Leituras recomendadas - 43
Sem medo de investir contra as panelinhas
Anna Marina
A revista �poca desta semana publicou mais um dos espl�ndidos artigos do fil�sofo Olavo de Carvalho. Gosto muito das coisas que ele escreve, porque a abordagem � perfeita. Seu vasto conhecimento permite que ele mostre com toda categoria os p�s de barro de alguns dos �dolos da m�dia brasileira. Ele � do tipo que, at� onde d� para perceber, n�o pertence �s panelinhas , n�o participa daquela institui��o t�o nossa que � a "fale-bem-de-mim-que-falo-bem-de-voc�" que, de certa forma, domina a m�dia cultural do nosso pa�s. Basta ter um pouco de paci�ncia para acompanhar esse tric� de elogios que � tecido para empulhar o leitor, passando para ele conceitos que est�o quase sempre longe de serem reais. O pobre do leitor engole a isca e fica achando que fulano � mesmo o m�ximo, porque foi elogiado por beltrano, que tamb�m � o m�ximo. O Rio � certamente o celeiro mais prof�cuo dessa troca de interesses. Por ser um grande balne�rio, as id�ias geralmente rolam em torno da praia, do sol, do ver�o. N�o t�m, portanto, necessidade nem de serem duradouras - nem tampouco reais. A cr�nica cultural do Rio � cheia desses conchavos. De certa forma, eles nasceram de um fato real: a amizade e a excel�ncia das cr�nicas de Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos. Amigos extremados, eles se badalavam mutuamente - com direito, � bom que se enfatize, porque todos eram uns craques. Da trinca, s� restou Fernando Sabino, que entrou num inferno astral desde que se prop�s a escrever aquele malfadado livro sobre Z�lia Cardoso de Melo. Desde ent�o, foi inclu�do no index dos jornalistas da esquerda, que n�o perdoam essa pisada de bola que ele deu. E que s� se apressam em acusar quem acreditam que � simpatizante da direita. Quando se trata das esquerdas, � mais ou menos como aquele patu� de julgamento: "Aos costumes, disse nada". Olavo de Carvalho focalizou, nesta semana, a figura controvertida de frei Leonardo Boff, que adota a pol�tica de dois pesos e duas medidas. N�o d� a menor bola para o que a esquerda apronta, e usa de toda a sua argumenta��o filos�fica para tentar derrubar governos est�veis. O que Olavo de Carvalho pergunta � simples, liminar: como � que ele n�o consegue enxergar o que a esquerda andou aprontando pelo mundo afora? Conhe�o de perto esse tipo de cegueira, ela tamb�m grassa por nossos lados. H� os esquerdistas rom�nticos, que at� hoje defendem Stalin, n�o acreditam nas atrocidades que ele cometeu com seu pr�prio povo. Atrocidades que n�o deixavam uma brecha para o al�vio: iam da censura da cultura at� a pol�tica, ambas terminando quase sempre nos campos de exterm�nio que montou na Sib�ria. Mas h� tamb�m os ativistas, que gostam mais da figura de Fidel Castro. Confesso que nos anos 60 tive uma rom�ntica simpatia por Fidel, Che Guevara, que comemorei no Alpino , com meus amigos, a queda de Batista. Mas o tempo foi passando e deu para descobrir que o que havia acontecido em Cuba era apenas uma troca de ditaduras. Saiu Batista, que conseguiu transforma Cuba num para�so tur�stico - e todo mundo sabe que esse tipo de riqueza acaba modificando a qualidade de vida dos habitantes de um pa�s, de um estado, de uma cidade - e entrou Fidel. Entrou com aquele ide�rio pol�tico que todos n�s conhecemos de cor: � melhor nivelar por baixo, � melhor exigir do povo sacrif�cios que nem sempre ele est� com vontade de fazer. Se a ilha fosse um mar de rosas, qual a raz�o do mar viver cheio de perigosas embarca��es com destino � Fl�rida. As loas a Fidel passaram a ser cantadas por aqui por ativistas sociais que conseguiam ir a Cuba como convidados, viam o que eles se animavam a mostrar e chegavam aqui contando maravilhas da revolu��o social que ele estava fazendo. Essas figuras malhavam a ditadura brasileira de todas as formas - e com raz�o. Mas se negavam a enxergar que estavam raciocinando com duas medidas. As atrocidades daqui eram diferentes das de l�, desculp�veis por ser um governo de esquerda, que buscava oferecer a pen�ria para todos os cidad�os do pa�s. N�o � preciso dizer o enfaro tomel dessa gente. No princ�pio, ainda tentava argumentar, buscar entender qual era o par�metro que usavam para ter dois racioc�nios t�o diferentes em rela��o a um mesmo estado de coisas - radical. Cansei, deixei pra l�. Essa gente falava de Fidel de boca cheia, como se estivesse falando de um Deus nivelador de todos os problemas, distribuidor de todas as benesses fossem... usar jornal cortado em lugar de papel higi�nico. Estou fora dessa - e � por isso que admiro e louvo a coragem do Olavo de Carvalho, que desce sua borduna filos�fica sem d� nem piedade na cabe�a dos falsos profetas.
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