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Leituras Recomendadas - 14

 

Prepare-se para o confisco
Editorial do ARMARIA

 

Caro Leitor do ARMARIA:

Provavelmente V. Sa. est� achando o t�tulo desse artigo um tanto quanto alarmista e exagerado. Deixe-me, portanto, recordar um velho ditado: � O otimista �, antes de tudo, um tolo. Se algu�m acha que a campanha anti-armas vai parar ap�s a aprova��o dessa lei que criminaliza o porte n�o autorizado e a posse de arma sem registro, est� redondamente enganado.

Para entender o porque dessa afirma��o t�o categ�rica � necess�rio conhecer algumas premissas pol�ticas. Primeiro � preciso entender que o controle de armas �, antes de tudo, um controle social. Isto � assim n�o s� no Brasil, mas em qualquer lugar do mundo. Nos EUA, por exemplo, as primeiras leis restritivas � posse de armas surgiram ap�s a liberta��o dos escravos (mas foram logo revogadas pela Suprema Corte) e representavam o medo da popula��o branca em ver os pretos armados.

Da mesma forma, no Brasil, a nova lei tem destino certo e n�o � o banditismo. Olhemos o cen�rio pol�tico/econ�mico do pa�s para entender a origem do movimento anti-armas. A pol�tica neo-liberal adotada pelo governo est� levando � fal�ncia in�meras empresas, aumentando a n�veis nunca vistos o �ndice de desemprego da na��o (entre outros malef�cios). Por outro lado, no campo, um movimento de desempregados cresceu e conseguiu representatividade entre os pobres e respeitabilidade entre a classe m�dia urbana: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O MST tem, hoje, uma penetra��o na zona rural nunca alcan�ada por nenhum outro movimento reivindicat�rio no Brasil. As velhas Ligas Camponesas, de Juli�o, que tanto amedrontaram as elites no passado pr� 64, n�o passavam de meros exerc�cios intelectuais de alguns sonhadores. O MST � real, tem for�a pol�tica e congrega gente que n�o t�m nada a perder - o componente b�sico de qualquer revolu��o.

Para a situa��o ficar realmente explosiva, basta agora que os desempregados das cidades fa�am o seu "Movimento dos Desempregados Urbanos", aliem-se ao Movimento dos Sem-Teto e comecem a adotar as mesmas t�ticas de intimida��o e invas�es que tanto sucesso t�m obtido no campo. Da� para uma revolu��o de fato � um pulo.

A essa altura o Caro Leitor deve estar pensando: "Ah, mas isso n�o vai acontecer no Brasil. N�s n�o temos tradi��o de luta armada". C� entre n�s, concordo inteiramente com essa opini�o. Entretanto, n�o � este o panorama visto de Washington. Quando Tio Sam olha ao sul do Rio Grande, o que ele v� � o Ex�rcito Popular Revolucion�rio do M�xico, o Ex�rcito de Liberta��o Nacional e as For�as Armadas Revolucion�rias da Col�mbia, o Sendero Luminoso no Per� e outros grupos guerrilheiros menos expressivos. Para Tio Sam, o surgimento de um grupo desses no Brasil � apenas uma quest�o de armas. Isso explica porque de repente, n�o mais que de repente, toda imprensa servil brasileira, assim como todos os pol�ticos amestrados, come�aram em un�ssono a toar a ladainha anti-armas, ou ser� que o leitor achava que tudo isso era indigna��o pela morte de dois rapazes da classe m�dia-alta de S�o Paulo? Explica o interesse do FBI em treinar policiais brasileiros nas t�cnicas do contrabando de armas (?!?!) e na identifica��o dos compradores sul-americanos de armas nos EUA. Explica, tamb�m, porque o governo brasileiro est� pressionando os EUA para n�o exportarem mais armas para nossos vizinhos do MERCOSUL, pa�ses onde n�o h� restri��es de calibres e as armas que aqui s�o proibidas, l� s�o vendidas normalmente para a popula��o.

Ao governo brasileiro � conveniente essa colabora��o com os EUA e � important�ssimo que os investidores estrangeiros n�o se assustem com nosso pa�s. � bom lembrar que o plano Real est� fundamentado no capital externo que para c� veio em busca de bons rendimentos. Ao primeiro tiro disparado com conota��o pol�tica esse capital vai embora da noite para o dia. � o chamado capital vol�til. Se isso acontecer a moeda ter� de ser desvalorizada. Se isso acontecer o plano Real acaba. Se isso acontecer o pa�s quebra. Se o Brasil quebrar, a Argentina quebra tamb�m, e assim boa parte da Am�rica Latina pelo efeito domin�.

Observe que se o Caro Leitor, ou seu vizinho, forem assassinados por marginais nada acontecer� com o pa�s. A choradeira de seus parentes e amigos n�o tem express�o pol�tica. Mas, se algum pol�tico em cargo de mando for baleado, o pa�s entrar� em crise instantaneamente.

