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Leituras recomendadas – 75

 

Cartas dos EUA

 

Estas duas cartas � a segunda, principalmente � mostram como o Brasil de hoje � um pa�s anormal, doente, ro�do de inveja m esquinha, de ressentimento despropositado e absurdo. A alma desse pa�s reflete a daqueles que o educam � os intelectuais de esquerda da minha gera��o, que j� declarei ser a mais canalha e torpe de quantas nasceram neste solo. Os fracassos dessa gera��o nasceram da sua ignor�ncia pomposa, da sua in�pcia arrogante, da sua pretens�o infinita de poder chegar a ser, a pre�o baixo, a encarna��o f�cil do bem e das luzes num mundo mau e sombrio. Nunca uma gentinha t�o mi�da chegou a ter nas m�os o destino de uma grande na��o. Gra�as a esse fen�meno, os sentimentos mais vis e desprez�veis foram aceitos como altas manifesta��es de virtude e tornaram-se a base de todos os julgamentos. A inveja, o rancor, a covardia, o oportunismo que tudo sacrifica em prol da destrui��o dos advers�rios � eis hoje as bases da nossa t�o apregoada ��tica�. Mas em nenhum momento a baixeza chegou t�o fundo quanto nas rea��es de milhares de intelectuais, de jornalistas, de estudantes brasileiros, diante dos atentados de 11 de setembro. Nunca, na hist�ria humana, um genoc�dio, abertamente reconhecido como tal, foi aplaudido e festejado de maneira t�o ostensiva e despudorada. Na esquerda nacional, somente os personagens mais not�rios, ciosos de suas reputa��es ante o p�blico maior, reprimiram a manifesta��o de seus sentimentos, reservando-os para um c�rculo �ntimo e substituindo-os diante das c�meras por palavras convenientemente amb�guas. Os demais, sentindo-se protegidos pela sua pr�pria insignific�ncia, deitaram e rolaram. Mostraram sem pejo o que s�o e o que pensam. Eu sempre soube que eles eram isso. Mas nunca imaginei que bastasse uma provoca��o mais forte para faz�-los exibir o conte�do podre de suas almas de ratazanas.

Obrigado, Milla Kette, por mostrar que, � dist�ncia de um hemisf�rio, a fei�ra dessa gente se torna ainda mais vis�vel. � O. de C.

19 ago 2001

 

Prezado Senhor:

Vivi no Brasil at� uns cinco anos atr�s, quando peguei meu (invejado, diga-se de passagem) passaporte, minha filha, vendi meu pequeno apartamento e mudei-me para os EUA.  Nasci aqui quando meu pai estudava em Stanford, CA (um antro de left-wingers, he, he).  De familia brasileira, fui criada em Salvador, Rio e Porto Alegre, tendo vivido em Gramado depois de casada.  Estou com 42 anos e minha filha, de 19, estuda na Universidade aqui.

Tomei conhecimento de seu trabalho atrav� do Forum de discuss�o Politica da UOL, quando alguem postou um texto incrivelmente realista e verdadeiro seu, onde acusa os Lefties brasileiros de xen�fobos, entre otras cositas m�s.  Sou casada com um Yankee (como falam os Brits) e moro em Ohio.  Meu esposo, um na�f, ficou apavorado com a brutalidade das acusac�es contra os EUA, seu povo, sua cultura, seu Governo, emfim, tudo.  Eu fui raivosamente atacada num web site chamado Politica Global (http://www.politicaglobal.com.br/) quando exigi que apresentassem o texto do Acordo de utilizac�o da Base de Lancamentos de Alc�ntara, o qual criticavam juntamente com os EUA.  Al�m de receber dois e-mails cheios de ofensas do autor do "artigo", ainda ligaram minha carta a um "artigo" contendo os maiores absurdos e acusac�es contra mim e os EUA, em vez de public�-la na devida sec�o, juntamente com todas as outras. Ha mais ou menos um m�s os venho desafiando para que publiquem o texto do Acordo que, ora eles dizem ser confidencial, ora que o enviar�o a quem pedir por e-mail!

