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Leituras recomendadas – 188

 

Palavras Venenosas

Por José Nivaldo Cordeiro
02 de Julho de 2002

 


Talvez a frase mais famosa de Lord Keynes seja a que afirma que “no longo prazo todos estamos mortos”. Nunca a engoli, nunca a aceitei. Sempre a achei de uma falsa espirituosidade óbvia, papo de salão de um finório charlatão. Mas confesso também que só fui compreendê-la em sua plenitude nefanda quando aprofundei minhas leituras religiosas e filosófica.

Para entender toda a plenitude de veneno que está por trás dessa afirmativa, todo o seu cinismo, é preciso esmiuçá-la e também rememorar um pouco da biografia e da psicologia de Lord Keynes. Comecemos pela segunda parte.

Nunca foi segredo que Keynes era um homossexual assumido e jamais constituiu família, não deixando descendência. Foi integrante do grupo de Bloomsbury, uma sociedade de intelectuais brilhantes, que tinham em comum a crença no hedonismo, no materialismo, no niilismo, no socialismo e desprezavam os valores maiores da tradição ocidental. Muitos de seus membros foram pervertidos sexuais e morais, tendo alguns deles se tornado espiões profissionais para a extinta União Soviética. Tudo bona gente. Uma boa descrição dessas pessoas pode ser encontrada no excelente ensaio de Alceu Garcia (“A teoria econômica de Lord Keynes e a ideologia triunfante de nosso tempo)”, disponibilizado no site www.olavodecarvalho.org. Lá podemos ler:

“A enorme influência do socialismo fabiano marcou profundamente a formação intelectual e moral de Keynes. Ele integrou uma sociedade secreta em Cambridge conhecida como Os Apóstolos e posteriormente a confraria de letrados ilustres denominada Grupo de Bloomsbury, ambas subprodutos do caldo cultural do fabianismo. Hedonismo, niilismo, elitismo, iconoclastia, bissexualismo, pedantismo, amoralismo e, claro, socialismo, eram os traços comuns aos integrantes desses grêmios. O filósofo G.E. Moore, um dos gurus máximos da tchurma, autor de um livro intitulado Principia Ethica, exerceu forte atração sobre Keynes. Para Moore não existiam princípios morais universais, reduzindo-se a ética aos prazeres estéticos pessoais. Não é possível compreender o caráter de Keynes, nem sua atuação política e sua produção científica, isolados do contexto ideológico em que ele atuou. E os traços chave da natureza do economista britânico eram: relativismo moral e desonestidade intelectual”.

[Se você, leitor, nada sabe de economia ou se sabe muito, deve ler esse ensaio de Alceu Garcia. Além de brilhante e erudito, é muito didático, permitindo aos seus felizes leitores compreenderem a extensão da miséria intelectual em economia inaugurada por Lord Keynes].

Ora, para um cristão ou qualquer outro crente nas grandes religiões, a frase é uma blasfêmia . No longo prazo estaremos vivos, pois não escapa àqueles que professam uma religião, ainda que pessoal, o sentido da vida, a consciência de que o efêmero integra a Eternidade. Ao pronunciar a sentença nefanda, Keynes simplesmente insultou o que há de mais caro ao Ocidente, a promessa de Cristo da ressurreição no Além.

Mas não é necessário que alguém seja religioso para repudiar a sentença maldita. Alguém ateu, mas que seja moralmente íntegro, que não seja um pervertido moral, que construiu (ou pretende construir) família e tem filhos, sabe que, pela sua descendência, estará perpetuado. No longo prazo há os filhos, os netos, os sobrinhos e todas as gerações vindouras. A vida se resume em um horizonte de curto prazo apenas para os sujeitos estéreis, que negam a natureza e acham que a felicidade está na entrega desregrada aos pecados da carne. Mas a vida não é assim. Os homens de bem não são bestas sensuais.

Há um sentido e esse sentido está na perpetuidade da espécie humana. No longo prazo estaremos vivos, o que dá aos adultos de hoje toda a responsabilidade de cuidar bem da herança que deverão legar aos descendentes. Essa herança não é apenas material, mas é sobretudo do espírito, ou seja, a capacidade de discernir a verdade. E cuidar bem dessa herança começa por denunciar as mentiras, as promessas vãs, as falsas ciências, as pormessas políticas desonestas e mesmo as singelas frases de efeito que são um poderoso veneno para matar a alma daqueles que não estão devidamente avisados.

Leiam, pois, Alceu Garcia. É uma aula de economia e de ética em grande estilo.

Nivaldo Cordeiro

O autor é economista e mestre em Administração de Empresas pela FGV - SP