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Leituras recomendadas - 68

 

O dia em que a História mudou

Por Maria Lucia Victor Barbosa*

 

Para facilitar a compreens�o do processo hist�rico, historiadores utilizaram alguns marcos ou acontecimentos de import�ncia fundamental, a partir dos quais as rela��es mundiais tanto a n�vel cultural, econ�mico e pol�tico foram alteradas substancialmente de forma a produzir mudan�as significativas para a humanidade em seu conjunto. Se os marcos podem variar, vamos nos ater aos mais tradicionais tendo em vista t�o somente a busca de compreens�o did�tica das transforma��es planet�rias.

Tomemos ent�o a divis�o que considerara como Idade Antiga o per�odo que foi de 300 AC at� 476 d.C, ano que assinala o fim do Imp�rio Romano. Em 476, inicia-se a idade M�dia, que ir� at� 1453, data da tomada de Constantinopla pelos turcos. De 1453 at� a Revolu��o Francesa em 1789, ter�amos a Idade Moderna. Em 1789 o mundo ingressa na Idade Contempor�nea. A partir deste 11 de setembro de 2001, sem medo de errar, podemos dizer que entramos numa nova Idade mundial que ainda n�o tem nome, da qual vislumbramos muito pouco em termos de futuro, mas que acabou de chegar com toda sua carga de transforma��es profundas, de altera��es que ir�o marcar a vida de cada ser humano em todo o mundo.

Note-se que se os marcos hist�ricos aqui apresentados s�o caracterizados por conflitos de grande envergadura, neste dia 11 de setembro o mundo assistiu chocado ao hiper-terror, algo nunca antes havido e de onde deriva uma guerra globalizada contra um inimigo ainda sem face. Uma guerra que n�o se sabe como acabar�.

Portanto, n�o h� motivo para regozijo com rela��o ao ataque �s torres do World Trade Center de Nova York e aos pr�dios do Pent�gono, s�mbolos do poder financeiro e estrat�gico-militar dos Estados Unidos, ataques que na verdade vitimaram milhares de civis americanos e estrangeiros. Assim, algumas cr�ticas feitas na nossa imprensa por certos intelectuais, muitos dos quais j� estiveram na Na��o norte americana para estudar, trabalhar e usufruir de sua prosperidade, soam rudimentares e anacr�nicas no cen�rio que se desenha no p�s 11 de setembro. Mesmo porque, governos do mundo inteiro, incluindo os da R�ssia, da China, de Cuba e o pr�prio Yasser Arafat demonstraram sua consterna��o e sua solidariedade diante do atentado brutal e monstruoso que, na verdade, enlutou a humanidade e principiou um per�odo que repercutir�, inclusive, na fr�gil economia brasileira que j� vinha sendo abalada com a crise argentina e as perspectivas pouco alvissareiras da sucess�o presidencial.

A repercuss�o do ato hediondo � t�o s�ria, que nenhum grupo extremista quer assumir a responsabilidade pelo mesmo. At� o Taleban, que no Afeganist�o hospeda o bilion�rio Osama bin Laden, garantiu que o inimigo n�mero 1 dos Estados Unidos e quintess�ncia do "islamismo mais enlouquecido", na express�o de Gilles Lapouge, n�o est� envolvido. Isto apesar de Bin Laden ter advertido h� tr�s semanas atr�s, que seus seguidores lan�ariam um ataque sem precedentes aos Estados Unidos. Al�m do mais, o cabe�a do terrorismo mundial parece ser o �nico a ter condi��es para dirigir com �xito a coreografia perfeita do horror a que o mundo assistiu estarrecido.

Desfilar agora cr�ticas ao "Grande Sat� Branco", culpar os Estados Unidos pelo brutal atentado a seu povo, � como dizer que S�lvio Santos foi culpado por seu seq�estro porque o seq�estrador � a verdadeira v�tima do sistema.

Com essa toada sempre repetida � exaust�o, � que conseguimos aperfei�oar nosso sistema de impunidade e nos tornamos alvos sempre a disposi��o de seq�estradores, de criminosos de toda a esp�cie, de traficantes, cujos direitos humanos no Brasil costumam ser defendidos ferozmente.

De todo modo, se os s�mbolos do poder norte-americano foram atingidos, a est�tua da liberdade permaneceu de p�. Em meio � trag�dia sem precedentes isso pode ser um bom ind�cio. Pode significar tamb�m, que a partir de agora a guerra se dar� entre os que defendem a liberdade, a democracia e a prosperidade, e os que defendem o terror, o narcotr�fico, os Bin Laden, os Saddan Hussein, as Farcs, a viol�ncia, o desrespeito a vida como meio de domina��o. N�o haver� meio-termo. E � preciso que o governo brasileiro, cheio de bom-mocismo, sempre em cima do muro em termos de sua pol�tica externa, tome consci�ncia disso.

 

*Maria Lucia Victor Barbosa � soci�loga, escritora e professora universit�ria.
E-mail: [email protected]