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Leituras recomendadas - 51

 

Carta ao Senador L�cio Alc�ntara

Jos� Osvaldo de Meira Penna

 

Bras�lia, 2 de julho de 2001

Muito Prezado Senador L�cio Alcantara,

 

O Instituto Teotonio Vilela, que Vossa Excel�ncia preside e representa o Partido do Exmo. Senhor Presidente da Rep�blica, me tem amavelmente, a partir de seu n�mero VI at� o mais recente, n�mero XIII, enviado os fasc�culos do Estudo intitulado "Sociedade e Hist�ria do Brasil". Suponho que esse Estudo tenha sido aprovado pela deputada Yeda Crusius, Diretora de Pesquisas e pessoa a quem igualmente muito admiro. Parece-me, entretanto, que nem V.E. nem a deputada tenham se dado conta das barbaridades hist�ricas que o trabalho apresenta e do mais do que evidente conte�do de propaganda marxista e interpreta��o distorcida que essa "pseudo" hist�ria do Brasil veicula. Sobre o per�odo do Imp�rio, tudo � descrito como sendo o Brasil um pa�s oprimido por uma aristocracia escravocrata detest�vel a soldo do imperialismo brit�nico.

No volume VI sobre a implanta��o da Rep�blica as figuras de Deodoro e Floriano s�o descritas em termos profundamente negativos. A cr�tica destruidora se prolonga pelos fasc�culos que descrevem a "Rep�blica Velha" e suas "Crises". A interpreta��o � a de uma "oligarquia" de pol�ticos paulistas e mineiros que oprimem e exploram a na��o, e da qual, na d�cada dos vinte e trinta, ela s� poder� ser salva pelo "Cavaleiro da Esperan�a" Lu�s Carlos Prestes. Talvez a deputada Yeda Crusius n�o esteja bem informada sobre quem � esse personagem. Mais ciente do que est� fazendo, acredito, seja o "professor" Hermes Zanetti, "Diretor de Forma��o e Aperfei�oamento". Esse docente que, evidentemente, pouco conhece da hist�ria p�tria, parece mais claramente pretender formar e aperfei�oar os pobres leitores em sua detest�vel ideologia, respons�vel por cem milh�es de mortos e das mais horrendas barbaridades que foram cometidas no s�culo XX. Para dar alguns exemplos das "barbaridades" de outro tipo contidas na "est�ria" contada pelos autores dos fasc�culos, refiro-me aos dois maiores Presidentes da Rep�blica "Velha", Campos Salles e Rodrigues Alves. O primeiro � debicado por haver permitido os "desmandos" das "oligarquias regionais" e o segundo nem mesmo � mencionado. Sobre o surto da borracha, a �nica refer�ncia � ao regime de "semi-escravid�o" dos seringueiros e ao roubo dos lucros do com�rcio do produto por estrangeiros. As elei��es do per�odo s�o descritas como uma "farsa" -- o que, mesmo se verdadeiro, � melhor do que um sistema como o que defendem os autores dos op�sculos, o qual se resume numa ditadura uni-partid�ria. No volume VII uma �nica cita��o figura, a do not�rio historiador marxista Caio Prado Jr., e duas p�ginas s�o dedicadas � chamada "Revolta de Jo�o C�ndido", 1912, assim como, no volume VIII, cinco p�ginas � Coluna Prestes. Um breve coment�rio a p�ginas 27, resume a interpreta��o ideol�gica marxista que contamina o trabalho inteiro -- ou seja que, "crise econ�mica deveu-se � universaliza��o do capitalismo" --, uma tolice que s� um ignorante, desvairado por suas convic��es de esquerda, ousaria oferecer como ensino a seus estudantes.

