Leituras recomendadas 174
Sociedade e mercado
Por José Nivaldo Cordeiro
O meu amigo Nelson Lehmann, do Instituto Liberal de Brasília, mandou-me umdos mais brilhantes textos que li nos últimos tempos ("O mercado ou a teoriados três verbos"), no qual ele lança luz sobre a suspeita que os socialistasde todos os matizes lançam sobre o que se chama de mercado, a economia de produção em massa destinada ao processo de trocas. Ele demonstra que os socialistas querem é um retorno à forma familiar de organização, anterior à Polis, algo impossível depois de certo estágio de desenvolvimento. O verbo doar (registre-se: compulsoriamente, via Estado) é o que está por trás de todo o argumento socialista e daí ser essa proposta política ntrinsecamente totalitária, pois doação compulsória não obedece a critério racional algum, exceto à vontade do governante. A doação compulsória será sempre precedida pelo ato de tomar, algo bastante primitivo e injusto, bárbaro, próprio das relações pré-civilizadas.
O fato objetivo é que não consigo ver
oposição entre o conceito de mercado e o de sociedade.
São sinônimos. Pela palavra mercado designa-se o
conjunto de relações econômicas que interligam
indivíduos isolados que, por laços invisíveis
do processo de trocas, interagem e cooperam para o bem-estar
O único campo da ação humana onde sociedade e
mercado não se equivalem nos tempos modernos está no
âmbito das relações familiares, como bem
demonstrou Nelson Lehmann. Aqui o verbo doar se sobrepõe aos
dois outros, o tomar e o trocar. Há uma outra lógica.
Quando enxergamos o convívio de milhões de O verbo tomar, abstraindo os chamados grupos criminosos, passou a ser conjugado apenas pelos governantes (sim, eles praticam o roubo consentido, legal), que acham que podem se substituir ao mercado. Estão enganados. Eles apenas praticam a injustiça de forma arbitrária contra pessoas indefesas e que praticam as virtudes necessárias para que haja o processo produtivo, a diligência, o trabalho diuturno como valor em si, a competência, a organização, a cooperação.
Outro dia, conversando com uma filha adolescente, travei um
diálogo que me lembrou um dito de Adam Smith, o de que o
nosso almoço não depende da caridade do
açougueiro, mas da sua busca por seus próprios
interesses. Como todo adolescente generoso, a menina me disse que
quer fazer um curso de nível superior que lhe possa permitir
ajudar às pessoas. Qual?
O texto do Nelson Lehmann não nos diz outra coisa, cercado de
toda erudição e rigor expositivo, como lhe é
próprio. Quem sabe tem que louvar o mercado. Só quem
é ignorante e está possuído de má
fé para não reconhecer essa obviedade. |