Leituras recomendadas 173
O varejo e a indústria
Por José Nivaldo Cordeiro
7 de Junho de 2002
A revista "Exame" que está nas bancas traz uma
excelente matéria sobre a relação do varejo com
a indústria no Brasil. É um trabalho
jornalístico excelente, feito por Nelson Blecher. Quero aqui
basicamente sublinhar alguns pontos. O primeiro é que a
concentração do varejo no Brasil trouxe um
comportamento oposto ao que poderia ser esperando do ponto de vista
teórico, pois ela acarretou o acirramento da
concorrência, tornando-se uma das causas da queda da
inflação no chamado segmento competitivo nos
últimos anos. É
claramente uma das âncoras do Plano Real. O outro aspecto
é mostrar que o varejo, de todos os ramos de negócio,
é o que mais atua sob a ótica do consumidor. Na
verdade, as grandes cadeias de varejo tornaram-se os verdadeiros
órgãos de defesas do consumidor, na medida em que
não aceitam os abusos de preços que eventualmente a
indústria queira praticar e a obriga a repassar a maior parte
de seus ganhos de produtividade
aos preços.
Um terceiro aspecto que merece destaque é o fato de que os
monopólios e oligopólios industriais ficaram
enfraquecidos diante do consumidor, pois o varejo tem o poder de
desenvolver fornecedores e marcas alternativas, de modo a servir de
anteparo contra o poder monopolista dos fornecedores. Não
é
um fenômeno econômico pouco relevante. O caso da
indústria de refrigerantes é emblemático, pois
as chamadas tubaínas tomaram boa parte do mercado mas marcas
líderes.
Por último, a questão das marcas. As marcas
funcionavam, do ponto de vista do consumidor, como uma garantia de
qualidade e de diferenciação. Para a indústria,
como um fator de fidelização da clientela. Ora, hoje
quem dá a garantia de qualidade é o próprio
varejista, perdendo importância o
marketing da indústria. Não é à toa que
as marcas próprias cresceram e o investimento da
indústria em publicidade caiu.
O caso de varejo é um exemplo do benefício que a
economia de mercado pode trazer para a sociedade. Sempre que o
governo tenta regular ou intervir nesse mercado, só distorce
preços e alocação de recursos, mais das vezes
subsidiando. Só a liberdade de empreender pode garantir a
prosperidade e a melhor alocação de recursos. O varejo
está dando sobejas provas dessa
verdade insofismável.
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