Em apoio de outras opini�es estapaf�rdias, a Bibliografia regista a presen�a de not�rios marxistas como Boris Fausto, Octavio Ianni, Le�ncio Busbaum, Michel Zaidan, Jos� �lvaro Mois�s e outros ilustres desconhecidos. N�o quero prolongar a cr�tica dessa lament�vel "Hist�ria do Brasil". N�o resisto, por�m, � tenta��o de mencionar algumas mentiras e distor��es que descubro nos volumes IX e X, referentes aos anos 30 e 40. Na juventude e adolesc�ncia, eu mesmo fui testemunho dos acontecimentos t�o falsa e cinicamente descritos, em particular sobre a II� Guerra Mundial a que assisti na China e Turquia., j� como diplomata brasileiro.

Assim, por exemplo, abundantes refer�ncias s�o feitas � "repress�o" de que foi respons�vel a ditadura getulista e aos "milhares de nordestinos que morreram de sede e fome" durante o per�odo. Mas o desequil�brio no notici�rio desinformativo se revela quando cinco p�ginas s�o destinadas � glorifica��o da "Alian�a Nacional Libertadora", e apenas quatro linhas � "intentona" comunista de 27 de novembro 1935 que matou 70 militares s� no Rio de Janeiro, com meia d�zia de oficiais legalistas assassinados enquanto dormiam. Uma p�gina inteira de cr�tica � repress�o e �s torturas que dois agentes sovi�ticos teriam sofrido nas pris�es da "ditadura" enchem o texto com mais um hino de gl�ria ao malfadado movimento.

No volume X, o texto sobre o "Estado Novo" � encabe�ado com uma fotografia de uma cerimonia nazista em Nuremberg na Alemanha. A II� Guerra Mundial � atribu�da �s "tens�es entre as pot�ncias europe�as" mas a exist�ncia da URSS prima pelo segredo que sobre ela � mantido. Evidentemente, os historiadores respons�veis pela aberrante interpreta��o da hist�ria desse conflito n�o mencionam que a pr�pria guerra foi provocada pelo acordo Molotov-Ribbentrop de agosto de 1939, entre as duas pot�ncias totalit�rias, Alemanha e URSS, que entre si dividiram a Polonia e a Europa oriental. Uma p�gina e meia � dedicada �s simpatias do Governo brasileiro pela Alemanha no per�odo imediatamente anterior e de in�cio do conflito (1938/40), seis linhas � participa��o brasileira com a FEB (descrita como "sem forma��o militar adequada"), meia p�gina � "Guerra em Surdina", de Boris Schnaiderman, descrevendo seu horrores, al�m da afirma��o mentirosa que a presen�a da FEB se devia ao fato que "a It�lia havia sido invadida pelo ex�rcito americano". A refer�ncia � curiosa, t�pica da maneira escandalosa como a verdade hist�rica � esquartejada para favorecer a posi��o do intelectual fanatizado por sua doutrina e pronto para qualquer recurso, l�cito ou il�cito, no sentido de fazer triunfar seus dogmas. Na verdade a It�lia fascista, que entrara na guerra do lado dos alem�es e, posteriormente, se passara para o lado aliado, foi invadida pelos alem�es e consequentemente libertada pelos americanos, com a particip��o dos brasileiros e outros aliados. Outro exemplo do mesmo tipo de aberrante distor��o se encontra na descri��o do ocorrido na Guerra do Pac�fico. N�o foram os Estados Unidos que, primeiro, "declararam guerra ao Jap�o e seus aliados" (pg.20), mas o Jap�o que, simultaneamente, atacou Pearl Harbor e entregou a declara��o de guerra aos EUA quando o ataque estava em andamento. Do mesmo modo, Alemanha e It�lia foram os que, em primeiro lugar, declararam guerra aos USA. O pequeno astucioso desvio � t�pico da t�tica usada em todos os volumes. �s vezes, ao contr�rio, o primarismo da mentira se torna �bvio como na pag, 19 do fasc�culo XI quando est� dito que, com a vit�ria dos comunistas na guerra civil chinesa, "o ex�rcito da Cor�ia do Sul invadiu o sul da pen�nsula" (sic!). A desfa�atez � completa na descri��o dos eventos registados em 1945. Ao inv�s de mencionar que o calhord�ssimo "Cavaleiro da Esperan�a" saiu diretamente da pris�o - onde, por oito anos, o "ditador" o havia mantido preso -- para a sacada do Pal�cio do Catete, afim de prestigiar a campanha "queremista" (Queremos Get�lio!), destinada a manter no poder o caudilho gaucho, evitando as elei��es que se seguiram e deram a vit�ria ao general Dutra -- o fasc�culo X dedica duas p�ginas inteiras aos pretensos esfor�os do PCB em favor da democracia. Finalmente, o pr�prio Get�lio Vargas, que � apresentado como um horrendo ditador e opressor das massas no per�odo entre 1930 e 1945, aparece no per�odo seguinte, 1945-1954 (data de seu suic�dio), como um grande democrata que merece o apoio do PCB.