Acabei caindo no UOL, batendo de cara com aquele monte de marxistas disfar�ados em adoradores do PT.  O que nos choca mais que tudo – a meu esposo e a mim –� a total ignor�ncia de fatos hist�ricos, n�o s� mundiais, mas mesmo do Brasil, que demonstram essas pessoas que querem discutir com pretens�es de donas da verdade.  Me entristece muito, como brasileira que
sou, saber que tantos dos meus patr�cios odeiam a riqueza e a independ�ncia que os americanos adquiriram � forca de muito trabalho, muita luta e f�. Sinto-me na obrigac�o de fazer algo, mas a tarefa parece-me gigantesca.

Meu sonho – na verdade, adaptado para a realidade depois que conheci meu esposo, alma pratica americana – � abrir escolas no Brasil e recolher crian�as de rua a fim de form�-las para a vida, mostrar a eles que h� uma chance se trabalharem duro, com honestidade e retid�o.  Sou esp�rita e n�o posso deixar de me sentir na obriga��o de ajudar.  Meu humilde plano � juntar dinheiro para essa fa�anha.  Descobri aqui (quem diria) que tenho um especial talento para escrever!  Tenho escrito em ingl�s, incentivada por uma professora que tive na faculdade.  Gostaria de escrever, publicar e reverter toda a renda para a pr�tica desse plano.

Queria enviar-lhe os parab�ns, em meu e no nome de meu esposo, pelo excelente trabalho que mostra no seu web site.  Gostaria tambem de pedir-lhe que, se sobrar algum tempinho em sua agenda, que, tenho certeza, � cheia, escreva-me e aconselhe-me sobre as possibilidades (se existirem) de penetrar no mercado literario brasileiro.

Agrade�o imensamente sua aten��o e peco desculpa por n�o fazer uso de acentos.  Primeiro, n�o sei se nossos programas s�o compativeis e, segundo, d� muito trabalho...   :-)

Milla Kette

 

12 set 2001

 

Prezado senhor,

Esta manh� acordei com um gosto amargo na boca e o cora��o pesado e triste.  Ontem presenciei o mais vil ataque que o fanatismo, a prepot�ncia e a ignor�ncia podem engendrar!

Em outra ocasi�o -- cerca de duas semanas atras -- escrevi para parabeniz�-lo por seus artigos, bem como por seu web site.  Infelizmente, neste momento fa�o-o para levar a seu conhecimento um fato que me chocou e encheu de revolta e terror.  Nos f�runs de discuss�o politica do UOL, pululam textos de cidad�os brasileiros -- meus conterraneos, apesar de ter nascido nos EUA -- dando vivas pela desgra�a que se abateu sobre este basti�o da liberdade...  Jamais imaginei que veria -- vindo do povo com o qual convivi quase toda minha vida -- tamanho �dio cego e revolta ignorante, alimentados contra um pa�s simplesmente porque ele � um sucesso!  Ontem senti vergonha ante a express�o chocada de meu marido (americano) quando traduzia as palavras horriveis expressas no UOL; senti vergonha do passaporte verde que apresento nos aeroportos brasileiros quando em visita � minha familia e amigos queridos...  Esses arrogantes julgam-se Deus e cr�em-se no direito de julgar e condenar, sem jamais terem visto, sem nem entenderem o que ou como chegam a tais julgamentos, acreditando na propaganda anti-Americana que muitas agencias noticiosas t�m levado avante.

Eu olho as cenas na TV -- a teratol�gica imagem dos avi�es chocando-se contra oWorld Trade Center, as torres ruindo, tomando de surpresa os que tentavam retirar-se da �rea, o Pentagono em chamas --� e o que mais me choca n�o � apenas o numero de vidas sacrificadas ao fanatismo e ao �dio cego, � que os monstros raivosos, de bocarras espumantes, arreganhadas, os cora��es negros de inveja e sentimentos de inferioridade, esses, como os loucos que vejo vomitando �dio contra os EUA nesses f�rums, s�o seres humanos, como eu!!!  A �nica diferenca que, em meu entendimento, separa esses fan�ticos que expressam seus complexos de inferioridade com palavras nos forums do UOL e os monstros que atacaram fisicamente os EUA � apenas que os segundos colocaram na pr�tica o �dio insano e sem base que alimentam!  Como eles, os que se escondem atr�s de palavras s�o tambem covardes.  N�o consigo crer que o horror que vi na TV ontem seja acolhido por alguns brasileiros como uma "lic�o" para os EUA!  Quantas l�grimas rolaram de meus olhos ontem, n�o sei dizer, mas muitas foram por saber que alguns dentre meus conterr�neos abrigam um �dio insensato em seus cora��es contra um povo que nem ao menos conhecem.