Para complicar a situa��o, nosso presidente, em sua t�tica de ofuscar as esquerdas enquanto promove a destrui��o do Estado, deu uma grande "mancada" com o caso Lamarca. Como convencer, agora, os militares de que eles t�m de ir combater a guerrilha para depois serem execrados como bandidos, enquanto os guerrilheiros s�o louvados como her�is e suas fam�lias indenizadas? Fa�amos um exerc�cio de futurologia: Que aconteceria se as For�as Armadas recusassem a combater a guerrilha brasileira? Ser� que o Presidente pediria aux�lio a uma na��o amiga?

O projeto de lei relatado pelo Deputado Roberto Jefferson � a consolida��o de 22 outros projetos apresentados na C�mara e no Senado. Devemos reconhecer o esfor�o e o m�rito do Deputado em depurar todo lixo preconceituoso existente nos demais projetos e apresentar um texto limpo e enxuto. Se algu�m tem alguma d�vida que todos esses projetos de lei t�m a pol�tica como motiva��o, basta observar que 90% deles falam abertamente na quest�o das armas de uso proibido e atribuem penalidades mais rigorosas �s pessoas apanhadas com esse tipo de armas. Ora, armas de calibre proibido s�o considera��es de ordem militar. Para o cidad�o que � assaltado na rua, pouco importa se ele vai morrer com um tiro de .38 Special ou de 9mm Parabellum. Ningu�m morre duas vezes ou fica mais morto com este ou aquele calibre. Os calibres s�o proibidos em fun��o de seu alcance e poder de perfurar blindagens, considera��es estas totalmente irrelevantes quando o assunto � criminalidade ou viol�ncia urbana.

O Caro Leitor deve estar se perguntando: Quer dizer que em fun��o dessa paran�ia vou ficar sem minha arma para me proteger? Sim! Vai porque o Caro Leitor n�o tem nenhum peso pol�tico. Ou melhor, V. Sa. � apenas um voto entre os oitenta milh�es de eleitores brasileiros. Quase nada. Enquanto os "Sem Terra" s�o personagens de novela e ocupam amplo espa�o na m�dia, suas cartas aos jornais nem s�o publicadas, n�o � mesmo? Alguma institui��o de pesquisa, do tipo IBOPE, j� o procurou para ouvir sua opini�o? Claro que n�o! Sua opini�o � irrelevante.

Por outro lado, militarmente falando, voc� � um perigo. � uma espada de Damocles sob a cabe�a de nossos pol�ticos. Seu perfil � de um cidad�o do sexo masculino, provavelmente com educa��o superior, ocupando alguma fun��o de responsabilidade em seu emprego, fazendo parte de um sindicato, de um clube ou associa��o, razoavelmente bem informado, com capacidade de discernimento e comando e, ainda por cima, tem uma arma. Percebeu? J� pensou no que aconteceria se voc�, e outros iguais a voc�, decidirem se juntar a um desses movimentos reivindicat�rios? N�o s�o os bandidos os elementos perigosos. Voc� � que � o perigo. � voc� que tem de ser desarmado!

Da� a certeza que o confisco das armas � iminente. Afinal, a nova lei ainda permite a posse de armas por cidad�os. O Projeto de Lei do Dep. Matheus Schmidt, por exemplo (PL 935/95), pro�be a fabrica��o de armas de uso proibido em territ�rio nacional, o que inviabilizaria economicamente as f�bricas brasileiras. O projeto do Dep. Ushitaro Kamia (PL 189/95) simplesmente pro�be a venda de armas de fogo � particulares. O projeto dos Deputados Aldo Rebelo e Ricardo Gomyde (PL 741/95), exige exames psicot�cnicos anuais para quem tem arma em casa. Perceberam? Quando acabar o prazo dado para que os cidad�os efetuem o registro das armas no SINARM come�ar� a campanha pelo confisco.

O que fazer para estancar esse movimento? Evidentemente que ficarmos parados nos lamuriando n�o levar� a nada. Estimam-se em dez milh�es de pessoas os propriet�rios de armas de fogo no Brasil. � um n�mero consider�vel. Bastaria um m�nimo de organiza��o para transformar essa multid�o alienada e desorientada numa consider�vel for�a pol�tica. Imaginemos que um por cento desses propriet�rios concordassem em contribuir com apenas R$10,00 por ano para uma organiza��o similar � NRA americana. Ter�amos um milh�o de reais por ano para fazer campanhas pr�-armas na m�dia, fazer pesquisas, divulgar o esporte do tiro e, at� mesmo, eleger pol�ticos. A� sim, Caro Leitor, sua opini�o seria ouvida. V. Sa. passaria a ser consultado e at� mesmo "bajulado" pela imprensa. Suas cartas seriam publicadas e voc� seria chamado de "formador de opini�o". N�o � preciso inventar nada, basta copiar o que os americanos fizeram com tanto sucesso.

Ser� que n�o somos capazes disso? Bem, se n�o formos capazes de nos organizar agora podemos dar adeus �s nossas armas.

 

L.A.

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