Os fasc�culos XI e XII tratam dos "Dilemas da Nascente Democracia Brasileira" e do "Auge do Populismo", este representado por Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e J�nio Quadros. Eles descrevem de modo sui-generis as perturba��es desse per�odo agitado de nossa hist�ria, apresentando o jornal "O Estado de S�o Paulo" (pg.34) como vendido a interesses escusos para criar a "paran�ia anti-comunista". A "paran�ia anti-comunista" � descrita com cores t�tricas no fasc�culo XIII, relativo � "longa noite da ditadura militar". Um longo e sombrio sil�ncio todavia � guardado quanto ao fato que, com uma �nica exce��o, a do latifundi�rio nordestino Miguel Arrais, governador de Pernambuco, todos os demais governadores, legitimamente eleitos, encabe�ados pelos dos quatro principais estados da Federa��o, Magalh�es Pinto em Minas, Carlos Lacerda no Rio, Adhemar de Barros de S.Paulo, e Meneghelli do Rio Grande do Sul -- e mais a imensa maioria da popula��o brasileira que, em marchas de mais de um milh�o de pessoas, se manifestou contra o estado de anarquia pol�tica e econ�mica a que o Janguismo havia conduzido o pa�s -- apoiaram o movimento militar de 1964. Este � simplesmente explicado (pag.36, fasc�culo XII) como uma conspira��o da "ag�ncia de espionagem americana, a CIA". O plano dos americanos "previa a ocupa��o de partes do Nordeste e o desembarque em Santos". Esses supostos "planos" da CIA n�o coincidem em nada com o que realmente se sabe sobre o que aconteceu em 64, ap�s a revela��o da documenta��o de outra ag�ncia de espionagem, o KGB, que abriu seus arquivos com a queda e desintegra��o do regime comunista na ex-URSS. Em conclus�o. Seria explic�vel que uma "Hist�ria do Brasil" de n�vel t�o med�ocre por sua mendacidade, distor��es, sil�ncios apropriados e aberrantes interpreta��es de acontecimentos hist�ricos fosse publicada pelo PT ou o PC do B. Os "intelectuais" cujo testemunho � invocado para sustentar as teses apresentadas s�o, ali�s, em sua quase totalidade, simp�ticos aos partidos da oposi��o. Mas que um �rg�o oficial de uma institui��o representativa do partido e do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso publique um documento panflet�rio dessa natureza � algo que supera minha capacidade de compreens�o. � por esse motivo, prezado Senador, que me atrevi a solicitar sua bondosa aten��o para os textos e interpreta��es desse documento que, obviamente, Vossa Excel�ncia n�o examinou, nem a eminente e ilustrada deputada Yeda Crusius, ou qualquer de seus auxiliares mais chegados.

Com isso, espero ter prestado um servi�o ao governo que V.E. representa no Congresso -- governo esse amea�ado, como � not�rio, por uma campanha generalizada de difama��o e descr�dito ideol�gico, Com os respeitosos cumprimentos e melhores votos de sucesso no Congresso, junto c�pias de algumas p�ginas do "trabalho" da equipe redatora.