As palavras de um sobrevivente e n�o as imagens terr�veis mostradas pela TV chocaram-me ainda mais ante a ferocidade de tais coment�rios.  Ele relatou que havia conseguido sair da primeira torre, quando destro�os do avi�o que se chocou com a segunda torre e do proprio predio em que ele estava comecaram a cair.  Em seguida, palavras dele, grandes peda�os comecaram a atingir o solo e carros estacionados nas proximidades do WTC.  Enquanto corria para salvar-se, ele p�de olhar esses "destro�os" mais detidamente.  Eram corpos em chamas de pessoas que escolheram o espa�o entre os 110 andares e o solo de Manhattan � horrenda morte pelo fogo e pela fuma�a...  Que povo merece tal horror, � o que gostaria de perguntar �s mentes doentias que, entre outras barbaridades, escreveram: "Bem feito!". Que povo merece assistir �s mortes de mais de 10 mil cidad�os inocentes?  Estou certa de que esses fan�ticos est�o t�o contentes quanto os monstros que planejaram e perpetraram esse ataque a um dos basti�es da liberdade nesse mundo de tantos Fid�is Castros!

Quem quer que tenha sido o perpetrador dos ataques de ontem, n�o atingiu o cora��o econ�mico de Manhattan, n�o destruiu simbolos da independ�ncia econ�mica, politica e militar dos US.  Os criminosos ceifaram vidas de cidad�os honestos, homens e mulheres que, com seu trabalho e dedica��o, fazem dessa na��o a pot�ncia que o mundo conhece e, infelismente constatei, inveja.  N�o foram o Pentagono ou o WTC o que se perdeu ontem, pois que esses podem ser reconstru�dos t�o rapidamente que assombraria o mundo.  Foram as vidas de cidad�os inocentes, representantes genu�nos dos ideais de um povo inteiro -- um povo que se ergue do lado oposto ao dos covardes sem rosto que n�o tiveram a coragem de assumir a responsabilidade pelo ato vil que perpetraram contra trabalhadores honestos!

Esses c�es famintos pela desgraca dos Estados Unidos da Am�rica regozijam-se com a trag�dia que abateu CIVIS!  Dan�am em volta dos destrocos dos avioes que vejo em volta doWorld Trade Center, dos corpos cremados, esmagados pelo colapso dos edificios e o choque dos avi�es!  Meu �nico consolo, enquanto as l�grimas lavam meu rosto e uma ora��o escapa dos meus l�bios em prol desses inocentes sacrificados � sanha de fanaticos enlouquecidos e insens�veis, esses paladinos do terror, que desejam impor seu conceito de "liberdade" � custa do sacrif�cio de vidas inocentes!, meu �nico consolo � que esses infelizes ser�o um dia julgados por um tribunal do qual nenhum de nos escapa.

As torres do World Trade Center ru�ram, levando consigo vidas preciosas, espalhando destro�os por mais de cinco quadras ao seu redor. Lower Manhattan e' apenas uma gigantesca nuvem de fuma�a branca e negra no horizonte, vista pela TV e nas fotos dos jornais; o Pent�gono foi atacado e sua negra fuma�a sobe ao c�u, falando das 800 pessoas mortas ali; um carro bomba explodiu no State Deparment em Washington;  um avi�o de carga caiu na Pennsylvania, matando tantos outros civis; mas a Est�tua da Liberdade ainda empunha para o mundo a representa��o do mais caro anelo do povo Americano: Liberdade!

Peco-lhe, humildemente, que, utilizando-se dos meios de comunica��o que tem em m�os, chame � raz�o (se tal � possivel!) essas pessoas que -- temporariamente, espero -- perderam a m�nima no��o do significado do respeito pela vida humana!

Perdoe-me ter escrito tanto e agrade�o-lhe se chegar ate aqui.

Milla Kette