria do Roberto Marinho, tem mudado de lado em grande velocidade. Antes havia pelo menos o abismo entre a posi��o da reda��o e a dos propriet�rios dos jornais. Hoje vemos que aconteceu uma fus�o e s�o os pr�prios editoriais que servem, mais da s vezes, de tribuna para as teses mais politicamente corretas. A� tenho que me perguntar, como fez o jovem jornalista de Campinas-SP, Martim Vasques da Cunha, em livro ainda a ser publicado: �Como se manter �ntegro em um mundo corrompido?� E tamb�m me pergunto: como se manter informado quando a mentira alcan�ou o status da Verdade? � |