Leituras recomendadas 211
Ingenuidade e perfídia
Por José Nivaldo Cordeiro Ao comentar a entrevista do deputado José Dirceu, no artigo de ontem, constatei a ingenuidade demonstrada pelo entrevistado. Considero que é preciso fazer um esclarecimento adicional, vez que a palavra ingenuidade pode dar uma aparência inofensiva ao fato político implícito na entrevista. Na verdade, tanto algo positivo e bom pode ser ingênuo quanto algo negativo e mau. A qualidade de ingênuo não muda o caráter da pessoa. Um néscio pode ser alguém notavelmente mau, capaz de provocar grandes tragédias, e o fato de ser ingênuo não tira a sua periculosidade. Usei o termo no caso porque o deputado mostrou-se ignorante em matéria de relação com a comunidade financeira internacional – típico de neófito – e também porque usou da franqueza dos néscios. “Olha, vou jogá-lo no abismo, viu? Mas não se preocupe, vai ser bom para você e por isso você deve votar no meu Partido”. Foi mais ou menos assim que interpretei as suas declarações. Então podemos dizer que as declarações foram ingênuas e traduziram perfeitamente a maldade implícita na proposta política petista. Colocar em prática o que pretendem significará uma catástrofe econômica e social, talvez de gravidade até superior a que estamos assistindo na Argentina. A perfídia consiste precisamente nisso, em tentar passar para o eleitorado algo que pode lhe ser benéfico, quando a realidade é exatamente o seu oposto. E também o fato de que apenas parte das intenções reais é revelada. Bem sabemos que algumas das propostas mais destrutivas não são postas à mesa, especialmente no que se refere à matéria tributária, monetária e de política internacional. Então podemos dizer que essa maneira de fazer política, de não dizer claramente o que se pretende fazer, tem caráter pérfido. É a história de dar corda para o sujeito se enforcar. Quanto mais os líderes petistas falam de seu programa, mais revelam ora o caráter ingênuo (talvez objetivando se eleger), ora o caráter elíptico, escondendo as reais intenções. Perfídia. O autor é economista e mestre em Administração de Empresas pela FGV - SP |